Fugindo das Sombras



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[ Broken - Lindsey Haun | A música demora um pouco para carregar, aconselho dar o 'stop', depois o play, que quando ela carregar vai começar a tocar direto (:]


Uma casa representa muito. É mais do que um lugar para se viver. Sua estrutura, os móveis, a decoração, mostram com exatidão como seus habitantes são, e como vêem o mundo. Assim como a mansão da família, localizada no Largo Grimmauld, aquela era uma bela propriedade. A suntuosa Casa de Verão dos Black era um dos lugares mais bonitos e bem freqüentados da alta sociedade bruxa. O rancho, localizado no extremo sul da Inglaterra, estendia-se por mais de 50 hectares de terras de campos exuberantes ladeados por colinas escarpadas. Sua arquitetura, com fortes influências góticas, dava à casa um ar imponente e por muitas vezes até intimidante; sua decoração era impecável em todos os cômodos, tanto nas enormes salas quanto nos menores aposentos; corredores frios e escuros também não eram muito difíceis de se achar por lá, onde salas misteriosas e quartos vazios eram a maioria dos destinos das inúmeras portas que se estendiam por eles. Todas as paredes da casa, sem exceções, eram cobertas por pinturas dos membros ancestrais da família e peças antigas de valor. E assim era a maioria de seus habitantes, vazios e sombrios por dentro, mas por fora uma perfeita ostentação de uma imagem impecável de educação e status.

Andrômeda Black nunca encontrou compreensão e amor em seu lar -- não depois de mostrar a todos o que realmente pensava. Morar com eles permanentemente, já que havia se formado há pouco na Academia de Magia de Beauxbatons, estava sendo um grande desafio para a jovem. Seu porto seguro ali dentro era exclusivamente seu primo Sirius, que sempre a apoiava e compreendia todos seus ideais de vida. Os dois tinham uma relação de completa cumplicidade, conseguiam se comunicar apenas com o olhar; protegiam-se dos constantes ataques dos familiares juntos, ajudavam um ao outro quando precisavam, e sempre que tinham vontade de chorar diante daquela situação de extremo desespero apenas abraçavam-se e deixavam a emoção fluir. Mas mesmo assim era realmente muito difícil aceitar todas as exigências e obrigações requisitadas por seus parentes ali presentes.

Ela não pertencia àquele lugar.

Os pássaros já cantavam em meio à quietude do amanhecer, enquanto o sol nascia lentamente acima das colinas, lançando seus raios dourados em um céu que, em momentos, tornava-se quase púrpura. As folhas das árvores farfalhavam suavemente em meio a uma leve brisa de verão, e Andrômeda via em silêncio, deitada sob o gramado úmido, o céu fulgurante explodir em cores de um brilho tênue.

Silenciosa, parecia perder-se em seus próprios pensamentos enquanto observava a grama alta farfalhar suave sob a brisa, sentindo o calor do sol reluzindo em seus cabelos negros, e começava a cantar baixinho. Seus olhos, que tinham a cor do céu, percorriam toda a paisagem com uma certa melancolia. Ele havia partido há uma semana, fugira daquele inferno como ela muita vezes planejara fazer, e não voltaria mais. Sentiu algumas lágrimas quentes percorrerem seu delicado rosto, e como se reprimisse sua própria atitude limpou-as com as costas da mão rapidamente. Aonde quer que Sirius estivesse, ele estaria bem, e ela tinha o dever de sentir-se feliz pelo primo.

Aquele era o dia em que Bellatrix, sua irmã do meio, finalmente conheceria seu tão falado noivo, o riquinho e piegas Rodolphus Lestrange. Andrômeda sabia que sua mãe e sua tia já estariam ocupadas com a enorme quantidade de afazeres para que tudo saísse perfeito; escutara-as quando se esgueirara a fim de contemplar o nascer do sol entre as montanhas. Isso era o que mais apreciava ali, fugir às obrigações tediosas e correr livre pelo rancho, perambulando pelo gramado ou por entre as árvores durante as chuvas de verão; ou até mesmo montar seu cavalo e cantar enquanto galgava as colinas até os lugares secretos que descobrira nos longos passeios com o primo.

Observou o sol elevando-se no céu, e ao levantar-se vagarosamente, rumou em passos leves à margem de um rio que passava por lá. Andrômeda enfrentou a corrente do rio, a água chegando às coxas, e ao sentir os pés dormentes e os joelhos formigando soltou uma risada fraca sob o sol de verão, arrancando seu vestido e laçando-o à margem. Sabia que não haveria ninguém ali para vê-la movimentar-se graciosa nas águas do rio, e apesar de ter consciência de que àquela hora todos já deviam estar furiosos por conta de sua ausência, a menina soltou seus longos cabelos e olhou a sua volta, suspirando sem pesar.

Num mergulho delicado e perfeito, emergiu por entre as águas geladas do riacho, sentindo um leve ardor por toda a extensão de seu corpo por conta da temperatura baixíssima de suas águas. Aquele era um de seus refúgios, lugar em que ela sentia-se apenas feliz. Permaneceu ali, na quietude da natureza, por mais muitos minutos, mas ao perceber que o sol já havia subido no horizonte dirigiu-se à margem. Tomou seu vestido nas mãos e vestiu-o, deixando-o agarrar-se ao corpo molhado. Imaginava que àquela altura todos já deviam estar procurando-a por todos os cantos do rancho, mas simplesmente não ligava. Não precisavam dela, só achavam que sim.

Já avistava a casa ao longe quando ouviu a voz de sua tia Walburga tomar conta do espaço.

-- Andrômedaaa! -- seu nome parecia ecoar em toda parte, e ela apenas riu, divertindo-se com a idéia de causar problemas para a costumeira, e completamente entediante, mania de perfeição que sua família tinha.

A mulher, que trazia numa mão seus sapatos finos e na outra uma écharpe negra, já estava no alpendre quando avistou a figura da sobrinha. Uniu os lábios furiosa quando viu que novamente a menina estava andando pelo rancho com as roupas encharcadas.

-- Por Merlin, Andrômeda! -- ela exclamou. -- Olhe só para você! O que falariamos aos Lestrange se vissem uma Black nesse trajes!? -- ela continuou com o já conhecido discurso.

-- Não se preocupe, titia, já vou me trocar! -- a garota respondeu-a calmamente, enquanto atravessava a sala molhando todo o chão.

Escutou Walburga dizer algo sobre não chamá-la de titia, e mais outras reclamações sobre molhar o assoalho de madeira já lustrado, mas apenas não deu importância para suas palavras. Entrou em seu quarto sem trancar a porta, e ficou no meio dele durante algum tempo, cantarolando enquanto despia-se.

Olhou a sua volta procurando o traje que sua mãe escolhera para a ocasião, como de costume. Druella não permitia de maneira alguma que sequer um detalhe passasse despercebido por seus olhos, e deixar com que suas filhas se vestissem da maneira que bem entendessem era um risco alto demais para a reputação de sua família. Acabou por achar uma bonita caixa de papelão trabalhado, e ao abri-la surpreendeu-se com seu conteúdo. Ao contrário de todos os vestidos que era obrigada a vestir, os quais geralmente eram negros e sem graça, aquela era uma linda peça. Tratava-se de um vestido simples de seda branca, que em alguns lugares apresentava delicados desenhos de flores em linha prateada. Tomou-o em suas mãos, colocando-o na frente do corpo nu e sorriu. Estava perfeito.

-- Andrômeda! -- era a voz aguda da mãe à porta do quarto. A porta abriu-se antes de ela ter tempo de responder, e Druella fitou-a com uma reprovação óbvia nos olhos. -- Por que está aí parada? Bellatrix precisa de ajuda com a maquiagem, e Narcissa com o vestido! Troque-se logo e vá até meu quarto! -- e com a mesma rapidez com que entrou, a mulher saiu.

A garota permaneceu fitando a porta de seu quarto por mais alguns instantes. Por acaso sua mãe não tinha sequer um resquício de consciência de que ela também precisava de um tempo para si mesma? Sempre fora assim, suas duas lindas, delicadas, educadas e irritantemente perfeitas irmãs ficavam à frente em todos os planos. Talvez fosse esse o grande motivo de toda a sua revolta. Essa perfeição. Essa irritante perfeição.

Suspirou uma, duas, três vezes, tentando não deixar com que a raiva lhe subisse à cabeça mais uma vez. Passou os dedos finos sobre o rosto, voltando seu olhar para o espelho. Largou o vestido que ainda pendia em sua mão sobre a cama, e rumou ao banheiro decidida a não correr contra o tempo só por conta de suas irmãs. Abriu a torneira da antiquada banheira, e ficou observando a água descer distraidamente.

Após exatas duas horas a garota estava pronta. Impecavelmente arrumada. O vestido realmente caíra-lhe bem, destacando ainda mais as bonitas e delicadas curvas de seu corpo; nos cabelos soltos uma pequena, mas muito bonita, presilha prendia apenas aquelas mexas que insistiam em cair sobre seu rosto, e nas orelhas e pescoço as delicadas jóias que seu pai trouxera de uma viagem à Itália pareciam completar um visual angelical.

Sentou-se na beirada da cama pesarosa, enquanto calçava suas amadas sandálias de salto agulha. Tinha plena consciência do que lhe aguardava aquela tarde. Mais um tedioso e requintado almoço, onde os principais assuntos das mulheres surpreendentemente iam da última edição da Bruxa Moderna até as intermináveis qualidades de Bellatrix. Andie determinantemente não era uma delas; era idealista, e determinada a traçar o próprio futuro. Nunca deixara-se convencer com aquela felicidade pré-planejada dos Black. Acreditava no amor verdadeiro, na felicidade plena, e sonhava com um futuro em que almoços requintados não tinham lugar.

Em passos lentos a menina foi até o quarto de sua mãe, que ficava no fim de um enorme corredor do segundo andar. Abriu a porta sem bater e deparou-se com as três mulheres lhe observando estupefatas.

Narcissa percorria os olhos por toda a extensão do corpo da garota, e não parecia nem um pouco satisfeita com o que via. Já sua outra irmã tinha a expressão como sempre inalterada, mas também não retirava o olhar de cima de Andrômeda. A mãe das garotas pigarreou, parecendo um tanto constrangida com a situação.

-- Mamãe! -- Narcissa exclamou com a voz esganiçada, enquanto jogava a longa cabeleira loira para o lado. -- O vestido da Andie é horrendo, por que não manda que ela troque?

-- Quero o vestido dela. -- Bellatrix ordenou em poucas palavras, interrompendo o choramingo da irmã mais nova.

Andrômeda sentiu o estômago revirar ao escutar aquelas palavras. Mal havia chegado perto dela e problemas já começavam a surgir. Sabia mais do que ninguém que a irmã tinha completo poder persuasivo sobre todos daquela família e não conseguia acreditar que ela realmente estivesse fazendo aquilo. Não era possível que tivesse o poder de destruir com todas as coisas que faziam-na pelo menos ficar um pouco feliz. Olhou para sua mãe, como se suplicasse para que não lhe tirasse o vestido.

-- Dê o vestido para sua irmã, Andrômeda! -- ela disse firmemente. -- Não sei onde estava com a cabeça quando lhe dei essa peça, era mais do que óbvio que Bellatrix gostaria de ficar com ela. -- completou a frase como se tentasse se desculpar com a outra filha.

-- Não escutou a mamãe? -- a garota disse com aquela voz que tirava qualquer um do sério, enquanto aproximava-se da irmã em passos lentos. -- O vestido agora é meu, Andiezinha! -- soltou uma risadinha ao ver a expressão furiosa da outra.

Andrômeda simplesmente não respondeu, apenas continuou observando a ceninha ridícula que a irmã fazia. Lembrou-se de Sirius naquele momento. O que o primo faria naquela situação? Provavelmente soltaria sua típica risada irônica e não daria importância nenhuma ao fato de satisfazer mais um dos caprichos de Bellatrix. Ele sempre dissera, com sua costumeira simplicidade e calma, que o modo mais fácil de se conviver com os Black era ignorando tudo que viesse deles. E foi isso que ela fez, ignorou tudo que havia acontecido; a atitude mesquinha das irmãs, a mãe que parecia tentar redimir-se por ter cometido um erro com Bellatrix e acima de tudo resolveu ignorar aquele almoço idiota. Delicadamente levou sua mão ao zíper na lateral do vestido e despiu-o na frente delas sem nenhum pudor, ficando apenas com as roupas de baixo.

-- Aí está seu vestido, Bella! -- disse num tom de voz irônico. -- Aliás, creio que seu noivo já deva ter chegado! Vou recebê-lo assim... Afinal, as mulheres Black são as mais respeitáveis, não!?-- riu às próprias palavras e dirigiu-se à porta do quarto em largos passos.

-- Não ouse sair desse quarto assim, Andrômeda Black! -- Druella bradou de modo nervoso enquanto observava a filha distanciar-se.

E novamente ela ignorou-a. Começou a correr em direção à sala de estar, deixando para trás os gritos abafados de sua mãe. Sim, estava decidida a arruinar o noivado da irmã. Quando quase alcançava o hall de entrada sentiu uma puxada forte em seu braço esquerdo. Ao fixar o olhar no autor daquele ato bruto sentiu um arrepio frio percorrer todo o seu corpo. Ele voltara. Engoliu em seco ao encontrar seus olhos frios e cruéis. Os mais cruéis que já havia visto.

Órion Black, seu tio e anfitrião da casa, a fitava fixamente. Com o cenho contraído e a boca crispada por baixo da espessa camada de bigodes, o homem parecia não estar nada satisfeito com que encontrara. Havia acabado de chegar de mais uma de suas longas viagens, e ver Andrômeda correndo despida pela casa não fora uma boa recepção nem de longe.

-- O que pensa que está fazendo, mocinha? -- ele disse entre dentes, apertando ainda mais sua mão contra o braço da garota.

-- E-e-u.... -- ela não conseguia proferir sequer uma palavra. Sua respiração era ofegante, e seu coração batia descompassado ao sentir aquele cheiro enjoativo de perfume masculino misturado a fumo de charuto invadir suas narinas. Lembranças de um passado não muito longe insistiam em invadir sua mente. Já sofrera muito na mão daquele homem. Um sofrimento calado, do qual nunca teve coragem de contar para ninguém, nem mesmo para Sirius.

Tentava afastar-se dele, mas ele segurava-lhe os braços como muita força e era óbvio que não tinha intenções de deixá-la ir a algum lado, pelo menos nos minutos mais próximos. Abriu uma porta atrás de si, puxando-a para dentro do quarto escuro. Avançou alguns passos carregando-a pelos braços sem nenhuma delicadeza, quando repentinamente jogou-a brutalmente contra a cama no centro do aposento, fazendo com que sua cabeça batesse doloridamente na parede. Lágrimas assolavam os olhos da menina enquanto ele aproximava-se lentamente.

-- Por favor... Não! -- Andrômeda começou a levantar-se e recuar para longe dele, mas Órion agarrou-lhe pelas pernas e empurrou-a de volta para a cama, ajoelhando-se e atirando seu paletó para longe. -- Por favor, me solte! -- suplicou-lhe com a voz trêmula.

-- Por favor? -- ele soltou uma risadinha enquanto levava a boca ao pescoço da sobrinha. -- Isso já é um começo...

As palavras de Andrômeda pareciam não surtir efeito negativo algum no homem. Sem nenhum pudor, ele tocou seus seios, enquanto jogava seu corpo por cima do dela. Apertou a mão contra a região em que a pousara segundos antes, fazendo com que ela soltasse um gemido agudo de dor.

-- Ninguém além de mim pode te ver assim, minha pequena... -- Órion falou, logo após passar a língua por trás da orelha da menina.

Tinha vontade de gritar, de pedir socorro, mas sabia que se o fizesse sofreria as conseqüências. Então permaneceu quieta, sentindo as carícias feitas por ele ficarem cada vez mais ousadas. Sentiu uma forte ânsia de vomito ao sentir a mão bruta dele entre suas coxas, levantando a camisola de seda que havia vestido por baixo do vestido. O homem afastou-se dela por um momento, e desabotou suas calças com uma mão, mantendo-a deitada no colchão com a outra, com todo o seu peso sobre ela.

- Não... Órion... por favor... - soluçava quando ele desceu o ziper, continuando a segurá-la com uma mão fortemente e os joelhos mantendo-a quieta. Acariciou-a com a mão livre, e enquanto ela continuava a soluçar e implorar, baixou as calças apenas o suficiente para que ela o visse. Não hesitou em deitar-se por cima dela novamente, com as mão afoitas pelo encontro de suas coxas novamente. Esmagou-a contra a cama e a cada investida ela implorava para que ele parasse com aquilo. Esbofeteou-la doloridamente, fazendo com que que sua boca começasse a sangrar.

Quando finalmente atingiu as roupas de baixo da menina ele parou, como num milagre, e afastou-se dela de repente parecendo um tanto assustado. Vozes vinham do lado de fora, provavelmente os Lestrange haviam chegado.

Ela tentou sair de baixo do homem, mas ele não permitiu. Tapou sua boca sua com força, atento ao falatório do lado de fora. Após alguns segundos, que pareceram horas para a garota, Órion voltou seu olhar para ela.

-- Pense duas vezes antes de quebrar as regras novamente... -- ele disse, enquanto passava a mão livre na região do ventre da garota. -- A próxima vez pode ser bem pior! -- sussurrou em seu ouvido, voltando seu rosto para o dela. Retirou a mão que tampava sua boca e forçou um beijo violento contra a menina.

-- É melhor arrumar-se decentemente antes de aparecer para receber as visitas. -- ele disse sério e bateu a porta, regressando à sala de estar e deixando Andrômeda jogada na cama chorando compulsivamente. Demorou muito tempo até a garota se ajoelhar e avançar na direção do banheiro. Deixou a água da torneira correr enquanto vomitava e molhou-se com o líquido gelado, lavando o rosto e os braços em seguida.

Olhou-se no espelho, percebendo que toda a produção que fizera há instantes atrás não adiantara de nada. Seus cabelos estavam todos emaranhados e a maquiagem completamente borrada. Tornou a cair sobre os joelhos ao ver o inchaço em sua boca, chorando baixinho. Não conseguiria voltar à sala de jantar e fingir que nada acontecera. Não podia contar a ninguém. Já sabia que iriam culpá-la. Com as pernas trêmulas cambaleou até a porta do quarto, pensando o que iria fazer.

Por fim concluiu que não agüentaria ficar sobre o mesmo teto de todas aquelas pessoas que tanto lhe faziam mal. Precisava sair dali, pelo menos por aquele dia. Cuidadosamente abriu a maçaneta do quarto, colocando apenas a cabeça para o lado de fora. Sentiu um alívio imensurável ao perceber que o corredor estava vazio. Pôs-se a correr com as últimas forças que lhe restavam, chegando em seu quarto sem que ninguém a visse. A primeira coisa que fez foi entrar na banheira com as águas já geladas, na intenção de livrar-se de qualquer coisa vinda de Órion que permanecera sobre sua pele. Feito isso, ela foi até seu armário, aonde pegou uma roupa trouxa que há muito não usava. Sabia que as fazendas dos arredores não pertenciam a famílias bruxas, e a última coisa que queria era chamar atenção.

Talvez vestidos chiques não fossem necessários para que a menina ficasse bonita. Trajava uma camiseta branca e simples de malha, calças jeans, uma bota estilo country e um sobretudo de lã vinho; Estaria encantadora se não fossem seus olhos vermelhos e os cabelos molhados grudados ao rosto, que davam-lhe um ar triste, o qual era completamente atípico à Andrômeda. Suspirou pesarosa à própria imagem, policiando-se para não começar a chorar mais uma vez.

Escovava os cabelos com o olhar fixo à sua figura. Precisava mudar, pelo menos em alguma coisa. Precisava deixar de aparentar ser uma boa menina, que aceitava todas as regras de cabeça baixa. Num ímpeto de raiva e desgosto a garota tomou uma tesoura que estava pousada sobre o criado mudo de sua cama. Juntou a longa cabeleira, que ia até o meio das costas, num rabo-de-cavalo, cortando-o em uma só tesourada. Jogou todo o cabelo no chão, sentindo as lágrimas quentes voltarem a percorrer seu delicado rosto.

Passou a mão agressivamente sobre os cabelos três vezes menores do que antes, e após pegar alguns galeões escondidos em sua gaveta pulou a janela decidida a fugir dali o mais rápido possível. Sair do rancho sem ser percebida não fora uma tarefa difícil, já que todos estavam completamente entretidos na tarefa de paparicar e agradar de todos os modos a riquíssima e importante família Lestrange.

Partiu em retirada em cima de seu cavalo, cavalgando o mais rápido que podia. Quando montava, seu universo parecia transitar apenas entre ela e Áster, seu grande e, no momento, único amigo. Abraçada à crina do animal ela apenas sentia o vento gelado tocar-lhe o rosto de uma forma revigorante. Com os olhos fechados, deixava com que ele a levasse, não importava para onde. Cavalgou durante horas a fio, e quando o animal finalmente parou, ela pareceu estar acordando de um transe.

Segurou as rédeas com um pouco mais de firmeza, levantando seu corpo vagarosamente. Quando finalmente abriu os olhos pôde constatar que não fazia idéia de onde estava, mas estava extremamente feliz por estar ali. Era um campo de pasto, onde apenas uma frondosa árvore se destacava na paisagem nua. No alto de um pequeno morro ela estendia-se grandiosa, espalhando seus galhos repletos de folhas secas por uma longa distância. A menina suspirou profundamente, parecendo agradecer por finalmente ter encontrado um momento de paz.

-- Oua, menino! -- ela disse carinhosamente ao animal quando chegaram à altura da árvore.

Desceu através do arreio com cuidado; sua cabeça ainda doía e as pernas estavam vacilantes por conta da longa cavalgada. Dirigiu-se cuidadosa até o grande tronco da árvore, deixando Áster pastando um pouco mais atrás de si. Ali sentou-se, e pôs-se a observar o pôr-do-sol, sem qualquer resquício da alegria que vira ele nascer pela manhã.

Não muito longe dali, um rapaz cavalgava pelos campos da fazenda aonde trabalhava com seu pai. Ali, em cima de seu cavalo e trajando um casaco de flanela xadrez, ele parecia apenas mais um típico menino do campo. Mas quem chegasse mais perto veria que era muito além daquilo. Com seus olhos profundamente verdes e um corpo escultural, o menino costumava arrancar suspiros de todas as garotas da região com seu jeitão misterioso. Era realmente lindo, mas aquilo não fazia sentido para ele. Pouco importava-se com a opinião dos outros. Theodore Tonks era um jovem diferente da grande maioria que vivia ali. O rapaz, que passava a maior parte de seu tempo trabalhando, nunca se conformara em ser apenas um trabalhador do campo. O pouco tempo que restava-lhe do dia ele dedicava-se aos livros. Tinha uma grande sede de conhecimento, queria novos horizontes, conhecer novos lugares, novas culturas. Sonhava com uma realidade que ia muito além do pequeno condado de Lizard.

Ao chegar mais perto de seu destino, não pôde deixar de notar um lindo cavalo que pastava por perto de seu favorito local de descanso. O que era realmente muito estranho, já que a fazenda do senhor Madison dedicava-se exclusivamente à criação de gado. Curioso, ele aproximou-se numa marcha lenta à árvore, percebendo que não estava sozinho ali.

Com o olhar perdido no horizonte a menina sentada à sombra da árvore parecia uma escultura diante das rajadas douradas do sol poente. Ela delicadamente levou a mão ao rosto e afastou uma madeixa do cabelo do rosto, surpreendendo-o por sua beleza. Ele permaneceu imóvel, mas por conta do estranho nervosismo que sentira naquele momento acabou por pigarrear levemente. Andrômeda virou a cabeça para trás assustada, e os olhares de ambos se cruzaram. Ele continuou a observá-la, incapaz de afastar os olhos dela.



N/A É, aí está o primeiro capítulo. Meio deprê, meio pesado, eu sei. Mas a minha intenção é chamar atenção para a personagem da Andrômeda, que sempre é tratada como personagem secundária na grande maioria das fics do universo Black. Vejo a Andie como uma das que mais sofreu nessa família, e uma das mais fortes também. Por esse motivo quer resolvi fazer uma fic voltada pra ela :}

Quanto à cena do Órion com ela, acredito que possa ter causado uma má impressão para alguns leitores. Se isso aconteceu não foi a minha intenção; a fic vai ter algumas cenas pesadas sim, mas acho que não chegam a ser NC.

As atualizações devem demorar um pouco pra chegar, já que além da minha carga horária estar completamente apertada (pra quem num sabe eu ‘tô no 3º ano) essa fic é extremamente trabalhosa de ser escrever. Tratar de um shipper que não é nem um pouco comum requer muita imaginação! Haha

Muito obrigada aos comentários, que apesar de não serem muitos me deixaram completamente satisfeita. E continuem comentando, porque o shipper é bastante diferente, e eu acredito que não terei muitos leitores.

Mil beijos!

Mah Lupin

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