Acasos



Acasos

Enrolada em uma toalha branca, Hermione saiu do banheiro e seguiu para seu quarto. Sua mente arquitetava a melhor desculpa possível para romper seu namoro com Kevin, um rapaz arrogante, falso e interesseiro, que só ficava com ela por ser a garota mais cobiçada do bairro. Ora, óbvio que ele queria Hermione a seu lado somente para causar brilho em sua sagrada reputação, para usá-la como uma boneca ambulante e usufruir dos melhores proveitos ao tê-la reservada para si.

— Hermione! Hermione!

Alguém batia em sua janela com certa violência.

— Espere um pouco! — ela gritou gravemente, quase que parecendo uma ordem ou uma ameaça para não deitarem a janela abaixo.

Depois de se vestir à pressa, deu um jeito pelo quarto e se dirigiu à janela, abrindo as venezianas. Aquilo a apanhou desprevenida, quando deu de cara com uma alarmada e irrequieta ruiva do outro lado da janela.

— O que… — confusa, olhou o relógio. — Gina, o combinado era você aparecer aqui uma hora depois e não uma hora antes.

— É urgente. — a ruiva cochichou preocupada.

Hermione recuou alguns passos, fazendo sinal a Gina para pular para dentro de seu quarto em silêncio. Sempre fizera aquele tipo de coisa desde seus dezesseis anos, quando se tornara uma garota rebelde, e não era qualquer um que adentrava por ali, apenas quem ela mais confiava. Gina era como uma irmã.

— Senta aqui! — disse ela, dando uma palmada em sua cama. — O que há de errado?

Gina respirou fundo. — Você sabe como meu irmão é viciado em Prefab Sprout. — começou com voz temerosa.

— Sei. Também gosto. — Hermione franziu a testa. — Mas o que há?

— Não sei como que aconteceu… — suas mãos se contorciam suadas. — Mas, eu estraguei o melhor CD e… bem, agora não funciona… — Hermione compreendeu em um milésimo segundo o que ela estava pretendendo.

Apreensiva, questionou: — Quer que eu empreste meu CD para encobrir o dano?

A aflição estampada em o rosto de Gina desapareceu por completo, dando lugar ao alivio. Sabia que podia contar com Hermione. Caso contrário, teria de enfrentar o tigre desvairado de seu irmão e, como sempre, acabariam por discutir feio, ficando ela com a culpa em seus ombros – bem que agora era mesmo culpada. Suspirou profundamente. Pelo menos, já não havia algum castigo pela frente.

— Quero sim. — respondeu séria. — Só por um tempo, enquanto não comprar um igual. Mas preciso levar o seu agora.

— Sem problema. — Hermione se levantou, procurando o CD. Engraçado como Gina fizera uma tempestade em um copo de água por causa de um mero CD. Realmente, estava parecendo uma adolescente com medo do irmão mais velho.

— Você podia simplesmente ter pedido o CD. — se virou, entregando o CD. — Não necessitava se justificar. Somos amigas e eu confio em você.

Gina corou violentamente. O silêncio deu lugar no vestíbulo pequeno por breves momentos.

— Bem… — falou por fim. — Meu irmão deve estar chegando. — hesitante se levantou. — Preciso ir.

Hermione teve a impressão de que, quando ela proferia a palavra “irmão”, evitava soluçar ou desatar a chorar. Observou o semblante da ruiva, porém, esta virou o rosto, incomodada.

— Claro. — sua voz carregava montes de suspeitas, assim como seus olhos penetrantes. — Nos vemos daqui a pouco.

Pensativa, ficou na janela a observá-la ir embora. Passava-se alguma coisa, quase de certeza.

*

Entrou na sala de estar, satisfeita por o território se encontrar livre, mas assim mesmo ela olhou em volta, para as escadas à sua esquerda, para o sofá grande, procurando indícios do meticuloso adversário. Nada. Definitivamente, aquilo estava bem estranho, portanto, era melhor não atirar os foguetes antes da festa. Continuou o caminho, atenta, como se a fossem atacar a qualquer instante. Prestes a chegar à porta quando alguém pigarreou cinicamente.

— Onde você pensa que vai?

“Eu sabia!”
Hermione parou de caminhar. Aquela voz fina como cristal a irritava. Tomando todo seu autocontrole, lentamente se virou para a dona da voz.

— «Onde você pensa que vai?» — imitou irônica.

O cabelo loiro à sua frente pareceu pegar fogo e Hermione não escondeu sua satisfação felina.

— Olhe aqui, mas olhe bem, e ouça ainda melhor, porque essa é a última vez que repito isto. — dizia Hermione raivosa. — Lá por ser minha ma-dras-ta não significa que tem o direito de fazer o que quer e bem lhe apetece nesta casa. E eu… — abriu seus braços e girou. — Viu? Sou dona de mim mesma.

— Sua guria mal educada! — acusou Grace.

— Não se atreva a falar da minha educação! Pode sair caro! — disparou furiosa, agredindo com seus brilhantes olhos castanhos. E antes que lhe saltasse em cima, decidiu virar-lhe costas.

A loira de olhar azul desatou a gargalhar alto, enquanto Hermione fechava a porta violentamente.


— Demorou! — Gina resmungou debruçada na janela de seu carro, reparando nos pesados passos da amiga.

Hermione entrou no carro sem dizer absolutamente nada, fechando a porta com força que beirava a selvageria.

— Aquela víbora me paga! — praguejava baixinho, enquanto Gina a mirava, divertida.

— Malévola! Odeio-a! Odeio-a!

*

A alameda se encontrava impregnada de gente e de carros barulhentos por causa ou das músicas em altos prantos ou do ruído dos motores. Cada carro possuía um pouco da personalidade de seu dono, sendo a maior parte deles esportivos, caprichados na beleza, na segurança, e, principalmente, na performance, os tornando diferentes e únicos. Um dos mais apreciados era precisamente o de Harry Potter, azul e prata, cintilante como uma estrela cadente, porém, naquele momento, não fazia sequer um pio. Obviamente, Harry poupava exibições.

— Aqueles totós começaram a correr há séculos! — interpretava Harry, sarcástico, encostado na lateral de seu carro. — Perderam-se pelo caminho!

— Calma. — aconselhou Draco a seu lado. — Hoje a noite está a rebentar. — comentava, enquanto apreciava as coxas de uma loira que passava ali perto. — Vou pegar bebidas.

*

— Ele está mesmo ali. — disse Hermione, olhando Gina. — Vou resolver tudo agora, entretanto, vá pegar bebidas e aposte em o mesmo que ganhou a semana passada.

Hermione viu a ruiva desaparecer por entre a multidão e depois respirou fundo, tomando coragem. Kevin apoiava um ombro na parede enquanto fumava. Estava sozinho e o local era apropriado, já que se encontrava longe da famosa trilha. Talvez devesse falar com ele depois da corrida, mas ele estaria tão empolgado com a vitória ou tão furioso com a derrota que nem levaria a conversa a sério.

Pisava o cigarro, quando a ouviu se aproximar.

— Oi Kevin. — ela disse.

Ele se achegou para beijar Hermione, mas esta recuou.

Kevin bufou. — Que foi desta vez? — interrogou, cruzando seus braços.

— Desta vez é mais sério. — Hermione pôs as mãos nos bolsos de suas calças. Começava a ficar nervosa quanto à reação dele. Tinha medo de não conseguir se livrar daquela situação.

— Estou escutando. — retorquiu ele, seu rosto indecifrável.

Hermione engoliu seco. — Não sei por onde começ…

— Seja direta. — a interrompeu. — E não tente sequer me enrolar.

Ela permaneceu calada durante muito tempo. Aquilo era mais perigoso do que imaginara, ele era mais perigoso do que aparentava, com as calças rasgadas e as tatuagens em seus braços. Na verdade, Hermione percebera tarde demais o grande erro que cometera ao se envolver com ele. E agora, que desejava terminar com tudo, tinha medo de não conseguir reparar esse erro.

Em um só bafo falou: — Eu pretendo terminar a nossa relação.

Kevin não disse nada. Não se moveu. Jazeu quieto para depois soltar uma risada maléfica. Que estaria ele pensando? Que era uma brincadeira? Hermione empalideceu perante a reação do moreno, começando a entrar em pânico.

— Não vai acabar nada. — rebateu irritado, puxando-a violentamente de encontro a seu corpo. Assustada, Hermione ofegou. — Você não vai acabar coisa alguma. — Um arrepio percorreu por sua espinha ao ouvir o som terrível da sua voz; o horror se apoderou de seu corpo quando ele se inclinou para beijá-la. Impulsivamente lhe mordeu o lábio e começou a bater desesperada em seu peito, tentando se libertar dos braços de ferro.

Harry se afastou de seu carro, desconfiado, observando a cena toda.

— SOLTE-ME! — gritava ela, tentando se desembaraçar dos braços que a agarravam possessivamente.

Levado pelo o instinto, Harry avançou na direção dos dois.

— Ela pediu para soltá-la.

Tanto Kevin como Hermione olharam surpresos na direção da voz profunda. O alivio transbordou nos olhos castanhos. A fúria chispou nos olhos cinzentos. Hermione aproveitou a surpresa de Kevin e fugiu dos braços dele.

— Isso vai custar-lhe uma corrida comigo, lado a lado. — esbravejou Kevin, raivoso, com vontade de agredir o intruso.

— Já estou a suar de medo. — Harry zombou. Coisa que detestava era o fato de forçarem uma rapariga e depois, ainda por cima, o desafiarem.

Kevin ergueu o punho cerrado, prestes a socar o homem à sua frente. O brilho irônico atravessou a tonalidade verde. Socá-lo? Aquele ignorante pensava em socá-lo?

— HEI, KRAVITZ! — gritou Jesse, alto e moreno, se aproximando calmamente. — QUER UMA DICA? NÃO DESAFIE POTTER.

Olhando por cima do ombro de Harry, Kevin viu o rapaz de casaco esportivo se encaminhar até eles. Aquele filho da mãe, que andava com todas descaradamente, o estava provocando? “Eles são dois, Kevin. Dois contra um. Pensa bem.”

Ciente de que Kravitz mudara de idéia ao notar que não tinha hipótese de vencer, Harry resolveu por um ponto final na batalha.

— Só mais um aviso! — Harry deu um passo ameaçador. — Cuidado com teu carro. Pode aparecer sem pneus.

— Vemo-nos ali palhaço. — afirmou Kevin, afastando-se e apontando para a estrada rodeada de gente.

Hermione fez menção de se aproximar do desconhecido que a “salvara”, quando Kevin lhe lançou um olhar que exprimia claramente as palavras “Isto ainda não acabou!”. E o desconhecido teve de reprimir o impulso protetor de abraçá-la enquanto fitava as costas de Kevin.

Jesse ficara a meio do caminho flertando com duas miúdas ao mesmo tempo. Quando Harry se apercebeu, não conseguiu reprimir um sorriso divertido que derreteu o coração da morena.

Virando-se ainda sorridente, questionou: — Você tá bem garota?

Hermione não disse nada. Havia outro modo de responder à pergunta dele, mas só à dele. Fixando os olhos verdes-esmeralda, pôs-se em bicos de pé e, suavemente, lhe beijou os lábios murmurando um “valeu!” O momento foi breve e rápido, porém, suficiente para os dois sentirem a conexão mágica os envolver como uma bolha de ar que rebentou assim que se separaram um do outro.

— De nada! — sussurrou, abobalhado, observando as mechas douradas balançarem enquanto ela se afastava.

*

Ainda com os olhos pregados nas pernas da loira, Draco avançou e…

— Droga!

O loiro se virou brusco, vendo a bela ruiva à sua frente e, amaldiçoou-se mentalmente. Acabara de derramar umas boas porções de cerveja em cima dela.

— Er… Desculpe.

Gina olhou desgostosa para a cerveja entornada em sua roupa. Os nervos lhe subiram à cabeça. “Eu o mato!” Pensou furiosa.

— Sabe qual a sua sorte? — ela perguntou sarcástica, no entanto sem esperar uma resposta. — Minhas mãos… — as ergueu, um copo em cada uma. — estão ocupadas. Porque se não, juro que por esta altura estaria a urrar de dor. — com um movimento ágil, se desviou dele e seguiu com cara de caso.

Draco rodou nos calcanhares, hipnotizado pela tonalidade ruiva, pela agressividade da sua dona. Sorriu quando ela se virou para ele e voltou para trás.

— Me esqueci de uma coisa! — lentamente, Gina levantou os copos na altura da cabeça loira e os virou, entornando o conteúdo pelo corpo abaixo. Draco cerrou os dentes. “Engraçadinha!”

— Agora estamos quites! — afirmou manhosa.

*

Harry não conseguiu controlar as gargalhadas quando viu um loiro irado e molhado a praguejar sozinho.

— Não tem piada! — resmungou ele completamente furioso, pousando as bebidas em cima do capô.

Harry não se deu ao trabalho de interrogar o sucedido, pois a sensação de que isso o deixaria ainda mais furioso e quem sabe, encabulado, era grande. Decidiu também não comentar sobre o que se passara entre ele e o tal Kravitz. Pelo menos, não hoje.

— Cadê o caralho do Jesse? — Draco continuava a ferver.

— Está por aí… — disse, entrando em seu carro. — Vou correr agora. Tira isso daí.

— Com quem? — perguntou, enquanto retirava os copos e os jogava para um lado qualquer.

— Kravitz! — informou desgostoso.

Draco arregalou seus olhos. Mas Harry já seguia pela passagem aberta. Ouviram-se muitos assobios de aprovação e palmas estrondosas, até que, por fim, ele parou ao lado do carro preto de Kevin. Abriu o vidro da janela de seu carro e encarou-o brutalmente, olhos nos olhos, raiva espelhando raiva.

Quando a rapariga loira que Draco perseguira se colocou no meio dos dois carros erguendo a bandeira em uma mão, o coração de Harry começou a galopar depressa. Desespero, desespero, desespero… até ela declinar a porcaria da bandeira era só desespero.

Kevin sentiu o suor banhar-lhe a testa. Os roncos poderosos dos motores penetravam em seus ouvidos como ecos infinitos. O seu sangue fervia por completo.

— 3, 2, 1… GO!

Harry acelerou a fundo sem dó nem piedade.

*

Após guinar seu carro em uma curva apertada, Kevin olhou pelo retrovisor. Harry ganhava velocidade e não demoraria muito para alcançá-lo.

Armado em bom, Kevin freou o carro, fazendo uma virada, de forma a que Harry levara um susto de morte e pisara duro no freio. Os pneus guincharam a altos prantos, a respiração do moreno ficou entrecortada, os olhos verdes cada vez mais obscuros. Os carros não chocaram por uma questão de milímetros.

— VOCÊ É LOUCO?

— MOSTRA-ME DO QUE ÉS CAPAZ!

*

Harry ultrapassou Kevin com uma guinada perigosa, atravessou um sinal vermelho e, afundando a toda a velocidade, espalhou um grupo de caixotes que cobriam a rua. Chegando à meta, Harry pisou no breco e virou o carro para a esquerda. Aliviado, olhou pelo retrovisor, e, como um autêntico demente, gargalhou altíssimo. Vencera! Ganhara àquele ignorante.

Draco correu para o carro.
Jesse socou o ar.
Hermione soltou o ar que prendera sem se aperceber.

Saiu do carro triunfante, erguendo os braços e rindo à toa com Malfoy.

Do outro lado, Kevin fechava a porta com força, fulminando Harry com o olhar. Teve vontade de esganá-lo. A vontade aumentou ainda mais quando viu Hermione extasiada por ele. Aquilo não ia ficar assim! Não mesmo.

Duas horas mais tarde…

— Ela quer terminar comigo, mas primeiro vai me dar o que eu quero!

Kevin entrou em seu carro e se afastou velozmente.


Capítulo postado! É Draco é melhor amigo de Harry e vice-versa. Eu achei que eles faziam uma dupla charmosa! Rsrsrsrsrsrsrs! Sem ofender Ron, claro. Próximo capítulo dependendo dos comentários. O que Kevin vai fazer? Alguém adivinha?

Eu vi o filme e está magnífico. Adorei. Não é por causa de terem excluído muitas partes HH que vou dizer que o filme estava horrível, não, está perfeito. A Umbrige perfeitamente odiosa. A Luna docemente sonhadora. Ficou demais, pena só haver aquele abraço HH. E os últimos minutos? Ceus, extraordinários! Agora estou pirando por causa do livro e vou levar uma decepção quanto ao shipper, mas fora isso vai ser bom!

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