A festa
Graças a Deus o dia estava bonito, pensou Gina ao trancar o carro e andar para o fundo da casa dos pais. O clima havia mudado drasticamente aquela semana e havia chovido continuamente. Morgana estava histérica sobre o que seria de seu churrasco e estivera insuportável a semana inteira. Felizmente, para o bem de todos, o tempo havia retornado ao seu antigo esplendor. Gina já estava até um pouco bronzeada por deitar-se no jardim o mês inteiro, uma das vantagens de não ter um emprego.
Gina estava orgulhosa do presente que havia comprado para Morgana e sabia que a prima adoraria. Não era nada demais, mas era simplesmente a cara dela. Era um piercing de borboleta rosa com um cristal em cada asa. Ela havia escolhido para combinar com a nova tatuagem de borboleta de Morgana. Gina seguiu os sons de risadas e ficou feliz de ver o jardim cheio com sua família e amigos. Luna já havia chegado com Tom e Daniel e estavam todos sentados numa toalha na grama. Laura havia chegado sem Blaise e estava conversando com Molly, sem dúvida discutindo o progresso de Gina na vida. Bem, ela estava fora de casa, não estava? Isso já era um milagre.
Gina enrugou as sobrancelhas ao ver que Rony não estava presente mais uma vez. Desde que ele a ajudara a limpar o armário de Draco, ele havia estado estranhamente distante. Mesmo quando eram crianças Rony sempre fora ótimo em entender os sentimentos e as necessidades de Gina sem que ela nem falasse, mas quando ela lhe dissera que precisava de espaço depois da morte de Draco, ela não quis dizer que queria ser completamente ignorada e isolada. Era tão estranho da parte dele não entrar em contato por tanto tempo. Gina sentiu um frio na barriga e esperou que ele estivesse bem.
Morgana estava no meio do jardim gritando com todos e adorando ser o centro das atenções. Gina se aproximou com o presente, que lhe foi imediatamente arrancado das mãos e teve o embrulho rasgado. Ela nem precisava ter se importado de embrulhar tão bem.
“Oh, Gina, eu amei!” Morgana exclamou e jogou seus braços em volta do pescoço de Gina.
“É, eu achei que amaria,” Gina brincou, feliz que escolhera o presente certo.
“Na verdade, vou colocar agora,” Morgana disse enquanto tarrancava o antigo piercing da barriga e passava a borboleta pela pele.
“Ugh,” Gina ficou arrepiada. “Poderia ter dormido sem essa, muito obrigada.”
Havia um aroma delicioso de carne grelhada no ar e Gina começou a ficar com água na boca. Ela não ficou surpresa ao ver todos os homens amontoados em volta da churrasqueira e de seu pai.
Gina viu Percy e marchou até ele. Ignorando as cortesias, ela foi direto ao ponto. “Percy, você arrumou o meu jardim?”
Percy tirou os olhos do churrasco com uma expressão confusa. “Perdoe-me, se eu o quê?” O resto dos homens começaram a prestar atenção.
“Você arrumou o meu jardim?” ela repetiu com as mãos nos quadris sem saber o quanto aquilo a deixava parecida com a mãe. Ela não sabia por que estava agindo tão agressivamente com ele, provavelmente era só a força do hábito, porque se ele tivesse cuidado do jardim, a teria feito um enorme favor. Era só que era tão irritante voltar para casa e ver outra parte do jardim arrumada e não saber quem o estava fazendo.
“Quando?” Percy olhou em volta como se tivesse sido acusado de homicídio.
“Oh, não sei quando,” ela atirou. “Durante as últimas semanas.”
“Não, Gina,” ele revidou. “Alguns de nós têm que trabalhar, sabe.”
Gina o encarou e seu pai interrompeu, “O que foi, querida, há alguém trabalhando no seu jardim?”
“É, mas não sei quem,” ela murmurou, massageando a testa e tentando pensar novamente. “É você, pai?”
Arthur balançou a cabeça energicamente esperando que sua filha não tivesse finalmente surtado.
“É você, Jorge?”
“Eh... pensa um pouquinho Gininha,” ele disse sarcasticamente.
“Fred?”
Fred balançou a cabeça de mãos erguidas como se se rendesse.
“É você?” ela se virou para um estranho sentado ao lado de seu pai.
“Um... não, acabei de voar de Dublin... um... para o... um, fim de semana,” ele respondeu nervosamente com um sotaque irlandês.
Morgana começou a rir. “Deixe-me ajudar, Gina. Alguém aqui está cuidando do jardim da Gina?” ela gritou para o resto das pessoas na festa. Todos pararam o que estavam fazendo e balançaram a cabeça com uma expressão vazia no rosto.
“Não foi bem mais prático?” Morgana riu.
Gina balançou a cabeça sem conseguir acreditar na prima e se juntou a Luna, Tom e Daniel num canto mais afastado do jardim.
“Oi, Daniel.” Gina se curvou para cumprimentá-lo com um beijo na bochecha.
“Oi, Gina. Há quanto tempo...” Ele lhe estendeu um copo de cerveja que estava perto dele.
“Ainda não achou aquele duende?” Luna riu.
“Não,” Gina disse esticando as pernas e descansando apoiada nos cotovelos. “Mas isso é simplesmente tão esquisito!” Ela explicou a história para Tom e Daniel.
“Acha que talvez o seu marido tenha feito isso?” Tom deixou escapulir e Daniel lhe lançou um olhar cheio de censura.
“Não,” Gina disse desviando o olhar, zangada por um estranho ficar sabendo de seus assuntos pessoais, “não acho que seja.” Ela olhou feio para Luna por ter contado a Tom.
Denise fez um gesto como se se rendesse e deu de ombros.
“Obrigada por vir, Daniel.” Gina se virou para ele, ignorando os outros dois.
“Sem problemas, fico feliz de estar aqui.”
Era esquisito vê-lo sem suas habituais roupas de inverno; ele vestia uma camisa apertada com uma bermuda e tênis. Ela observou seu bíceps enquanto ele tomava um gole de cerveja. Ela não fazia idéia de que ele estava tão em forma.
“Você está bem bronzeado,” ela comentou tentando pensar numa desculpa por ser pega olhando para o braço dele.
“Você também,” ele disse, olhando intencionalmente para as pernas dela.
Gina riu e as cobriu com as mãos. “Um resultado da falta de trabalho, qual a sua desculpa?”
“Passei uns dias em Miami mês passado.”
“Ooh, que sortudo, você gostou?”
“Me diverti muito,” ele acenou com a cabeça, sorrindo. “Já foi lá?”
Ela balançou a cabeça. “Mas pelo menos eu e as garotas estamos indo para a Espanha semana que vem. Mal posso esperar.” Ela esfregou as mãos animadamente.
“É, eu ouvi dizer. Diria que foi uma ótima surpresa para você.” Ele lhe deu um sorriso, seus olhos brilhando.
“Nem me diga.” Gina balançou a cabeça, ainda sem acreditar.
Eles conversaram por um tempo sobre o feriado dele e suas vidas em geral e Gina desistiu de comer seu hambúrger na frente dele, já que não conseguia uma maneira de comê-lo sem que tomate, maionese e ketchup se espalhassem por seu rosto sempre que era sua vez de falar.
“Espero que não tenha ido para Miami com uma mulher ou a pobre Morgana ficará arrasada,” ela brincou e então se chutou mentalmente meter o seu narizinho sardento onde não era chamada.
“Não, não fui,” ele disse sério. “Terminei um namoro há alguns meses.”
“Oh, sinto muito,” ela disse sinceramente. “Ficaram juntos muito tempo?”
“Sete anos.”
“Nossa, é muito tempo.”
“É.” Ele desviou o olhar e Gina percebeu que ele não se sentia confortável falando sobre aquilo, então mudou rapidamente de assunto.
“A propósito, Daniel,” Gina abaixou a voz até virar um sussurro e Daniel aproximou o rosto dela. “Só queria agradecer por cuidar de mim como fez depois do documentário. A maioria dos homens saem correndo quando vêem uma garota chorar; você não. Obrigada.” Gina sorriu grata.
“Sem problemas, Gina. Não gosto de te ver chateada.” Daniel devolveu o sorriso.
“Você é um bom amigo,” Gina disse, pensando alto.
Daniel parecia satisfeito. “Por que não saímos todos para beber alguma coisa antes da sua viagem?”
“Talvez eu possa saber tanto de você quanto você sabe sobre mim.” Gina riu. “Acho que à essa altura você já sabe toda a história da minha vida.”
“É, eu adoraria,” Daniel concordou e eles combinaram um dia para se encontrar.
“Oh, a propósito, deu aquele presente à Morgana?” Gina perguntou animada.
“Não,” ele riu. “Ela têm estado meio... ocupada.”
Gina se virou para ver a prima e a viu flertando com um dos amigos dos gêmeos, para o desgosto dos dois. Gina riu dela. Já eram os filhos de Daniel.
“Vou chamá-la, tá?”
“Vá em frente,” Daniel disse.
“Morgana!” Gina chamou. “Tenho outro presente para você!”
“Ooh!” Morgana gritou animada e abandonou um rapaz muito desapontado.
“O que é?” Ela se jogou na grama na frente deles.
Gina indicou Daniel com cabeça. “É dele.”
Morgana encarou-o alegre.
“Estava pensando se gostaria de trabalhar no bar do Club Diva.”
Ela levou as mãos à boca. “Oh, Daniel, seria maravilhoso!”
“Já trabalhou num bar?”
“Já, várias vezes.” Ela fez um gesto de descaso com as mãos.
Daniel levantou as sobrancelhas; ele queria mais informação que aquilo.
“Oh, trabalhei em bares em praticamente todos os países em que já fui, sério!” ela disse animada.
Daniel sorriu. “Então acha que vai poder?”
“Ooh, claro que sim!” ela deu um gritinho e jogou os braços em volta dele.
Que pretexto, Gina pensou, ao ver a prima praticamente estrangular Daniel. O rosto dele começou a ficar vermelho e ele fez caras de “me salve” para Gina.
“OK, OK, já chega, Morgana,” ela riu, desgrudando-a de Daniel. “Não quer matar seu novo chefe.”
“Oh, desculpe,” Morgana disse, se afastando. “Isso é tão legal! Tenho um trabalho, Gina!” ela gritou de novo.
“É, eu ouvi,” Gina disse.
De repente o jardim ficou muito quieto e Gina olhou em volta para ver o que estava acontecendo. Todos estavam olhando para a porta que dava para a cozinha e os pais de Gina apareceram da porta com um bolo de aniversário gigante cantando parabéns. Todos cantaram também e Morgana ficou em pé de um salto. Enquanto seus pais saiam da casa para o jardim, Gina viu um grupinho seguindo-os. Os pais de Morgana vieram e ela correu para abraçá-los. Alguém vinha atrás com um buquê de flores. Quando o bolo foi posto na mesa, o estranho descobriu o rosto.
“Matthew!” Morgana se assustou.
Gina segurou as mãos da prima enquanto seu rosto ficava branco.
“Sinto muito por ser tão idiota, Morgana.” O sotaque australiano de Matthew ecoou pelo jardim. Ele realmente parecia estar atuando para uma novela mexicana, mas drama sempre parecia funcionar para Morgana. “Eu te amo! Por favor, me aceite de volta!” ele pediu e todos se viraram para encarar Morgana e esperar sua resposta.
Seu lábio inferior começou a tremer e ela correu até Matthew e pulou nele, envolvendo sua cintura com as pernas e seu pescoço com os braços.
Gina não agüentou a emoção e lágrimas lhe vieram aos olhos quando viu sua amiga unida novamente com o homem que amava. Jorge pegou a câmera e começou a filmar.
Daniel passou um braço sobre os ombros de Gina e lhe deu um aperto encorajador. “Sinto muito, Daniel,” Gina disse, secando os olhos, “mas acho que você acabou de levar um pé.”
“Não se preocupe,” ele riu. “Não devo misturar trabalho com prazer, de qualquer modo.” Ele parecia aliviado.
Gina continou a olhar enquanto Matthew rodava com Morgana em seus braços.
“Oh, arranjem um quarto!” Jorge gritou com nojo do sentimentalismo e todos riram.
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