Prólogo



Chegava aquela hora e, como todo sábado, Harry começava a andar irrequieto por seu escritório, lançando olhares ansiosos para o telefone pousado em cima da imponente secretária. Bastava o ponteiro da hora se aproximar do número cinco para ser consumido pela impaciência, pela ansiedade, pelo desejo de ouvir o inconfundível som de seu telefone a tocar. E se isso não acontecesse?
Exasperado, se deslocou até a ampla vidraça do vestíbulo moderno e deslizou a mão pelos cabelos negros. Claro que ia acontecer, sempre acontecia. Porque hoje não haveria? Era algo previsível, não imprevisível, e o imprevisível era não acontecer, refletia ele, seus olhos verdes-esmeralda percorrendo o magnífico jardim repleto de flores coloridas e a pequena cascata além. Tudo muito bonito, mas sem os gritos alegres de uma criança feliz a brincar na água e uma mulher a colher flores ou a cuidar delas. Não importava, ele era feliz à sua maneira, ou ao menos era isso que pensava, sem saber o que verdadeiramente era a felicidade. Talvez porque nunca a sentira. Talvez porque nunca a procurara. E agora ali estava ele, em pé e impaciente, à espera do telefonema dela, da mulher que lhe recusava a felicidade.
Sharon Jolie, e se ela não ligasse?
Oh, claro que ligava, estava a ligar!

— Alô? — atendeu ele, depois das largas passadas e esticar o braço.
— Meu querido! — Harry sempre sorria quando ela lhe chamava de “meu”.
— Sharon! — disse jovialmente. Sabia que ela não lhe pertencia, portanto, a palavra “minha” era incabível.
— Tenho uma ótima noticia. —começou ela num tom alegre e divertido. — Vai adorar ouvir.
— O que é? —Harry interrogou curioso.
— Hum… Surpresa.
— Ah não. Agora vai contar.
Apoiando o quadril na escrivaninha, Harry recordou a última surpresa que Sharon lhe fizera.
Em um dia muito chuvoso, ela aparecera encharcada da cabeça aos pés, com os seus cabelos pretos emaranhados na face morena e os seus olhos escuros brilhando enigmaticamente. Nessa noite, ela fora sua. Porém, quando acordou, teve o desgosto de sentir a cama vazia ao seu lado.
— Está bom? — questionou ela.
Harry perdera metade da conversa.
— O que está bom?
— Preciso desligar. Não se esqueça de mim, meu querido.

Nunca esqueci, murmurou ele, após a ligação cair.

*

Sentando-se em cima da espaçosa cama com dossel, Hermione, aborrecida, mirou o quarto de aspeto clássico e romântico à sua volta. Havia um divã confortável ao lado da janela, uma penteadeira recheada de toques femininos em frente à cama e um retrato pendurado na parede oposta à vidraça límpida. A sua ex-profissão como modelo permitira-lhe adquirir tudo e do melhor, independentemente do seu custo. Hermione tivera uma carreira brilhante sobre as passerelles nacionais e internacionais, sua beleza natural encantara metade da população, merecera elogios de celebridades, enfim, seu nome se tornou célebre.
Suspirou melancólica. Agora, quatro anos depois, vivia num repleto tédio, saindo de vez em quando com sua amiga, também ex-modelo, Cho Chang, a quem confiava os seus segredos, de quem sempre recebia o mesmo tipo de conselho. Um Homem. Um homem poderia mudar a sua vida radicalmente.


Espero que gostem e comentem.

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