Enfim Casados



Eu vou me casar, Hermione





Capítulo Onze – Enfim Casados







A música finalmente começou. O pai da noiva endireitou a gravata borboleta uma última vez. Uma mulher tirava o doce da mão de uma das daminhas, que chorosa, limpava as mãos sujas na saia do vestido. Um par de adolescentes entrou de última hora, a garota arrumando os cabelos desalinhados e o rapaz com um ar estranhamente satisfeito. Uma velha tossiu asmaticamente, um bebê chorou e um homem derrubou qualquer coisa no chão fazendo muito barulho. Ou seja, estava tudo em ordem. A música prosseguia em um ritmo lento e o cortejo que precedia a noiva começou a andar.



A menininha que comeu o doce liderava o grupo numa apresentação dramática, parando a cada dois passos, fazendo uma exagerada reverência e jogando flores multicoloridas nos convidados. A mãe da garotinha faltava explodir de tanto orgulho e excitação enquanto o violinista fuzilava a ruivinha com os olhos. Precisara emendar a música umas quatro vezes...



O noivo não tirava o olhar da entrada. Seus olhos piscavam ocasionalmente e para dizer a verdade, ele não fazia idéia do que estava acontecendo no salão. A única coisa que realmente parecia importar era que a mulher de sua vida entraria pela grande porta de carvalho e depois de todo o protocolo, seria sua esposa. “Esposa – pensou ele um tanto abobado – essa palavra soa de modo tão estranho. É engraçado pensar nisso... depois de tudo.”



Os padrinhos entraram praticamente correndo tentando claramente recuperar o atraso. A menina ruiva de vestido sujo de doce, que parava a cada dois passos, fazia reverência e jogava flores multicoloridas nos convidados, parecia chocada com essa atitude, assim como sua mãe.



E a música parou. Todos os olhares se voltaram para a porta de carvalho. O violinista se levantou, pigarreou um pouco, lançou um olhar mortífero à mãe da menininha e começou a tocar uma música vibrante e exótica. Uma mulher gorda vestida de púrpura começou a cantar numa voz grave. Ninguém parecia se importar com a estranha letra da música ou com as notas diferentes da melodia original. Todos prestavam atenção na noiva, que acabara de entrar no salão. Sorriso nos lábios, ar sonhador e passos firmes.



Hermione sorriu para Rony.



Luna estava realmente linda. Usava um vestido de noiva típico bruxo (o mesmo que fora de sua mãe), véu e grinalda. Mas como não poderia deixar de ser, a loira deixava a mostra um colar de rolhas de garrafa de cerveja amanteigada (que já estava virando alvo de conversas paralelas entre as mulheres mais atrás) e por debaixo do vestidão enorme, aquelas velhas botas um tanto maiores que os pés. Mesmo tendo de mudar de sobrenome, Luna ainda era uma Lovegood.



Harry no altar se sentia o mais feliz de todos os homens. As vestes eram verdes (“Como seus olhos” - dissera a Sra. Weasley assim que o viu), tentara domar os cabelos com um feitiço, mas cinco segundos depois eles se rebelaram novamente. Ainda tentou repetir o feitiço, mas acabou com um penteado punk e Rony sugeriu que era melhor desistir antes que acabasse careca. Certas coisas nunca mudam. E o cabelo rebelde de Harry Potter era uma dessas coisas.



Quando Luna chegou na frente do salão, o Sr. Lovegood enxugou as lágrimas na manga de suas vestes cor de ferrugem e disse:



– Vamos minha pepita de ouro – a voz dele estava embargada – vá para os braços do seu pequeno garoto Potter, quer dizer... agora pequeno marido Potter...



A loira deu um abraço apertado no pai e depois voou nos braços de Harry, que acenou timidamente para o Sr. Lovegood, que voltou a seu ar aéreo de sempre.



O representante do Ministério pigarreou alto, os noivos se separaram, todo mundo se acalmou (inclusive a mãe da garotinha aparecida). Hermione soltou uma última risada. Rony riu também.



– Quer um feijãozinho? – perguntou o ruivo tirando um pacote de um dos bolsos.



– Rony! Somos padrinhos! – exclamou Hermione incrédula.



– Se eu fosse você, aceitava – Rony enfiou um Feijãozinho-Todos-os-Sabores azul brilhante na boca – essas coisas costumam demorar...



– Pode me arranjar um desses, Sr. Weasley? – Rony se virou para trás, era Alvo Dumbledore, também padrinho do casamento.



– Claro! – Rony estendeu o pacote para o bruxo.



Satisfeito, Dumbledore engoliu um dizendo:



– Finalmente dei sorte. Amora!



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Na festa, Rony e Hermione observavam os noivos dançando. Hermione não se lembrava de ter visto Harry tão feliz. Talvez no dia que ele saiu da casa dos Dursley, mas não tinha muita certeza...



– Eles até que fazem um belo casal – comentou Rony.



Hermione concordou com a cabeça.



– Ela parece uma boneca de pano com pés gigantes – falou Draco olhando feio para os noivos – e Potter parece um espantalho pintado de verde. O casal perfeito.



– Draco, quer deixar de ser desagradável? – recriminou Gina mirando o noivo com olhar gélido.



– Luna Louca Lovegood é a esposa ideal para o Perfeito Potter – continuou o loiro – foram feitos um para o outro. Gente esquisita se casa com gente igualmente bizarra, é a lei da natureza. É por isso que Potter se casou com a Lovegood e é por isso que Weasleys se casam com mulheres histéricas e fora de controle...



– Cala a boca Malfoy! – berrou Rony do outro lado da mesa – nem sei o que você está fazendo nessa festa, que eu saiba, o convite dizia claramente Gina Weasley.



– E quem disse que eu estou falando de você? – falou Draco erguendo a sobrancelha – ruivo metido. Estou falando dos outros Weasleys com mulheres histéricas...



Gina recriminou Draco com um chute nas canelas e ele murmurou qualquer coisa como “Mulheres Weasleys histéricas. Não disse?” antes de fechar a boca e se concentrar na comida.



Mesmo a contragosto, Rony concordou com Draco. Mulheres Weasleys histéricas. E deu uma olhada na festa. No meio da pista de dança, Jorge obviamente se arrependia de ter mencionado que Padma Patil tinha um belo par de pernas, Angelina parecia furiosa. Não muito longe dali, a esposa romena de Carlinhos gritava, mandando-o ir buscar o filho que estava aterrorizando um casal de aurores com uma varinha falsa. Depois de alguns xingamentos, Rebeca dava de costas a Fred e marchava em direção à mesa de bebidas quase afundando o chão a cada passo. A Sra. Weasley arrastava o Sr. Weasley para bem longe da Floresta Proibida dizendo “Arthur, por hoje chega. Está me ouvindo? Chega! Duvido que aquele seu carro ainda esteja rodando por aí...”. E bem em frente, Gina ainda passava um sermão em Draco. Não conseguindo se controlar, Rony começou a rir sozinho.



– Rony! – falou Hermione olhando-o como se ele fosse uma criança malcriada – pare com isso – e para acrescentar deu-lhe um cutucão nas costelas.



“E olha que ela nem é uma Weasley ainda” – e não havia como não rir dessa.



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Nunca nada era perfeito para Rony Weasley e Hermione Granger.



E dessa vez obviamente não seria também.



Tudo que Rony mais queria na vida era continuar ali junto de Hermione, aproveitando cada segundo, cada abrir e fechar de olhos, naquele beijo que parecia não ter vontade de acabar... Mas não, Harry tinha de ficar gritando qualquer coisa idiota e acabar com toda a mágica do momento!




“Harry, por essa você me paga” – pensou Rony enquanto a contragosto afastava Hermione e se virava (um olhar mortífero no rosto) para o amigo.



– Pensei que vocês iriam engolir um ao outro! – resmungou Harry assim que pôde se fazer ouvido.



– O que você quer hein, Harry? – perguntou Rony impaciente. Oras, não era Harry que sempre dizia “Vai lá Rony, beija a Hermione”, “Rony você vai continuar se fazendo de babaca?”, “Rony, você é um lerdo” e “Rony, largue pra trás seu casamento e agarre a Hermione”?



– Desculpe – murmurou Hermione que a essa altura estava mais vermelha do que os cabelos de Rony. Só agora se dera conta de que um auror que mal via no Ministério presenciava um momento incrivelmente... intenso entre ela e Rony.



– Eu só queria anunciar algo que estou tentando dizer há séculos!



– Pois então diga – fez Rony num tom azedo.
“Agora que você já interrompeu...”.



– O caso é que tomei uma decisão. Quer dizer, meu emprego de auror está bom – Harry deu um meio sorriso para Ryan – acho que minha vida entrou nos eixos... Então concluí que chegou a hora de assumir oficialmente meu compromisso com a Luna. Sabe como é, nós estamos juntos a algum tempo e talvez tenha chegado a hora de tomar uma atitude... – era incrível como Harry conseguia ficar mais vermelho e trêmulo a cada palavra.



– Ah, é isso? – perguntou Rony ainda mais impaciente.



– Sim – respondeu Harry visivelmente chateado.



– Oh, uma hora isso tinha de acontecer, não?



O pouco caso de Rony deixou Harry irritado. Ele havia imaginado uma reação diferente, uma festa, elogios, gente feliz e pulando, etc etc. Mas a muito que o ruivo já sabia que Harry andava namorando Luna. Depois que a loira superara o amor platônico que nutria por Rony (o que fora a causa da segunda grande briga entre os dois), Harry e Luna passaram a sair juntos e a cerca de dois anos tentavam esconder um namoro da imprensa. Nada era mais natural do que um anúncio de casamento a essa altura. Afinal de contas, para quem derrotara Voldemort, um casamento com a herdeira do Pasquim não deveria ser tão difícil. Deveria?



Mas ao contrário de Rony, Hermione parecia incrivelmente chocada com a notícia. Harry num compromisso sério? Com Luna? Sim, Hermione sabia que os dois estavam juntos a algum tempo mas...



– Como assim, Harry?



– Eu vou me casar, Hermione.



E se Rony não tivesse segurado, Hermione teria caído no chão.




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Quando Harry e Luna se reuniram para acertar os detalhes do casamento na cozinha da Toca, Harry dissera que gostaria que seu casamento fosse num lugar especial. Imediatamente Luna sugeriu: Hogwarts! De início a idéia parecia absurda, mas pensando bem, nenhum lugar superava Hogwarts para Harry. É, Hogwarts era uma boa pedida.



Impossível! Argumentaram os outros. Hogwarts era uma escola, como é que iriam realizar um casamento durante o ano letivo? “É para essas coisas que existem as férias de verão – disse Luna como se fosse algo óbvio – o castelo fica praticamente vazio”. Mas e a decoração? “Fazemos nós mesmos” – prosseguiu a loira. E a comida? E o representante do ministério? E onde os convidados vão ficar? E a festa? Mas Luna dava sempre uma resposta prática que parecia dar por encerrada a questão. Em poucos instantes todos pareciam achar que Hogwarts era o lugar ideal para o casamento de Harry Potter e Luna Lovegood.



– E como Hogwarts é um lugar muito grande, poderá comportar todas as centenas de convidados como nenhum salão seria capaz de fazer! – acrescentara a Sra. Weasley sorrindo.



Harry engasgou. Centenas de convidados? Ele estava ouvindo direito? Não, não haveria centenas de convidados coisa nenhuma.



– Mas querido – falou a Sra. Weasley sorrindo – pense em quantos admiradores, pessoas importantes, repórteres e colegas que terá de convidar?



Harry engasgou de novo. Não. Nada de admiradores, nem de pessoas importantes e muito menos repórteres. Pegou um pergaminho e uma pena e fez uma lista de convidados que se resumiu aos Weasley, alguns colegas do departamento de aurores, Hermione e pessoas de quem gostava como Dumbledore, Hagrid e Lupin.



– O meu pai, Harry... – murmurou Luna.



Ah, claro, o Sr. Lovegood também!



A lista de convidados do casamento de Harry Potter foi assunto durante semanas. E quando a notícia de que a cerimônia seria celebrada em Hogwarts vazou, a comunidade bruxa entrou em alarde. Um casamento, numa escola? Mas não havia cabimento uma situação dessas!



– Deixe-os falar – dissera Luna quando Harry lhe mostrara a reportagem de capa do Profeta Diário intitulada O Sr. e a Sra. Excêntrico Potter – Hogwarts é o lugar ideal de qualquer forma.



Ela falava como se casamentos fossem celebrados no castelo todos os dias.



Ignorando a opinião pública, Harry recorreu a Minerva McGonagall, que havia se tornado diretora poucos anos antes. Sem pensar duas vezes, a ex-professora de transfiguração concedeu uma permissão oficial. Dois dias depois e uma multidão de fanáticos estava à porta do apartamento de Harry jogando bombas de bosta, e não havia um modo seguro de abrir a correspondência. Depois de ter ficado com os dedos do tamanho de salsichas durante quatro dias, Harry simplesmente as ignorava. Como tudo mais em sua vida, Harry Potter tinha facilidades e dificuldades a mais que os outros.



Uma semana antes do casamento, começaram os preparativos finais. Além da decoração, da comida e todos os demais protocolos almofadinhas que envolvem cerimônias importantes (principalmente quando é a cerimônia importante de uma pessoa igualmente importante), havia a vigilância. Toda a propriedade estava sendo vigiada a fim de que nenhum repórter engraçadinho viesse a se meter onde não fora chamado. Ir a Hogsmead era impossível, de modo que Harry não podia sequer sair mais de Hogwarts sem auxílio de uma lareira. Aparentemente toda a Grã-Bretanha mágica decidira passar as férias de verão no povoado. O Três Vassouras nunca faturou tanto numa temporada.



– Fizemos um bom trabalho – observou Gina – tanto o salão principal quanto os jardins ficaram ótimos.



– Tenho certeza de que esse foi o único casamento que serviu os Amendoins Mágicos Crocantes Weasley – disse Carlinhos olhando o prato que lhe fora servido com certa cautela.



– Sabe, quando sugeri à Luna que os servisse, não estava falando sério – falou Jorge.



– A culpa não é nossa se alguns convidados ficarem com a boca verde ou com alguns dentes a menos... – emendou Fred.



– Essa Luna é uma excêntrica! – exclamou Rebeca olhando a noiva mais adiante. Podia estar com Fred, mas Harry ainda era seu ídolo. Os inúmeros posters que tinha dele no quarto rendera boas brigas com o namorado – onde já se viu usar botas com um vestido de casamento?



– Você não pode falar nada – disse Fred maldosamente – sua roupa de baixo é violeta berrante.



– Fred! – gritou Rebeca corando violentamente.



– O que foi? – perguntou ele com fingido ar inocente.



A mesa estava animada, nem os ocasionais ‘Amendoins Mágicos Crocantes Weasley’ encontrados no meio da comida conseguiam tirar o sorriso de seus rostos. Depois de tantos momentos negros, de tantas vidas interrompidas e tanto sofrimento, era hora de se reunir por uma boa causa. “E ninguém mais do que Harry merece sorrir por uma boa causa” – pensou Hermione olhando à sua volta. Tinha tudo o que precisava. Tinha amigos que prezavam por ela, tinha uma família esperando-a voltar para casa e claro, tinha Rony. Rony. Ele sabia faze-la feliz de um jeito que ninguém mais sabia. Nem ela mesma entendia. As coisas pareciam apenas mais simples quando estava perto dele. E Hermione gostava disso. Gostava de não ter a vida tão complicada.



– Alô Hagrid – cumprimentou Rony assim que este se juntou à mesa. Estava usando uma grossa casaca de pêlo e os cabelos amarrados para trás – como vai a segurança?



– Ah, aqueles odiosos repórteres – bufou Hagrid – nunca desistem! Sempre tentando entrar. Mas não vão conseguir. Aquele Vincent Key agora está tentando passar pelo lago. Humf. Tomara que se afogue.



– Ele não vai se afogar, Hagrid – falou Hermione com uma expressão marota.



– Como pode ter tanta certeza? – perguntou Rony.



– Digamos que eu deixei uma surpresinha para ele por aqueles cantos...



– Ah é, o que você fez?



– Nosso querido Vincent Key ficará de estômago ao avesso durante alguns dias... Acho que isso não vai pegar bem para a imagem dele, vai?



– Hermione – começou Rony rindo – você me dá medo às vezes.



Ela sorriu com satisfação.



– Agora eu vou indo – disse Hagrid se afastando – deixei Olímpia cuidando de tudo com Snape e eu não gosto do tom dele com ela.



– Vou com você – falou Gina se levantando – Draco está lá com Snape.



– Hum – fez Jorge – Draquinho está lá com Snape...



– Deixe-os em paz, Gina – disse Jorge - quem sabe não estão relembrando os velhos tempos... falando de cobras e pinhões?



Gina ignorou o comentário e seguiu Hagrid.



– Até agora não entendi o que Snape e Draco estão fazendo aqui – falou Rony ainda rindo dos gêmeos – é muita cara de pau, não acham?



– Snape é professor de Hogwarts, Rony – disse Carlinhos – e já que a festa é em Hogwarts...



– E Malfoy é o noivo da sua irmã – completou Hermione.



– Não precisa me lembrar disso o tempo todo – falou Rony azedo – a desgraça já é grande o bastante.



– Ei, aquela ali não é a filha do Percy? – disse Hermione apontando a garotinha que abrira a cerimônia e que agora roubava doces da mesa principal.



– Quando é a filha dele que rouba doces, Percy fica bem quieto, não é mesmo? – comentou Fred fuzilando o irmão com os olhos.



– Nem presta atenção nas próprias crias – falou Jorge balançando a cabeça – fica se exibindo para McGonagall, Dumbledore, Lupin, o Sr. Lovegood, papai e mamãe. O Sr. Lovegood bem que podia arrumar um daqueles bufadores de chifre, não é Fred? Imagine um daqueles chifres atingindo o traseiro de Percy?



– Seria um dos momentos mais felizes de nossas vidas! – exclamou Fred.



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– Como assim um pronunciamento? – perguntou Harry horrorizado com a idéia.



– Quer dizer que você vai lá na frente e fala alguma coisa – disse Luna, o olhar vagando bem longe dali.



Harry mirou-a como se estivesse vendo Tio Valter só de cuecas.



– Não é tão difícil – murmurou Neville dando-lhe um amigável tapinha nas costas.



– Acha mesmo que é necessário?



– Claro que é, Harry – disse Hermione em tom confortante – as pessoas vieram aqui para comemorar com você. Todos que estão aqui te amam – ela olhou para Draco e Snape confabulando à distância sob o olhar fervente de Gina – ou melhor, a grande maioria – acrescentou depressa – e é bom que você diga como é importante pra você estar aqui com eles, num dia tão especial.



– Mas Hermione – começou Harry desesperado – eu não sou bom nessas coisas!



– Quando os tomates e os ovos podres começaram a acertar você, Harry, lembre-se: é hora de parar de falar.



– Rony! – gritou Hermione.



– Mas eu estou falando a verdade – justificou o ruivo – não quero ver Harry fedendo a ovo podre e acho que você também não.



– Vá lá na frente e diga o que sente – sugeriu Neville um tanto incerto.



Harry pestanejou por um instante, mas cedeu. Suas pernas pareciam estar sob o feitiço das pernas bambas, sua voz estava estranhamente grave. Suando frio, pediu a atenção de todos, a música parou. Respirando fundo, começou:



– Em primeiro lugar eu gostaria de agradecer aos que vieram hoje. É um dia muito importante para mim – ele olhou para Luna carinhosamente – e a presença de vocês é igualmente importante – suspirou para logo continuar.



“Existem pessoas que passam por nossas vidas, nos ensinam coisas e vão embora deixando em nós algo de diferente e único. Talvez por sorte, ou azar, eu ainda não sei, encontrei pessoas extraordinárias ao longo de minha vida inteira. Às vezes quando estou sozinho, eu penso em como as coisas poderiam ter sido diferentes se eu tivesse deixado de encontrar alguma dessas pessoas. Se estou onde estou hoje, se sou o que sou hoje, é por causa do amor que foi dado. De diferentes formas, por diferentes meios. Mas amor é sempre amor e me sinto feliz por ser amado e ser capaz de amar também.



“Quando eu tinha dez anos eu sonhava em sair da casa dos meus tios e viver com alguém que se importasse comigo, não por obrigação, mas que se importasse simplesmente pelo fato de me querer bem. Alguém que me cobrasse boas notas na escola, que brigasse comigo por ter feito algo errado, que me contasse histórias e que sonhasse comigo. Durante dez anos eu vivi longe de todas essas coisas, sentindo aquele vazio me engolir, até que uma porta se abriu inesperadamente (no sentido literal da expressão) – e ele lançou um sorriso maroto à Hagrid - e um novo mundo cheio de possibilidades me foi mostrado. Foi aqui, em Hogwarts, que pela primeira vez me senti em casa. Foi como se eu tivesse vivido longe durante todos aqueles anos e finalmente voltasse para casa para encontrar os meus.



“E todas as pessoas que amo estão aqui hoje. Os meus melhores amigos, os meus mentores, a minha esposa... aqueles que me apoiaram nos momentos mais difíceis. Eu digo todos, porque, em algum lugar dessa festa eu sei que três pessoas me olham. Mãe, pai, Sirius... se ainda vivo hoje, é para fazer vocês orgulhosos!”



E naquela altura a Sra. Weasley já estava aos prantos ao lado de Gina, Hermione se abraçava a Rony em meio a soluços e oras, não era uma lágrima discreta aquela gota brilhante nos olhos de Dumbledore?



– Tolos sentimentalistas – murmurou Snape para Draco.



– Como?



– Draco, o fato de ter andado dividindo sua cama com uma Weasley afetou seu cérebro?



– Não, senhor.



– Então pelo amor de Merlin, dê um jeito nesse olho! Não faz bem para a sua imagem...



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– Agora vou jogar o buquê! – anunciou Luna alegremente depois de decidir que era melhor jogar de uma vez, apesar dele poder dar um excelente adubo para plantas silvestres.



Imediatamente todas as mulheres solteiras se atropelaram lá na frente enquanto os respectivos homens ficavam atrás, dedos cruzados, talvez não fosse dessa vez...



– Gina, onde é que você vai? – perguntou Draco quando a ruiva se levantou.



– Vou tentar pegar o buquê, oras – respondeu ela revirando os olhos.



– Não vai me dizer que acredita nessa tolice...



– Você acredita? – ela perguntou abrindo um sorriso malicioso.



– Claro que não! – exclamou Draco quase ofendido com a insinuação.



– Pois bem. Se você não acredita não vai se importar se eu for lá, não é mesmo? – e saiu andando, enquanto um Draco desesperado chamava seu nome.



– A Luna realmente não se importa com Cho vindo no casamento? – perguntou Hermione assim que viu a morena passar para pegar o buquê.



– Me surpreende você falando uma coisa dessas – disse Rony rindo.



– Por que?



– Porque é o tipo de comentário que eu faria. Acho que estou sendo uma má influência...



– Sei que é tolice – acrescentou Hermione tentando parecer séria – Luna é realmente estranha, se fosse eu...



– Hermione, por favor, não se compare com Luna. Ela não é desse planeta. Ela não se importa com nada que as pessoas se importam, ela liga pra botas grandes, rolhas de garrafa e bichos que nem existem!



– Que bom que você acha isso – murmurou Hermione.



– O que você disse? – perguntou Rony.



– Nada, nada...



Era melhor poupar uma discussão. Ainda rindo por dentro da lentidão do namorado, Hermione deixou o olhar vagar distraidamente pelos jardins de Hogwarts. Eram tantas lembranças. Tantos lugares e coisas a recordar. Fazia alguns anos, mas em sua memória, as visitas à cabana de Hagrid, os passeios a Hogsmead e os dias de sol sentados debaixo da árvore próxima ao lago ainda estavam vivos. Parecia ter sido no dia anterior o ataque do trasgo ao banheiro feminino, as conversas ao pé da lareira à noite, o baile de inverno, a AD, a noite em que Rony lhe mostrara as estrelas...



“Os anjos nunca mais nos abandonaram, Rony. Talvez naquela noite eu tenha percebido que você jamais seria apenas meu amigo Rony Weasley, por mais que tentássemos. Haveria sempre algo de diferente no meu olhar para você, no meu jeito de te mandar fazer os deveres. E até hoje me pergunto como eu, que sempre valorizei os livros e as grandes mentes, pude amar tanto alguém que é fanático por quadribol, gosta de macarrão com sorvete e coleciona revistas em quadrinhos. Eu sempre fui a paranóica por estudo Hermione Granger e você sempre foi o lento Ronald Weasley. Talvez Malfoy tenha razão. Harry, que sempre foi esquisito, se casou com Luna, que sempre foi excêntrica. E os garotos lerdos ficam com as meninas paranóicas por estudo. É por isso que o mundo dá certo”.



– Mione, você não vai não? – perguntou Rony surpreso por Hermione ser aparentemente a única solteira ainda sentada.



– E pra quê? – ela perguntou dando ombros – eu sei que você vai se casar comigo de qualquer forma.



– Ah sim... peraí? Como é que você pode ter tanta certeza? – perguntou Rony indignado.



– Oh Rony, eu sei das coisas – disse ela piscando.



– Sabe é?



– Sei – falou Hermione sorrindo – eu fui a melhor aluna dessa escola. Acha que não sei que você comprou um anel ontem à noite e está tentando me esconder que vai me pedir em casamento assim que sairmos daqui?



– Você sempre estraga tudo – murmurou o ruivo revirando os olhos – estragou meu casamento com a Nádia, me fez desperdiçar galeões e mais galeões com aquela festa que nunca aconteceu. Eu fui até parar como refém de um bando de duendes malucos por sua causa. Acho que gostar de você tem alguns riscos... Por que essa mania de revelar tudo na última hora? É irritante, sabia?



– Faz parte do charme.



E mais à frente Luna jogou o buquê, mas nenhum dos dois estava preocupado com isso. Porque afinal de contas, garotos lerdos ficam com meninas paranóicas por estudo.



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N/A: Demorou, demorou, mas saiu e esperem, ainda tenho uma surpresa para vocês! Mhauhauhau. Foi um capítulo pequeno e leve. Não consegui colocar tudo o que pretendia nele e fiz muitas modificações do original, mas espero que tenha ficado bom. Achei que ficaria melhor assim, só as situações do casamento propriamente dito. Não ficou com o humor dos outros, mas é que o clima não deu. Sei que muita gente não gosta de H/L, mas desde o princípio achei que Harry tinha de ficar com Luna nessa fic e tomara que não tenham se decepcionado com a surpresa. Mandem reviews! Digam o que acharam desse “fim”, se ficou horrível, se ficou legal. Eu preciso da opinião de vocês!



No próximo capítulo...



Vocês realmente não achavam que ia deixar as coisas assim, né? Posso ter sido louca a ponto de escrever essa fic, mas não sou a ponto de deixar as coisas assim. Vem aí, o epílogo!!!!! O que aconteceu com Rony e Hermione? Opção a: se casaram e tiveram nove filhos? Opção b: Hermione entra em crise novamente, vomita em Rony que dá um fim no namoro? Opção c: Rony vira ídolo do quadribol, Hermione uma chefe responsável e Harry um salvador? (Ah, eles já são tudo isso...). Opção d: nenhuma das três, mas algo ainda mais doentio? Vejam por si próprios, descubram como tudo terminou! Epílogo vem aí!





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