O convidado de honra
A lua começava a esconder-se atrás de algumas nuvens, mas ainda iluminava o jardim da mansão Black. Bellatrix estava sentada em um banco de madeira negra sob uma frondosa árvore que crescia ali, porém mesmo entre os galhos ela conseguia distinguir a lua no céu. Do banco também podia ver a movimentação no interior da casa, onde todos caminhavam de um lado para o outro extremamente nervosos. Faziam horas que os dois jovens Lestrange haviam partido noite a dentro sem deixar vestígios. Primeiro Rodolfo, que saíra correndo da sala sem nenhuma explicação e aparatara, e depois Rabastan, que tivera de sair da casa para evitar uma confusão com o pai de Bellatrix. As duas famílias tentavam chegar a um consenso sobre que atitude tomar, se deveriam procurá-los ou não. Lord Cygnus já havia inclusive alertado alguns de seus amigos aurores, e pedido para que eles fossem procurar por seu futuro genro. Ninguém conseguia ocultar sua preocupação. Ninguém exceto Bellatrix. Era justamente por isso, esta falta de preocupação, que ela havia se isolado dos outros no jardim. Ela pensava no que acontecera antes de Rabastan partir. No beijo que não deveria ter dado. Antes ela até tivera dúvidas, mas após tal experiência ficou claro para ela que jamais estivera apaixonada por seu amigo. Tudo que sentia por ele era realmente amizade, nada mais do que isso. Achou que sua confusão fosse fruto de uma paixão, mas agora tinha certeza que não. Sentia por um lado pena de Rabastan. Ela o beijara, cedera a seu impulso, e com certeza agora ele estaria pensando que era possível acontecer alguma coisa entre eles. Não queria ferir os sentimentos de seu já tão perturbado amigo, mas não poderia, e nem queria, fingir que sentia algo. Pela primeira vez na vida sentia medo de fazer mal a alguém, e o que era mais irônico: via-se cada vez menos capaz de evitar que isso acontecesse.
Ouviu-se um estalo no meio da silenciosa rua, e em seguida três vultos materializaram-se no breu da noite. Rabastan sequer esperou pelos outros, apenas caminhou em silêncio em direção ao portão de sua casa. Rodolfo ficou para trás esperando por Voldemort, que observava as casas a seu redor, com uma expressão entre maravilhado e risonho.
- Incrível. Tantos anos longe e esta parte da cidade continua exatamente como era. – Falara rindo-se e começou a caminhar vagarosamente, observando todos os detalhes da cidade que a tanto não via.
- Minha casa é esta aqui. Você ainda lembra, não é Tom? – Rodolfo caminhara ao seu lado, guiando-o em direção ao portão por onde Rabastan passara. Sentiu um leve olhar de Voldemort ao ouvir seu nome sendo pronunciado, mas nada além disso.
Adentraram na casa, que já estava com diversas luzes acessas, provavelmente por Rabastan. Este porém já deixara a sala, provavelmente em direção ao quarto. Rodolfo convidou seu amigo a se sentar, para poderem beber alguma coisa, enquanto estalava os dedos chamando por Dibs.
- Meus pais já estão dormindo Dibs? – Perguntou o jovem assim que o elfo surgiu correndo na sala.
- Não meu jovem senhor. Eles ainda se encontram na casa dos Black.-
“Mas o que diabos eles continuam fazendo por lá”, pensou Rodolfo. Em seguida ordenou que o elfo trouxesse algo forte para que bebessem.
- Sua casa também continua bela como antes Rodolfo. Será uma boa base para o início de nossas operações.-
- Base? Operações? Do quê você está falando Tom? – Ele não conseguiu ocultar sua surpresa. Num instante seu velho amigo falava com nostalgia, relembrando os velhos tempos, e agora já havia novamente aquele brilho doentio em seus olhos, e ele falava em um tom extremamente ameaçador, apesar de supostamente descontraído.
- Sim Rodolfo. Eu não voltei a esta cidade apenas para fazer turismo ou coisas do gênero. Estou aqui porque pretendo começar daqui minha escalada rumo ao poder ilimitado. Você ainda lembra quais são minhas ambições, certo? – Ele encarava Rodolfo nos olhos, e seu olhar não poderia expressar mais seriedade. O outro mantinha-se um tanto assustado, mas respondeu prontamente quando foi questionado.
- Você busca a imortalidade. Além de ser o bruxo mais poderoso de todos os tempos. – Voldemort sorriu, porém o outro continuou – Mas gostaria de saber como pretende fazer isso. Você sabe que sou seu amigo, e pretendo ajudá-lo com tudo que for necessário, mas ainda não conheço realmente seus planos...-
- Sabe Rodolfo, - cortou-lhe Tom, com a voz pacata - a ignorância em certas ocasiões é uma benção. Se eu lhe contar o que pretendo, sua vida perdera muito de seu valor...
Foi como se uma grande névoa penetrasse a sala. O silêncio desceu completamente sobre o ambiente. Rodolfo fitou atônito seu amigo. Sua garganta secou, enquanto via-se, sem dúvida, ameaçado por Voldemort. O outro retirou o pendante verde-esmeralda do bolso do manto e começou a observá-lo.
- Veja bem Rodolfo – Voldemort recomeçara a falar em seu tom leve e descontraído – enquanto somente eu conhecer meu plano, este só poderá ser descoberto se alguém conseguir extraí-lo de mim. Creio que pouquíssimas pessoas teriam poder para isso, logo, meu plano está completamente seguro. No entanto, se eu contar este plano para alguém, você por exemplo, as fontes para descobrir-se algo acerca dele duplicarão. Terei de cuidar não somente de mim, mas de você também...- Foi interrompido por Rodolfo, que mesmo assustado sentiu-se ligeiramente ofendido.
- Eu também sei me cuidar. Seu plano estará seguro comigo. - O jovem parecia implorar por receber esta confiança. Parecia-lha que o mundo acabaria se não fosse digno de saber sobre o plano de Tom.
- Duas coisas. – Começou Tom novamente com seu tom descontraído. – Primeira: Nunca mais me interrompa quando estiver falando algo importante. – Rodolfo engoliu em seco – Segundo: Você talvez seja capaz de se proteger hoje. Mas muito em breve pessoas começaram a invejar meus poderes. Muito em breve as pessoas irão querer me destruir para conseguirem para si o título de maior bruxo do mundo. Pessoas cujo poder será quase tão grande quanto o meu. Você acredita mesmo que conseguiria sobreviver desta forma? Nunca mais poderia confiar em ninguém, viveria paranóico e com medo. Acreditaria que a morte estaria a espreita a cada esquina.- Tom fez uma pausa, esperando que o outro respondesse, mas vendo que este não o fez, ele prosseguiu. – Não acho que você tenha capacidade para carregar tamanho fardo, e sinceramente, não acho que seja digno de saber.
O silêncio perdurou por alguns minutos. Tom descontraído e Rodolfo chocado, ninguém tinha nada para falar. Após este tempo, Voldemort levantou e caminhou até onde Rodolfo estava sentado.
- Seu braço esquerdo, por favor. – O jovem obedeceu resignado. – Vamos ver com quais desculpas meus tão fiéis seguidores gastarão meu tempo.- E terminando de falar ele encostou o dedo branco na tatuagem em forma de caveira no antebraço do outro jovem.
Voltando...
Rabastan aparatou na rua de sua casa acompanhado pelos outros dois. Não tinha vontade de permanecer ao seu lado, por isso abriu o portão e foi diretamente para seu quarto. Passou pela sala acenando com a varinha em direção as velas apagadas que haviam no local, afim de iluminar o caminho. Não deu atenção a nada, sua cabeça girava ligeiramente. Excesso de informação, era só o que conseguia dizer a si mesmo. Seria possível que em uma noite tantas coisas incríveis pudessem ter acontecido? Descobrir seu irmão lutando contra aurores. Encontrar um bruxo tão poderoso quanto Tom Riddle. Ver-se a si próprio como um criminoso, duelando na penumbra para evitar ser preso. E por fim, ter beijado Bellatrix. Era como se tivesse vivido um ano inteiro em apenas cinco ou seis horas. Quando chegou em seu quarto, livrou-se do terno, agora sujo da poeira do Beco Diagonal. Sentou-se na cama e apoiou a cabeça nas mãos, observando os sapatos, antes impecavelmente polidos, agora sujos e opacos. Sorriu por um instante quando imaginou a expressão de Lady Eugênia ao ver os sapatos imundos e as calças com os joelhos rasgados. Imaginou também o que ela faria quando soubesse o que Rodolfo estava fazendo. “Alias”, pensou ele, “O que Rodolfo estava fazendo?” Enfrentando aurores juntamente com Tom Riddle. Invadindo a Borgin & Burkes e roubando aquele medalhão estranho. No que será que seu irmão estaria se metendo?
Enquanto pensava nisso seu pensamento não conseguia vagar para Bellatrix. Tinha coisas mais importantes sobre o que refletir neste momento.
Ficou sentado na cama durante vários minutos, até que finalmente constatou que as respostas não estariam ali, e sim na sala do andar de baixo, onde Tom e Rodolfo estavam. Levantou-se e caminhou em direção ao quarto dos pais. Veria se estariam dormindo ainda. Na passada bateu os olhos no relógio de pêndulo do corredor: Cinco horas da manhã. Era incrível como conseguira passar tanto tempo na rua. Talvez seus pais estivessem preocupados. O melhor seria acordá-los para avisar que ambos, ele e Rodolfo, estavam bem.
- Mamãe...- disse ao empurrar a porta do cômodo, mas sequer terminou a frase, pois notou que o quarto estava vazio. “Estranho”, pensou ele, e voltou a caminhar, desta vez em direção a sala de estar. Estava na metade do caminho quando ouviu inúmeros estalos. Sem dúvida umas dez pessoas acabavam de aparatar no andar de baixo.
- Pelo visto a noite não foi animada o suficiente...
Parou de chofre no último degrau da escada. De lá conseguia ver e ouvir as pessoas que estavam na sala. Todos colegas de Rodolfo em Hogwarts: Malfoy, Crabble, Goyle e Rookwood. Faziam um estardalhaço, no qual eram distinguíveis apenas alguns pedidos de desculpas. Voldemort ergueu a mão, e imediatamente todos se calaram.
- Vocês me pedem perdão? Oras, vocês me conhecem, sabem muito bem que Lord Voldemort não perdoa. Querem que eu acredite que não fugiram por covardia? Fugiram sim. O único que ficou para trás foi Rodolfo, o que devo reconhecer como uma atitude de fidelidade.- Todos olharam para Rodolfo, que teve dificuldades para ocultar o orgulho. – Pois bem senhores. Posso lhes dizer que o melhor de todos os meus comensais está nesta sala aqui. – Rodolfo inflou-se novamente, pronto a receber as honrarias por sua coragem e fidelidade. Voldemort virou-se vagarosamente, caminhou em direção a escada e parou logo abaixo, fitando Rabastan.
- Este senhores, é o maior simpatizante de minha causa. – Imediatamente todos ficaram boquiabertos, incluindo Rabastan. Como poderia, alguém que jamais fizera nada para ajudar Lord Voldemort ser considerado seu maior simpatizante? – Quase posso ouvir seus questionamentos a respeito do que acabei de dizer. Porém, reafirmo que Rabastan Lestrange é o maior simpatizante de minha causa.
- Um instante por favor. – Rabastan sentou-se no degrau onde estava, e do alto da escada fitava Voldemort um tanto curioso. – Como posso ser simpatizante de sua... uhm... “causa”, se nem ao menos sei do que se trata? – Voldemort fitou-o por um momento. Parecia pensar em como responder.
- É uma boa questão Rabastan. Mas veja, está é a maior prova de que você pensa da mesma forma que eu. Você sequer tinha um motivo para estar naquele lugar, mas mesmo assim enfrentou aurores e foi contra diversas leis. Você mostrou-se tão despreocupado com estes detalhes quanto eu. Enquanto meus seguidores, que sabiam o porque de estarmos naquele lugar fugiam com o rabo entre as pernas, você lutava ao meu lado. Acredite, Lord Voldemort recompensa aqueles que se mostram fiéis. – O silêncio seguiu-se a este comentário, mas logo em seguida Rabastan falou novamente.
- Mas Tom, eu não estava lá por simpatia a sua causa. Estava lá porque o idiota do meu irmão estava lá. Eu só estava tentando tirá-lo de lá vivo, para que depois nossa mãe pudesse matá-lo...
- Só reafirma o que eu disse. Mesmo por um motivo tão banal você enfrentou aurores. Imagine o que faria se estivesse ao meu lado, e possuísse um real motivo para lutar. – Tom encarou Rabastan novamente, desta vez com bastante seriedade. – Isso está em seu sangue, é um instinto. Seja um Comensal da Morte. Sirva-me no caminho que trilharei até alcançar o que almejo, e com certeza receberá tudo o que desejar em troca. – Todos fitaram Rabastan por um momento, esperando sua resposta, mas foi Rodolfo quem falou primeiro:
- Ele não vai virar um Comensal. Não tem talento nem poder para isso. – Todos olharam-no assustados, menos Rabastan, que tinha no olhar um quê de desafio e Tom, que parecia divertir-se.
- Isso quem decide não é você Rodolfo. – Todos miraram Tom, mas este permanecia em silêncio. Quem falara fora Rabastan, que agora descia as escadas, seus passos ecoando tamanha era a força com que batia os pés no chão, e indo em direção ao irmão. – Ele me convidou, e eu aceitei. Se acha que eu tenho pouco poder, me derrote. – Ambos se encararam, e ficou evidente que estavam a segundos de uma embate. Os demais presentes na sala moviam-se ao redor dos dois. Antes porém, que alguém pudesse dizer alguma coisa Voldemort puxou a varinha, e com um aceno fez com que os dois irmãos sentassem-se nas poltronas da sala. Todos os demais fizeram o mesmo.
- Vocês terão muito tempo para brigar no futuro, mas de hoje em diante são meus subordinados, e não se enfrentarão. A menos que eu ordene, é claro... – Pareceu não restar dúvidas que não haveria um conflito naquela noite, e todos ficaram um pouco mais calmos. – Creio que esteja na hora de descansarmos. Nossa noite foi agitada, e amanhã teremos coisas a resolver.
Aos poucos os comensais foram retirando-se. Alguns conversavam, outros apenas pediam mais desculpas a Voldemort pela infidelidade da noite. Assim que Malfoy saiu, e restaram apenas os Lestrange e Voldemort na sala, Rodolfo chamou Dibs, e ordenou-lhe que arrumasse um quarto para seu convidado.
- Deixe o quarto impecável Dibs, pois Tom é um convidado de honra. – O elfo curvou-se em uma aceno e pediu para que Tom o acompanhasse. O homem o fez, e caminhou displicentemente atrás do pequeno criado.
- Nem pense em ser um Comensal Stan. Você não sabe onde estará se metendo. – O tom de Rodolfo não era de ameaça, e sim de aviso.
- Cuide de sua vida, “maninho”, e deixe que da minha cuido eu.- O irmão pensou e recomeçar a discussão, mas Rabastan interrompeu-o com um gesto. – Melhor eu ir até a mansão Black, avisar papai e mamãe que já estamos em casa, sãos e salvos. Voltarei em breve. – E dizendo isso foi em direção a porta.
Rodolfo ficou parado na sala por mais uns instantes. Ele não era o mais fiel servo de Voldemort. Finalmente fora derrotado pelo irmão em algo, e justamente naquilo que jamais quisera deixar de ser o melhor. Precisava mostrar para Voldemort que era o mais fiel de seus servos. Precisava mostrar que Rabastan era um idiota, e que não serviria para nada. Precisava de um plano.
- Você me paga Rabastan, você me paga...
As coisas pareciam ter se acalmado um pouco no interior da casa. Bellatrix já não ouvia mais nenhuma voz exasperada, e a movimentação parecia ter cessado. Não fosse pela luz das velas ainda acessas poderia-se ter a idéia de que todos na casa dormiam. A jovem sentia as mãos frias. Sua pele adquiria um tom levemente arroxeado. O vestido que usava não era apropriado para esta temperatura. Sentia o corpo tomado por leves tremores. Os cabelos já não estavam mais presos no coque como antes, estavam agora soltos, dançando ao sabor da brisa enregelante. A face rosada pelos açoites do vento não tinha expressão nenhuma, apenas reflexão. Passara horas sentada neste banco a pensar nas coisas que deveria fazer. Sentia-se na obrigação de acabar com as ilusões de Rabastan, mas não via maneiras de fazer isso sem destruir o coração do amigo. “Maldita hora que aceitei aquele beijo”, pensava ela. Se fosse em qualquer outro homem não haveria problema. Seria fria como sempre. Riria do caso junto com Rabastan, e no final o incomodo iria embora por si só. Mas agora, se fosse fria, não haveria Rabastan com quem rir junto após o término da estória. Não haveria ninguém para completar seus castigos com os criados. Perderia seu parceiro de longas conversas sobre a futilidade das pessoas que os cercavam, perderia seu melhor, e porque não dizer único amigo...
Não! Estava vendo o caso pelo lado errado. Ela mesmo dissera tantas vezes que Rabastan era apenas um parceiro de bobagens, nada mais do que isso. Não precisava de sua amizade. Não precisava dele por perto. Poderia muito bem continuar a insultar as criadas sem seu amparo. Amizades demonstram fraqueza, e ela provaria que era forte.
Levantou-se decidida. Assim que encontrasse com Rabastan iria dizer-lhe toda a verdade. Reservaria-lhe seu olhar mais frio e sua voz mais indiferente. Iria fazê-lo sofrer o suficiente de uma vez só. De certa forma estaria lhe ajudando. Talvez essa fosse realmente a atitude de maior amizade que ela poderia tomar. Só precisava preparar-se para quando fosse encontrá-lo novamente. Caminhou em direção a porta dos fundos, mas parou abruptamente ao ouvir um estalo. Alguém materializou-se em sua frente repentinamente. Seu coração descompassou-se. Era ele. Como poderia falar-lhe todas aquelas coisas agora, sem o menor preparo. Tentou manter a expressão indiferente, mas isto não era realmente necessário, pois a penumbra ocultava-os levemente.. O lua já estava a meia altura, mas ainda iluminava modestamente os terrenos daquela paragem. Rabastan virou-se ao perceber que havia mais alguém ali. Surpreendeu-se também ao ver quem era.
- Uhm... Bellatrix... err... ainda acordada? – Não conseguira pensar em nada para falar. Não esperava ter de reencontra-la tão cedo.
- Não Stan. Você nunca soube que eu sou sonâmbula? – A moça respondeu com um leve sorriso, então lembrou do que queria fazer e fechou novamente o cenho.
- A claro, pergunta estúpida... – Rabastan corou ligeiramente, o que foi percebido pela jovem. – Mas, uhm... sobre o que aconteceu antes...
- O que aconteceu antes foi um pequeno engano Rabastan. – Bellatrix interrompeu-o sem muita cerimônia. Queria terminar logo com aquilo. Por um instante sentia suas certezas fraquejarem. Até a pouco tinha como certo que nada sentia por Rabastan, mas agora estava confusa. “Mas não vou cometer o mesmo erro novamente”, pensou ela decidida. – Somos amigos, e nada mais. Eu estou prestes a me casar, e não quero manchar minha fama.
- Sua fama? – Rabastan deixou escapar uma risada. Tantas vezes ouvira Bellatrix difamando moças que “evitavam macular suas reputações”. Sabia que ela estava apenas tentando evitá-lo, e não podia culpá-la. – Mas, sobre o beijo, uhm... não acho que tenha sido um erro. Creio que era algo que ambos queríamos. Você só não tem coragem de admitir isso. – Foi a vez de Bellatrix gargalhar. Rabastan esperava esta reação, por isso sequer se assustou.
- Eu não tenho coragem? Ora por favor Rabastan. Você me conhece a tempo suficiente para saber que eu não me apaixonaria por qualquer um. – A jovem abandonara completamente seu plano. Já não havia frieza em seu olhar, e sua voz não poderia ser menos indiferente. Estava visivelmente perturbada e o motivo era que de certa forma uma pequena parcela de sua mente concordava com o que Rabastan acabara de dizer. – Se eu quisesse algo com você eu já teria tomado uma providência. E se você quisesse algo comigo não teria permitido que seu irmão me pedisse em casamento.
- Isso é fácil de resolver. Ele não sente nada por você. Com a negociação certa ele desistirá do casamento. E se ele não quiser eu farei com que ele abandone essa idéia. A força se necessário for.
- Mas você não pode se casar comigo. Meu pai jamais permitira. Ele presenciou nosso momento de insanidade mais cedo, deve estar com rancor de você. Afinal de contas você desrespeitou minha honra.
- Com ele eu me acerto. Ele sempre disse que queria que eu fosse seu filho. Como genro não haveria grande diferença. E eu não te desrespeitei, pois você consentiu com o beijo.
Bellatrix começou a abalar-se ao ver seus argumentos ruírem um a um frente o que Rabastan dizia. E mesmo abalada ela admirava a convicção com que ele falava. Nunca o vira tão certo, tão seguro do que dizia. Ele era normalmente uma pessoa apática, sem vontade para nada. Só demonstrava tamanho interesse quando queria muito alguma coisa. Sentiu seu ego inflar-se levemente quando completou o raciocínio. Este interesse só podia significar que ele queria-a. Muito.
Rabastan percebeu que sua amiga perdera o ritmo. Ela não tinha mais o argumentos para negar-lhe o que sentia. Via sua confusão aumentar. Seu rosto empalidecera, acompanhando o crescimento de sua insegurança. Ele poderia ficar discutindo a noite inteira com ela os motivos que fundamentavam suas paixões. Mas havia um modo mais fácil de convencê-la. O jovem aproximou-se lentamente da amiga. Viu seus olhos azul-escuros dilatarem-se de pânico. Ela temia o que estava por acontecer. Sabia que se fosse beijada novamente, talvez suas verdades caíssem por terra. O jovem tocou levemente seu rosto com a ponta dos dedos. Desta vez seria como em seu sonho. Ele aproximou-se mais. Já poderia abraçá-la. Aproximou seu rosto do dela. Seus olhos negros encontraram os azuis. A mão que tocava o rosto deslizou até a nuca. Ela encarava-o atônita. Tentava com todas as forças reagir, evitar ser beijada, mas já não tinha tal capacidade. Sua mente lutava para livrá-la daquele abraço, mas seu corpo não conseguia, ou não desejava obedecer. E quando estavam com os narizes quase se tocando ela se deu por vencida e fechou os olhos. O jovem sorriu levemente, e pensou, “desta vez não há Dibs para me acordar”...
Minutos mais tarde ambos entraram pela porta dos fundos na Mansão Black, que levava para a cozinha. Caminharam em silêncio até chegarem a sala de estar. Rabastan adiantou-se a entrar no cômodo, mas foi seguro por Bellatrix.
- Eles não podem nos ver entrando juntos. Meu pai já está desconfiado, se imaginar que tornamos a nos... – ela enrubesceu antes de conseguir terminar a frase, mas continuou a falar ao flagrar a sombra de um sorriso perpassar os lábios de Rabastan – que tivemos outro deslize, ele terá um ataque de nervos. Lembre-se que ainda tenho minha honra.
Rabastan fingiu gargalhar. A jovem lançou-lhe um olhar reprovador, mas foi traída pelo sorriso que não conseguiu conter. O rapaz concordou com o que ela dissera, e então ambos se despediram. Ela ficou para trás. Esperaria que ele entrasse na sala para em seguida vir ao local.
Rabastan entrou na sala e imediatamente todos correram a seu encontro. Sua mãe parou de chofre a sua frente ao perceber o estado de suas roupas: aparentemente isso fora o suficiente para emudecê-la por um tempo. Os demais enchiam-no de perguntas difusas, as quais ele custou alguns minutos até entender. Depois de um tempo conseguiu explicar que ambos, Rodolfo e ele, estavam bem e que nada havia acontecido.
- Mas onde foi que você se meteu seu irresponsável? Obviamente Rodolfo tinha algum assunto urgente para tratar, mas você é apenas um moleque, não pode sair assim sem nos avisar. Porque saiu dessa forma e para onde é que foi? – Lady Eugênia recobrara a voz, e parecia decidida a recuperar o tempo perdido. Seu filho poderia ter respondido prontamente, mas pensou sobre o real motivo que o levara a fugir daquela casa. Se Lord Cygnus desse com a língua nos dentes e comentasse o “incidente” envolvendo sua filha, com certeza Rabastan estaria em um “mato sem cachorro”. Olhou para o pai de Bellatrix ansioso, esperando por sua reação, mas o homem apenas o encarava, sem expressar qualquer sentimento. Conseguia mostrar-se tão indiferente como a filha. Neste momento Bellatrix adentrou a sala pela porta contrária a qual Rabastan viera. Sua expressão ao ver o amigo foi de total tédio.
- Finalmente apareceu Stan. Estavam todos preocupados com seu estranho sumiço. Mas já que voltou, acho que já posso ir dormir. – Todos voltaram-se para ela. – Creio que a vigília tenha terminado, afinal de contas os dois já estão em casa seguros, não aconteceu nada, não é?
Os membros das duas famílias concordaram. Não havia porque se preocupar, e já não havia porque permanecer acordados. Os Lestrange decidiram por partir aparatando, deixando que a carruagem onde vieram pernoitasse na Mansão Black. Todos despediram-se e preparavam-se para partir quando subitamente Cygnus falou em voz alta:
- Só um instante. Bella, como você sabia que ambos estavam bem se não estava na sala quando Rabastan nos deu esta informação? E porque você entrou na casa pela porta da frente se estava sentada no quintal atrás da casa? – A atenção voltou-se completamente para a moça, que conseguiu permanecer impassível. Controlar emoções como vergonha, euforia, tristeza era uma habilidade que os jovens Slytherin aprendiam desde cedo. Bruxos competentes jamais revelavam o que se passava em suas mentes. Porém apenas manter-se tranquila não adiantaria, ela precisava de uma boa resposta. Pensou por um instante, mas nada vinha a sua mente. Poderia dizer que havia ouvido a conversa, mas isso não justificaria a volta que dera na casa para entrar pela frente. Precisava calcular muito bem o que diria, para não levantar suspeitas sobre o que realmente fizera. Quando começou a abrir a boca para responder porém, Lord Adolfo interviu na conversa:
- Ora Lord Cygnus, estas sendo um tanto paranóico. A jovem apenas deve ter dado uma volta para espairecer, e deve ter ouvido Rabastan falando que ambos estavam bem. São o sono e o cansaço que suscitam estas duvidas em nossas cabeças, mas agora que tudo está bem, não há mais com o que se preocupar. Desculpe-me a pressa, mas temo que teremos pouquíssimas horas para dormir, então melhor aproveitá-las de forma apropriada. Mais uma vez obrigado por nos receber aqui, e boa noite. – Dizendo isso, Lord Adolfo pôs fim a discussão e com um breve aceno ele despediu-se e partiu aparatando, sendo seguido por sua esposa e pelo filho.
Os Black também recolheram-se em seguida, sem mais mencionar as desconfianças de Lord Cygnus. Mas este não aceitara inteiramente o que Adolfo dissera como verdade. Para ele havia nesta estória algo que não lhe cheirava bem. “Mas com isto”, pensou ele “eu posso me preocupar amanhã”.
Quando aparataram nos jardins de sua casa, os Lestrange sequer pararam. Seguiram diretamente para o interior da residência, mais precisamente para seus respectivos quartos. Quando estavam a porta, Rabastan lembrou-se que talvez fosse bom avisar a seus pais sobre o convidado que tinham.
- Mãe, pai, esqueci de avisar-lhes. Temos aqui um convidado. Um amigo de Rodolfo que esta de passagem pela cidade, e pediu pousada em nossa casa. Creio que não vêem problema nisso, certo?
- Claro que não filho. Desde que não seja nenhum sangue sujo ou um mestiço. – Lady Eugênia respondeu ácida como sempre.
- Nada disso mãe, Tom Riddle sempre foi um excelente bruxo...
E ai está.!! Ao som de Aerosmith, e depois de muito (muito mesmo) tempo eu finalmente consegui acabar o tão aguardado capítulo 5!!! Menos movimentado que o anterior (eu diria mais chato :D) mas mesmo assim, com alguns momentos que fazem valer a pena... Acho que agora vou poder escrever mais constantemente, mas não prometo nada... o grosso dos trabalhos já passou, só tenho que estudar pro vestibular (só isso O.o) mas acho que é possível... bem vejamos o que o nosso amigo destino tem reservado pra gente ai no futuro né... See ya folks!
P.S: Samara e Kristina, desculpem a demora, é que realmente não deu tempo pra escrever, nem pra ler as fics de vocês, nem pra nada :P, mas vou tentar ser mais atencioso de agora em diante. Para todos os outros que leram, muito obrigado pelos comentários.
E em especial para o Senhor Heitor, que me deixou uma crítica violenta (T_T hehehe), mas que me fez rever alguns de meus conceitos sobre escrever. Assim como o senhor, eu também achei a cena do primeiro beijo meio fraca, mas foi o melhor que eu consegui... e vou tentar melhorar bastante daqui pra frente. Obrigado mais uma vez por seu comentário.
E por último, pra encerrar o P.S, acho que não poderia deixar de agradecer a srtÁ Blackclaw (hauhauha emaa!!). Na verdade não tem o que agradecer, é só para dizer que tu foi mencionada aqui mesmo, senão depois tu fica chorando e me chamando de ingrato :D
Bem, como diria um amigo meu: Beijo para as garotas, tchauzinho para os garotos e fui.
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