Capítulo Único



Autora: (Isa) Tinkerbell
Beta-Reader: - (procura-se um)
E-mail: [email protected]
Sinopse: Sob o silêncio da neve, continuariam apreciando juntos a
mesma estrela cintilante pousada na escuridão.
Casal: Sirius / Bellatrix
Classificação: PG
Gênero: Drama / Romance
Spoilers: Order of Fenix

Como num Natal que nunca tivemos


"I can’t save your life
Though nothing I bleed for is more tormenting
I’m losing my mind and you just stand
There and stare as my world divides"

(Evanescence – Snow White Queen)


Ele a observava com o canto dos olhos enquanto aconchegava suas mãos no fundo dos bolsos da jaqueta de couro escuro. As mãos dela pousadas sobre a cerca de madeira coberta com neve macia pareciam perder a vida; estavam congelando. Pensou em oferecer suas luvas, mas o medo de quebrar tamanha harmonia o fez desistir. Oh sim, ele nunca mais apreciaria ‘Bellatrix’ e ‘Harmonia’ num mesmo cenário.

Os olhos da prima estavam focados em algum ponto do céu; vazios. Pálpebras quase fechando; lábios entreabertos. Seu rosto impassível como se fosse imune a emoções. O cabelo esvoaçando ao vento gélido formava ondas negras sincronizadas no ar.

Ela suspirou num tom audível que o assustou, fazendo-o prender a respiração durante breves segundos. Os olhos dele voltaram-se novamente àquelas mãos delicadas. Dedos gelados e longos, unhas cumpridas pintadas de cor de licor. Sua mão parecia de porcelana e agora tomava uma coloração azulada do frio. Ele queria aquecê-la, mostrar o verdadeiro calor. Mas não conseguia. Suas mãos pareciam ter colado na jaqueta. Estava começando a sentir uma agonia crescente incomodar seu peito.

Espere, será que ela ainda não teria notado a sua presença? Estaria ela tendo a audácia de ignorá-lo quando bem quisesse como se fosse um mero verme insignificante? Como ela podia fazê-lo com tanta facilidade sendo ele quem era?

Soltou um resmungo exasperado.

A prima não parecia se importar com o frio. Talvez não se importasse nem mesmo se o mundo acabasse naquele instante. E ele não compreendia. Bella queria apenas sentir.

Um golfo cortante do vento afagou os cabelos dele. Seus olhos lacrimejaram e precisou cerrá-los para se proteger. Todas as dúvidas e frustrações dissiparam-se como se a rajada de vento tivesse as soprado, limpando a sua mente. Ele rendeu-se ao momento. Sentiu-se livre. Sentia-se solto como se o verdadeiro Almofadinhas estivesse correndo pela Floresta Proibida.

Os enfeites e presentes de Natal haviam sido deixados pra trás. Só existiam eles e a neve que voltava a cair. Leve, suave. O farfalhar das folhas dos pinheiros balançados pelo vento o relaxaram.

Seus olhos bateram de relance na imagem da prima e seguindo seu olhar encontrou uma única estrela cintilante no vasto céu denso. Passou a observá-la também. Uma sensação agradável o preenchia.

Ele finalmente percebeu. O lugar dela era ali, junto à neve.


Sirius rolou para o outro lado da cama e abriu os olhos. O coração palpitava rápido; a respiração falhava levemente. Logo seus olhos acostumaram-se com a escuridão. Não era a primeira noite que tinha um sono inquieto e acordava tenso - e não seria a última, tinha certeza. Podia enxergar a mobília de ébano e as cortinas pesadas. Os quadros permaneciam adormecidos no mesmo lugar. A garrafa de vodka aberta jogada ao lado da cabeceira junto à roupa suja.

Desapontado.

Nada daquilo era real, nunca acontecera.

- - - - -


Era natal em Grimmauld Place. Vidrado na janela, seus grandes olhos azuis vagavam entre os minúsculos flocos de neve que caiam, cobrindo toda a extensão da calçada como um manto branco. O vento urrava e chacoalhava as copas das árvores arrancando consigo todas as folhas que restaram do outono. O véu espesso de neblina encobria a lua minguante que, naquela noite, lembrava mais ainda uma fenda de luz rompida na escuridão do céu de Londres.

Estava frio. Sirius não gostava do frio. Não gostava do gelo que envolvia o coração de cada um naquela casa. Eram nesses momentos que sentia mais falta do calor acolhedor de Hogwarts.

Ao fechar os olhos, pode ter a imagem mental do Natal dos outros Marotos. Peter provavelmente estaria sentado em frente à mesa de sua casa, não prestando atenção em nada a sua volta que ao estivesse relacionado ao banquete natalino. Almofadinhas riu baixinho enquanto balançava a cabeça em negação, conseguindo ouvir a voz de Remus ecoar em sua cabeça carregada de calma e sabedoria repetindo suavemente algo como ‘Certas coisas nunca mudam’. Por falar em Aluado, ele deveria estar se recuperando de uma daquelas noites. E Pontas deveria estar em um bom – ótimo! - Natal com seus pais.

Sirius sentiu uma pequena ponta de inveja cutucá-lo. Inveja de que jamais compartilharia do mesmo Natal como o que seu amigo participava. Aquele amor fraterno entre família, feliz apenas por desfrutar da presença do outro, sem segundas intenções por trás de presentes caríssimos.

Há mais de uma semana, Sirius havia escapado durante a noite pela lareira, encontrando-se com seus amigos na casa de Pontas e, durante um jogo de cartas, havia contado a estes um pouco sobre o Natal na Mui Nobre e Antiga Casa dos Black. Pela primeira vez, cogitou sair de casa, dividindo seus planos fantasiosos, narrando como exigiria de seus pais uma casa própria e sairia da mansão montado num hipogrifo.

Como sempre, Remus interferiu com sua pose séria e estraga-prazeres junto de um olhar reprovador como o de um pai que explica pela milésima vez a mesma coisa para o filho arredio, o desiludindo com apenas uma pergunta: ‘Almofadinhas, quem manteria essa loucura?’

No momento em que seus olhares se cruzaram, instalou-se um silêncio quase palpável no ambiente e Sirius passou a abrir e fechar a boca inúmeras vezes em busca de uma resposta suficientemente inteligente. Antes que pudesse encontrá-la, Pontas irrompeu a pesada tensão no ar com sua risada alta seguido de Rabicho e, brincando, disse que Almofadinhas não seria louco o bastante para cometer uma burrice como esta.

Anos depois, Sirius ainda fazia questão de declamar como James havia errado feio em duvidar da loucura do amigo.

Apesar de tudo, os Marotos só voltaram a conversar sobre tal assunto através de cartas, mas mesmo assim deixado de lado conforme o feriado do ‘25 de Dezembro’ aproximava-se.

O garoto de olhos azuis suspirou monotonamente ao se lembrar de que ainda estava naquela casa afogada de tradições, na presença de pessoas muito incomodativas. Desviou o olhar para a longa mesa de madeira, à esquerda da lareira em brasas, forrada pelo comprido tecido de linho ornamentado pelas mãos das melhores costureiras bruxas inglesas. Era tingido de vinho e verde, com bordados delicados em suas extremidades que, enfeitiçados, movimentavam-se.

Sua mãe, Walburga, ordenava com sua voz esganiçada aos elfos domésticos para que servissem o banquete. Os pequenos serviçais cambaleavam com freqüência, por vezes quase deixando as bandejas tombarem, ganhando apenas mais e mais reclamações da mulher.

O alto e majestoso pinheiro no centro da sala de estar estava predominantemente adornado de enfeites prateados e vinhos que se alternavam brilhando numa pequena pausa de segundos. À frente da árvore estava Regulus rasgando embrulho do seu mais novo presente com voracidade e pressa. Logo se podia ver uma vassoura de ultimo modelo, a mais veloz, e um sorriso superior crescendo em seus lábios, direcionado ao irmão mais velho. Ganhara o mimo somente por ter entrado na casa da Sonserina como um bom membro da família Black – o que Sirius estava longe de ser, segundo o irmão mais novo.

O moreno já sabia que, mais tarde, teria que agüentar aquele pirralho arrogante gabar-se de como era muito mais digno que o irmão e reclamar o quão era injusto ele não ter nascido primogênito.

A alguns passos da árvore, Narcisa brincava com um dos adornos arrancados por ela mesma da árvore de Natal. Mais atrás, sentada numa cadeira de estofado bege, Andrômeda, a prima cujo tinha maior afeição, lia atentamente um livro grosso de capa escura isolada do restante da sala. Seu pai conversava com vários parentes – que Sirius não fazia menor questão de cumprimentar – em suas vestes tradicionais ao lado de seu tio Alphard que, no momento, sorvia um gole de chá.

Sirius detestava aquelas roupas de gola apertada que o sufocavam, detestava o sorriso falso e formalidade usada por todos, detestava ser obrigado a aturar a presença daquela família e, principalmente, a presença dela.

À esquerda da mesa, Bellatrix permanecia sentada de fronte a lareira, assistindo a lenha, aos poucos, ser corroída pela flama. Seus olhos castanhos escuros fixos nas labaredas de fogo. Os cabelos negros como aquela noite, estavam soltos encostando na metade de suas costas. A pele pálida como a neve que cobria Londres em tempos como esses era iluminada pelas chamas quentes, ganhando uma tonalidade mais amarelada.

Oh, como ele a desprezava. Dumbledore sempre ensinou que o ódio era algo amargo demais para se sentir. Um sentimento que apenas poluía a alma e contaminava o sangue. Que era o culpado pela destruição tanto para o homem que o sentia, quanto às pessoas a sua volta. Sirius, nunca deu ouvidos para aquelas palavras. Talvez fosse seu maior erro. Talvez.

Qualquer um que os observasse de perto por uma pequena fração de segundos perceberia a gana os dois. Até certa idade ele conseguiu ignorar a prima passando-se por indiferente. Mas conforme foram crescendo suas provocações eram mais insistentes e quase impossíveis de serem ignoradas. Sirius passou a abominar todas as atitudes e manias dela. E, ainda sem entender a origem de tanto ódio que a prima exalava em sua presença, passou a correspondê-lo, tornando-o ainda mais sólido.

Até certo ponto de sua vida, o rapaz tentou compreender o porquê daquela perseguição que conectava a prima á ele. Mas com o passar dos anos, aceitou que não precisava e nem o encontraria. Então, acabou convencendo-se de que se odiavam simplesmente por odiar. Sem demais justificativas.

Repentinamente seu tio chamou por Bellatrix puxando-o de seus devaneios. Viu a jovem levantar-se do chão, alisando o vestido azul marinho superficialmente como se espanasse a poeira, antes de deixar o canto da lareira e andar agilmente em direção ao pai fazendo uma singela reverência.

O homem sorriu e tirou do bolso de suas vestes uma pequena caixa cor vinho e entregou a filha. Com seus dedos longos, ela abriu com
sutileza o pequeno embrulho. Ao contrário do que seu pai provavelmente achava, os olhos de Bella não estavam envolvidos de felicidade. Talvez até de surpresa mas, acima de tudo, estavam envolvidos de poder. Bella sempre foi ambiciosa e, desde pequena, dava indícios de qual caminho seguiria mais tarde.

Da caixinha ela retirou um esplendoroso colar de pérolas brancas. Um colar tão puro como a neve. Puro demais para Bellatrix, pensou Sirius. E quem sabe por isso, ele achasse que não ficasse bem na prima. Narcisa olhou-a com inveja e a irmã pareceu ignorá-la com satisfação. Jogando seus cabelos para trás, Bella virou-se e passou em frente ao primo com nariz empinado e sorriso esnobe em seus lábios, exibindo o colar.

Neste momento Walburga anunciou com sua voz estridente que o banquete estava servido. Andrômeda foi a primeira a se levantar. Fechou seu livro apoiando-o na cadeira enquanto chamava o primo mais novo, muito entretido em apreciar a nova vassoura. De má vontade, Regulus escorou a vassoura ao lado da lareira à frente da janela e, com a cara amarrada, dirigiu-se para a mesa em passos duros. Sirius sentou entre Regulus e Alphard, diante de Bellatrix.

Enquanto os adultos conversavam, os dois primos encararam-se durante alguns segundos se desafiando numa batalha de olhares. Ela com seu costumeiro olhar superior, sempre imponente. A prima excepcionalmente desviou o olhar e um sorriso sagaz tomou seus lábios. Se ele não a conhecesse tão bem, não diferenciaria aquele dos outros sorrisos costumeiros e não desconfiaria que ela estaria tramando algo.

Enquanto todos se deliciavam com a comida da mansão Black, debaixo da mesa, Bellatrix propositalmente balançava seus pés batendo-os contra os seus. Hora pisando ou os roçando em seus tornozelos. Sirius irritado, a chutava enquanto ela somente prendia a risada.

Como gostava de provocá-lo, de testar os limites de sua paciência.

O jantar parecia transcorrer naquele mesmo lento ritmo e o rapaz achava que estouraria a qualquer momento com aquela importunação. Torcia os dedos de nervosismo, pedindo a Merlin que um milagre acontecesse para que ele pudesse sair de perto da presença de Bella. E parece que seu pedido foi atendido. Por hora.

Um ruído vindo da janela, ao lado da lareira, chamou a atenção de todos quebrando a sintonia da conversa. Ao longe, o garoto pode visualizar sua coruja de cor cinza mesclada com um tom castanho claro do lado de fora da casa, bicando contínuas vezes a vidraça da janela.

- Sirius! Abra a janela e desapareça com essa coruja importuna nesse instante! – exigiu sua mãe, zangada.

Segurando na borda da mesa, o filho obedeceu às ordens da mãe empurrando a cadeira e indo em direção a janela quando ouviu o mais novo irmão sussurrar “Deve ser mais uma carta daqueles amigos sujos de Sirius.” De punho fechado e cerrando dentes, Almofadinhas controlou-se para não azarar aquele fedelho inútil que chamava de irmão, engolindo a raiva com muita dificuldade.

O pino da janela estava emperrado e depois de alguns momentos ele aplicou uma pressão maior sobre este que logo se destravou. Sentiu o sopro frio do vento batendo contra seu rosto trazendo pequenos flocos de neve para dentro da sala. A coruja apareceu e voou em sua direção. Mas algo estava errado. Pode perceber que a coruja parecia meio corcunda, com a asa direita levemente torta.

Depois disso, tudo aconteceu rápido demais para sua mente conseguir processar.

A coruja esbarrou no rapaz de olhos cor de prata e começou a voar em círculos pela sala. Sirius, no susto, deu um salto para trás esbarrando sobre a vassoura de Regulus apoiada ali perto, fazendo esta cair sobre a lareira.

Os parentes pararam de comer e levantaram-se imediatamente quando o animal avoado caiu sobre a mesa. A medida que foi derrapando, sujou o chão de comida, estilhaçou as taças de cristal e derrubou os pratos no assoalho. O pano foi arrastado junto da coruja conseqüentemente derramando o vinho sobre a mesa, o fazendo respingar sobre as vestes nobres dos familiares.

O rosto de seu irmão Regulus contraiu-se, contorcendo o rosto formando aquelas feições de choro. Quando Sirius voltou o olhar para lareira era tarde demais. A vassoura nova que o irmão foi presenteado já tomava uma tonalidade escura. Regulus já com lágrimas escorrendo em seu rosto, correu até a lareira pondo as mãos no fogo – literalmente – com a esperança de resgatar a vassoura (ou os restos dela).

Os parentes que permaneciam estáticos, totalmente atônitos com a situação, logo correram ao encontro de um Regulus com queimaduras vermelhas ao redor de suas mãos que chorava abraçado ao cabo carbonizado do que fora sua vassoura.

Sirius pode ouvir os primeiros gritos estridentes de Walburga vindo em sua direção.

- SIRIUS! Como você pode fazer...!

Não escutou as palavras seguintes, apenas soube que era algo ligado a ‘irmão’, ‘castigo’ e ‘sótão’. A voz de sua mãe, por mais alta e irritante que fosse, foi se apagando como todo resto do cômodo e toda aquela confusão até sobrar apenas Bellatrix. Ainda de pé, ao lado da mesa escura de madeira ela ria. Ria radiante e maldosamente. E ninguém, além dele, parecia enxergá-la.

Naquele momento ele teve certeza que fora ela. Ela teria armado tudo aquilo. Ela enfeitiçara a sua coruja, mas parece que lucrara muito mais do que o previsto. O resultado de seus planos foi muito além do que esperava, sabendo que a culpa triplicaria sobre o primo. Sirius sentiu seu peito inflar de rancor e um gosto ácido subir sua garganta. E, se não fosse por sua mãe e metade de sua família lhe passando um sermão, teria feito com que Bella sofresse de alguma forma muito dolorosa naquele instante. Oh sim, para Almofadinhas definitivamente ’25 de dezembro’ jamais seria sinônimo de felicidade.

E conforme o tempo decorria, Sirius assistiu os elfos limpando a bagunça enquanto seu irmão era levado para St. Mungus acompanhado pelo pai e outros parentes que o confortavam com promessas de que ganharia uma vassoura mais bela e rápida que aquela. Depois daquilo, o clima passou a se amenizar.

Aproveitando a brecha de broncas, o rapaz escapuliu pelo corredor e foi em direção a varanda que dava para os fundos da casa. Assim que pisou sentiu novamente o vento frio acariciar seus cabelos longos e a neve fofa e macia sob seus pés. Fechou os olhos erguendo a cabeça e sentiu os flocos de neve caírem sobre sua face se tornando pequenas gotas d’água.

Um minuto de paz.

Porcaria de família, porcaria de Natal. Um minuto para desejar o fim do feriado e estar de volta a Hogwarts com o restante dos Marotos. Um minuto. Apenas um minuto...

- Apreciou a ceia de Natal, primo? – pode ouvir a voz feminina e irônica de Bella.

Era só o que lhe faltava.

Porque ela tinha que perturbá-lo? Porque ela não podia deixá-lo em paz e harmonia durante apenas um mísero minuto? Porque ela simplesmente não se contentava com tudo o que já tinha feito e parava de persegui-lo? Por mais que ele se perguntasse, algo dentro dele sabia que Bellatrix não se contentaria até extrair tudo até que não restasse uma única gota de vida nele.

– Gostou do meu presentinho? – falou cruelmente. Ela permanecia naquela mesma pose esnobe com as mãos na cintura. Ele fechou o punho encravando as unhas na palma da mão.

- Cale a boca, sua estúpida. – sussurrou cuspindo as palavras direcionando o olhar para o chão tentando controlar-se. Sentiu o sangue começar a ferver e circular mais rapidamente entre os vasos sanguíneos. Vendo que Sirius não estava disposto a ceder, ela aumentou o grau das provocações.

- Estou te irritando, Six? Oh, não fique assim... – continuou provocando numa voz falsamente inocente enquanto o rodeava parando em sua frente e, finalmente, o encarando – Você ainda tem seus amigos nojentos s e grifinórios para consolar-lhe, Almofadinhas. – e soltou sua risada sarcástica. – Oh não, espere, eles não tem capacidade para tanto, certo? Só servem para brincar de animagia, não é?

Para um Sirius irritadiço e raivoso, aquela foi a gota d’água. Ele levantou a cabeça, seus olhos tomados pela fúria fitaram a imagem de Bella rindo e, como um cão selvagem, avançou sobre a prima levando suas mãos ao seu pescoço. A risada da prima cessou no mesmo instante. Sirius segurou o colar e o puxou, arrebentando-o com violência. As pérolas brancas voaram para todos os lados e, com a queda amortecida pela neve, camuflaram-se.

Levado pelo impulso, segurou o pescoço de Bella e passou a pressionar sua garganta. Os olhos da prima arregalavam-se e ela abria e fechava a boca em busca desesperada de ar. As veias do pescoço de Bellatrix saltavam e tomavam uma tonalidade mais arroxeada quando Sirius soltou-a fazendo com que caísse no chão num baque surdo. Ela passou as mãos pelo pescoço, tossindo antes de vociferar:

- Enlouqueceu, Sirius? – e ainda disse indignada – Você me enforcou!

- Nada que você não tenha merecido. – tentou manter-se frio. Bella contraiu o rosto, ofendida.

Almofadinhas jamais havia a agredido dessa maneira. E mesmo que negasse convictamente, sentiu uma ponta remorso. Sirius parecia dar-se conta do que fizera e a encarou como numa pergunta muda esperando que talvez ela explicasse exatamente o que ocasionara seu acesso de raiva.

Ambos ofegavam. Desta vez, Bellatrix havia sido pega desprevenida. Ela levantou-se com as mãos sobre o pescoço, virando-se de costas para o primo e andando em direção a porta. Com uma ponta de culpa, que Sirius arrependeu-se segundos depois, ele a impediu segurando seu braço abruptamente. Virou-a para si.

Debaixo da palma de sua mão, algemava o pulso da prima e podia sentir a pulsação dela cada vez mais rápida fazendo seu sangue correr na mesma velocidade. Quando o olhar gélido dela encontrou com o seu, prendeu a respiração e sentiu ser paralisado como se alguém tivesse lançado um 'Petrificus totalus' sobre ele.

Bella olhou interrogativa com cenho franzido. Sirius não tinha idéia do que fazia e porque a obstava, ainda segurando pelo braço. A mão livre da garota escorreu até sua face e seus olhos castanhos escureceram de desejo. Sirius pode sentir seus dedos frígidos antes dela aproximar-se pressionando seus lábios com os dele.

O primo arregalou os orbes azuis e demorou alguns segundos para retribuir. Toda sua raiva foi amenizada e ele pareceu ceder ao beijo repentino. Bella aprofundou o beijo invadindo a boca de Sirius sedutoramente, segurando de maneira possessiva seus cabelos negros. Logo suas línguas que antes se entrelaçavam suavemente, passaram a se mover com mais urgência. O perfume marcante de Bella invadia suas narinas sem permissão tornando-se seu vício sem que percebesse. Ele a trouxe para mais perto, envolvendo com uma das mãos sua cintura fina.

Bocas deslizando e calor, muito calor, foram o que Sirius conseguia recordar antes de ser surpreendido pelo que veio logo em seguida.

Enquanto Sirius, perdido em sensações, descia sua mão para suas pernas começando acariciar sua coxa por baixo da saia de seu vestido, Bella contornava sua nuca com uma das mãos onde, de repente, enterrou as unhas ao mesmo tempo em que fincou seus dentes sobre a língua do outro.

Sirius sentiu uma dor agonizante junto do gosto de sangue em sua boca. Empurrando-a para longe ele levou as mãos a boca sufocando o urro de dor.

Ela sorriu triunfante, declamando sua doce vingança. Sirius, em reposta, resmungou algo inaudível com as mãos sobre a boca. Bella tornou a rir, dessa vez ainda com mais vigor.

Até aquele momento, Sirius não sentira necessidade de se perguntar o porquê daquele escarcéu e todo aquele plano engenhoso de Bellatrix. Ele não precisou questionar-se simplesmente porque sabia que Bella não precisava de motivos para justificar o que fazia. Ela poderia estar fazendo tudo aquilo por apenas maldade e diversão. Por aquele prazer louco que sentia ao ver o primo quebrar a cara. Não esperava que ela lhe desse nenhum motivo plausível. E ficara surpreso, quase admirado, quando este veio á tona.

- Agora vai fugir com seus amigos mestiços, vai? – ela provocou, abusada. Apesar de todo o sarcasmo utilizado ao proferir aquelas palavras, uma pequena ponta de mágoa transpareceu e Sirius não só preferiu, mas como também achou mais fácil, ignorá-la.

"Como ela pode saber...?"

Elegantemente, Bella abaixou-se e tirou uma carta sob o feitiço ‘reducto’ e murmurou algo enquanto apontava para esta com sua varinha. A carta azulada assumiu o tamanho comum e a jovem a abriu pacificamente. Sirius olhou abismado ao reconhecer a letra da carta.

- “Querido Almofadinhas, - começou com uma voz desdenhosa e aguda; a cada palavra da prima, Sirius a encarava ainda mais pasmado – quero agradecer pelo presente de Natal que você me enviou. Chocolate costuma me alegrar bastante depois de certas noites, como você deve saber. Principalmente quando são franceses e presenteados de um amigo tão querido e... ” Como vocês me enojam! – disse azeda entre uma careta de repulsa.

Novamente aquela raiva forte e mais viva do que nunca pareceu o corroer por dentro. Como ela pode chegar aquele ponto?

Pulou em direção a prima tentando retomar a carta, gritando em protesto, exigindo o que era seu. Mais ágil, ela desviou e antes que ele pudesse detê-la, a prima rasgou a carta ao meio, amassando-a logo em seguida. Ela riu picante da expressão de raiva e surpresa no rosto do primo.

- Como você é patético! Vai pedir ajuda para o quatro-olhos ou pro lobisomem? – soltou seu veneno acidamente, esquentando o sangue do primo – Ou pior, vai fugir?

O moreno interviu imediatamente:

- Ao contrário de vocês, Sonserinos, eu não preciso me esconder atrás de ninguém, nem nenhum pretexto para enfrentá-la, prima. – Sirius sorriu
satisfeito ao ver a expressão de Bella morrer – Eu não fujo, Bella. Não que isso seja da sua conta.

- E o que você sabe sobre a essência sonserina? - questionou seriamente, cruzando os braços na altura do peito. Recebeu como resposta uma risada debochada do primo.

- Você irá pagar por toda a desgraça que você trouxe a nossa família. – sibilou devagar e de maneira fuzilante.

- Oh, agora fiquei apavorado! – retrucou sarcástico.

- Não adianta você negar, Sirius, você é um Black. Você apenas quer desafiar a família porque está entediado de brincar com seus brinquedinhos. – ela continuou provocativa sem perder o contato visual.

- Eu não sou como vocês! Não sou covarde! – exaltou-se Sirius.

- Ah, não? – ironizou enquanto dava um passo a frente – Então, foi na Grifinória que você aprendeu a fugir de duelos? É você que anda adiando o nosso, fugindo como um vira-lata sarnento.

Sirius franziu o cenho, confuso com todas aquelas imposições de Bella.

- Duelo? Que tipo de pessoa perderia seu tempo duelando com uma doente?

A prima aproximou-se de sua face perigosamente. Bella pode sentir a respiração quente e descompassada de Sirius enquanto passava sua língua pelas maçãs de seu rosto até o lóbulo de sua orelha de maneira envolvente antes de sussurrar em seu ouvido:

- Você.

Sirius pareceu meio desconcertado com a ação da prima, mas antes que pudesse perceber já havia recobrado toda sua postura atraente e entrou confiante no jogo de sedução da prima, respondendo muito bem a todas aquelas provocações.

Ao narrar os fatos pra Remus, dias depois, o amigo arriscou dizer que Bellatrix armou toda aquela confusão por ciúme, inveja de Sirius, e chegou até a palpitar que ela somente queria chamar a atenção de Almofadinhas - e conseguira; fez questão de acrescentar. James, por sua vez, achava que fora somente um acesso da loucura que estava presente no sangue dos Black’s. Almofadinhas fingiu fazer pouco caso, mostrando-se indiferente ao assunto, concentrando-se apenas no jogo de xadrez bruxo que jogava com Peter. Mas no fundo sabia que tanto Aluado como Pontas estavam certos.

Entre tapas e beijos, literalmente, ambos não se deram conta da presença de mais alguém assistindo a aquela cena.

- Ali está ele, mãe! – Regulus apontava com as mãos já curadas para Sirius da porta da varanda. Logo a Walburga apareceu diante a porta perguntando o que estava acontecendo por ali.

Sirius, atônito, procurou o olhar da prima e viu da sua feição assustada lágrimas despencando e um sorriso ardiloso formou-se direcionado somente a ele. Pode ouvir também, em seguida, a voz falsamente chorosa da mesma culpando o primo com mais uma de suas mentiras.

Bella sempre soube blefar e omitir o que queria. Mentia muito bem, aliás. Tão bem que em seu mundo a verdade e a mentira eram separadas por uma tênue linha, chegando a momentos onde as duas se confundiam. Um mundo de ilusão que aos poucos se afundava. Um caminho que não tinha volta.

- Isso é verdade Sirius?! – perguntou sua mãe num grito.

- Quê? – O moreno parecia sair daquele torpor de raiva pela prima que havia o aprisionado.

- Agora eu entendo porque você foi para grifinória... – começou raivosa olhando para Sirius – Age de maneira tão baixa quanto os de sangue sujo que provem de lá. Onde está educação que eu lhe dei? Não sei como Merlin pode ter me dado um filho como esse... – sua mãe continuou seu monólogo.

Almofadinhas permaneceu estático, ainda confuso com a situação. Não havia nem ao menos escutado a desculpa que Bella havia dado. Poderia ter ficado naquele estado por uma eternidade se os berros de sua mãe não tivessem lhe tirado daquele transe e, mesmo sem olhá-la, sabia que a prima sustentava um sorriso ostentoso à ele.

O que era, até então, uma briga entre primos tornou-se uma confusão envolvendo parte dos parentes que chegavam no jardim perguntando o motivo da gritaria. Todos o olhavam com repreensão e com a mesma expressão de superioridade. Sirius sentiu-se no meio de estranhos. E fora naquele exato segundo que tudo se esclareceu para o moreno: ele não pertencia àquela família.

Ele era diferente.

Assustou-se ao se dar conta do tempo que levara para perceber algo tão simples. Sirius sorriu ao chegar àquela conclusão. Agora sentia-se leve, completo.

Antes que percebesse, Sirius já havia subido ao seu quarto, pegado o seu malão preparado para a volta a Hogwarts e ido em direção a lareira sem dar ouvidos a sua mãe que o interrogava perguntando o que estava fazendo.

Quando já estava preparado, com o pó-de-flú na mão, direcionou um último olhar pra Bella. Surpreendeu-se ao encontrar com o olhar da prima também o mirando, mas não um olhar qualquer. Dessa vez sem ódio, sem raiva, loucura ou desejo. Um olhar novo para Sirius. Um olhar sereno, como se implorasse algo que Sirius não podia decifrar. Um pedido surdo de ajuda. Ajuda que nunca viera.

E fora esse olhar que, por apenas um instante, fez Sirius desejar que ela o impedisse, que ela o confortasse, ou que ela, simplesmente, fosse com ele; fugisse com ele. Surpreso, pegou-se contradizendo tudo o que falara naquela noite. Mas foi isso que Sirius desejou, parecendo escutar as palavras ditas pela prima. Talvez realmente houvesse um pouco do sangue Black correndo por aquelas veias.

Nos momentos seguintes repreendeu-se severamente pela tolice que imaginara ao lembrar-se de quem realmente estava lidando.

Ao invés disso, Almofadinhas sabia que Bellatrix apenas sentaria e assistiria ele ir embora com seu mundo partido ao meio. Assistiria Sirius derrubar tudo o que foi construído por aqueles anos de provocações com apenas três palavras antes de lançar o pó-de-flú e a fumaça verde o encobrir:

- Casa dos Potter’s.

Bella fechou os olhos demoradamente. A voz do primo ainda ecoando em sua cabeça. Sirius jamais compreenderia o que se passava por sua mente, pois tinha amigos que o fortaleceriam onde quer que ele estivesse; independente da distância. Ao contrário dele, Bellatrix sempre esteve sozinha.

- - - - -


Hoje, Bella, encostada a parede cinzenta e fria de pedra, olhava para o céu através de uma pequena fresta no teto causada pelo desgaste das chuvas ao longo dos séculos sobre a pedra. A prisão de Azkaban nunca fora tão solitária, mesmo nos primeiros anos que residira lá.

Voltar para aquela cela imunda depois da morte dele havia sido crucial para reviver aquele fantasma de sua loucura que ainda assombrava todas as suas noites.

A culpa era dele.

Desde que pudera se lembrar Sirius a irritava. Irritava, principalmente, o modo como ele sorria. Um sorriso largo que exibia dentes perfeitamente alinhados. Que tinha fama de derreter a todos. Nunca tinha causado nem ao menos um ligeiro efeito em sua pessoa, ela costumava afirmar.

Sempre transbordando uma felicidade sem motivo, rindo de coisas que somente ele achava graça. Brincando mesmo nos momentos de elevada seriedade e agindo como se fosse o centro do universo, como se tudo estivesse voltado a ele. Fazendo palhaçadas com todos. Todos exceto ela. Não que realmente fizesse questão de uma pessoa tão besta gargalhando ao seu lado, repetia-se.

Na verdade, ela esperava que presenciando seu corpo desfalecer atrás do véu branco e translúcido do Ministério e calando seu último olhar brilhante, sua loucura desaparecesse. Rezava que, depois daquela noite, sua insônia evaporasse. Mas no fundo, tinha certeza que aquele olhar intenso, vivo e surpreso estaria pregado em sua mente por toda a eternidade.

Como foi tola ao pensar que o dizimando estaria o expulsando de seus sonhos onde eles, juntos, sentiam a neve cair sobre suas vestes e olhavam para a mesma estrela solitária e brilhante no céu em silêncio. Sem dizer ao menos uma palavra. Apenas sentindo a presença afável do outro ao seu lado, como num Natal que nunca tiveram.

Fora disparatada ao pensar que conseguiria roubar seu brilho encantador assim como o da estrela luminosa que observava da pequena fresta. E, apesar de não visualizar nenhuma outra estrela ao seu redor, sabia que esta era a mais brilhante. Assim como sabia que seu brilho era irradiado para qualquer um que quisesse apreciá-la e que não era porque apenas o quisesse que pertenceria somente à ela.

Estúpida foi ao acreditar - ou pelo menos fingir que acreditava – que ganharia liberdade para viver sem aquele brilho. Desde que podia lembrar-se ela era movida por aquela loucura que ao mesmo em que lhe dava ar para respirar, a sufocava. Todos seus atos foram sempre voltados a ela.

Uma loucura inexplicável. Mas se tentasse compreendê-la, talvez, somente talvez, ela dissesse que era sinônimo de Sirius Black. Mas como Bella, nunca justificava seus atos diretamente, opinou por viver daquela ilusão, andando por aquela mesma estrada sem direção certa. Preferindo ser como uma tempestade neve que caía sem rumo, nem propósito; que por vezes conseguia ocultar o brilho das estrelas, mas jamais apagá-lo.

Fim.


N/A: Alguém chegou até aqui? x)

bem, essa fic é dedicada a Chibi (te amo, minha linda) que ama o shipper. Chibizinha, vc deve saber como foi dificil pra mim, uma fã incondicional de Sirius/Remus, escrever uma fic Sirius/Bella, não é? então desculpe se não saiu exatamente como vc esperava. Feliz Aniversário, querida!

obs: PRECISA-SE URGENTEMENTE DE BETA-READER

beijos para todos, Tinkerbell

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