Capitulo único ;
Quando garoto, costumava dizer em alto e bom som que jamais amaria alguém, que jamais me apaixonaria e sentiria borboletas no estômago, isso me parecia tão gay para dizer a verdade.Eu costumava me achar o dono da razão, dizendo então que teria qualquer garota que quisesse em meus braços por um curto prazo, e nunca, nunca mesmo, amaria uma mulher.Eu me achava o dono da razão, confesso, o próprio criador de meu destino, mas este me pregou uma peça e me mostrou que eu não sabia de nada. Em meus dezesseis anos, aconchegado numa cabine do trem, conversando animado com meus melhores amigos desde minha primeira visita aquela maravilhosa escola, senti algo que jamais havia sentido antes ao fitar, pela primeira vez, seus olhos azuis.Isso porque a porta da cabine fora delicadamente aberta e uma bela morena aparecera ali, um sorriso iluminando toda a escuridão que antes havia em meu coração.Ela falava, mas eu não conseguia prestar atenção a nenhuma de suas palavras, apenas apreciava sua voz doce penetrar meus ouvidos, enquanto fitava-lhe o belo rosto.Ela era perfeita, da ponta dos pés até a ponta do último fio de cabelo negro, charmosamente preso com uma fivela dourada.E por longos minutos, apreciei seu corpo, que parecia causar-me algo que garota nenhuma jamais causara.Suas pernas bronzeadas, levemente entrecruzadas, o braço delicado apoiado na porta da cabine, enquanto a outra mão mexia com calma nos cabelos ondulados e o belo sorriso que sustentava, fazendo-me sentir um tolo.Um tolo apaixonado.
Confesso novamente que passei meses como seu melhor amigo, aproveitando cada instante ao seu lado, sorrindo feliz a cada olhar que ela me lançava, fitando-lhe a face enquanto ela estudava e rindo de suas caretas que a deixavam ainda mais bela. Ela podia contar comigo, e sabia disso, pois quando seus pais foram atacados, eu fui o primeiro á saber.Lembro-me de meu coração ter se partido em vários pedaços quando ela derramou a primeira lágrima de tristeza, e a envolvi em um abraço, confortando-a como podia.E naquele minuto percebi que o que sentia por ela era mais forte que qualquer sentimento tolo e infantil que um garoto de dezessete anos sentia.Eu a amava, e a cada dia ao seu lado esse sentimento crescia, e crescia, obrigando-me a não vê-la mais.Eu passava todos os finais de semana trancado no dormitório, e apenas saía para as aulas, evitando qualquer contato com ela.Eu não podia ser tão egoísta a ponto de toma-la em meus braços e dizer-lhe o quando a amava, pois o medo de faze-la sofrer me corrompia por dentro, como uma doença.
Em nossa formatura, porém, ela veio até mim e me pediu para que lhe concedesse uma dança.E eu, tomado pela vontade de tocar sua pele macia e sentir seu perfume de rosas, entreguei-lhe meu melhor sorriso, conduzindo-a até a iluminada pista.E lá permanecemos, dançando. Ela apoiava a cabeça em meu ombro, e eu me repreendia pelos pensamentos nada amigáveis que se passavam em minha mente.Éramos amigos, e jamais me declararia a ela, pois o medo de estragar aquela bela amizade que carregávamos há dois anos era insuportável para mim.Mas então, perdido nesses pensamentos sem lógica, senti os lábios quentes dela em meu pescoço, fechando os olhos, mas fui canalha o bastante para não me afastar. E ela, então, sussurrou em meu ouvido com a voz doce de sempre as três palavras que eu sempre esperava ouvir de seus lábios rosados, e por fim, pude sorrir feliz, tomando-lhe os lábios com todo o amor e paixão que existia em meu ser, prometendo ama-la até o fim de meus dias.
E assim vivemos nosso amor incondicional, felizes em meio a uma guerra que estava estourando lá fora. E eu bem sabia que meus amigos James e Lily corriam um grande perigo por culpa de uma profecia. Costumava chegar em nosso apartamento preocupado, estourando de raiva por culpa de algo acontecido no Ministério, e então ela me envolvia com seus braços delicados, desabotoando os botões de minha camisa e me beijava, fazendo-me esquecer de toda e qualquer preocupação que fosse, levando-me para as nuvens como somente ela sabia fazer. E com orgulho digo que, meses de trabalho depois, ofereci a ela uma aliança onde havia, entrelaçadas, nossas iniciais em prata, e a pedi em casamento.Lembro-me de como suas íris azuis brilharam ao abrir os olhos e fitar, por longos segundos, a caixinha aberta em minha mão.Lembro-me de seu sorriso radiante, enquanto eu colocava a aliança em seu dedo.E lembro-me também do dia em que meu mundo desmoronou.
Ela fora visitar os pais, numa reunião familiar, mas eu permaneci no apartamento, terminando vários relatórios importantes para a Ordem da Fênix, sociedade criada por Albus Dumbledore, na qual eu acabei por fazer parte. Alguém bateu na porta e eu me levantei, sorrindo ao ver Lily.Mas, eu pouco sabia, aquele era o último sorriso verdadeiro que eu daria em minha vida.A notícia que a ruiva de meu melhor amigo trazia me atingira com uma força descomunal, e eu chorei.Chorei como uma criança que perde um brinquedo favorito.Chorei como um apaixonado que nunca mais verá sua amada novamente.E na manhã seguinte, acordei com os olhos inchados e vermelhos, e lá estava eu, carregando o último buquê de margaridas que daria a ela.O túmulo estava ali, a minha frente, e ali permaneci, fitando-a com os olhos marejados.Acariciava sua pele macia e gelada, murmurando, inutilmente, juras de amor que costumávamos trocar quando jovens. E assim, horas depois, após depositar em seus lábios um último beijo, fui retirado dali por Lily, James e Remus. Permaneci nesse estado deplorável por meses, até que a morte de meus melhores amigos me atingiu. Procurei o traidor, procurei por vingança, aquele sentimento negro que me possuía com uma fome voraz. E agora estou aqui, nesse lugar horrível, preso a criaturas tão malignas quanto o próprio bruxo que causou todo meu sofrimento.
E agora, escrevo febrilmente nesse pedaço de papel, tudo que um dia senti por ela.Os dementadores não tiraram a lembrança de seu sorriso, de seu perfume e de seus olhos brilhando para mim.Eles não me tiraram a lembrança de que, um dia, Marlene McKinnon, você foi minha e somente minha.Não tiraram a minha certeza de que a amo mais que tudo nesse mundo.Não me farão deixar de ama-la.E novamente você salva minha vida, pensando em seu sorriso, minha alma se ilumina e eu posso ter a esperança de que, um dia, vingarei a morte daqueles que amei e amo.
Assinado:
Sirius Anthony Black.
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