Pó, lágrimas e lembranças



Gente, DESCULPA! Eu tinha dito que não ia mais demorar, mas dessa vez não foi por minha culpa, juro!! Sei que isso parece desculpa de autora que não posta nunca (porque é sempre a mesma desculpa... Deus sabe como eu ficava louca quando ouvia isso das outras autoras!), mas eu fiquei temporariamente sem internet.
Eu sei, eu sei... Mas não tô insultando a inteligência de vocês não, é verdade mesmo!
Por conta disso, o capítulo talvez tenha ficado um pouco curto, mas é que era bem grande e eu não queria deixar vocês esperando mais tempo...
Espero que curtam!!

Beijoooos!
Sofi!

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Gina prendeu o lençol no varal com um pregador e pensou em como havia passado o resto do mês de Maio tentando botar sua vida em qualquer tipo de ordem. Havia dias em que ela se sentia tão feliz, contente e confiante de que sua vida ficaria bem e então esse sentimento desaparecia tão rápido como aparecera e ela sentia a tristeza e a saudade entrando nela mais uma vez. Ela tentou achar uma rotina à qual pudesse se adaptar bem para que se sentisse como se sua mente pertencesse ao seu corpo, que, por sua vez, pertencesse àquela vida ao invés de ficar vagando por aí vendo todos viverem suas vidas enquanto ela esperava a dela acabar. Infelizmente, essa rotina não havia saído exatamente como ela esperara. Ela freqüentemente se pegava tendo estado imóvel há horas na sala, revivendo em sua cabeça cada uma das lembranças que ela e Draco dividiram. Por pior que fosse, ela passava a maior parte desse tempo pensando em cada briga que tiveram, desejando que pudesse retirá-las, desejando que pudesse retirar cada palavra horrível que ela já lhe dissera.

Ela rezava para que Draco soubesse que suas palavras apenas foram ditas em um momento de raiva e que não refletiam seus verdadeiros sentimentos. Gina se torturava pelas vezes em que agira de forma egoísta, saindo à noite com as amigas depois das discussões ao invés de ficar em casa com ele. Se castigava por ter lhe virado as costas quando deveria ter lhe abraçado, por quando ficou de mau-humor por dias ao invés de simplesmente tê-lo perdoado, por quando fora dormir direto em algumas noites ao invés de fazer amor com ele. Ela queria apagar todos os momentos em que ele ficara tão chateado com ela e a odiara. Ela queria todas as suas memórias pudessem ser dos bons tempos que passaram juntos, mas os momentos ruins sempre voltavam à sua mente para persegui-la. Haviam sido tal desperdício de tempo...

E ninguém lhes avisou que tinham pouco tempo.

E então vinham os dias felizes, onde ela andava com um sorriso bobo no rosto, se pegando a dar risadinhas quando uma brincadeira dos dois lhe vinha à mente. Mas era sempre ele. Sempre fora ele. E ela sabia que tudo girava em torno dele. Sua presença era tamanha na vida dela que, mesmo não estando mais fisicamente ali, Draco ainda conseguia ser o centro de tudo; de seus pensamentos, de suas lembranças, de suas atenções... Aquela era a sua rotina. Ela caía em dias de profunda depressão e então finalmente conseguia forças para pensar positivo e sair da tristeza por mais alguns dias. Era um processo cansativo para ela; ela, que só o que pedia era para ter ele ali ao seu lado.

Os amigos e a família iam e viam, sempre ajudando, fazendo-a rir. Mas mesmo em sua risada parecia haver algo faltando. Ela nunca parecia estar realmente feliz, feliz como fora quando Draco estava com ela; ela apenas parecia estar passando o tempo enquanto esperava por algo mais. E ela estava cansada de apenas existir; queria viver. Mas milhões de perguntas nunca a deixavam em paz até ela chegar ao ponto de não querer acordar de seus devaneios – eles sim eram reais para ela.

Lá no fundo, ela sabia que era normal se sentir assim, não realmente achava que estava ficando louca. As pessoas sempre diziam que um dia ela seria feliz novamente e que aquele sentimento seria apenas uma memória distante. Era chegar a esse dia que era a parte difícil.

Ela leu e releu a maior carta maior de Draco várias vezes, analisando cada palavra e cada frase, e a cada dia ela parecia encontrar um novo significado. Mas certa hora lhe ocorreu que ela poderia passar a vida inteira lendo naquelas entrelinhas, tentando achar mensagens escondidas; o fato é que ele se fora e que ela nunca realmente saberia exatamente o que ele queria dizer porque nunca mais falaria com ele. Era esse pensamento com o qual ela tinha mais dificuldades de lidar e aquilo a estava matando.

Agora, Maio havia ido embora também e Junho havia chegado, trazendo longas e brilhantes noites e dias ensolarados. E com os dias ensolarados, Junho trouxe claridade. Já eram os tempos de se esconder em casa assim que escurecia ou cochilos até a tarde. Era como se a Inglaterra inteira tivesse acordado de um longo sono, se espreguiçado, dado um bocejo e começado a viver novamente. Ela sabia que deveria seguir o exemplo. Era tempo de abrir todas as janelas e arejar a casa, para livrá-la dos fantasmas do inverno escuro, tempo de acordar cedo com os passarinhos e sair para dar uma caminhada olhando as pessoas nos olhos ao invés de se esconder debaixo de camadas e camadas de roupas com os olhos para o chão.

Junho também havia trazido consigo outra carta de Draco.

Gina havia sentado-se ao sol, apreciando a claridade recém chegada, e lido a carta nervosa e animadamente. Ela amava sentir o cartão e o relevo da escrita de Draco quando passava os dedos por sobre a tinta seca. Dentro, a caligrafia caprichosa havia listado seus pertences que estavam ainda na casa, e ao lado de cada item, ele explicava o que queria que Gina fizesse com eles e para onde queria que fossem mandados. Lá no fim, lia-se:


PS, Eu te amo, Gina, e sei que você me ama. Você não precisa dos meus pertences para se lembrar de mim, não precisa guardá-los como prova de que eu existi ou ainda existo em sua mente. Você não precisa vestir o meu suéter para me sentir à sua volta; eu já estou lá... sempre te envolvendo nos meus braços....


Aquilo se provara muito difícil de se lidar para Gina. Ela quase desejava que ele a pedisse para ir ao karaokê mais uma vez. Ela pularia de um avião por ele; correria mil quilômetros, qualquer coisa, exceto esvaziar seus armários e se livrar da presença dele naquela casa. Mas ele estava certo, e ela sabia. Ela não podia guardar suas coisas para sempre. Não podia fingir para si mesma que ele viria pegá-las. O Draco físico havia ido embora; ele não precisava de suas roupas.

Fora uma experiência emocionalmente desgastante. Gina levara dias para completar a tarefa. Ela revivera milhões de memórias com cada coisinha e pedaço de papel que ensacava. Segurava cada item antes de dizer adeus. Cada vez que algo deixava seus dedos, era como se ela estivesse dizendo adeus para uma partezinha de Draco mais uma vez. Era difícil; tão difícil... E, às vezes, difícil demais.

Ela informou a todos o que estava fazendo e, apesar de eles oferecerem assistência, Gina sabia que deveria fazer aquilo sozinha. Precisava ir com calma. Dizer um adeus apropriado, porque não teria nada daquilo de volta. Assim como Draco, suas coisas não poderiam voltar. Apesar dos desejos que Gina tivera de ficar sozinha, Rony havia aparecido algumas vezes para oferecer um pouco de apoio. Cada item tinha uma história e eles conversavam e riam das lembranças que os cercavam. Ele esteve lá para ela quando ela chorou assim como esteve quando ela finalmente esfregou as mãos, limpando o pó das palmas. Era uma tarefa difícil, mas que precisava ser feita. E que havia sido tornada mais fácil com a ajuda de Draco. Gina não precisava se preocupar em tomar decisões, ele já as havia tomado por ela. Draco a estava ajudando e, ao menos dessa vez, Gina o estava ajudando também.

A ruiva riu ao ensacar as fitas da banda de rock preferida dele. Pelo menos uma vez ao ano, Draco encontrava a velha caixa de sapatos durante os seus esforços de controlar a bagunça que crescia em seu armário. Ele colocava a música no volume mais alto para atormentar Gina com o som agudo das guitarras. Ela sempre lhe dissera que mal podia esperar para ver o fim daquelas fitas. Ela não sentira o alívio como esperara.

Seus olhos repousaram nas sacolas abarrotadas no chão do quarto; ela abaixou-se perto delas e por fim sentou-se no chão, ficando minutos ali olhando tudo aquilo, tudo o que iria embora. Tantos objetos, tantas memórias. Cada uma delas estava sendo etiquetada e despachada para algum lugar do mesmo jeito como estavam em sua mente. Seriam guardadas em um lugar onde ela iria no futuro para buscar sabedoria e ajuda. Objetos que haviam sido tão cheios de vida e importância e que agora apenas estavam lá, no chão. Sem ele, aquilo eram só coisas.

A vida inteira dele arrumada em vinte sacos.

As memórias de uma vida inteira dos dois arrumadas na mente de Gina.

Cada coisa sob pó, lágrimas, risos e lembranças.
Ela ensacou as coisas, limpou o pó, enxugou as lágrimas e guardou as lembranças.

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