A VISITA INESPERADA
CAPÍTULO I
A VISITA INESPERADA
Ela assustou-se; seus pensamentos e ações paralisaram-se por um tempo que não saberia precisar, no momento em que o viu. Reconheceria aqueles cabelos ruivos em qualquer lugar, mesmo seu dono estando de costas. Sacudiu a cabeça levemente tentando espantar os anseios que a perseguiam sempre que sua mente teimava em deixar registrada a imagem daquele rapaz. Ia matar Gina! Ela garantira que Rony não estaria na Toca hoje, mesmo porque ele já nem morava lá. “Preciso ser ao menos educada” – pensou. Deu um leve suspiro antes de reunir todas as suas forças para cumprimentá-lo.
_ Olá, Ronald!
A voz alta e exuberante o pegou de surpresa, tirando-o do casulo de preocupação. Ronald Weasley deu as costas para o monte de lenha do qual estava cuidando e a viu. Adorável e... totalmente deslocada. Em vez de falar, seu olhar congelou aquela imagem magnífica diante de si. Ela estava calçada com botas pretas e vestia uma calça jeans que grudava em seu corpo com uma segunda pele. Por cima de uma blusa branca havia um sobretudo cor-de-rosa coberto por pequenas flores amarelas. Os cabelos cacheados tinham uma cor castanha que brilhava e ofuscava o sol fraco daquela manhã de final de primavera. Definitivamente, ela não era mais uma menina chata e sabe-tudo, era uma mulher. E que mulher!
Com os braços cruzados, ela não se mostrava muito disposta em passar a manhã toda ali, esperando por uma resposta. A inteligência cintilava em seus olhos castanhos e atentos, tão abertos e redondos como as flores que enfeitavam seu casaco. Franziu as sobrancelhas enquanto Ronald terminava o seu minucioso exame. Quando encontrou seus olhos, ele saiu do transe em que se encontrava e só então percebeu que alguém falara com ele. A maneira como o fitava sugeria que ela o considerava um semelhante em tudo, exceto na altura. Visivelmente fascinado e perturbado, ele aproximou-se e estendeu a mão para ela, porém, arrependeu-se e, enfiando as mãos nos bolsos das calças, desculpou-se.
_ Olá, Hermione! As minhas mãos estão sujas e suadas... estava rachando lenha para mamãe; aqui sempre esfria à noite, você sabe... – disse ele enquanto apontava o monte de lenha. Tudo bem com você? Que surpresa essa sua visita... ninguém me avisou que você viria. “Sedutora” – pensou – “essa era a palavra ideal para definir Hermione Granger agora.”
_ É, eu vi – respondeu ela secamente, os olhos desviando dos dele e encontrando o enorme feixe de lenha que, mesmo com muita magia, devia dar bastante trabalho – Desculpe-me aparatar aqui, mas Gina pediu que eu viesse vê-la hoje... Sua irmã está em casa? – emendou, ignorando a pergunta do ruivo e justificando sua presença ali depois de tantos meses ausente. Ao mesmo tempo, tentava não prestar atenção naqueles olhos azuis que a fitavam, o tórax sem camisa que tomava todo o seu campo de visão, os braços com músculos muito bem definidos... Ronald estava descalço, vestia apenas uma calça de lã marrom-avermelhada, os cabelos totalmente desalinhados. As faces ruborizadas pelo esforço, “ou seria por outra coisa? Ai, meu Merlin...” Hermione sentiu as próprias faces se incendiando e virou-se decidida em direção a casa e já arrependida por estar ali. “Gina que me aguarde...”
_ Está sim – respondeu Rony, pegando o primeiro fiapo de pano que viu a sua frente para limpar as mãos e fazendo menção de acompanhá-la.
Já de costas e caminhando rapidamente, Hermione respondeu um gélido “não precisa, eu sei o caminho” e seguiu sem esperar por ele.
“Teimosa como sempre” – resmungou Rony e um leve sorriso se desenhou em seus lábios enquanto a observava entrar na Toca. “Paciência, Ronald, paciência. E sorte também, você vai precisar...”
Hermione Granger era um desafio e ele não era mais o garoto medroso e inseguro dos tempos de Hogwarts. Estava feliz em vê-la, mas o que será que ela fazia ali depois de tanto tempo de ausência, sem escrever, sem dar notícias, sempre evitando a presença dele? Era tarde demais para lamentar o que perdera, mas como alguém poderia deixar de notar a ausência de um ser tão encantador? Mesmo que esse alguém não fosse tão apaixonado como ele? Lembrou-se de todo o seu sofrimento por causa da separação... mas, ele fora o culpado, ele causara isso e, por esse motivo, respeitou a decisão dela...
Certamente, ele não esperava por essa visita. Só sabia que esse reencontro tinha que acontecer cedo ou tarde. Não hoje, nem ali na casa de seus pais. Agora só dependia de ele resolver toda essa situação, esse mal-estar de mal se cumprimentarem, mesmo que para isso tivesse que abrir mão do amor dela para sempre.
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