Eu odeio estar perdida!

Os olhos verdes iam da esquerda pra direita e da direita pra esquerda sem parar. Paravam, checavam o bilhete e voltavam para cima, retornando ao movimento da esquerda pra direita e da direita pra esquerda.

Depois olharam ao redor, numa busca minuciosa por alguma solução, e não a encontravam. E voltavam ao movimento da esquerda pra direita, do nove para o dez.

- Pai, não tá aqui. - a ruivinha dona dos olhos disse para o senhor ao seu lado, que sacudia-se impaciente.

- Calma, Lily! Nós vamos achar.

Lilian Evans checou o relógio que ficava entre as placas nove e dez daquela estação: dez para as onze. Soltou um suspiro e sentou-se no malão que ia com ela, apoiando o queixo nas mãos.

- Eu odeio estar perdida!

- Já disse para ficar calma, querida! Essa tal plataforma 9 3/4 deve estar por aqui em algum lugar. - vendo a situação da filha, o Sr. Evans avisou-lhe que ia perguntar ao guarda. Enquanto se afastava, Lily afundou-se mais nas próprias mãos, e já sentia as lágrimas brotarem em seus olhos.

"É o meu primeiro dia! E eu não faço a mínima idéia do que fazer!" Seus pensamentos já estavam chegando na casa do "sou um fracasso", quando ela viu um par de tênis surrados alcançar seu campo de visão. Lily levantou os olhos, ainda secos, e viu a dona dos tênis: Uma garota alta, uns quatro anos mais velha do que ela, estava parada em sua frente, exibindo um sorriso tão bonito e otimista que Lilian até teve vontade de sorrir também. Ela tinha os cabelos grossos e castanho-escuros, presos num rabo de cavalo, e sua franja estava atrás da orelha, embora não se conformasse com essa posição pois não parava de cair nos olhos da menina. Lily a olhou por alguns segundos antes que ela dissesse numa voz muito feliz:

- Oi! - Lily não respondeu, com a boca semi-aberta: acabara de perceber que aquela ali deveria ser uma bruxa, pois viu saindo do bolso de sua calça uma vara envernizada com lugar para acomodar os dedos: uma varinha, parecida com a que ela tinha comprado no Beco Diagonal. - Meu nome é Andrômeda Black. Hogwarts?

Lily confirmou com a cabeça, apertando a mão que Andrômeda lhe estendia.

- Primeiro ano, não é? - novamente, a resposta veio com um aceno de cabeça - sim, sim, sempre muito assustador. Qual é o seu nome?

Percebendo sua falta de educação, Lily levantou-se para responder:

- Lilian. Lilian Evans. Estou meio perdida... seu bilhete também diz plataforma 9 3/4?

- Ah, mas é claro! Eles nunca explicam, aposto que você vem de família trouxa, não é?

Nessa hora, o Sr. Evans já havia retornado, mas só estava observando a menina falar. Quando ela se virou para ele, e o cumprimentou, ele pareceu aliviado: não tinha certeza se os bruxos gostavam de transformar os trouxas em sapo.

- Sim, trouxa. Onde é essa plataforma?

- Está na frente dela! - disse Andromeda, apontando o muro entre as plataformas nove e dez.

Lily fez uma cara idêntica à de um ponto de interrogação, mas logo teria sua dúvida esclarecida: dois garotos, aparentemente irmãos, estavam conversando e carregando dois malões, igual àquele em que ela estivera sentada, num carrinho. Mas.. eles estavam indo de encontro à parede! Iam bater! Iam... sumir?

- Como...?- Andromeda riu.

- Ah, você vai entend... - não conseguiu terminar sua frase, pois uma senhora alta e bem vestida gritou seu nome à alguns metros dali. Ela arrumava os cabelos de uma das duas meninas que estavam com ela. A morena batia o pé no chão, impaciente, e a loira reclamava que a mãe estava lhe machucando. - Ah! Minha mãe e minhas irmãs.

Lily já ia sorrir, dizer que seria um prazer conhecê-las, quando Andromeda completou:

- Fique longe delas! - não percebendo o espanto de Lily, ela prosseguiu: - Mas, como eu dizia, é simples, é só ir correndo e pronto.

- Ah... - ela ainda estava reticente.

- Olha, não se preocupe, eu passo com você, certo?

- Muito obrigada! - Lilian já tinha decidido que gostaria daquela garota. - Sabe, eu estou meio assustada de ir para Hogwarts...

- Ah, não se preocupe! Eu estou no quarto ano, e te garanto que é impossível não gostar de Hog... ouch!

Agora a mãe de Andromeda passara por ela e batera com um guarda-chuva em sua cabeça.

- Andromeda, sua incompetente! Será que você não sabe fazer nada certo? Vai se atrasar! - a voz dela lembrava a de uma arara, das bem atacadas. Andromeda massageou a cabeça e sorrindo respondeu um "Já vou mãe!".

- Então? Vamos?

Lily despediu-se de seu pai, e após muitas recomendações, e depois de ver as irmãs de Andormeda (que ela dissera serem Narcisa e Bellatrix) atravessarem a passagem, ela começou a correr ao lado da primogênita Black. Ainda ouviu a Sra. Black gritar um "juízo!" e, na hora em que esborracharia o nariz no muro...

...uma plataforma cheia de gente das mais excêntricas apareceu na frente dela. Um trem vermelho e caloroso destacava-se, com algumas crianças e adolescentes debruçados nas janelas ainda falando com seus pais: O expresso de Hogwarts.

- Não se preocupe. Parece esquisito agora, mas você se acostuma. E vai se dar bem! - disse Andromeda, sorrindo de novo. Lily sorriu também e agradeceu. - Boa sorte!

Lily olhou ao redor e suspirou, a ansiedade transbordando. Seu novo mundo parecia ser maravilhoso.

***

O trem deu um primeiro apito, que significava que eles deveriam embarcar. Lilian apressou-se a puxar seu malão para a entrada, e quando estava para pôr um pé dentro dele...

POF! RIINCH! CATAPOF!

Lilian levou a mão à cabeça, a visão meio encoberta pelos muitos e cheios cabelos vermelhos. Viu um par de óculos redondos jogados em frente ao seu rosto, junto ao chão. Se sentou vagarosamente, e de trás do seu malão ela viu a parte de trás da cabeça daquele que provavelmente seria o causador de sua queda. Lilian pensou que o tombo deveria ter sido realmente forte, já que o cabelo do garoto estava semelhante à um ninho de passarinho. Lilian ia murmurar um pedido de desculpas, mesmo sabendo que não tinha sido sua culpa, quando o garoto disse, num volume muito alto:

- AAAAAAI! Minha cabeça!!! Eu acho que eu vou morrer!! - Lilian ergueu uma sobrancelha, e começou a levantar seu malão. - Meu Deus! Eu não estou enxergando nada! EU ESTOU CEGO!

Logo outro garoto surgiu. Esse tinha os cabelos muito escuros e ajeitados indefecitivelmente, e os olhos cinzentos. Ele pegou o óculos que Lilian havia visto, e colocou no rosto do garoto que fazia escândalo.

- Como você é idiota, Tiago! - Ele ajeitou os óculos pela ponte e levantou-se de um pulo.

- Idiota é você que acreditou. - disse, espanando a poeira das vestes. Olhou ao redor e viu Lilian, que já estava com quase tudo no lugar, só terminava de ajeitar o malão. - Mas que a cabelo de foguinho me atropelou, ah isso atropelou!

Lily levantou o rosto e pela primeira vez olhou para o garoto. Ele a olhava com a mesma expressão de irritação, mas a dele era mais divertida.

- Eu não te atropelei! Foi você que veio correndo!

- Nada disso, você está com o veículo, então você que atropelou.

- Veículo? - Tiago apontou o malão de Lilian com a cabeça. - Isso não é um veículo!

- Eu digo que você é a culpada. - disse ele levantando a mão direita. Lilian levantou também:

- Pois eu digo que o culpado é você!

Tiago levantou a mão do garoto ao seu lado:

- Pois o Sirius também diz que você é culpada!

- Eu também digo que você é culpada! - disse Sirius esticando o braço o mais alto que pôde.

- Dois contra um, nós vencemos! Você é a culpada!

Lilian ia protestar, mas os dois pularam seu malão como se fosse um obstáculo e entraram no trem, Tiago ainda dizendo:

- Até Hogwarts, cabelo de foguinho!

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