LILITH



CAPÍTULO XXVI


LILITH


Enquanto apenas horas se passavam em Avalon, os dias corriam em Hogsmeade.


Após algumas horas caminhando, Harry e Arthur encontraram a estrada que os levaria a base da Montanha de Prata. O Sol começava a despontar no horizonte, a tempestade havia desaparecido.


A silhueta da Montanha de Prata agora se destacava no horizonte, naquele fogo azul-acobreado. O céu se tingia de vermelho-sangue, os raios dourados iluminavam a paisagem maravilhosa daquele lugar e fazia tudo irradiar brilho e beleza fazendo-o lembrar dos olhos castanhos de Gina. Harry suspirou pela lembrança da namorada. Pelo menos, aquela visão lhe transmitia força e esperança. A certeza de que, as tempestades carregam os males e trazem, conseqüentemente, luz, esplendor e por que não dizer, magia?


Havia um rio selvagem cortando aquela paisagem de florestas antigas, altas montanhas e vales verdejantes. Enquanto caminhavam, eles se deparavam com uma série de animais, mágicos ou não: ursos, águias, lobos, bisontes, martas, texugos e esquilos. Havia uma profusão de flores das mais diversas cores, salpicadas aqui e ali, como se tivessem saído de um quadro onde o artista planejou cuidadosa e milimetricamente os contrastes e matizes. Duendes e fadas brincavam na relva, sem dar a menor importância aos dois viajantes.


A paisagem era belíssima e tudo o mais. Nada parecido com o clima tempestuoso e misterioso com o qual Avalon os recebera. No entanto, Harry não pôde deixar de notar que um denso e forte nevoeiro circundava o topo daquela montanha, escondendo talvez, a entrada secreta da gruta de Lilith. Harry lembrou-se, então, das palavras de Lady Lohana sobre a velha bruxa e perguntou a Arthur o que este achava.


_ Existem muitos mistérios, fantasias, verdades e mentiras em tudo o que nos cerca, Harry. Cabe a nós distinguirmos o real do imaginário, a lógica do absurdo. Os trouxas não acreditam em bruxos por que, como você já sabe, fomos obrigados a nos separar, embora tenhamos convivido pacificamente no passado. O medo, a intolerância, a inveja, o preconceito, a ignorância foram os responsáveis por tal desatino.


Como Harry continuasse calado, Arthur prosseguiu.


_ Eu já havia escutado falar sobre Lilith. Ela seria, para os bruxos, tal qual Eva era para os cristãos. A mãe de todos os seres terrenos.


_ Lady Lohana comentou que Lilith não estaria morta... – falou Harry, cético.


_ Nem tão pouco viva. – completou Arthur. _ É, Harry, entendo seu questionamento, mas só digo a você o seguinte: muitas existências se sobrepõem aos conceitos de vida e morte que possuímos... Está além da nossa capacidade de compreensão... Acreditar ou não, é uma questão de racionalidade ou da falta desta... – nesse ponto Arthur sorriu.


_ Se ela puder mostrar como nos livrarmos de uma maldição tão antiga e poderosa para mim, é o que me basta. – pontuou Harry.


O Sol já estava um pouco mais alto neste ponto da conversa. Eles notaram que a base da Montanha de Prata estava cada vez mais próxima e começaram a compreender por que ela possuía aquele nome. Pepitas de prata incrustavam as rochas em tal quantidade que, a partir daquele trecho, haveria a necessidade de providenciarem óculos protetores ao brilho ofuscante do mineral, causado pelos raios de sol. Naturalmente, pensou Harry, era por isso que nenhum ser vivo, mágico ou não, ousava se aventurar a uma maior proximidade da montanha.


_ Por que será que ela escolheu basicamente essa montanha para ser o seu refúgio? – Harry ainda indagou.


_ Talvez porque a prata seja muito mais apreciada pelos bruxos do que o ouro, Harry. Inclusive a prata possui propriedades curativas. Lembra do sangue do unicórnio? Este também é prateado. Muito mais perfeito. O ouro e a prata, ambos atraem pelo brilho, mas a prata é menos chamativa, porém, pode cegar. Mas isso não importa...

++++++++++++++++++++++++++++

Na manhã daquele sábado, vinte e seis de junho, Hermione acordou esperando sentir um certo arrependimento, mas não lamentava ter aceito o convite de Rony para irem juntos a festa de aniversário de Nick Taney. Estava um pouco apreensiva, sem dúvida, mas nada como o que imaginara experimentar.


A ocasião seria uma oportunidade para conhecer outros habitantes de Hogsmeade e das redondezas e ela estava mesmo precisando de um pouco de diversão depois de todo o trabalho envolvido na mudança e inauguração da loja. E quanto a Rony... Bem, eles estavam convivendo juntos e ele não tentara forçar um contato mais íntimo... De repente, sentia-se disposta a correr alguns riscos. Talvez fosse a certeza do caráter temporário do relacionamento, o conhecimento de conviveriam juntos somente até que aquele absurdo se desfizesse.


Animada, seguiu para a loja cantarolando e entregou-se ao trabalho com um vigor espantoso. E enquanto trabalhava, de vez em quando olhava para a porta esperando ver Rony do outro lado. Mas ele não apareceu. E tinha que admitir que estava desapontada. Presumira que ele apareceria, uma vez que aquele era seu dia de folga... Talvez para apressá-la com os preparativos para irem à festa...


Envolvida com algumas anotações referentes ao inventário, tentou convencer-se de que a ausência era uma prova de que não haveria um relacionamento entre eles. Não mais. Passariam alguns momentos juntos, mas seria só isso. E era isso que queria. Deixara claro que não desejava mais envolver-se.


A teoria deveria ajudar a dissipar a tristeza por não vê-lo na porta, mas não foi o que aconteceu. Fechou a loja mais cedo e voltou para casa, a fim de se preparar para a noite. No entanto, a sua ansiedade de chegar em casa era para revê-lo e não para se arrumar...


Qual não foi a sua decepção ao perceber que o ruivo ainda não estava lá. Apenas Bichento veio recebê-la quando entrou. Ah, Merlin... Hermione se recriminava, mas por que droga ela estava pensando tanto nele? Tentando afugentar aqueles pensamentos, rumou para seu quarto e se trancou por lá. Iria descansar um pouco e depois começar a se arrumar...

++++++++++++++++++++


Ao sopé da montanha, Harry e Arthur perceberam que não havia mais necessidade dos óculos. Ali perto o brilho da prata não era tão intenso como quando a viam de longe. Apesar daquela montanha possuir um paredão bem vertical, Harry notou que havia uma picada que a circundava, um pequeno caminho aberto a golpes de algum objeto cortante, como um sabre ou mesmo uma espada. Alguém já estivera ali antes, mas como o mato já tomava o caminho, já deveria fazer algum tempo.


Harry pensava em sua nova desconhecida e tentava se lembrar da conversa com Lady Lohana e de como ela descrevera a bruxa Lilith.


Lilith seria uma bruxa da noite ou da lua negra, metamorfomaga, que adota a forma de coruja. Costumava ser vista nua, envolta por um manto vermelho e uma serpente. Na cabeça, um adorno de chifres e nas mãos, uma caveira que muitos diziam funcionar como bola de cristal.


Ela utiliza a água como uma espécie de portal para o seu mundo. Algumas tradições dizem que Lilith sai mundo afora para seduzir tanto a homens quanto a mulheres para logo em seguida assassiná-los e sugar seu sangue sendo, assim, associada a vampiros ou, ainda, que é um terrível mago negro, iniciador ou criador de entidades maléficas, tais como as lamias, as estriges, as harpias, as górgonas, as rínias e fúrias, as moiras e parcas, etc.


Por outro lado, Lilith traz à tona o lado secreto e obscuro da personalidade humana. Identificar e trazer à luz esses aspectos é fundamental para cultivar o autoconhecimento e alcançar a paz de espírito. Eleva o inconsciente e as emoções que são a porção mais profunda e desconhecida da alma, como um lugar inexplorado. Nesse ponto de pouca ou nenhuma luz, escondem-se sentimentos que precisam vir à tona para obtermos mais equilíbrio. Se ambas as facetas, a brilhante e a inconsciente, forem conhecidas e bem direcionadas, teremos individualidades equilibradas e luminosas, poder gerar sentimentos e atitudes.
Absorto em tais pensamentos, Harry tocou o amuleto de jade em seu pescoço e nem percebeu quando Arthur o chamou para darem uma parada a fim de descansarem um pouco.

+++++++++++++++++++++++

Hermione virou-se devagar na frente do espelho. Indecisa, mordeu o lábio num gesto nervoso. O vestido vermelho era justo, decotado na frente e nas costas, e apesar do comprimento ser conservador, na altura dos joelhos, havia uma abertura lateral que revelava mais da metade de uma coxa. Esse vestido fora um presente de Harry e Gina em seu último aniversário. Escolha de Gina, naturalmente. Estava novo, sem uso. Arrumou os cabelos num coque frouxo, com alguns cachos soltos e calçou uma sandália de salto alto.


Procurando se distrair para não ficar ansiosa, ela preparou uma bebida leve e sentou-se perto da janela para apreciar a suave brisa que soprava. Começava a se sentir confusa e desorientada. Não sabia por que Rony estava demorando tanto a chegar. Será que ele havia se esquecido da festa? Talvez devesse procurá-lo para saber se havia acontecido algum problema na corporação...


Suspirou e levantou-se no momento em que Rony surgiu à entrada da sala. Olharam-se por um instante... Ela mal conseguia disfarçar a felicidade e ele não podia ocultar o prazer de vê-la tão bela. Parecia que estavam se reconhecendo, se analisando pela primeira vez...


_ Uau! – disse ele saindo do torpor no qual se encontrava. _ Tudo que posso dizer é que sinto-me mais seguro sendo um guarda-bruxos.


_ Por quê? – indagou ela em tom confuso, mas toda a hesitação relativa à escolha do vestido desapareceu quando ela viu sua expressão admirada.


_ Porque saberei apagar todas as combustões espontâneas que surgirem por onde você passar. Tem idéia de como está encantadora?


_ Eu... – ela não sabia o que falar. Aquele elogio singelo a pegara de surpresa. Rony como sempre tão... Tão Rony... _ Não. – ela conseguiu finalmente falar e sem saber mais o que dizer, perguntou: _ Onde você estava? Quer dizer... Você ainda não está pronto...


_ Sai mais tarde do trabalho e depois fui direto ao meu apartamento pegar uma roupa – apontou as peças que trazia no braço. _ Passei a tarde por lá e agora estou vindo pra cá. Estamos atrasados?


Hermione consultou o relógio na parede.


_ Na realidade não. Só quis me aprontar logo...


_ Então tá... Se você não se importa vou entrar para me trocar, ok?


Quando Rony a deixou e foi rapidamente para o quarto, Hermione voltou a sentar-se perto da janela, pensativa. Sabia o quanto o amor por Rony ameaçava o futuro tão cuidadosamente planejado e as promessas que fizera pra si mesma. Mas no momento, nada disso parecia ter importância...


Ele voltou quinze minutos mais tarde, com os cabelos ruivos ainda molhados pelo banho. Vestia uma calça escura, uma camisa branca largada por cima da calça, a qual, ainda abotoava. Na mão, um paletó.


Hermione deixou a bebida sobre a mesa de centro ao notar os olhos azuis suplicando por ajuda. Por impulso, aproximou-se dele e começou a ajeitar o colarinho da camisa, enquanto ele lutava com os botões do punho.


_ Fique quieto, enquanto arrumo sua camisa, Rony!


Os corpos estavam tão próximos um do outro que era quase impossível resistir...


Hermione percebendo o que estava prestes a acontecer, afastou-se dele comentando:


_ Perfeito! Você está muito elegante!


_ É - disse Rony suspirando inconformado. _ Pelo menos, é bem diferente das vestes de gala que usei no quarto ano...


Hermione riu gostosamente ante a lembrança do ruivo e ele fez uma careta enquanto terminava de se arrumar.

+++++++++++++++++++

Harry e Arthur já estavam quase chegando no topo da Montanha de Prata em meio a uma densa neblina, apesar do Sol brilhante que aquecia Avalon, quando avistaram uma caverna cuja entrada possuía a descrição feita por Lady Lohana, um V invertido. Suspiraram.


Aquela parte da montanha era mais larga, como um tampo de uma grande mesa feita de rocha. Havia, na entrada, um arbusto retorcido, onde vários corvos estavam em repouso.


Pé ante pé, eles seguiram em direção à entrada da gruta que, aparentemente, estava aberta. No entanto, ao se posicionarem no centro daquele portal, foram arremessados por uma força invisível, e cairam de costas no chão duro e pedregoso.


_ Estamos fazendo algo errado, Harry. - disse Arthur enquanto se levantava, limpando a roupa e remendando alguns arranhões.


Pensativo, Harry analisou que Hermione fazia falta nessas horas, com seus estudos e lógicas absurdas, mas que acabava sempre gerando um resultado positivo. Procurou lembrar-se, mais uma vez, de tudo que Lady Lohana havia dito para ele a respeito de Lilith. Lembrar, mentalizar, detalhar... Cada mínimo detalhe era importante. Olhou para as gralhas, pensou em corujas... elas são animais com hábitos noturnos; Lua Negra. Isso era bom, pois eles estavam em fase de Lua Negra. Noite. Água. Não havia água por ali. “Pensa, Harry... Pensa!...”


Arthur olhou para Harry um tanto desconfiado, pois o rapaz fazia caretas e coçava sua cicatriz como nos tempos de Voldemort.


_ Sente dor? - perguntou a Harry.


_ Quê? - perguntou Harry, virando-se assustado, como se não se lembrasse de que alguém o acompanhava.


_ Perguntei se sente dor... Na sua cicatriz...


_ Ah! Isso? - apontou para a marca. _ Não, Arthur, não mesmo. Faz muito tempo que minha cicatriz não dói. É só uma mania minha. - após uma pausa ele continuou. _ Acho que teremos que ficar por aqui até a noite cair. Já é fim de tarde. Logo, logo vai anoitecer. Vamos comer alguma coisa... Estou varado de fome por causa dessa caminhada...

++++++++++++++++

_ Não precisava ter se incomodado, Hermione.


Nick Taney pegou o enorme embrulho das mãos de Hermione com um sorriso arrebatador. Rony vinha logo atrás dela e observava o amigo, tentando controlar os monstros de seu interior que já ameaçavam emitir longos e altíssimos urros e grunhidos.


_ É um presente pra você – disse ela. _ Afinal é seu aniversário, não poderíamos chegar de mãos vazias. Eu e Rony o escolhemos. - explicou. _ Espero que você goste.


Os olhos de Nick encontraram os dela por um instante, fazendo-a se constranger.


_ Sua presença é mais do que suficiente. - falou Nick com voz rouca e arrastada. Então, ele piscou e só então percebeu a presença do amigo. _ E ai, Weasley? Beleza?


_ Depende Taney. Tua cara pode continuar uma beleza... Você escolhe... - grunhiu Rony para Nick. Hermione olhou de um para outro, aborrecida. Estremeceu quando sentiu a mão forte de Rony rodeando possessivamente seu braço.


_ Não se preocupe. - sussurrou em seu ouvido. Depois virou-se para Nick sem perceber o arrepio que ela tentou conter sem muito sucesso. _ Com licença, Taney. Há alguém que eu quero que Hermione conheça. - e segurando seu braço, levou-a para algum ponto do quintal da casa de Nick. Hermione não teve outra opção senão segui-lo.


Nick arqueou as sobrancelhas e empertigou-se.


_ É Nick, parece que não vai ser dessa vez. - Samanda chegou perto dele, sorvendo vagarosamente uma bebida rosa-choque esfumaçante e deu-lhe um safanão que o desequilibrou. Emburrou a cara quando a amiga prosseguiu. _ Eles estão apaixonados. Só não vê quem não quer...


Nick deu de ombros, enlaçou o braço de Samanda e falou:


_ Tá, então. Perco a batalha, mas não perco a guerra. - falou enquanto estufava o peito, pavoneando-se pelos jardins e cumprimentando seus convidados. Samanda limitou-se a sorrir.


Enquanto isso, Rony chegava com Hermione perto de um grupo que conversava animadamente.


_ Hermione, este senhor é o pai de um dos rapazes com quem trabalho. Veio da Polônia para cá quando ainda era bem jovem. – e no ouvido de Hermione disse bem baixinho: _ Ele adora livros.- e virando-se para o velho bruxo:


_ Senhor Waslowski, esta é minha amiga de que lhe falei, Hermione Granger, a dona da nova livraria de Hogsmeade.


_ Muito prazer, senhorita Granger. – ao cumprimentá-la, Stash Waslowski beijou a mão de Hermione, com os olhos iluminados por um misto de surpresa e contentamento. _ Já ouvi falar muito da senhorita, não me entenda mal. Sei que deve estar cheia de elogios baratos, mas receba com carinho a simpatia desse velho bruxo. Você é famosa por sua inteligência e sabedoria. E por ajudar a derrotar Voldemort, é claro...


_ Muito prazer, Sr. Waslowski. – cumprimentou Hermione alegre. Ela sentiu sinceridade na voz do bruxo. E alguma coisa em seu semblante a fazia se lembrar do velho amigo e mestre professor Dumbledore. Stash Waslowski era um bruxo discreto, de longa barba e cabelos grisalhos. Os pequenos olhos verdes acinzentados transmitiam paz e serenidade.


Palavras que sempre soavam estranhas aos ouvidos de Rony começaram a ser trocadas pelos dois. Hermione era uma verdadeira biblioteca ambulante. Ficar atolada na biblioteca de Hogwarts fizera muito bem para o presente. Não era à toa que a loja dela já estava bem conceituada. Ele os deixou conversando e foi cumprimentar outras pessoas.


Hermione e Stash conversaram animadamente sobre livros e histórias de bruxos, sendo que ele prometeu fazer uma visita logo em breve a “Feitiços & Rabiscos”, para a felicidade dela. Depois, Rony voltou e a levou para conhecer outras pessoas que estavam na festa, a fim de que ela pudesse fazer uma boa clientela. Tudo para agradá-la. Mas sempre longe de Nick... Só por precaução...


Surpresa, ela balançou a cabeça e comentou quando se viu novamente sozinha com Rony:


_ Bem, parece que conseguiu me entrosar com a metade da população de Hogsmeade. O que mais tem em mente para mim?


O sorriso era tão envolvente que ela teve a sensação de estar em um casulo, protegida dos olhares curiosos daqueles que os cercavam. Outra torre estava prestes a cair...


_ Que tal... Eu?


Pela primeira vez, desde que o reencontrou, ignorou completamente a mágoa e a apreensão e concentrou-se apenas no homem e amigo maravilhoso que estava diante dela, no que ele fizera no passado e no que ainda fazia por ela. Lembrou-se de como ele sempre era “seu guardião” na escola e de como a protegia na guerra contra Voldemort... E o primeiro livro pelo qual ele realmente se interessou? Foi para conquistá-la... “Doze maneiras infalíveis de encantar bruxas”... Presente de Fred e Jorge... Bruxo cabeça-dura... Precisou de lições para aprender a conquistar uma mulher. Ela achou isso lindo da parte dele... Soube depois, por Gina, quando eles estavam namorando... Talvez, talvez devesse realmente dar mais uma chance a ele e ao seu coração...


Sorrindo, enganchou o braço no dele. Notou que o gesto o surpreendeu, o que só aumentou sua satisfação.


_ Excelente sugestão. Na verdade, a idéia é tão perfeita que chego a estar desconfiada.


Fingindo inocência exagerada, Rony conteve o impulso de beijá-la ali mesmo, diante de todos os convidados. Em vez disso, levou-a até a mesa onde havia uma vasilha com um ponche verde esquisito borbulhante e outras bebidas igualmente surpreendentes em cor e composição.


_ Desconfiada? Do quê?


_ Da minha capacidade de percepção, por exemplo.


_ Não faça isso.


_Não fazer... O quê? - Hermione estranhou, surpresa com o tom subitamente sério dele.


_ Não pense demais em coisas para as quais não existem explicações racionais. – e voltou a sorrir. _ Não esperava que viesse.


Ela travara aquela mesma batalha mental dezenas de vezes... e perdera todas elas.


_ Eu disse que viria, não? E, além do mais, você está se comportando bem.


_ Então, consegui impressionar Hermione Granger? – disse ele com cara de espanto, fazendo-a sorrir.


_ Certamente. – ela respondeu, ainda rindo.


_ É bom saber disso. _ E segurou a mão dela contendo impulsos que não podiam ser satisfeitos. Urgências que surgiam tão fortes que o surpreendiam. _ Vamos aproveitar a festa? Quero que conheça mais algumas pessoas. O Natal está se aproximando e todos precisam de sugestões para presentes.


_ Natal, Rony? Julho ainda vai iniciar!


_ E dezembro estará chegando antes que perceba. – sorrindo, olhou em volta e calculou rapidamente o número de convidados. Devia haver pelo menos setenta pessoas ali.


O cenário sugeria mais que uma simples comemoração de aniversário. Nick havia pendurado faixas coloridas e lanternas de papel em vários pontos do jardim e do quintal de sua casa.


_ Nick está comemorando mais alguma coisa além do seu aniversário? – ela perguntou erguendo as sobrancelhas.


_ O solstício de verão, Mione. Você sabe, os bruxos comemoram todas as entradas de estações.


_ É, eu sei. Mas o solstício foi dia 21. – ela argumentou.


_ Mas não faz mal comemorarmos mais um pouco, não é?


Em pouco tempo, Hermione descobriu que todos os convidados sabiam mais sobre a “Feitiços e Rabiscos” do que ela mesma... Estava abismada com a atitude de Rony. Não esperava isso dele...


O líquido amarelo que ele despejou em dois copos altos e finos tinha um sabor intrigante.


_ O que é isto? – ela perguntou curiosa.


_ Gostou? – ele havia se aproximado dela um pouco mais.


_ Sim, é... Ácido e doce ao mesmo tempo,com um toque de mistério...


_ Eu não teria feito uma descrição mais exata. Ácido e doce, com um toque de mistério... como você, Mione. Você sempre foi um mistério pra mim...


Fingindo estudar o copo para esconder o rubor que teimava em tingir-lhe as faces, ela perguntou:


_ Qual é o segredo? - ela sentiu os olhos dele fixos nos dela _ Quero dizer... da bebida?


_ É o que estou explorando neste momento. – a respiração dele estava mais acelerada, mas ele prosseguiu corajosamente com a investida nessa nova jogada.


_ Na bebida, Rony... o que tem na bebida? - A voz dela falhava. Podia sentir o calor do corpo dele e o aroma da bebida em seu hálito.


_ Licor de sílfides...- o tom de voz dele era extremamente sedutor. Ela o encarou. Os olhos azuis adquiriram uma tonalidade mais escura, apaixonada.


Hermione sentiu novamente o sabor daquela bebida. Só que, desta vez, nos lábios de Rony quando ele a beijou.

*********************************************















Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.