Falling Star
O som de passos fez com que a pequena garota abrisse os olhos e olhasse assustada para os lados. Por pequenos instantes havia se esquecido do motivo de estar deitada em sua cama, completamente vestida.
Havia cochilado, pois já passara muito da hora que estava acostumada a dormir. Mas agora que já estava acordada sentia-se animada com a idéia de descobrir enfim muitas respostas para suas perguntas.
- Cissy? – perguntou uma voz no escuro, fazendo a garota levantar-se da cama e caminhar até a porta, nas pontas dos pés.
A loira olhou para a irmã dois anos mais velha e sussurrou:
- Desculpe, Bella. Eu cochilei.
- Tudo bem, Cissy. Agora vamos logo, antes que alguém acorde. – murmurou a morena.
Bellatrix tocou a mão pequena e delicada de Narcisa, com um certo cuidado excessivo. As duas caminharam silenciosamente pelo corredor, em passos leves. Subiram o único lance de escadas que as separavam do último andar e entraram no terraço da Mansão.
Os olhos da menor brilharam, num misto de ansiedade infantil e curiosidade.
A morena olhou de relance para a irmã, sorrindo ao ver seu rosto tão eufórico. Conduziu a menina até o meio do terraço; o céu completamente limpo e cheio de estrelas sobre elas.
- Deite-se, Cissy. – pediu Bella, deitando-se de barriga para cima.
Narcisa fez o mesmo, deitando-se ao lado da irmã. Mas não olhou muito tempo para o céu, seus olhos estavam presos em Bellatrix.
- Vai ter que olhar para o céu, Narcisa. – comentou Bellatrix com um sorriso levemente irônico.
A loira concordou, acenando a cabeça levemente. Olhou para o céu estrelado, a lua cheia reinando majestosamente entre elas.
- Aquela – Bellatrix ergueu sua mão para o céu, mostrando a mais brilhante de todas as estrelas. – é Sirius.
Narcisa reprimiu um risinho, ao ver a cara de nojo da irmã, ao falar no tão odiado primo.
- É a mais brilhante de todas. – comentou a menina, de forma inocente.
- Eu sei. – resmungou Bella.
A morena pareceu emburrar-se, e Narcisa pôde ver o início de toda a sua arrogância nascendo. E, de certa forma, ela não gostou daquilo. Sentou-se, fazendo com que a outra a encarasse de forma interrogativa.
- Mas você é a mais brilhante entre nós, Bella. – falou Cissy docemente.
Um sorriso iluminou o rosto de Bella e ela levantou-se também, encarando a irmã, sentindo as mãos delicadas de Narcisa tocarem levemente seu rosto.
- Eu te amo, Bella, muito mais do que seria capaz de amar Andy, ou qualquer outro membro da família – murmurou Cissy com sinceridade.
Sorriu com sinceridade para a irmã mais nova e também tocou-lhe a face, da forma mais delicada que conseguiu. Bella abriu a boca para dizer alguma coisa, quando o olhar de Narcisa iluminou-se rapidamente.
- Uma estrela cadente, Bella! – exclamou a garota.
As duas olharam para o céu, admirando o raio de luz sumir.
- Fez seu pedido? – perguntou Narcisa com a curiosidade habitual da idade.
- Sim, Cissy. Sim. – murmurou a garota, voltando a deitar-se.
Gostava de olhar para a irmã e admirar o brilho intenso que se formava em seus olhos. Refletiam um brilho semelhante ao das estrelas, mesmo que elas não estivessem presentes na situação. Gostava também de ver como sua pele adquiria um tom levemente rosado quando ela lhe surpreendia com seus dizeres sempre tão intensos.
Os olhos de Bellatrix sempre desviavam para algum ponto qualquer, sua boca levemente entreaberta e a respiração previamente descompassada. Nesses momentos Narcisa costumava deixar com que um leve sorriso brotasse em seu rosto, tão inocente e sedutor ao mesmo tempo.
Havia aprendido com ela, na verdade, tudo o que ela se orgulhava de saber havia sido com ela que ela tinha aprendido. Tudo.
Desde sua infância vira na irmã aquele grande exemplo de tudo o que gostaria de ser um dia, apesar de distinguir todas as diferenças gritantes entre as duas. Não só na aparência, apesar de esse ser o aspecto que mais destacava-se para os que não as conheciam direito. Uma tão pálida e morena, a outra com a pele bronzeada e os cabelos quase brancos caindo no máximo até o ombro.
Mas a diferença que Narcisa mais fascinava-se em admirar era o modo tão distinto como elas se comportavam em certos momentos. Os momentos de êxtase eram os que mais se destacavam para a loira. O modo como ela sutilmente mexia-se, o modo como fechava os olhos, só os abrindo quando tinha certeza que encontraria os dela. Era o momento em que achava-a mais estonteantemente bela. De um modo unicamente seu.
No início seus sorrisos após os momentos de êxtase eram os mais verdadeiros possíveis. Sorrisos despreocupados, ao enlaçar o corpo de Narcisa em um abraço protetor. Não costumava mostrar seus dentes branquíssimos, e talvez fossem apenas sombras de sorrisos. Apenas um flexionar singelo de seus lábios.
Passaram toda a adolescência daquela forma; beijando-se de forma intensa e carinhosa, se encontrando durante as noites para realizar seus desejos mais primordiais e, principalmente, juntando-se em uma reunião extremamente íntima, para unirem-se àquelas estrelas. Estrelas com nomes e história incríveis e distantes, que um dia Narcisa ansiara tanto por descobrir. Com o passar do tempo acostumou-se a não ter nome de estrela, ela já tinha a sua estrela e essa ela sabia que ninguém roubaria.
Pelo menos não enquanto o desejo que, há muitos anos, fizera a uma estrela prevalecesse.
Nunca fora uma questão de preferir as mulheres; era uma questão de preferir ela. Era uma questão de necessitá-la mais do que qualquer outra coisa. Sempre soube que era errado e sempre soube que relacionamentos como aquele nunca seriam aceitos, ainda mais por serem irmãs. Mas nunca se importou de verdade; sempre foi natural demais. Todas as coisas que se sucederam desde a primeira troca de olhares com alguma malícia. O primeiro beijo, a primeira noite juntas, foi tudo tão natural como o amanhecer de cada dia. Amanhecer este que ela acostumou-se a assistir junto com ela, admirando a forma como as estrelas se despediam do céu.
Tinha uma incrível curiosidade de descobrir o que se passavam pela mente de Bella nas várias horas em que apenas admiravam o céu, sem dizer nenhuma palavra. Cobiçava saber os sonhos daquela estrela que, ao mesmo tempo em que estava tão próxima e íntima de si, estava completamente distante. Desejava incansavelmente descobrir todos os seus sonhos e desejos e realizá-los.
Com o passar dos anos os sonhos e desejos de Bellatrix passaram a assustá-la e amedrontá-la. Incontáveis vezes sentira seus olhos arderem e seu coração se apertando, com o simples fato de olhar-la nos olhos e não enxergar todo o seu antigo brilho. Perdeu dezenas de noites de sono, apenas olhando para a irmã em seus braços e não entendendo como as coisas estavam acontecendo; não entendendo a rapidez como elas aconteciam.
Bellatrix apenas sorria, e seu sorriso havia se tornado cínico e superficial. A morena parecia achar que beijos e noites inteiras de prazeres incomparáveis fizessem Narcisa esquecer de tudo o que passava horas pensando.
Quando Bellatrix completou dezoito anos a família promoveu uma grande festa. Festa esta que serviu apenas como pretexto para apresentar a todos o noivo perfeito que haviam encontrado. Um Lestrange. Só foi entender a proporção daquilo quando se viu no altar, ao lado de um Malfoy, sendo madrinha do casamento da irmã mais velha.
Foi no altar que viu o último sorriso verdadeiramente gentil de Bellatrix. Sorriso dado para ela, quando seus olhares se cruzaram em um misto de medo, compreensão e cumplicidade. Mas logo as alianças foram trocadas e Narcisa viu o que muito relutou a enxergar; quando procurou mais uma vez o olhar da irmã ela conseguiu ver todo aquele reluzente brilho abandonar de vez seus olhos.
Talvez o brilho tivesse voltado para sua estrela, já havia emprestado todo o brilho do mundo para Bellatrix, ela já havia brilhado mais do que qualquer uma. Mas depois do ocorrido Bellatrix ganhou um outro brilho em seus olhos; um brilho insano que deixava Narcisa com medo.
Mais medo do que quando encontrava-se sozinha em seu quarto, após acordar de um pesadelo. Nessa época ainda havia alguém pare ajudá-la, para segurar sua mão. Mas agora era justamente quem lhe ajudava que estava lhe amedrontando.
Teve medo de perdê-la, mas só com o passar do tempo foi perceber que já havia perdido. Depois veio Lucio e sua vida tomou um rumo diferente. Não haviam mais noites cheias de sussurros, gemidos, toques e estrelas. Havia apenas um casamento onde ela deveria cumprir seu grande papel de esposa dedicada.
Com alguns anos de casada ela ficou grávida; foi uma época crítica. Bellatrix estava cada vez mais fanática por uma causa que Narcisa não conseguia entender. Não combinava com Bella e todo o seu temperamento forte ser apenas uma serva leal. Lhe doía vê-la tão distante e não poder fazer nada, e ainda por cima ter que fingir estar feliz com a gravidez.
O que se passou depois não era muito nítido para ela, agora. Ela lembrava-se pouco da queda do Lorde das Trevas. Lembrava-se apenas de todo o caos que se instalou no mundo e de como teve que conviver com isso sem a ajuda dela. Sem poder chamá-la, sem poder segurar a sua mão nos momentos de horror.
Por 14 anos sentiu falta de seu toque, de seus beijos percorrendo sua pele. Por 14 anos ela não olhou naqueles olhos, que, mesmo não contendo mais o brilho das estrelas, ainda a fascinavam e a faziam perder-se naquele oceano negro que seus olhos eram.
E então depois de toda a espera, quando ela nem nutria mais esperanças de um dia revê-la, Lucio chegou com a notícia. Uma fuga em massa de Azkaban. Uma fuga de Bellatrix Black. Nunca se sentiu tão feliz em todos os anos de paz após a queda. Mas a sua felicidade deu lugar a um pesar sem tamanho quando Narcisa a viu.
Tão diferente. E não era apenas a sua aparência tão castigada por Azkaban. Era sua alma. A aura de insanidade havia se acentuado e as estrelas não pareciam mais abençoá-la. Sua casa tornou-se uma espécie de sede para os Comensais da Morte, e Bellatrix e Rodolfo passaram a morar lá.
Não houve dia em que Narcisa não se sentisse estranhamente afetada por aquela presença. Não era um sentimento típico dos momentos com Bella, era um sentimento de medo e tristeza que não a deixavam encarar a irmã.
Cissy se perguntava se seu desejo ainda continuava tão forte como na noite em que havia o pedido. E em uma das noites, em que simplesmente havia ido até o terraço olhar as estrelas e questionar toda a ação das estrelas em sua vida, ela apareceu.
Não disse nada, nada que seu olhar e seu sorriso irônico já não dissessem. Deitou-se no chão, ao lado de Narcisa, olhando para as estrelas. A loira viu o brilho do céu refletido nos olhos da irmã, reparando na grande diferença entre aquela visão e a visão que teve de uma Bellatrix criança, com o olhar curioso.
“Vai precisar olhar para o céu.” Murmurou uma Bellatrix sorridente, um sorriso malicioso e melancólico nos lábios.
Olharam-se longamente, os olhos percorrendo cada parte da face uma da outra. Os sinais da vida marcando-lhes a pele, o brilho da noite iluminando-as majestosamente. Narcisa viu os lábios de Bella abrirem-se vagamente, como ela costumava fazer para convidá-la a beijá-los.
E foi quando sentiu toda a explosão de emoções que achou que nem mais existissem dentro de si. Sentiu os lábios frios de Bella nos seus, suas mãos percorrendo todo o corpo da irmã, como que para conferir se era ela mesmo e que tudo era realidade.
A noite decorreu lentamente, apesar de ambas viverem-na de forma rápida e intensa. Após algum tempo elas encontravam-se deitadas tranquilamente no chão, apenar olhando as estrelas, como costumava ser em tempos que pareciam distantes e completamente vivos em suas memórias.
“Faça um pedido. ” foi o que Narcisa disse ao ver um feixe de luz caindo pelos céus.
Suspiraram quase que no mesmo instante, fechando seus olhos e fazendo seus pedidos.
”O que pediu da primeira vez?” perguntou a loira para a irmã.
Bellatrix abriu um grande sorriso e balançou a cabeça. Talvez não tivesse consciência de que aquela pergunta atormentara Narcisa por todos esses anos.
”Você.”
(N/A):
Que lindo, minha primeira slash xP
Enfim, fic rápida e pequena, escrita numa noite. Espero que tenham gostado.
Beijoos
Lisi Black
anúncio
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!