Inevitável



Ponto de Partida


“Eu só quero saber em qual rua minha vida vai encostar na tua”



/// SR ///


“Quem me dera, ao menos uma vez,
Explicar o que ninguém consegue entender;
Que o que aconteceu ainda está por vir
E o futuro não é mais como era antigamente”.
(Legião Urbana – Índios)


Remus achava que o que pudesse acontecer em sua vida, aquela sensação era de toda desconhecida.

Os passos pesados nos corredores causados por coturnos não eram senão, agradáveis passos causados por coturnos.

Os cabelos compridos e sedosos, não passavam de mantos negros que percorriam a estonteante beleza do rosto moreno.

As mãos grandes de dedos fortes, que apertavam com certa força a pena de escrita em letras inclinadas.

Agora ele aprendia e descobria sozinho, que meros detalhes corriqueiros e aparentemente banais, para ele - Remus John Lupin - passaram a ser vistos de um ângulo um tanto quanto distorcidos do que era antigamente.

Diante disso e não tão de repente assim, seus olhos dourados acostumaram-se a admirar os movimentos frenéticos e inquietos de Sirius.

O modo dos dentes brancos sempre ficarem à mostra quando o amigo sorria abertamente. Era encantador e extremamente viciante.

Além de tudo, nas noites de Lua Cheia, o lobo só se aquietava quando a figura imponente de Padfoot aparecia na Casa dos Gritos.

Tentou entender, quando fora que tudo isso começou. A tão sólida e fixa amizade, o que estava se tornando afinal? A mágoa que sentira no triste episódio de Snape fora muito doloroso para ele. Entretanto, sua relutância em aceitar o seu perdão viera mais cedo do que ele próprio admitiria. Mas Remus sabia que uma hora ou outra iria aceitar as suas desculpas. A expressão culpada e dolorosa no rosto dele era muito angustiante de se presenciar.

Talvez, naquele instante, tudo mudara. Talvez. Agora, olhando para trás e o presente, Remus não tinha a vaga idéia do que sentia em relação à Sirius. Mas o moreno havia mudado desde o dia em que o aceitou de volta. Sim, ele também mudara. E isso era muito bom, na verdade. Talvez então, para se redimir, a amizade entre os dois cresceu a níveis elevados.

Camaradagem.

Eles eram amigos, companheiros. Compartilhavam segredos e marotices entre si. Cada um sabia e entendia o que o outro passava. Desde aquele dia que tudo mudara; quando aceitara o abraço de desculpas de Sirius. O abraço que fora o ponto de partida.

A impulsividade de Black era totalmente contrária à calma serena e contida de Remus. Tanta incompatibilidade, no entanto era um imã que os unia. Agradável e inevitavelmente.

A amizade sempre solícita e admirável dos Marotos. Não havia porque tudo isso mudar, não é mesmo? Quem disse que a razão segue as regras do coração? Ou melhor, quem disse que o coração dita as leis para o inconsciente?

Remus estava confuso, muito confuso. Não queria saber, porque esses sentimentos por Sirius haviam mudado tanto.

“Não os sentimentos – corrigiu-se – mas o modo como passei a enxergá-los”.

Cansado, suspirou pesadamente, massageando a têmpora com as pontas dos dedos. Pousou o livro que tentava ler no colo, e sem se conter, procurou por aquele que ocupava seus pensamentos naquele instante. Sentados no tapete, James, Peter e Sirius riam e apontavam para um pergaminho envelhecido no chão.

A risada canina de Sirius ecoou pela parede do quarto dos garotos e nesse instante, Sirius encontrou o seu olhar observador.

E um lindo e sincero sorriso, foi lançado em sua direção.

/// SR ///


“Por mais que eu tente lhe dizer
O quanto eu sinto por você
Como é possível não saber
Que eu te quero”
(Marjoire Estiano – Por Mais Que Eu Tente)


Remus sempre fora um amigo especial para Sirius. Diferente de James e Peter, ele era aquela pessoa que sempre o acalmava, que controlava.

Era sempre uma paz no seu coração, toda vez que olhava para Remus e via seus olhos claros, observando-o carinhosamente.

James era o amigo de todas as horas. Pronto para paquerar a garota bonita da Corvinal ou para lançar azarações contra os Sonserinos, eventualmente.

Peter era o amigo que sorria e mesmo um pouco amedrontado, os seguia por todos os lados.

Mas Remus… ele era diferente.

No entanto, seus sentimentos para com ele nunca foi uma surpresa.

Remus encantava qualquer um com seu jeito calmo e tranqüilo. Sempre disposto a ajudar qualquer um. Amigos ou não.

Era o amigo que sempre o auxiliava em momentos difíceis. Dava a Sirius a segurança do olhar penetrante, de quem sabe se o que você vai fazer é certo ou errado. Mesmo que ele só seguisse o caminho mais complicado! Remus era uma mistura inusitada de perigo e calmaria. Qualidades totalmente opostas, mas que para Remus se encaixavam com perfeição.

Lupin era especial, sem sombra de dúvida.

E foi assim que Sirius Black descobrira-se apaixonado por Remus Lupin.

Impossível na sua mente, não se enamorar por alguém como ele.

Não que a palavra ‘apaixonado’ fosse generalizada. Ele próprio, Sirius Black, era conhecido por ser ‘apaixonado’ pela vida. Mas para aquele animago ‘paixão’, se restringia apenas à uma pessoa.

Remus Lupin. Amor. Duas palavras que sempre se encaixavam em uma única frase.

Sirius amava Remus com tudo o que o licantropo dispunha. Ele se sentia melhor na presença dele. Fazia-o querer ser uma pessoa melhor. E sim, Sirius era uma pessoa melhor na companhia de Remus. Os mais simples gestos faziam-se quase perfeitos aos olhos do moreno.

A expressão serena e concentrada que ele ostentava nas aulas.

O leve caminhar, tão diferente do seu, quase como se flutuasse, não emitindo som algum.

As mãos leves, de dedos finos e compridos, que deslizavam majestosos nas linhas, de letras leves e legíveis.

O doce sorriso, das brincadeiras estúpidas que os Marotos aprontavam.

Houve um tempo, que Sirius teve medo do que sentia. Uma timidez sem característica alguma, assomou-se dele sem o tal percebesse. Pela primeira vez em sua vida, não soube o que fazer. E sentiu raiva por isso. E quem cruzasse seu caminho naquele momento, poderia arrepender-se amargamente. Foi o que aconteceu. Snape, parado à porta de uma sala qualquer, pareceu-lhe extremante propício. Xingamentos, insultos e azarações. E sem pensar ele jogou a isca, dando no que poderia ter resultado uma tragédia sem tamanho.

Depois do que aconteceu com o Ranhoso, ele entendeu que não poderia mais suportar. O perdão do lupino passou a ser uma questão de honra com os sentimentos que nutria pelo mesmo.

A partir de então, mostrou-se a ele o quão amigo poderia ser. Suas diferenças de personalidade, já haviam chegado à um nível nulo.

Naquela noite, quando notou que Remus o observava, deu o sorriso mais apaixonado que poderia dar.

/// SR ///


“Quando descobri que é sempre só você
Que me entende do inicio ao fim
E é só você que tem a cura do meu vício
De insistir nessa saudade que eu sinto
De tudo o que eu ainda não vi”
(Legião Urbana – Índios)


Remus acordou. A luz alaranjada do sol atravessando as cortinas brancas de sua cama de dossel. Correu as mãos pelo cabelo, prendendo-o no alto, enquanto levantava-se da cama. Como sempre, era o primeiro a acordar. Esfregando os olhos, apanhou a toalha e foi ao banheiro para despertar completamente.

Sob a água quente da banheira, ele repassava seus pensamentos da noite passada. O que sentira realmente quando Sirius lhe sorrira daquele jeito? Ele não sabia explicar, quanto menos responder, mas havia gostado e muito.

Um leve comichão no estômago era sua denúncia quanto a isso. Não iria ignorar a alegria que o acometera com um simples gesto do amigo.

Pareceu-lhe então, que aquele sorriso tão majestoso, era destinado a poucas pessoas. Havia algo de diferente e intenso naquele sorriso que o fazia ser tão especial. Não era apenas um simples esgar de lábios, no entanto. Afinal, Sirius sorria para todos, não é verdade? Os lábios finos mostravam os dentes alvos e o pequeno gesto estendia-se aos olhos cinza, que cerravam ligeiramente pelo esforço.

Era espontâneo e ao mesmo tempo raro. Carinhoso e atraente. Apaixonado e misterioso.

Remus ficou tenso quando notou que gostaria que aquele sorriso fosse destinado a ele. E mais tenso ainda, quando percebeu que era realmente o único destinatário daquele sorriso. Nunca vira sendo proferido a mais ninguém… seria imaginação da sua cabeça?

Assustado, saltou da banheira no instante que a porta do banheiro era aberta.

/// SR ///


Sirius acordou com os roncos altos de Peter. Piscou algumas vezes, acostumando-se a luz intrusa que invadia o quarto. Nunca gostara realmente de dormir com as cortinas fechadas. Virou-se na cama, notando que Remus já havia despertado.

Ele não se conteve a noite passada, sorrindo daquela maneira. Fora tão óbvio assim? Havia sido tolo, sabia disso. Mas a cada dia que se passava, estava mais difícil esconder o que sentia.

Repassou em sua mente todas as vezes que se conteve para não fazer nada muito chamativo. Era sua prova de amizade, fazer com que Remus se sentisse confortável com ele, afinal.

Levantou-se rápido e abriu a porta do banheiro esquecendo-se completamente que Remus poderia estar ali.

Percorreu os olhos deliciado com a imagem à sua frente. Remus, com a toalha branca, precariamente presa à cintura, secava os cabelos com uma outra, de frente ao espelho do banheiro. Gotículas de espuma ainda visíveis, que percorriam lentamente as costas lisas e alvas, umedecendo a pequena vestimenta.

Remus devolveu seu olhar, ficando um pouco estático pela entrada um tanto brusca de Sirius. No susto, esquecera completamente de sua condição. Observado pelo reflexo do espelho, o olhar fixo dos olhos grizes que brilhavam de maneira luxuriosa em sua direção.

A cena, no entanto, não passara de meros segundos. Desconfortável com a intensa mirada, Remus enrolou-se mais firmemente na toalha, desejando-lhe um “Bom dia Padfoot”, que lhe pareceu muito charmoso. Sirius piscou atordoado, murmurando um pedido de desculpas e saindo logo depois.

/// SR ///


Tudo corria em ritmo acelerado. Remus estava muito confuso. E não sabia que atitude tomar em relação a isso. Sirius estava diferente. Muito diferente..

Alguns dias haviam passado desde aquele incidente no banheiro, e o amigo estava um tanto… insinuante para com ele.

E o que mais incomodava, era que Remus apreciava essa mudança. Mais seria mesmo um incômodo?

De repente, as mãos se encontravam em meio à livros, durante as aulas. Os ombros se tocavam mais atritamente pelos corredores. Os olhares ficavam mais intensos durante as refeições. Os abraços duravam mais tempo que o necessário. Era preciso toda aquela proximidade para fazer um trabalho em dupla?

E Remus gostava. E muito.

O pouco de contato que trocavam era mais do que um simples toque de pele ocasional. Remus sentia o coração pular quando tocava os dedos de Sirius. Precisava se conter para não entrelaçá-los nos seus. As borboletas no estômago então…

E Sirius parecia gostar quando seus olhos se encontravam e aquele mesmo sorriso de dias atrás brotava em seus lábios.

Sirius por outro lado estava deliciado. Vê-lo daquele jeito tão intimo no banheiro do dormitório, havia acendido uma nova chama no seu coração. Sentia que ainda tinha esperança. Afinal de contas, ele era o otimismo em pessoa, sentia que no fundo tudo se resolveria.

Sentir o leve toque, tão tímido de Remus, fazia com que seu sorriso se tornasse mais vívido. Procurava se aproximar dele, com qualquer desculpa que lhe viesse a cabeça. Precisava mesmo arranjar uma justificativa para estar ao lado do amigo?

Suas mãos coçavam para sentir a textura dos cabelos castanhos e sua boca formigava ao imaginar o gosto de Remus. Foi com esses pensamentos que o encontrou na sala comunal, ao lado de Peter.

Uma cena tão comum no seu cotidiano. Remus ensinando a Peter, uma lição qualquer. O que isso tinha de diferente e tão encantador, afinal? Talvez o modo como Remus mordia a ponta da pena? Ou como os cabelos caiam graciosamente no rosto, encobrindo seu semblante um pouco franzido de concentração?

Formou-se um nó na sua garganta enquanto se aproximava. Ele tinha que fazer qualquer coisa para aquilo acabar. Declarar-se, foi a única palavra que sua mente processou.

“Remus, eu posso falar com você?”

“Há algo errado, Sirius?” – o lobisomem perguntou ao ver a expressão do amigo.

“Não… ahh… você pode me acompanhar até o campo de quadribol?”

“Tudo bem, vamos lá!”

O lupino ficou contrariado. Sirius parecia nervoso. Fora uma decisão súbita que ele tomara, mas Remus não tinha sequer noção do que o aguardava. Era sexta-feira à noite e provavelmente ele deveria estar combinando algum encontro com uma morena da Lufa-lufa. Não ali, a caminho do campo de quadribol a essa hora da noite, totalmente deserto para conversarem!

Inspirou fundo o ar da noite refrescante entrando pelos seus pulmões. Arriscou um olhar de esguela para o companheiro de caminhada. As mãos nos bolsos da calça, um olhar distante para a Floresta Proibida. Sirius parecia enfrentar um dilema interior. Preocupou-se com isso. Sirius não era de se preocupar. Era o tipo de pessoa totalmente grifinória. Fazer antes, pensar depois. E pelo que via, Sirius Black estava pensando muito em como agir… isso não era nada bom.

Caminharam em silêncio para uma das altas arquibancadas. A vista bela do campo à sua frente. Lentamente, subiram as escadas de madeira que dava acesso à ela.

Agora, Sirius estava com medo. Estava apavorado, literalmente.

Pensar em como agir, era uma coisa. Por em palavras o que sentia era outra totalmente diferente. Não era um terreno que ele costumava pisar.

Primeiro, como começaria? Apaixonar-se por alguém não é fácil, por uma pessoa do mesmo sexo então… por um amigo que conhecia a vida toda…

Sirius sempre fora o declarado, nunca o declarante, propriamente dito. As garotas diziam que o amavam, mas ele agora, tinha uma certeza absoluta que só havia amado uma pessoa em toda a sua vida.

Assustou-se então, quando ouviu a voz de Remus ao seu lado, soar docemente:

“Eu percebi que está preocupado. Quer falar sobre isso?”

“Não é… ‘preocupado’ a palavra certa, eu estou meio… ‘assustado’ eu diria…”

“Com o que?”

Sirius correu os dedos pelo cabelo, num típico gesto de nervosismo. Remus conhecia muito bem esse gesto e estava curioso. Vê-lo assim tão ‘assustado’ como ele mesmo citou, deixou-o ansioso por saber o que acontecia.

Se o moreno o trouxe até um lugar afastado e solitário para conversarem, devia ser um assunto importante. Além de curioso, deixou-o intrigado. Franziu as sobrancelhas, quando o notou ficar tenso. A mão já estava a caminho dos cabelos novamente quando Remus segurou-a e entrelaçou os dedos dando-lhe confiança.

“Fale Sirius… estou aqui para te ouvir.”

Suspirou novamente e olhou o lupino. Ele parecia curioso e levemente preocupado. Apertou sua mão, intensificando o contato. Não reparou, no entanto, como sua voz saiu um pouco rouca.

“Você sabe o quanto eu me arrependo do que te fiz sofrer, quando aticei o Snape a te seguir naquele dia, não sabe?”

“Sim, eu sei… mas já te perdoei por isso… você não precisa se preocupar mais com esse assunt-“

“Não, não é isso.” - Sirius cortou-o antes que terminasse. “Eu quero te dizer que… que desde aquele dia que você passou a me evitar, o que sinto por você, de alguma forma mudou…”

Percebia seus sentimentos a flor da pele, sua voz vacilava em alguns momentos. Mas já que começou, sentia-se confiante que poderia terminar.

“Você queria que eu te perdoasse. Que tivéssemos a mesma amizade de antes. Eu entendo que você queria recuperar o que de alguma forma se perdeu…”

“Mas mudou entende? O que eu sentia se transformou… eu não conseguia te enxergar mais como um amigo. Eu sofri também Remus. Muito. Via você me rejeitando quando tentava falar com você… não ficava no mesmo ambiente comigo, a não ser nas salas de aula. Ia deitar-se antes de todos para não precisar olhar para mim.”

Remus conhecia aquela história do começo ao fim. James e Peter haviam lhe contado como o amigo tinha ficado mal com tudo o que fez. Entretanto, os dois haviam sofrido. Eram sentimentos negativamente fortes para esquecerem de uma hora para outra, ele sabia disso. Sirius havia traído sua confiança… abalado o que de mais nobre tinha nascido no seu coração. Nada o que o tempo não curasse.

Olhou para o céu. Sirius apertava sua mão com força, com medo de que ele pudesse fugir. E esse pequeno gesto o fez sorrir. O céu brilhante de estrelas, a lua minguando fracamente.

Os dois haviam mergulhado num súbito silêncio. As lembranças daquela noite revividas na memória dos dois. Remus sabia o que Sirius pensava e sabia que o amigo dizia a mesma coisa sobre ele.

Flashback

“Sirius Black acompanha-me até a sala do diretor!”

Se Minerva McGonagall, a respeitável diretora da Grifinória, aparecia na sala comunal de sua casa, boas coisa não havia acontecido. Se esse fato, dizia ter qualquer reação ou suspeita com alguns dos Marotos, a coisa era muito grave.

Sirius ouviu o seu nome já sabendo das conseqüências que teria pela frente. Porém, James saltou ao seu lado, dizendo a diretora que acompanharia o moreno. Tomado por um vislumbre de razão, o único até aquele momento, disse a Prongs que o que fosse que estava para ser decidido, era um assunto entre o diretor e ele, somente.

A culpa havia tomado-o no instante que James aparecera ofegante, dizendo o que havia acontecido, fazendo com que a diversão, tornar-se arrependimento em um único segundo.

A detenção administrada pelo próprio Dumbledore, o olhar vingativo e odioso de Snape, intensificado duplamente, os olhares caridosos de James e Peter para com ele. Nada disso, havia feito tomar consciência da gravidade do que tinha feito até ver Remus na enfermaria.

Remus fitou-o de relance, a raiva estampada nos olhos, e desviou o rosto contemplando as janelas altas. O ‘Some da minha frente’, foi como uma maldição imperdoável no seu coração. A lágrima cristalina que rolava no rosto de Remus, deu-lhe a certeza aterradora. Naquele exato momento, quando fechara a porta da enfermaria, foi que percebera os reais sentimentos que nutria pelo licantropo.

A razão de tudo de resumir num pedido de desculpas para Remus havia sido o propósito dele durante vários meses.

/// SR ///


“Você tem que entender que o que eu fiz foi irracional!” – gritou

“Você me traiu Sirius. Usou o que tenho de ruim em uma vingança idiota e sem propósito.”

Talvez se ele gritasse, apontasse o dedo na sua cara, ou lhe desse um belo soco de direita seria melhor que isso. Remus falava em tom baixo, de alguém que ensina uma criança a abrir uma porta com um simples ‘Alorromora’.

Sirius nunca teve tanta raiva de sua voz suave.

Era com indiferença e um certo descaso que ele lhe falava. Isso quando lhe dirigia a palavra. Tratava-o com a frieza que Sirius nunca quis conhecer. Nem ao menos olhar nos seus olhos Remus fazia mais!

“Olha pra mim, quando eu falar com você, Remus!” – disse, a voz amarga.

“Porque eu faria isso?”

“Porque eu sou seu amigo. Ainda tenho esperança que me considere um. Porque mesmo sendo e agindo feito um idiota, eu quero o seu bem.”

“Você me traiu.” – repetiu Remus. “Pessoas que querem o bem alheio, não fazem o que você fez.”

Sirius, tomado de uma raiva repentina, levantou o amigo da cama, onde até agora estivera deitado, com brutalidade. Qualquer reação era melhor que aquilo. Sabia que mais uma vez, a impulsividade estava tomando seus outros instintos, mas ele estava à beira do desespero. Cautela era a última palavra que ele dispunha.

“Quantas vezes eu vou ter que pedir desculpas pra você? Isso já virou um mantra Remus, pelo amor de Merlim!”

Seus olhos se encontraram e as orbes douradas de Remus não brilhavam mais. Sentira ali, que algo havia morrido dentro do amigo. E que ele, Sirius, o inconseqüente e imaturo Black, havia destruído. Sentiu um nó na sua garganta e apertou os dedos nos braços de Remus, forçando-o a encará-lo.

“Eu não suporto te ver assim. E não
me suporto porque eu sei que a culpa é minha… você sabe que fiz aquilo sem pensar. E sabe também que me arrependi. Perdoe-me Remus. Me perdoe por ser desse jeito… Não quero ficar longe de você…”

“Eu não… não quero perder sua amizade Sirius.”

E Remus o abraçou. Um abraço forte que fora mais que reconciliador. Representava barreiras quebradas e um novo conhecimento de si mesmos. Conhecimento mútuo e confiança renovada. Companheirismo estabelecido.

Um abraço longo e apertado que os uniu como um selo de magia. Um elo, um vínculo que duraria por anos sem conta. Por que contar naquele momento era totalmente irrelevante. Para Sirius, tudo consistia em sentir o perdão de Remus. Para o lobisomem, a alegria voltar ao seu coração toda vez que Sirius lhe sorrir. Era o que importava para ambos.

Sirius apertou o abraço na cintura de Remus, erguendo-o um pouco, fazendo-o ficar firme junto ao seu corpo. Ele sentia sua fragilidade, quando Remus estremeceu e o abraçou de volta.

Tudo se evaporando de maneira extraordinária. Porque aquele abraço causava tanto impacto assim? Porque, ele ouviu a própria mente lhe responder, aquele abraço era tudo, menos simples. Porque ele desejava que tudo ao seu redor acabasse e ele, Sirius e Remus ficassem abraçados para sempre. Era demais querer isso?

Com essa idéia, puxou Remus para mais perto, se é que isso era possível, e sorriu acariciando os cabelos do amigo.

Sentiu o sorriso de Remus contra seu pescoço, e seu coração finalmente aquietou-se com a certeza que reconquistara a confiança do lupino.

Não se importaram, porém, quando Peter entrara no quarto e dera vivas de que tudo estava bem. James, logo em seguida, acompanhou os dois e os abraçou apertado. Rindo, os quatro comemoraram no dormitório. Mas antes que aquele abraço se findasse, Sirius sussurrou:

“Deixe o Ranhoso comigo, tudo bem? Na próxima Lua Cheia pode deixar que eu mesmo me encarrego de morde-lo.”

Afinal, a risada de Remus encheu o quarto e esse era o som que Sirius nunca se esqueceria.

Fim do FlashBack


“Eu já perdoei Sirius. O que voc-“

“Lembra-se do dia que fui te visitar na enfermaria? E daquele abraço que trocamos no dormitório?” – ele esperou a confirmação positiva de Remus e continuou. “Para mim, aquilo não foi um simples abraço… ouvir aquelas palavras de você na enfermaria não foi fácil também. Desde esse dia, eu te enxerguei de um jeito diferente.”

“De que jeito Sirius?” – ele perguntou cauteloso

“Não sei…” - Sirius suspirou cansado e olhou para o céu estrelado, as mãos dos dois, ainda firmes. “Talvez… eu… sempre quis ver você por perto. Não gosto quando você fica até tarde estudando ou não se alimenta muito bem nas vésperas de Lua Cheia. Fico com raiva quando Snape olha pra você de modo acusatório e mais ainda porque você se sente culpado e eu não posso azará-lo na sua frente, porque sei que você não vai gostar…”

“Mas o que me incomoda…” – ele continuou quando Remus não se manifestou. “… é que eu quero e muito sentir aquela sensação de novo, sabe?”

“Qual?”

“A de quando nos abraçamos. Você sentiu aquilo, não sentiu? Parecia que para a gente… tudo o que viesse depois seria mais fácil. Se nós dois mantivéssemos unidos, tudo iria caminhar no lado certo…”

Remus digeria essas palavras devagar. O que sentiam um pelo outro era intenso demais, sim! Como suas mãos entrelaçadas daquele modo. Um elo. Uma coisa só que dizia ser verdadeira. O que quer que fosse o significado dessas palavras.

Aproximou-se de Sirius, sua perna colando-se inteira à do amigo. E daquele contato tudo parecia ser tão certo. Não há nada que pudesse ser errado, tudo era tão simples e fácil entre os dois. Seus olhos se encontraram novamente e dourado chocou-se com griz.

“Parece estranho, huh? Esse sentimento, ou o que quer que seja. Eu te vejo todos os dias, todas as horas e instantes. E sinto uma necessidade quase gritante de te tocar. Você sente o mesmo?”

Remus observou ainda por um bom tempo o rosto de Sirius. Imitou seu gesto, ainda em silêncio, apoiando a cabeça na arquibancada e olhando o céu estrelado.

“Sim… eu também sinto. Também me preocupo com você, Padfoot. Sempre que olho pra você quero te ver sorrindo… e é sempre bom quando você sorri. Ainda mais nesses últimos dias. Eu reparei que o nosso ‘contato’ cresceu muito e… eu me sinto bem assim. É sempre reconfortante te ter por perto.”

Todos os seus pensamentos estavam focados nos acontecimentos dos últimos dias. Oh, era verdade. Tudo o que aconteceu durante aquela maldita Lua Cheia. Todo o seu descrédito em perdoá-lo e toda a discussão idiota que se seguiram. O perdão inesquecível e agora aquela história; as últimas semanas repletas de pensamentos incoerentes, que já não faziam mais tantas dúvidas depois de ouvir o que Sirius acabara de falar. Ele também sentia isso, sem tirar nem por. Sirius havia desabafado e ele compreendia tão perfeitamente bem!

Nem se dera conta que Sirius havia falado. Abriu os olhos, mal se lembrando quando os havia fechado. Teria pulado, no entanto, quando notou Sirius debruçado sobre si, os rostos muito perto. As mechas negras e macias de Sirius percorrendo seu pescoço suavemente. Os braços em cada lado de sua cabeça, deliciosamente encurralado.

“Eu não ouvi o que você falou…”

“Eu disse que… eu acho que me apaixonei por você!” – repetiu quase em sussurro.

Sirius observou a expressão de Remus. Não parecia perturbado, chocado, muito menos enojado. Seus olhos refletiam aquele brilho apaixonante que tanto o encantava. E ele deveria estar com uma cara realmente idiota, admirando-o desse jeito! Remus abriu devagar a boca para falar, mas Sirius não permitiu. Diminuiu a distância e cobriu a boca de Remus com a sua.

E nada poderia ser classificada como tão perfeita ao ser comparada com o que Sirius sentiu.

Ele quase pode ouvir seu coração pular quando Remus entreabriu os lábios, permitindo sua passagem. Sim, a boca de Remus era tão doce e saborosa como ele sempre imaginou. Com um simples beijo já se via viciado na quentura daqueles lábios. Tão delicado e macio, tão viciante e maravilhosamente bom.

Remus percorreu os dedos pelo seu pescoço, fazendo-o quase derreter com o pequeno carinho. Gemeu, mas agora não sabia dizer se fora ele ou Remus, quando as línguas se encontraram languidamente. Seus dedos enroscaram-se nos cabelos castanhos, enquanto Remus segurava a gola de sua capa e o puxava para mais perto. Sentiu-o abrir ligeiramente as pernas permitindo mais contato. Sirius aproveitando-se o puxou, para cima de si, fazendo com que Remus se sentasse em seu colo, prendendo-o pela cintura. As bocas nunca se separando, sempre juntas naquela batalha deliciosa, onde não importava quem venceria, porque os dois eram vencedores daquela guerra.

Mas a procura por ar foi inevitável. Eles se separaram ofegantes com um doce estalo, sentindo que tudo só fazia razão, após provarem desse beijo. Remus sorriu e juntou sua têmpora na de Sirius, mergulhando no que tanto gostava. Os olhos grizes e agora um pouco desfocados do garoto sob si. Tornou a sorrir um pouco mais, ouvindo-o gemer de frustração, quando se sentou ao seu lado, saindo finalmente do colo do moreno.

Se não fossem as estrelas que brilhavam lá no céu, Sirius teria certeza que o único que brilhava era Remus. Observou-o alisar as roupas espanando a poeira inexistente, deslizar os dedos por entre os cabelos, que Sirius notou estarem ligeiramente bagunçados, graças à ele. A boca levemente vermelha do beijo trocado.

“Pare de me secar, Padfoot” – brincou.

“Oh, desculpe Moony… eu…” – ele desviou os olhos, não notando o tom maroto que Remus usara para lhe dizer isso. Muito menos o sorriso que lhe fora enviado.

O que era aquilo? Sirius estava com vergonha agora? Ele, Sirius Black, encabulado? Não! Lógico que não… ele estava apenas se contendo para não roubar outro beijo do amigo – amigo? – não é mesmo? Por que… ah, ele queria tanto sentir os lábios de Remus mais uma vez!

“Sabe, Sirius…”

“Hum?”

“Eu acho que posso aprender a conviver com isso, sabe? Com essa sua ‘necessidade gritante de me tocar’ e se for pra me beijar desse jeito toda vez que acontecer… é fácil, na verdade”.

“Oh, você aprende a conviver?” – perguntou Sirius, um brilho malicioso faiscando em seus olhos quando notou o tom de voz brincalhão.

Remus aproximou-se, buscando sua mão novamente. Quando falou, tinha voltado a ficar sério e o fitava intensamente.

“Talvez seja algo mútuo, não sei explicar… mas eu gostei do que a gente teve essa semana… e para ser sincero, se nenhum de nós agisse logo, ia se tornar torturante.”

“Você quer dizer que…”

“Sim, eu também me controlei para não puxar você para mais perto de mim. Durante muito tempo, acho… eu já sentia isso e não queria admitir. Todas as vezes que estávamos sozinhos e olhava pra você. Ainda mais nesses últimos dias…”

“Te ver com alguma garota…” – ele continuou. “… me faz ficar impaciente… talvez ciúmes, quem sabe?” – acrescentou sorridente, ao ver os olhos de Sirius se arregalarem. “Não faça essa cara Padfoot! Achou que tudo o que você disso era unilateral?”

“Bem… era platônico não era?” – ele se defendeu, sorrindo. Aproximou-se mais ainda do lupino, sussurrando em seu ouvido. “Você quer namorar comigo?”

“Oh. Sim, eu quero muito, Sirius”.

Os dois se abraçaram forte. Outros beijos se seguiram. Um após o outro, ainda presos nos braços um do outro. O mesmo abraço de onde tudo nascera. Ali, naquele campo de quadribol, onde eles assumiram seus reais sentimentos para com o outro.

Onde o vento batia levemente na alta arquibancada, Remus finalmente percebera o que sentia. E Sirius sentia a mesma coisa. Era tão simples olhar para o moreno e ver que tudo tinha uma explicação. Se de uma hora para outra, seu mundo passara a girar em torno dele, Remus só podia admitir que tudo era delirantemente maravilhoso. Era tão singelo, tão lógico, tão perfeito poder sentir os braços de Sirius no seu corpo.

Era um abraço de carinho e respeito. Amizade e amor. Principalmente amor. Todos os outros significados que pudessem ajudá-lo a responder o quão lindo era o que Remus estava sentindo. Mas ele queria explicar, traduzir em poucas palavras o que estava descobrindo sobre si mesmo:

“Eu acho que também estou apaixonado por você”.

E sim. Não era o mesmo amor e carinho de amigos que se gostam. Era puro e verdadeiro, como jamais sentira antes. Remus mais uma vez, por muitas vezes que se seguiria dali adiante, sabia que estava seguro.

Sirius sorriu e tomou a sua boca com paixão. Ele, novamente afirmava para si, que sempre se lembraria do seu Remus desse jeito. Totalmente transparente e sincero. A forma tão Remus Lupin de ser.

Um sentimento forte e intenso, com inúmeras explicações. Porque explicar o que se sente é complicado demais. É apenas sentir.

Amar.

E deixar viver, inevitavelmente.

Fim



N/A: *limpando a babação* alguém pode me dizer como eu consigo ser tãããão melosa? Você pode? Não, pode parar por ai, não precisa me explicar!! Well… a musica lá em cima é “Encostar na Tua” da Ana Carolina. As musicas dessa mulher é viciante. A fic tem muitos erros, eu sei. Repeti a mesma coisa, com palavras só um pouquinho diferentes.… e revisei, revisei e só saiu isso aqui. Está aí, espero que gostem! XD

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