ANDANDO SEM RUMO CERTO



CAPÍTULO III


 


ANDANDO SEM RUMO CERTO


 


            Após a surpreendente aparição de Hermione, que o deixara falando sozinho, Rony resolveu guardar a lenha na garagem onde antes ficava o Ford Anglia de seu pai. Sorriu quando se lembrou de que ele e Harry quase haviam sido expulsos de Hogwarts por terem voado naquele carro e serem vistos por cerca de sete trouxas. Porém, sua admiração pelo automóvel trouxa enfeitiçado aumentou depois que ele (o Ford Anglia) os ajudou a fugir das acromântulas na Floresta Proibida em seu 2º ano na escola. Ele e Harry foram lá para conversar com Aragogue sobre o fato de Hagrid ter culpa ou não pela abertura da câmara secreta e sobre a morte da Murta-que-geme. Por conta dessa aventura, havia também recebido um “berrador” de sua mãe na frente de todos os alunos, no refeitório. Ficara muito envergonhado... Suspirou. Como sentia saudades daquele tempo!


 


            Passou ainda alguns minutos admirando o exterior da casa de seus pais, onde vivera desde seu nascimento. Tinha excelentes recordações dali. O laguinho, as árvores crescidas, os gnomos... Seu único inimigo naquele jardim era o armário de vassouras, uma casinha de pedra infestada de aranhas.


 


            _ Bichos asquerosos! – exclamou em voz alta e fazendo uma careta. Olhou para si mesmo e constatou: estava sujo, suado, precisando de um bom e demorado banho. Sentia sede também.


 


            Resolveu, então, entrar na Toca pela porta da cozinha. Pequena e apertada, com uma grande mesa em seu centro e repleta de cadeiras, a cozinha dos Weasley se ligava à sala de estar que, por sua vez, era cheia de poltronas. Somente estes dois cômodos formavam o andar térreo da residência. Ronald se dirigiu à pia e lavou as mãos. Em seguida, pegou um grande copo d’água e virou-se em direção à sala. Levou o copo a boca e, então... a viu... novamente... recostada em uma das poltronas. Parecia que ela estava... dormindo?


 


            Caminhando vagarosamente e sem emitir nenhum ruído, ele aproximou-se dela e observou o seu semblante adormecido. Hermione tinha o rosto sereno e ressonava suavemente. Olhando assim de perto, ela parecia muito cansada, mas não deixava de ser encantadora. Colocou o copo na mesinha ao lado. Com extremo cuidado para não acordá-la e ternamente comovido por tê-la tão perto de si, Rony acariciou-lhe os belos cabelos castanhos que agora possuíam um leve tom dourado. Estavam macios e brilhosos. “O que ela fizera com eles?” – pensou. Relutante, afastou-se e sentou-se no sofá em frente, admirando as chamas já baixas na lareira... Mas não apenas isso. Na verdade, não conseguia desviar os olhos dela. Parecia uma divindade. Inspirou profundamente e sentiu a fragrância daquela bela mulher. “Um perfume de ervas raras, talvez?” Cítrico, leve, ligeiramente amadeirado. Conhecia aquele cheiro muito bem...


 


            Havia se recriminado várias vezes nos últimos meses por perdê-la. Tinha agido como um tolo. A culpa era toda dele. Não que não tivesse tentado procurá-la, mas ela estava irredutível e muito magoada. Sumira por meses e não respondera a nenhuma de suas corujas. Nem mais aceitava os convites de sua mãe para visitar a Toca. Sempre havia uma desculpa. Até o número daquele aparelho trouxa de comunicação ela mudou. Gina tinha sido um grande apoio durante esse tempo de sofrimento, mais que uma irmã. Sem discutir com ele, sem castigá-lo ainda mais, o ajudou e o aconselhou sobre o que deveria fazer e como agir. Ele ficara completamente perdido e descontrolado, depois daquela fatídica noite em sua formatura de Hogwarts. Não sabia o que fazer para corrigir seu erro. Passara muito tempo andando sem rumo certo. Foi quando decidiu ocupar a mente e o tempo. Prestou um exame para o Corpo de Guarda-bruxos e foi admitido. Começou a trabalhar e mudou-se da casa de seus pais. Ainda não havia decidido se faria algum curso para ocupar alguma posição em nível superior. Harry já estava estudando para ser auror. Sua formatura seria dali a mais dois anos e alguns meses.


           


            Rony sobressaltou-se. Hermione acabara de se mexer, mas não acordou. Apenas mudou a cabeça de posição. Decidiu, então, levantar-se e subir silenciosamente para o seu quarto, antes que ela acordasse e o visse ali. Isso só pioraria a sua situação e acabaria com toda e qualquer chance de reconquistá-la. Suspirando, tomou o rumo do estreito corredor e subiu as escadarias em ziguezague que levavam ao seu quarto. No terceiro andar, encontrou-se com Gina. Disse, simplesmente:


 


             _ Você sabia que ela viria aqui hoje, não sabia? Por que não me avisou? Eu teria me preparado melhor para recebê-la...


 


             _ Desculpe-me, Rony, mas não pensei em te falar porque também não sabia que você estaria de folga hoje e nem que você viria pra cá. Pedi a Mione que viesse me ajudar com os preparativos do noivado. E uma das garantias que lhe ofereci era de que você não estaria aqui. Mamãe me falou da sua presença pouco antes de sair, logo cedo. E eu também ainda não tinha te visto.


 


             Rony abaixara a cabeça. Estava transtornado. Quando a ergueu novamente, Gina viu que lágrimas brilhavam em seus olhos azuis. Ele engolia em seco.


 


            _ Não fique assim, Rony! Você já sofreu tanto nesses últimos meses. Continue agindo conforme conversamos. Dê tempo a ela. Ela também está sofrendo.


 


             _ E de quanto tempo mais ela precisa? – respondeu exasperado e passando a mão pelos cabelos ruivos em sinal de angústia – Já se passaram dez meses! Sinto falta dela, Gina! Será que ela não percebe isso? Será que ela nunca vai me perdoar? Ela nem me deixa falar com ela! – ele estava quase gritando.


 


              _ Acalme-se, Rony, por favor! Onde ela está?


 


              _ Na sala, dormindo.


 


              _ Tome um banho, Rony e descanse um pouco. Vou lá vê-la, ok?


 


              Rony seguiu seu caminho pelas escadas. Sua cabeça fervilhava num turbilhão de emoções. Há tempos ficava assim, andando a esmo, como um autômato. Abriu a porta que possuía uma inscrição “Quarto do Ronald”. Chegando, se sentou na beirada da cama e olhou em volta. O quarto estava exatamente como o deixara: os pôsteres alaranjados dos “Canhões de Chudley”, seu time preferido, as cartas que se embaralhavam sozinhas e as histórias em quadrinhos. O aquário onde ficava seu sapo ele havia levado para o seu novo apartamento. Sua mãe fazia questão de manter o quarto dos filhos intactos para que, aqueles que fossem saindo de casa, tivessem onde ficar à vontade sempre que viessem visitá-la.


 


              Erguendo-se, Rony se despiu, procurou uma toalha no velho armário e seguiu para o banheiro. Entrou e ligou o chuveiro. Deixou-se ficar embaixo do jato de água morna por alguns minutos, a água escorrendo por seu corpo, como se tentasse, através dela, tirar toda a angústia e sofrimento que estavam impregnados em sua carne desde que rompera com Hermione. Ensaboou-se de maneira enérgica, porém lenta. Não conseguia deixar de pensar que sua vida permanecia sem norte, sem direção. Sabia que o seu destino era caminhar ao lado da mulher que estava lá embaixo conversando com sua irmã. Enquanto não agisse, estava fadado a continuar andando sem rumo certo e não poderia reclamar.



 


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