Em um café trouxa



Ele adentrou no café trouxa. Lá fora nevava, mas dentro estava um clima quente e aconchegante. O ambiente era simples, havia apenas algumas pessoas, todas de meia idade, um casal sentado nas mesinhas, duas mulheres fofocando animadamente como duas velhas mexeriqueiras, e alguns homens nos balcões discutindo futebol.
Ele tirou o cachecol, e as luvas, e abaixou o casaco, deixando o belo rosto aparecer, o que animou as fofoqueiras. Elas olhavam para ele toda a hora flertando, ou pelo menos tentando, pelo visto além de mexeriqueiras eram encalhadas e necessitadas, já previa o destino delas.
Foi ao balcão tentando ignorar as duas, a questão era que até a mulher que estava acompanhada as vezes o olhava de esgoela, e ele sabia. Não poderíamos culpá-las, era um homem muito bonito, os traços ambíguos delicados e selvagens, lhe dava um olhar cavaleiro e másculo, realmente uma mistura de características “exóticas” e belas, apesar do ar cansado.
Pediu um café forte e um sanduíche, e enquanto o balconista preparava perguntou das novidades da região, que eram poucas, a única coisa interessante era um estranho desaparecimento. O homem interessado quis saber os detalhes e o balconista ficou feliz em lhe contar tudo o que sabia.
O senhor notou mais um par de olhos o olhando, e viu que a caixa o olhava, era uma mulher de beleza singela. A ignorou como fez com as outras e continuou a escutar o relato entusiasmado dos fatos.
Assim que terminou o relato, entregou ao cavaleiro o café com o sanduíche, esse achou mais confortável sentar-se nas mesinhas. As duas damas começaram a discutir quem ia pedir pra fazer companhia quando o barulho da porta abrindo e um vento gelado penetrou no ambiente.
Os olhares voltaram-se para a garota que entrava, era jovem, 20 anos no máximo, tinha os cabelos mel, com reflexos loiros, de forma natural, parecia não se adequar ao ambiente, vestia uma calça de lã justa, escura, que deixava a mostra suas pernas torneadas, percebia-se também a cintura fina, e o busto um pouco generoso. As feições quase inocentes reluziam o olhar achocolatado.
As mulheres logo trataram de dar nota, mas ela pareceu achar graça e passou por elas como se fossem duas palhaças contando piada. Ainda sorrindo cumprimentou o balconista que era só sorrisos para ela, os homens a secavam embora disfarçassem, e a caixa deu um suspiro irritado.
O homem só olhou brevemente a garota, e voltou-se para a neve que caia, embora admitisse que a menina era muito bonita.
Ela pediu um chocolate quente e um queijo-quente, o balconista disse um “é pra já”, e começou a preparar que extrema eficiência, dando um sorriso e dizendo “prontinho senhorita”. A jovem pagou no caixa, e começou a procurar um lugar para se sentar, e foi quando viu o cavaleiro, e se sentiu atraída.
Assim que caminhou na direção dele, pode-se ouvir comentários como “oferecida” e “sirigaita”, mas ela não se importou. Perguntou a ele se podia se sentar, já que não queria comer sozinha e ele disse que “tudo bem” polidamente.
No começo nenhum dos dois falava, só comiam, as outras duas ainda indignadas. Mas a garota não agüentou e perguntou:
- Você é um bruxo não é?
Ele ficou surpreso e tentou negar, mas ela disse que também era e ele se tranqüilizou, ela lhe contou que era de Beauxbatons, e ele lhe falou da escola que estudara, Hogwarts.
O papo se seguiu dessa forma agradável, e eles ficaram se conhecendo melhor, de toda forma não trocaram informações como telefone, porque caso quisessem se encontrar, usariam as corujas.
O homem, como cavaleiro que era, a levou até a casa em que a jovem estava hospedada, seguiram por uma agradável ruela coberta de neve, o vento batia no rosto da dama deixando as bochechas vermelhas, embora algumas vezes fosse rubor por algo que ele dizia ou pelos olhares que se cruzavam.
Um vento gelado passou pelos dois fazendo-a tremer, e ele percebendo, perguntou se queria o casaco ou o cachecol dele. Ela negou, mas ele insistiu e ela acabou ficando apenas com o cachecol, pegou e enrolou-o no pescoço, o acessório era em tons de marrom, e muito quente.
Seguiram em frente, e depois dobraram a esquina, o vilarejo tinha varias ruas interligadas de forma que era fácil se confundir, mas a jovem se lembrava bem do caminho.
Conversavam futilidades, e sorriam um para o outro, quando um gato pulou na frente deles, os assustando. O felino, grande, tinha a pelagem malhada em tons de laranja e preto, os olhos grandes e amarelos fixaram na jovem, e em seguida pulo no colo dela, aninhando-se.
Uma situação um tanto estranha, já que antes o gato parecia arisco, e agora ronronava no colo da jovem.
- Já havia o visto? – perguntou olhando o animal, que o encarou preguiçosamente antes de voltar a ronronar.
- Não, nunca – respondeu confusa. O gato parecia desfrutar dos carinhos dela – O que eu faço?
- Não sei, acho que ele gostou de você – disse dando os ombros e depois acrescentando um pouco sem jeito – Também que não gostaria?
- Obrigado, mas aposta que muita gente sim – disse corada pelo elogio – Aquelas duas do café por exemplo.
Ele riu, e depois comentou, que aquelas ali não deviam gostar nem uma da outra, deviam apenas fingir ser amigas e depois se apunhalar pelas costas. A jovem gargalhou, e disse que as duas provavelmente se tornariam “velhas dos gatos”, solteiras, com mil de seus bichanos para fofocar, e que deveria deixar o gato com elas para já irem começando.
- Isso seria crueldade com os animais.
- Tem razão, não sou tão malvada assim – e erguendo o bicho até a altura de seu rosto para encará-la concluiu – Acho que vou ficar com ele.
- E como vai chamá-lo? – disse amável.
- Hum deixe-me pensar... – ela pensou um pouco, e lembrou-se do homem ter comentado que tinha uma amiga que o chamava de Remie – Já sei. Remie, em sua homenagem.
- Nossa, sinto-me honrado – disse disfarçando o rubor – Você prestou mesmo atenção no que eu disse? Achei que estava cansada de me ouvir falar.
A jovem riu, e respondeu que quem mais falou foi ela e que as historias dele eram interessantíssimas.
Andaram então por mais uma rua, agora levando o gato, conversando sobre diversas coisas.
Chegaram em fim a uma casa simples, mas que exalava um ar de aconchego, os telhados estavam cobertos de neve, assim como as jardineiras embaixo das janelas, onde antes devia haver lindas flores. Era possível ver a cortina vermelha, pelo vidro da janela, bem fechada. Tinha um tapete de boas vindas redondo.
A jovem subiu os degraus que levavam a porta, colocou o gato no chão, e enquanto procurava as chaves perguntou se ele não queria entrar, mas ele recusou. Ela abriu e o gato partiu ligeiro para dentro, ela perguntou de novo se queria entrar e ele novamente recusou.
Limpou os pés e quando ia entrar lembrou-se do cachecol, desenrolou e quando ia entregá-lo este saiu voando. Ela ficou nas pontas dos pés e o pegou, só que não reparou que estava perto do degrau e caiu.
Foi aparada por Remus, que a segurou pela cintura, deixando os corpos colados. Ela ergueu a cabeça e notou o quanto seus rostos estavam próximos e sentindo a respiração quente dele em seu gosto, junto com o hálito gostoso de café.
Ele percebeu isso também, e o perfume da jovem com o hálito de chocolate dela, o embriagavam, e não sentia vontade de solta-la, gostava do calor que ela emanava.
Inebriados um pelo outro, foram se aproximando e juntaram os lábios num singelo beijo, que começou tímido e foi crescendo.
A língua ávida dele pediu passagem, que ela cedeu de bom grado. Os dois exploravam a boca um do outro aumentando o ritmo, a língua dele passando a incentivar uma brincadeira a dois.
Ela passou os braços em volta do pescoço dele, o puxando para mais perto e aprofundando o contato. Ele apertou carinhosamente a cintura dela com uma das mãos enquanto a outra passeava pelas costas.
Ela começou a brincar com o cabelo dele, e ele passou a mão por baixo da blusa dela acariciando a barriga, o contado dos dedos gelados com a pele quente, provocou uma espécie de descarga elétrica nos dois, fazendo-a afundar as mãos nos cabelos dele e os agarra-los numa tentativa de se aproximar mais ainda.
Depois de um tempo se apartaram, e ele constrangido se despediu com um beijo na bochecha e acelerou o passo ao seguir seu caminho.
Ela subiu aos tropeços a escada, e entrou na casa, sentindo-se quente. Colocou as mãos no lábio e se soltou no sofá da sala, em frente a T.V.
O gato então desceu as escadas que davam no segundo andar, e imediatamente pulou no colo dela, embora ela não lhe desse atenção.
Sentia-se confusa, nunca sentira aquilo em um beijo, e que beijo, realmente ele beijava muito bem, se sentiu até inexperiente, e nunca tinha ficado com o homem mais velho. Talvez aquela fosse a sensação.
Remus pensava as mesmas coisas, sentia a carga elétrica do beijo, ainda em seu corpo. Merlin, o que era aquilo, ele não podia se envolver, e ainda alguém tão nova, ele não podia estar sóbrio.
A garota dormiu pensando nele, e ele nela, mas nenhum dos dois se viu de novo.
Ele teve que sair no dia seguinte em missão para a ordem. Ela foi ao café no dia seguinte e no resto da semana mas não o encontrou.
Nenhum dos dois tiveram aquelas sensações outra vez, com mais ninguém. E a lembrança daquele dia permaneceu viva.
Ele guardou o cachecol como lembrança daquela que tinha hálito de chocolate, e ela continuou cuidando do gato, e nunca esqueceu do hálito de café.
Os pensamentos sempre estavam no outro, mesmo os corpos estando separados.

N/A: Esta fic veio num estalo, e eu gostei mt dela, espero q vcs também tenham gostado.

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Comentários (1)

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