Sobre Abelhas e Flores



Sobre Abelhas e Flores


- Ela está com uma aparência engraçada, não está?
Ron lançou um olhar rápido à bruxa de cabelos rosa-chiclete que havia acabado de entrar na cozinha d’A Toca para fazer um chá, e voltou sua atenção à Harry, Hermione e Ginny, todos sentados à mesa.
- É verdade – concordou Hermione, que se virou para ver Tonks esbarrar na mesa distraidamente. – Ela está toda radiante e com o olhar sonhador...
- Ela está assim há alguns dias, não está? – falou Ginny, tomando um gole do seu chá.
Harry lançou um olhar inquisidor à Tonks, e admitiu que ela realmente parecia um pouco diferente. Depois do funeral de Dumbledore, ele a viu melhorando mais e mais, os cabelos cada vez mais cor-de-rosa. Conforme a guerra foi acabando, ela ia melhorando. Mas ele não havia reparado que ela havia melhorado tanto assim.
Ela já não tinha a parência doentia que costumava ter; suas bochechas ficaram mais coradas, e havia sempre um sorriso em seus lábios, o sorriso mais brilhante e sincero que Harry já havia visto.
Ele não sabia como descrever isso, mas pela expressão da auror ele poderia supôr que a companhia de Lupin, nos últimos três anos, desde a formação da Ordem, foi de um milagroso poder medicinal, para os dois.
- Eu estaria assim, se estivesse no lugar dela – comentou Hermione, vagamente. Ron quebrou sua xícara com força quando as duas garotas compartilharam um olhar de inveja, e Harry sentiu as próprias orelhas queimarem.
- O que foi isso? – questionou Ron, limpando com a varinha o chá que derramou sobre a camisa.
As duas garotas mantiveram uma expressão inocente no rosto. Harry sentiu como se ele estivesse perguntando o óbvio.
- Acho que ele quis dizer aquele longo, invejoso olhar que vocês lançaram há pouco...
Harmione rolou os olhos para o teto impacientemente.
- Aquilo definitivamente… não foi invejoso.
- Mas foi um olhar! – insistiu Ron, batendo com a mão na mesa. Ginny chegou perto do irmão e sussurrou, em meio à uma risadinha:
- Você só está com ciúmes porque Hermione acha o Lupin atraente. E eu também.
Harry, que estava sentando perto o bastante de Ron para ouvir cada palavra, estava prestes a expressar sua opinião sobre o assunto, quando o som de um prato quebrando encheu o cômodo.
- Ops, desastrada como sempre, eu – não se importando com o pequeno acidente, Tonks levantou-se e agitou sua varinha, mostrando eficiência, e pegou o prato que estava agora intacto no chão.
Nesse ponto, a sra. Weasley apareceu tão de repente na cozinha que Harry achou que ela poderia estar pensando que houve um ataque.
- Estou bem, Molly, obrigada – falou ela, colocando o prato cuidadosamente de volta à pia. – Você sabe como eu sou.
- Receei que tivesse...
- Está tudo bem aqui?
Todos olharam para Lupin, que acabara de entrar na cozinha, com a varinha na mão. Harry, Ron, Hermione e Ginny compartilharam um olhar assustado. Será que esqueceram de informá-los alguma coisa?
Harry não conseguiu entender a causa de tanto nervosismo. A guerra já havia acabado há alguns meses, não havia?
- Há alguma coisa com que devemos nos preocupar, mamãe? – perguntou Ron, mas a mãe e Lupin pareciam muito ocupados com Tonks para prestar qualquer atenção nele.
A sra. Weasley guiou a auror para a mesa e, literalmente, a forçou a sentar-se na cadeira.
- Aqui, querida, sente-se.
Um tanto relutante, Tonks pareceu sucumbir ao olhar ansioso de Lupin, e sentou-se na cadeira.
Harry sabia que, usualmente, todos preferiam poupar Tonks de qualquer trabalho doméstico para prevenir acidentes, mas ele estava começando a achar aquilo tudo um tanto exagerado. Em concordância, Tonks parecia ser da mesma opinião.
- Agradeço a sua ajuda, mas... Remus, estou bem, tire essa maldita mão da minha testa, por favor?
Então era isso? Tonks estava doente e ninguém se importou de contar à eles?
- O que há de errado com ela? – perguntou Harry, no mesmo tom que a sra. Weasley e Lupin falaram há pouco.
Tonks, no entanto, o olhou com um assustador brilho de fúria nos olhos.
- Não comece você também, Harry, não ouse! – avisou ela, ainda que Harry não soubesse exatamente do quê ele estava sendo avisado. – Já chegam esses malditos cuidados que vocês todos ficam me fazendo passar! E você – ela empurrou Lupin para longe e se levantou, para o desconcerto da sra. Weasley. – Que tal me deixar respirar algumas vezes, hein?
Harry, que nunca havia visto Tonks seriamente zangada antes, testemunhou quieto à tudo aquilo, se perguntando se os outros estavam tão chocados quanto ele estava.
- Caramba, o que eles fizeram com ela? – murmurou Ron, aparentemente tomando cuidado para não ser ouvido por Tonks.
Hermione e Ginny, por outro lado, assistiram à tudo quietas, mas com uma expressão confusa nos rostos.
- Querida, você realmente...
- Me poupe do seu querida-amor-qualquer coisa, Remus, eu não estou com meu bom humor para agüentar à isso no momento! – ela virou o rosto e sentou-se novamente, fazendo a cadeira ranger com a força. Harry, sinceramente, não conseguia entender aquilo tudo.
Ele não tinha idéia do porquê que eles estavam discutindo – se é que aquilo poderia ser definido como uma discussão -, mas qualquer coisa que seja, devia ser uma coisa realmente importante, porque ele nunca imaginou ver alguém tão doce e engraçada como Tonks tão furiosa. Além disso, ele realmente não conseguia pensar em como Lupin conseguiria fazer alguém ficar tão nervoso, especialmente sua namorada.
Sra. Weasley deve ter reparado nos olhares curiosos que eles tinham, porque logo em seguida sugeriu à todos para sair da cozinha e irem até o jardim tomar um pouco de ar fresco.
- Temos o direito de saber se Tonks está doente! – protestou Ginny, que teimosamente nem se mexera.
Lupin lançou um olhar à Tonks por um momento, então chegou perto deles com uma expressão indecifrável no rosto. Ele poderia estar... Nervoso?
- Não há porquê se preocupar, ela não está doente – falou ele, gentilmente, ainda que suas bochechas corassem levemente. Tonks se virou e olhou Lupin.
- Não estou doente, uma ova! – ela deu uma risada irônica. – Venham me ver de manhã e verão como não estou doente.
- Não é um tipo de doença com a qual devemos nos preocupar, querida – falou a sra. Weasley, com um tom doce na sua voz. Por alguma razão, Lupin pareceu corar um pouco mais.
Hermione se levantou prontamente.
- Eu iria me preocupar com qualquer tipo de... – ela parou de falar ao que uma luz de compreensão invadiu seus olhos, quando Tonks levantou uma sombrancelha, no que Harry considerou como um olhar óbvio. – Oh!
Ela olhava de Tonks para Lupin, aparentemente perdida em suas palavras. Harry não pôde imitá-la.
- Sério? – exclamou Hermione, empolgada, enquanto um enorme sorriso aparecia em seus lábios.
- Bem sério – confirmou Tonks, parecendo esquecer de seu acesso de raiva. Harry ficou feliz em ver que Ron e Ginny estavam tão desnorteados quanto ele. Lupin encarava o chão, ainda que um ligeiro sorriso era visível em seu rosto.
- Eu pensei... Eu não... Eu nunca… - Hermione estava gaguejando, o que era realmente difícil de vê-la fazendo. Ela fechou a boca algumas vezes antes de ser capaz de falar novamente. – Como?
Sra. Weasley ficou tão vermelha quanto seus cabelos, fazendo o possível para parecer invisível, e Tonks riu.
- Bom, você sabe... A mesma velha história – falou ela, lançando um rápido sorriso à Lupin, enquanto ele fazia o mesmo. – Ele, ela, noite escura, Uísque de Fogo...
- Eu não estava bêbado! – cortou Lupin, rapidamente.
- É claro que você não estava – concordou a namorada, pacientemente, pegando a mão dele.
- Alguém se importa de nos contar o que está havendo?
Todos se viraram para Ron, que acabara que interromper a conversa, e ele pareceu um pouco envergonhado, ainda que objetivo.
Tonks se levantou novamente e deitou a mão no ombro de Lupin.
- Vá em frente, Remus. Conte à eles.
Harry estava completamente confuso, seu cérebro não conseguia pensar no que estava acontecendo. Por acaso todos resolveram, de repente, ficar loucos?
Lupin olhou para a sra. Weasley em busca de apoio, mas ela apenas deu à ele um olhar de compreensão, convidando-o a fazer aquilo sozinho.
- Bem... – começou ele, nervoso. – Como vocês obviamente sabe, Nymphadora e eu...
- Tonks.
- Sim, Tonks e eu temos... Estamos... Em uma relação mais séria, por algum tempo e nós... Ela... Nós…
Harry nunca havia visto Lupin tão deslocado e sem palavras. Ele era, provavelmente, o último homem que ele teria esperado ver agir desse jeito.
- O que ele está tentando dizer – interviu Tonks, olhando para o namorado com paciência. – É que nós temos um bebê Lupin no caminho.
Então, finalmente, eles entenderam. Ginny deixou escapar uma exclamação.
- Isso é... É tão... Uau!
Então, de repente, Hermione e Ginny estavam abraçando Tonks, dando os parabéns, assistidas por um Lupin orgulhoso e um tanto (ainda) nervoso.
Harry trocou um olhar com Ron e os dois ficaram olhando, sem palavras, a cena que tomava conta dos seus olhos.
- Nós realmente não fazíamos idéia disso, fazíamos? – falou Ron, ainda um pouco perplexo.
- Nem um pouco – concordou Harry.
Ron assumiu uma expressão pensativa, sem tirar os olhos das três jovens.
- Quão desastrada você acha que ela vai ser com uma barriga do tamanho de uma melancia? – perguntou ele, após uma breve pausa.
Harry o lançou um olhar significativo, e Ron concordou com a cabeça.
Serão nove longos meses, esses que virão.

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