De manhã - os meninos
O teto mágico do Salão Principal estava coberto por nuvens acinzentadas, escondendo um tímido sol de outono. Embaixo daquele pseudo-céu, as mesas das quatro casas de Hogwarts abrigavam seus alunos durante o café da manhã.
— Bom dia, minha querida Evans.
Quando a viu, logo que entrou, James Potter entrelaçou seus dedos nos cabelos, bagunçando-os num gesto automático. Atrás de si, seus amigos Sirius Black, Remus Lupin e Peter Pettigrew disfarçavam risinhos de escárnio.
— Pensou com carinho na minha proposta?
— Aquela indecorosa? — rebateu Lily, erguendo ambas as sobrancelhas.
— Não acho que te convidar a ir ao baile comigo seja falta de conduta minha... aliás — ele jogou os cabelos para trás, num movimento com a cabeça —, muita gente neste salão daria tudo para estar no seu lugar.
— Então, por favor, sinta-se à vontade e convide-os! Não perca mais o seu tempo comigo. Você nem sabe se eu já fui convidada, ou – ou se eu pretendo ir com outra pessoa, e já chega assi —
— Aaah, Evans, não é possível que você tenha outra pessoa em mente além de mim. Ninguém tem!
Ela bufou. Eles esconderam seus sorrisos.
— Quando você agir feito gente, Potter, nós voltamos a conversar.
Lily se levantou e, seguida de perto pela amiga, deixou a mesa.
Os meninos se sentaram.
— É, Prongs, às vezes ela tem razão, sabia? — falou Lupin, a voz rouca.
— Todas adoram quando mexo no cabelo, menos ela — suspirou, desanimado —. Até do pomo ela não gosta!
— Especialmente do pomo — falou Peter, com a boca cheia de queijo.
— Eu gosto de desafios, mas este já está me cansando...
— Cansando a beleza? Haha! — riu Sirius, batendo a mão nas costas do amigo — Vamos lá, anime-se!
— Você diz isso porque vai ao baile com Snape...
— Aaaargh! — ele fechou os olhos, contorcendo o rosto com dor — Por favor, não a chame pelo sobrenome, me dá arrepios! Sophie é muito diferente do irmão, de longe!
— Mesmo que eu fosse com Snape, daria tudo para ter alguém com quem ir... — Pettigrew deixou escapar um pouco da comida que mastigava.
Sirius teve um acesso de tosse ao engasgar com suco de abóbora, e James fez um sinal de cruz com os dedos, como quem diz “Vade retro, Satanás!”.
— Ao menos vocês vão. Vou ter que ficar preso por causa daquela maldita lua cheia...
— Moony, Moony, nós vamos te visitar de madrugada, já disse. Já avisei Sophie e ela concordou na hora. Você sabe como ela se preocupa com você e com o seu segredo — Black deu uma piscadela com um dos olhos.
— É... — Remus sorriu um sorriso fino, suave e amargurado.
James fechou a cara.
— Eu ainda não gosto disso. Ela não precisava saber de nada. Ela não precisava ter nos ajudado, nós poderíamos muito bem —
— Sim, vocês poderiam muito bem ter conseguido completar a sua idéia insana de animagos em 10 anos — sussurrou Lupin, ríspido.
— Sem magia negra, pelo menos!
— Fins malucos justificam meios absurdos, não é?
— Ah, agora tanto faz... tudo o que me importa é que Lily não quer ir ao baile comigo... — o jovem afastou o prato vazio da sua frente e deixou sua cabeça pousar em cima da mesa, num sinal de visível tristeza.
— Hey hey, Prongs! Eis aqui algo que vai levantar seu astral! — exclamou Sirius, levantou o amigo e apontando para um ponto negro que descia, sozinho, as escadas para uma das masmorras — Snivellus.
Com a felicidade de volta ao rosto, James acompanhou Black em direção ao seu alvo de brincadeiras: Severus Snape. O bruxo carregava uma grande mala negra em uma das mãos, e com a outra segurava aberto um livro que aparentemente estava lendo, cabisbaixo, os cabelos longos caindo sobre o rosto.
No meio das escadas, mas ainda bastante atrás de Snape, James e Sirius o observavam, cochichando e rindo. Peter encolheu-se a um canto, olhando tudo de longe. Lupin decidiu não se manter distante, como sempre fazia; apesar da fraqueza, decidiu fazer o que tinha por obrigação. Pará-los.
— Padfoot, você não deveria fazer isso... sabe como Sophie ficará chateada — ele segurou o braço do outro, antes que ele descesse primeiro degrau.
— Moony, eles estão brigados há muito tempo, um quer que o outro se expluda Eu não tenho culpa — acrescentou rápido, fazendo sinal de abstenção com os braços — só quero me divertir um pouco.
— E você, Prungs, sabe como a Lily fica quando —
— Como vai, Snivelly, meu amigo? — gritou James, interrompendo Remus. Este deu um longo suspiro, murmurando algo como “Depois não diga que eu não avisei”.
— Pior agora, Potter — Snape respondeu, sem levantar os olhos do livro. Continuou descendo.
— Que foi, não vai nos dar atenção, é?
— Não, Black, tenho coisas melhores a fazer — respondeu, ainda de costas.
— Admita que está com medo, Snivellus. Está com medo!
Como se já estivesse preparado para um ataque, Severus Snape largou tudo o que tinha nas mãos e rapidamente alcançou a varinha dentro das vestes. Antes que qualquer bruxo pudesse perceber o que acontecia, ele já havia exclamado um “Impedimenta!” cheio de ódio.
O corpo de Sirius voou e bateu na parede da escada em espiral, rolando vários degraus em seguida. James urrou de volta um “Expelliarmus!”, que fez com que varinha de seu rival se perdesse das mãos do seu dono.
— CHEGA! Eu não posso permitir isso! — Lupin interveio no meio dos dois, a varinha em punho — Como monitor eu não posso mais assistir a essa cena, James —
— Eu não preciso da sua defesa, Lupin — rosnou Snape entre os dentes.
— Nem de longe eu estou te defendendo, Snape — o jovem respondeu, sério, ainda que fraco e ofegante — Meu trabalho é evitar esse tipo de confusão. Agora, se vocês três fizerem o favor de se separarem, eu também não —
— Vai ao baile hoje à noite, Snivelly? — a voz de Sirius surgiu logo atrás do amigo, já recomposta do tombo — Ou será que nenhuma menina aceitou sair com você com medo de ser sugada pelo seu nariz gigante?
— Sirius, por favor, não me force a tirar pontos da Grifinória...
— Tudo bem, desculpe, Remus. A pergunta do nariz foi infeliz. Todos nós sabemos que ele não vai ao baile porque tem medo de convidar qualquer garota.
— NÃO ME CHAME DE COVARDE, BLACK!
— Não se acha covarde, é? Então prove — Sirius passou por Lupin e chegou mais perto de Snape, segurando no seu braço — Apareça hoje de madrugada no Salgueiro Lutador. Sozinho. Tente apertar o nó no tronco da árvore com uma vara longa e veja o que acontece. Isto é, se você tiver coragem o suficiente.
— BASTA! A Grifinória acaba de perder 10 pontos, Sirius! E reze para que eu não fale para a Professora McGonagall te pôr em detenção! — Lupin puxou o garoto pelo braço com todas as suas forças, tirando-o dali. Peter e James os seguiram.
— Até a noite, Snivellus! — acenou Sirius para um Severus Snape perplexo e confuso com o que acabara de ouvir. Ele ficou congelado no mesmo lugar, observando o quarteto sumir no corredor de pedras.
Quando entraram numa sala vazia longe dali, Remus Lupin deixou-se entrar em desespero.
— O que você pensa que fez? — perguntou, num fio de voz. Tremia.
— Você está preocupado, Moony? — Sirius riu com tranqüilidade, assustando-o ainda mais — Pense só na diversão que vamos ter hoje!
— Padfoot, eu sinceramente não estou entendendo...
— Como não, Prongs?! Será que nenhum de vocês percebeu o favor que eu fiz a vocês?! Até agora vocês não estavam reclamando sobre como o baile ia ser uma droga? Hein, hein? — ele começou a ficar revoltado com a aparente desconfiança — Agora nenhum de vocês vai ficar sozinho vendo todo mundo dançando com parzinhos românticos, vamos todos juntos rir da cara de Snape enquanto ele sai correndo de medo!
— Sirius Black, você acaba de perder uma namorada e um amigo.
A seriedade de Lupin fez com que ele estremecesse. Aquele bruxo tinha dom maior com as palavras do que com feitiços, e por isso somente seu tom de voz foi o suficiente para machucá-lo mais do que qualquer Cruciatus.
— Um amigo? Espere aí, Moony, você sabe que eu jamais lhe meti em qualquer confusão! Confie em mim, eu nunca faria algo que pudesse comprometer você e o seu segredo, você sabe disso.
— Era o que eu achav —
— Acredite em mim. Vamos dar muitas risadas juntos hoje. Nada vai dar errado. E mesmo que dê — ele acrescentou, transmitindo confiança —, eu te tiro dessa. Eu comecei, eu termino. Mas não se preocupe, ok?
Lupin suspirou.
— Ok, dessa vez eu não te mando para a McGonagall. Mas da próxima você não escapa.
Os quatro riram, descontraídos novamente.
Nada podia derrubar aquela amizade. Abraçaram-se verdadeiramente, deixando de lado quaisquer preocupações.
— Agora vamos pra aula, não quero sair voando depois de beber uma das pessoas malucas que Slughorn nos empurrar...
Pettigrew, parecendo sinceramente assustado, foi o primeiro a abrir a porta e a sair. Antes que Sirius pudesse deixar a sala, porém, James o segurou pelo braço, puxando-o para perto.
— Obrigado por tentar nos animar — sussurrou ele, sorrindo — Vamos detonar com Snape hoje à noite.
Ainda rindo, deixaram a sala.
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