Capítulo Único
ALL FOR YOU
(Tudo Por Você)
Capítulo Único
Presente...
Rony estava deitado em sua cama, observando os pôsteres dos Chuddley Cannons espalhados pelas paredes desgastadas do seu quarto. Estava ainda bastante dolorido, duelara junto à Ordem da Fênix há dois dias e ficara ferido. Nunca permitiria que ninguém machucasse Hermione. Nunca! A Segunda Guerra – Voldemort contra uma parcela significativa de bruxos – fora finalmente deflagrada, e essa comunidade vivenciava um terror contínuo: famílias sendo desmanteladas dia-a-dia, fugindo quando havia a possibilidade ou morrendo em prol de caprichos de um lunático que era praticamente imortal. Esse mundo, mais antigo que o próprio Homem, dependia de um garoto de dezessete anos para salvá-lo: Harry Potter, amigo inseparável de um certo ruivo teimoso, seu cunhado por um pequeno período de tempo e melhor amigo da garota que amava.
Ele, Harry e Hermione treinavam feitiços, azarações e tudo mais que pudessem mantê-los vivos, dia e noite, Gina também, embora não tivesse tido permissão dos pais para integrar a Ordem, o que rendera bufos, reclamações e um belo castigo para sua irmã esquentada. Vira o suspiro aliviado de Harry, quando a senhora Weasley proibira terminantemente que Gin fizesse parte da frente de batalha. A mãe não poderia proibi-los, eram maiores de idade. Harry contava com uma proteção especial dos aurores do Ministério da Magia e procurava não se expor muito, era um alvo muito fácil enquanto não acabasse com as Horcruxes – a alma de Tom Riddle desmantelada em vários pedaços – que não permitiam que o Lorde das Trevas fosse derrotado. Estava preocupado com seu amigo. Somatizando tudo e tendo de amadurecer muito antes do tempo necessário. Todo o peso de um mundo em suas costas. Tinha plena confiança em Harry e sabia que ele sairia vencedor de mais um obstáculo que precisava transpor. Lógico que tinha muitos interesses implicados nessa fé – pensou com um sorriso atravessado – se Potter morresse, Gina ficaria para titia e ele teria que aturar sua rabugice por todo o sempre. Não! Depositava toda sua esperança no amigo.
Mas...
No meio de toda aquela escuridão havia uma luz e esta tinha o nome de Hermione. Finalmente a ficha caíra e o menino mais novo dos Weasleys se vira apaixonado. Tudo bem, esse sentimento não surgira repentinamente, amava Hermione Granger desde que tinha onze anos e pusera os olhos nela pela primeira vez. Tantos desencontros! Sabia que era turrão, no entanto, a verdade era que nunca se sentira à altura a garota dos seus sonhos. Como a menina mais inteligente de toda Hogwarts iria gostar dele? Mas ela gostava! E isso ficara bem claro dois atrás.
Dois dias atrás...
Estavam na Travessa do Tranco, receberam um aviso de que uma corja de Comensais estaria reunida ali para comemorar mais uma incursão de terror que tinham submetido, dessa vez a um tradicional vilarejo bruxo nos arredores de Londres. Hermione melhorava seus reflexos a cada dia, sabia que ela era competente, mas não conseguia se concentrar, tinha de zelar pelos dois. A batalha estava equilibrada, dois comensais para cada componente da Ordem. “Moleza!” – pensou o ruivo. Observou que Hermione se protegia bem e atacava com igual competência, mas mantinha um olho nela e outro nos adversários. Não baixaria sua guarda até que estivessem seguros, em casa. Feitiços eram lançados para todo lado. A batalha intensa, mas equilibrada, até que viu um raio roxo ir em direção à ela.
- Protegooo! – Gritou com toda a força que seus pulmões permitiam.
O feitiço estava próximo demais e seu reflexo o impulsionou para frente de Mione. Ele o recebeu. Um corte profundo se desenhou em seu abdômen, rasgando a ele e sua camisa, empapando-a de sangue. Tombou, com Hermione ao lado, por causa do impacto da azaração.
- Rony!!! – e caíram os dois no chão duro da Travessa do Tranco.
- Você está louco? Por que fez isso?
- Pa... para proteger você, ora! – respondeu com dificuldade, o rapaz.
- Você é doido, sabia?
- Hum hum. Somente por você, Hermione. – E fechou os olhos, gemendo de dor.
Não era hora para perguntas.
Quando conseguiu se recompor. “Só Rony mesmo para lançar uma bomba dessas num momento como aquele!” Hermione se ajoelhou a seu lado, desesperada, e com um feitiço de levitação o levou para um canto relativamente protegido. Lupin ordenou que aparatassem para a’Toca imediatamente. E foi olhando nos olhos castanhos, quentes como um bom chocolate, e que naquele momento estavam nublados de lágrimas, que eles desaparataram para sua casa. Ao chegarem, Molly quase teve uma síncope, Harry e Gina, ajudaram a levar um Rony desacordado para cima. Hermione iria confeccionar uma cataplasma para cobrir o ferimento, Gina o estava desinfetando. A jovem bruxa, considerada a melhor aluna de Hogwarts, já recebera uma azaração daquela há dois anos atrás e sabia muito bem como proceder.
A casa dos Weasleys parecia um laboratório de tantas ervas e infusões que estavam espalhadas pela cozinha. Molly adentrou o recinto no momento que Hermione acabava de amassar os ingredientes frescos, as lágrimas escorrendo pelo rosto da moça.
- Foi culpa minha, sra. Weasley! – disse entre de maneira entrecortada.
- Calma, minha filha! – respondeu a senhora, procurando passar uma calma que estava longe de sentir. Sentia uma lâmina atravessar-lhe o coração cada vez que via algum membro de sua família ou amigo ferido. Mas, era mãe, tinha de ser forte! Praticamente toda sua família estava na Ordem. Fora difícil conter sua caçula impetuosa. Sua filha não tinha idéia de como era especial e peça imprescindível na guerra que se descortinava.
- Foi um Rictusempra. O mesmo feitiço que recebi no Ministério da Magia há dois anos. – Disse, à guisa de explicação, a jovem.
- Sei – respondeu a senhora, pensativa.
- Ele vai ficar bem, Molly. Não permitirei que nada de ruim aconteça com Ron!
- Tenho certeza, minha filha. Conheço sua capacidade e inteligência – respondeu a boa senhora, fazendo a moça de cabelos cheios corar e dar um pequeno sorriso.
Hermione se dirigiu ao quarto de Rony. Gina e Harry estavam tendo dificuldade em colocar a parte de baixo do pijama no ruivo, que estava rebelde.
- Assim, vai começar a sangrar de novo, Roniquinho. E você vai estragar todo o meu serviço. – A ruiva argumentava.
- ‘Tô com calor, Gina. Essa droga de corte dói demais! – reclamou.
- Deixa de ser molenga! Homens! Um cortezinho e já estão chorando! – implicou a irmã.
- Porque não é em você!
- Gina, ele tem razão de reclamar. Dói muito! – A moça de cabelos castanhos defendeu o ruivo.
- Ele não coopera, Mione!
- Deixa que eu assumo daqui. – Foi a resposta de Hermione. Prontamente ela o cobriu com um fino lençol. Sua concentração iria para “cucuia” se não o fizesse, Rony tinha um físico invejável. “O que é isso, Granger?! Seu amigo ferido e você com pensamentos mundanos? – Ralhava com sua consciência”.
Gina arrastou um Harry relutante para fora do quarto.
- Isso dói muito, Mione? – arregalou os olhos para a massa disforme e fedorenta que estava num recipiente, nas mãos da moça.
- Não mais do que a dor que sei que está sentindo.
- Não está doendo muito, não.
- Não? – Arqueou uma sobrancelha. – Isso é uma cataplasma. Vou colocá-la entre dois panos limpos e ficará em cima do seu ferimento. Amanhã ele já estará cicatrizado, permanecendo apenas uma fina cicatriz, mas o seu corpo vai ficar dolorido por uns três dias. É efeito do feitiço. – Explicou com ar professoral.
Ron mal tinha entendido as primeiras palavras de Mione, acompanhava apenas o movimento dos lábios dela. Eram lindos! Os olhos expressavam culpa. Ela tinha agora, o mesmo olhar culpado que ostentara quando ele e Harry tinham enfrentado o trasgo montanhês no banheiro feminino seis anos antes. E porque ela estava lá? A culpa era dele. Sempre! Era Rony que sempre a aborrecia e magoava. Mas nesses últimos seis meses quando entraram oficialmente para a Ordem da Fênix e combatiam Voldemort e seus Comensais, tinha se incumbido pessoalmente de zelar por ela nas batalhas. Fora a primeira vez que saíra ferido.
Eu achei que tinha visto tudo
Mas isso era há muito, muito tempo
Oh mas então tropeçamos e caímos
Penso se estou cego
- Rony? Acorda! Você ouviu que eu disse?
- Ahm... Desculpe, Mione.
- ‘Tá bom. – Ela ainda não havia acostumado com esse jeito educado, adulto, que repentinamente aflorara no ruivo, que por muitas vezes julgara ter uma amplitude menor que uma colher de chá. Algo mudara desde que entraram para Ordem. Sorriu.
- Qual o motivo do sorriso, Mione?
- Ainda não me acostumei com esse seu jeito maduro.
- E eu era imaturo antes? – perguntou, fazendo uma careta. – Ei! Isso arde!
- Se você tivesse prestado atenção no que eu dizia... – falou a moça – Vai passar assim que as substâncias começarem a fazer efeito.
-Uh! Quanto tempo demora? – perguntou. A vontade do ruivo era gritar, mas não ia dar vexame na frente da sua garota. “Sua garota, nada! Até parece que Hermione vai querer saber de você!”
- Mais um minutinho e é só.
- Melhorou? – E fez um carinho suave no rosto do ruivo.
- Si... sim – que mais ele poderia responder?
- Ron? – o chamou baixinho.
- Oi. – E seus olhares se encontraram.
- Não faz mais isso, por favor.
- Você acha que eu a deixaria receber aquele feitiço? – rebateu baixinho. A ardência do ferimento diminuía gradativamente.
- Você poderia ter morrido por minha causa. – Hermione quebrou o contato visual, abaixando a cabeça.
- E valeria muito à pena. – Ele, numa delicadeza nunca antes imaginada pela moça, prendeu seus fartos cabelos castanhos atrás da orelha e a puxou para um beijo pelo qual ela esperara toda vida. Um suspiro escapou dos lábios... de quem? Enquanto a língua de Rony de maneira delicada, abria caminho em sua boca. Aquele era o seu lugar.
Finalmente eu entendi
Mas demorou muito, muito tempo
Mas agora há volta
Talvez porque eu estou tentando
Faz tempo que eu estou confuso
as minhas estradas, elas me guiam pra você
Eu não posso simplesmente me virar e ir embora
Depois do que pareceu ser uma eternidade, os lábios se afastaram. Hermione muito vermelha e Rony muito feliz. Nem sentia mais dor.
- Você me curou! – falou de modo matreiro.
- O... o quê? – respondeu atordoada.
- Passou a dor. Acho que preciso de mais beijos.
- Ronald Weasley! – E deu um leve tapinha no seu braço. – Quem é você? Cadê o meu amigo?
- Hermione? – perguntou, repentinamente sério.
- Sim. – E mais uma vez o contato visual se estabeleceu.
Hermione não estava preparada para o que via naquele transparente lago azul, que eram os olhos Rony Weasley: a firme resolução de um jovem rapaz em protegê-la; a coragem e a lealdade que sempre fizeram parte da personalidade do amigo e, principalmente, olhos transbordantes de amor.
- Eu só preciso saber se você gosta um pouquinho de mim. – Perguntou num sussurro quase inaudível. Nunca precisara de tanta coragem na vida para articular uma frase.
- Olhe para mim e diga o que você vê, Ron.
É difícil dizer o que vejo em você
Pensando se eu estarei sempre com você!
Mas palavras não podem dizer, e eu não posso fazer
O bastante pra provar,
É tudo por você!
Tudo isso é pra você!
- Se eu fosse você, nunca olharia para um cara como eu!
- E por que não?
- O que eu tenho para te oferecer, Mione?
- Tudo o que eu preciso, Ron. E eu nunca pensei que esse dia chegaria. Basta olhar para você. Seus olhos dizem tudo. Sempre disseram. Eu não estava preparada para enxergar e você não estava preparado para perceber o que seu coração há muito me ofertava. Amo você, Ron.
- Eu... Uau! É difícil de acreditar! Ah, Mione, vem cá! – Chamou o rapaz, alegre e completamente esquecido do ferimento. Hermione mais uma vez experimentou uma doçura sem-igual no toque suave, impregnado do sentimento que sabia que Ron nutriria para sempre por ela. Somente para ela. Sentiu-se plena de felicidade. Completa. – Eu te amo, há muito tempo. Desculpa por todas as minhas besteiras e...
- Shhhhh – colocou o dedo indicador sobre o lábio do ruivo. – Não é o momento! Quem é que precisava mesmo de beijos que curam?
- Quem é você? Cadê a Hermione? – Brincou, reproduzindo a brincadeira que a jovem fizera momentos antes.
Puxou Hermione para si e compartilharam um longo beijo, repleto do sentimento puro que nutriam um pelo outro. Certos de que enfrentariam muitas situações de perigo, mas confiantes de que tudo terminaria bem. Não era o amor que venceria aquela guerra? Pensaram ao mesmo tempo, prova da comunhão de sensações que compartilhavam. Eram as palavras que um saudoso sábio não se cansava de proferir: “O amor é uma arma poderosa.” Ele e Mione bem o sabiam, não fora essa capacidade de sentir e o risco pelo qual passaram que os fizeram perceber que não poderiam ficar nem mais um dia sem expressar o que lhe iam nos corações?
É tudo por você!
Tudo isso é pra você!
Presente...
Estava cansado de ficar deitado, embora estivesse ainda dolorido, estava pronto para combater novamente. Dois dias atrás ele fora ferido por uma azaração poderosa. Muito mais poderoso era o sentimento que inundava seu coração, amava e era amado. Quer algo melhor? Iria se levantar....
Bem, levantar para quê? Daqui a pouco Mione viria com um bom café da manhã e muito beijos. É... quem diria que no meio de uma guerra ele seria tão feliz? Ah... O motivo de sua felicidade acabava de abrir a porta do seu quarto, seu melhor amigo roncava na cama ao lado, cansado, pois ficara até tarde treinando. “O amor alimenta mesmo ou ficamos completamente aparvalhados quando estamos apaixonados? Divagou o ruivo.” Não tirava os olhos dos lábios bonitos de Hermione, estes ostentando um sorriso complacente. O café da manhã ficaria para mais tarde, bem mais tarde... Afinal, precisavam recuperar seis anos de falta de amplitude dele. Rony Weasley olhou para sua garota, bastava isso, ela sabia o que “eles” queriam.
Nota 1:
Segundo o Aurélio:
Ir para a Cucuia. (Bras. Pop.)
Falhar, malograr-se; ir para o beleléu.
Nota 2:
Essa one-short “nasceu” por causa da Pri e de todo o amor que ela sente por esse ruivo mais do que especial. É pequenininha, pois eu não quis entrar muito em detalhes. Me falta aquele timing para caracterizar os personagens e esta (escrever fics) é uma recente empreitada na minha vida. Contudo me deixa feliz, muito feliz. Espero poder passar um pouquinho de todo o amor que sinto: pela minha família, pelos meus amigos e por Harry Potter.
Beijos especiais para:
Pamela Black, minha querida amiga e grande incentivadora das besteiras que escrevo. Priscila Louredo, minha amiga para sempre. Bernardo, meu amigo, que sempre levanta meu astral e não-solidário do meu hobby inocente de destroçar panetones. Lis, minha querida amiga, guria das mais legais. Adoro muito vocês!
Beijos a todos,
Géia.
Ps.: Essa fic foi descaradamente inspirada na música “All for You”, do Sister Hazel. É uma música bem legal, gostosa de ouvir, leve como a história que eu quis contar.
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