Em casa









Hermione acordou ao som de várias batidas, leves e contínuas, na porta que levava à varanda do quarto. Esfregou os olhos e sentou-se com um pouco de dificuldade, empurrando as cobertas pra longe. A barriga de seis meses de gravidez já estava tornando difíceis alguns movimentos. Olhou para o lado e percebeu que Rony não estava mais na cama. Franziu a testa, intrigada. Com cuidado, levantou-se acariciando a barriga.

- Bom dia Rose – sussurrou – Hora de acordar.


Havia lido em várias revistas trouxas, que os bebês escutam e reconhecem a voz da mãe. A sensação de estar ligada a alguém tão intimamente era algo fascinante. Era sua filha ali dentro, e ela adorava a idéia de amar e de cuidar dela desde o início.


Hermione pegou alguns nuques na gaveta e abriu todas as cortinas, iluminando completamente o quarto, antes escuro. Esfregou os olhos para a claridade fresca da manhã. Lá estava a coruja castanha com o Profeta Diário e um exemplar do Semanário das Bruxas, empoleirada na balaustrada da varanda. Ainda sonolenta, abriu a porta e pegou as encomendas, depositando as moedas na bolsinha de couro atrelada à perninha do pássaro, que alçou vôo imediatamente. Ela voltou para a cama e acomodou com dificuldade os fofos travesseiros de pena atrás das costas. Abriu primeiro a revista. Seus olhos se arregalaram para a capa e ela engasgou. Uma foto gigantesca e recente de Harry, em trajes de gala, tomava conta de todo o espaço. O amigo sorria um pouco tímido, mas inegavelmente bonito. Folheou as páginas até encontrar a reportagem.


POTTER FISGADO!

De acordo com uma fonte confidencial, o salvador do mundo bruxo, Harry Potter, está prestes a se casar! Isso mesmo: casar! O casamento se realizará em meados do feriado de Páscoa, mas as informações exatas como hora e local ainda permanecem um mistério.

Para quem está se contorcendo de curiosidade e se perguntando qual o nome da sortuda, nós não lhe deixaremos na mão. É Gina Weasley!

Irmã do melhor amigo de Potter, a senhorita Weasley, 21 anos, é conhecida por seus relacionamentos conturbados e rápidos. Alguns antigos colegas de Hogwarts afirmam que os dois pombinhos tiveram um namoro curto na época de escola, que terminou abruptamente com o início da guerra. O motivo da recaída é misterioso, mas é freqüentemente atribuído ao fato de os dois trabalharem juntos como aurores no Ministério da Magia. Muitos descrevem o romance como uma linda história de amor, cheia de mal entendidos, que só agora terá seu final feliz. Entretanto corre a boca pequena que o real motivo para o casamento é a gravidez da moça, que exibe uma enorme barriga de sete meses de gestação. Vale lembrar que Ronald Weasley e Hermione Granger, os melhores amigos de Potter, também se casaram recentemente, e que a nova Sra. Weasley também espera seu primeiro filho, nos forçando a perceber que nossos heróis realmente cresceram...

Só nos resta agora aguardar mais notícias sobre esse casamento relâmpago e desejar felicidades aos noivos!



Fotos de Gina e de alguns de seus antigos namorados seguiam-se à notícia, assim como algumas fotos das outras namoradas de Harry e uma do casamento de Rony e Hermione, em que os quatro amigos posavam sorridentes. Como a revista conseguira aquelas fotos, ou aquelas informações, Hermione não sabia.


O estrondo de várias louças se espatifando no chão chegou até o quarto desconcentrando-a e fazendo-a pular de susto.

- Mas que m...! – ela ouviu Rony exclamar lá das escadas.

- Rony?! Tudo bem? – perguntou preocupada, esforçando-se para escutar o que se passava fora do quarto.

- Tudo bem amor! Pode ficar quietinha aí! Tudo sob controle...


Depois de alguns minutos de aflição para Hermione, sem saber se descia para ajudar ou não, enquanto ouvia do quarto a perambulação de Rony subindo e descendo as escadas, aparentemente arrumando a bagunça que tinha feito, o ruivo apareceu pela porta com uma bandeja de prata com o café da manhã.

- Er... Bom dia – disse ele sorrindo meio desconcertado – Era pra ter sido uma surpresa...

- Ah Ron! Muito obrigada! Tudo bem com você? – perguntou ela, erguendo o rosto para beijá-lo.


Ele beijou-a, acenando afirmativamente, e depositou a bandeja na mesa de cabeceira ao lado da cama, depois se sentou na beirada, curvando-se até beijar a barriga enorme da esposa.

– Bom dia pra você também Rose. Papai trouxe um monte de coisas gostosas – ele riu. Hermione também.

- Posso perguntar o porquê daquele barulho todo?

- É por que... Hum... Eu derrubei a primeira bandeja subindo as escadas...

- Imaginei que fosse isso... – disse ela sorrindo – Mas não tem problema. Eu adorei a surpresa mesmo assim!


Rony pegou uma das torradas, mordendo metade de uma vez só. E seus olhos foram atraídos para a capa da revista jogada em cima da cama.

- O que é isso? – perguntou segurando a revista na mão.

- Parece que a imprensa finalmente descobriu sobre o casamento do Harry – disse Hermione com desdém – Pelo menos não tem nenhuma invenção espalhafatosa aí.

- A Gina vai ficar uma fera quando vir essa notícia – disse Rony rindo enquanto lia as palavras "POTTER FISGADO".

- Pode apostar.


Rony se distraiu por um momento, folheando a revista à procura da notícia completa, mas no meio do caminho, seus olhos encontraram os cabelos inconfundivelmente platinados de Draco Malfoy em uma das páginas. Ele estacou, observando melhor a foto, e percebeu que o loiro abraçava de maneira bastante íntima uma mulher baixa e morena: Demelza Robins. Seus olhos se arregalaram, e ele se apressou a ler a reportagem:

HERDEIRO MALFOY FINALMENTE ENCONTRA O AMOR


Depois de alguns segundos de espanto, a risada começou a sair da garganta de Rony, ganhando força, até se tornar uma seqüência de arroubos estridentes e descontrolados.

- O que foi Rony? Rony! Será que dá pra parar de rir e me dizer? – perguntou Hermione para o ruivo que rolava na cama dando risadas.


Impaciente com a falta de respostas, ela tomou a revista da mão do marido e também se assustou com a fotografia que viu.

- Eles estão juntos?! – perguntou com uma voz incrédula, enquanto Rony continuava a rolar de rir.

- Tudo conspira ao nosso favor meu amor! – disse Rony enquanto se colocava de joelhos e beijava Hermione entusiasmadamente.




~~~~ §§ ~~~~





Harry sentiu seu corpo se despressurizar assim que parou de girar. Fazia tanto tempo que não vinha a esse lugar... O vento característico do norte e das montanhas o assaltou de imediato, como esperava, apesar de já ser primavera. Apertou o casaco em volta de si. Girou nos calcanhares e parou para olhar novamente o lugar. A estrada sinuosa se desenrolava por mais ou menos quinhentos metros até os altos portões de ferro fundido ladeados por estátuas de javalis. A estrutura enorme do castelo atingiu seus olhos ao mesmo tempo em que sentiu um aperto no peito e um nó na garganta. Estava voltando para casa.


Respirou fundo e começou a caminhar, subindo, abaixando a cabeça para olhar o chão e proteger o rosto do vento cortante, enquanto era tomado por uma sensação de nostalgia. Não conseguia evitar girar os olhos algumas vezes e imaginar seus colegas, todos de uniforme, andando cheios de sacas de compras nas mãos, satisfeitos com mais uma visita à Hogsmeade. Ou esperar que Rony viesse correndo atrás dele, com seu antigo corpo, magricela e desengonçado, o sorriso de menino, fazendo mais uma de suas piadas, enquanto Hermione girava os olhos e mantinha uma expressão cética. Era tão estranho concluir que tudo aquilo havia acabado... Sete anos que passaram tão depressa...


Alcançou os portões em um tempo que para ele havia sido rápido, mas não poderia estimar, e só então se perguntou como iria conseguir abri-los para entrar. Varreu o terreno gramado do castelo com os olhos. Ninguém parecia estar vindo buscá-lo. Seus olhos alcançaram a cabana de Hagrid automaticamente, exatamente igual ao que era antes. Havia fumaça saindo da chaminé... Será que se gritasse bem alto o velho amigo ouviria? Ou talvez devesse enviar um patrono para MacGonagall... Mas antes que se decidisse por fazer qualquer uma das duas coisas, esticou as mãos até os portões e empurrou-o na tentativa. Para sua surpresa, as altas grades se abriram com um rangido de metal velho - um barulho de boas vindas.


Os pensamentos e as lembranças vinham em uma enxurrada na mente de Harry, e ele se viu caminhando inconscientemente, seus pés o guiando de maneira automática através do caminho nunca esquecido. A enorme floresta e o lago pareciam misteriosos e frios àquela distancia... Havia se esquecido de como eram grandes. Notou a grama verde esmeralda e alta dos terrenos, assim como os arbustos de flores silvestres que rodeavam o lago e a orla da floresta, e as árvores vistosas, cada uma com seu tipo e tamanho de flor. Não se lembrava que a primavera em Hogwarts era tão bonita... Alguns estudantes brincavam na beira do lago... Os poucos que deveriam ter ficado para o feriado de Páscoa. Mas nenhum parecia ter notado sua presença... Andar por Hogwarts sem querer ser notado parecia ser um velho costume.


Lembranças doloridas, lembranças felizes... A árvore na beira do lago, o salgueiro lutador... O campo de quadribol, o túmulo branco de Dumbledore... Ele sentiu a garganta arder e os olhos se encherem de lágrimas, mas se apressou a limpá-las na manga do casaco e apertar o passo no caminho até o Hall de entrada. Mas que diabos estava acontecendo com ele?


Subiu as escadas de pedras gastas em passos rápidos e se deparou com as portas do Grande Salão. Uma pequena algazarra tomava lugar ali. Ele podia ouvir as vozes das poucas crianças que pareciam estar desfrutando de seus ovos de páscoa. Sua grande vontade era entrar lá e se sentar com eles, contar alguma piada, comer um pouco de chocolate... Mas que ridículo! Um homem crescido como ele. Bom, ninguém poderia culpá-lo, todo mundo um dia já deve ter tido vontade de voltar à infância. Mas não era exatamente para a infância que Harry queria voltar, era para o tempo que passara em Hogwarts, os melhores anos de sua vida. Bom, se ele estivesse certo, anos melhores ainda estavam prestes a começar... Gina...


Desviou sua atenção do salão e olhou para as ampulhetas que marcavam os pontos das casas. Sorriu ao constatar que, de longe, a da Griffinória era a mais preenchida, com uma grande quantidade de rubis. Caminhou até a enorme escada de mármore, subindo os degraus de dois em dois, o coração saudoso, aos pulos. Estava louco para caminhar por aqueles corredores novamente. Inspirou fundo o ar frio e rarefeito que ricocheteava nas paredes de pedra provocando assobios. Virou-se para tomar um de seus atalhos por trás de uma tapeçaria assim que um grupinho de lufa-lufas, aparentemente primeiranistas, apareceu no corredor. Ainda pôde ouvir as exclamações as suas costas. "Quem era aquele homem?!" "Eu acho que era Harry Potter!" "Não fale besteira!" "Eu vi os óculos, eu juro que vi!".


Saiu em um corredor num andar bem acima e seus pés começaram a apressar ainda mais o passo, mesmo não estando atrasado. Era o costume. Quantas vezes já correra desesperado por esses corredores, enquanto a sua vida e a vida de outras pessoas dependiam da velocidade de suas pernas? Passou por portas de salas de aula, espiando apenas para encontrá-las vazias e com a aparência de terem parado no tempo. As mesmas carteiras, os mesmos quadros, o mesmo material didático... Mas ele sabia que tudo aquilo, inclusive aquelas paredes, havia sido recuperado depois da batalha final.


Continuou sua caminhada até encontrar a tapeçaria de Barnabás, o Amalucado. Coçou-se de vontade de tentar abrir a Sala Precisa. "Você está agindo como um adolescente, Harry Potter!" disse mentalmente para si mesmo, antes de assumir uma postura mais séria e continuar caminhando.


Finalmente seus olhos pousaram na gárgula que guardava a sala do diretor. Ele imaginou por um instante como seria entrar ali e encontrar Dumbledore... Provavelmente, daria no diretor o abraço apertado que nunca tivera coragem de dar. Seu coração ardeu de vontade e de saudade, só em imaginar. Ou talvez, não fizesse isso, mesmo tendo a chance. Sempre fora tímido demais pra essas coisas. Mas conversariam por horas a fio... E se sentiria aliviado, como sempre se sentia ao conversar com Dumbledore. Sacudiu a cabeça pelo que parecia a milésima vez desde que chegara a Hogsmeade. Era Minerva quem o esperava, era ela quem o havia chamado. Tirou um pergaminho do bolso e releu a senha que a antiga professora tinha adicionado no fim da carta.

- Fawkes – murmurou, com a voz rouca, para a escultura de pedra.


A gárgula anuiu com um gesto de cabeça e se virou para dar passagem a Harry, que subiu as escadas com rapidez. Estivera distraído com a volta ao castelo, mas agora a curiosidade que surgira com o chamado da diretora voltava com força total dentro dele. Segurou o batente da porta e golpeou duas vezes.

- Entre – ele ouviu a voz firme de MacGonagall.

Ele empurrou a porta e entrou com cuidado - Olá diretora - disse um pouco embaraçado.

- Pra você é só Minerva, Harry, se você também me permitir chamá-lo somente assim – disse ela com um sorriso ínfimo no rosto – É muito bom ver você.

- É bom ver você também... Minerva.

- Sente-se, por favor.


Harry tomou seu lugar na cadeira de frente para a escrivaninha, mal conseguindo evitar a lembrança de conhecidos olhos azuis perfurando-o através dos óculos em meia lua, como se pudessem ler o mais profundo de sua alma. Mas lá estava MacGonagall com seu costumeiro coque apertado, que agora sustentava um número bem maior de cabelos brancos, e sua postura rígida um pouco mais frágil pelo passar dos anos. Levantou os olhos por um instante para a parede da sala da diretora, que, incrivelmente, ainda sustentava todos os objetos estranhos do ex-diretor, acrescentados de alguns da própria Minerva. Sim, lá, pendurado na parede atrás de MacGonagall, estava Dumbledore ressonando, profundamente adormecido. Harry sentiu a garganta apertar ligeiramente, mas sua atenção foi reclamada pela voz de Minerva.

- Muito bem, Harry – disse ela, da mesma maneira firme e enérgica que sempre usara quando ele era um estudante, mas agora Harry conseguia perceber um ligeiro tremor na pronúncia, algo que ele pensou ter a ver com o avanço da idade – Se eu o conheço bem, e eu acho que conheço, você deve estar curioso com meu convite.


Harry apenas assentiu com um movimento de cabeça e esperou a diretora continuar, o que ela fez imediatamente.

- Vou direto ao assunto. Recebi o convite de seu casamento com Ginevra, e fiquei realmente satisfeita – ela sorriu com um brilho de estranha compreensão nos olhos – Há muitos anos, na verdade desde que me tornei diretora, venho esperando uma oportunidade de lhe oferecer um presente, um presente de agradecimento, de toda Hogwarts a você, Harry, por tudo o que já fez por essa escola. – Harry abriu a boca para argumentar, mas ela cortou de maneira firme – A oportunidade surgiu. Portanto eu espero que você aceite o que Hogwarts tem a lhe oferecer, pois como diretora eu não aceito uma recusa.


Harry estava boquiaberto, surpreso com as intenções da diretora, mas incapacitado de fazer mais nada, a não ser anuir.

- Eu sei o quanto esse lugar significa pra você, e você sabe o quanto eu me orgulho de ter sido sua professora e tê-lo tido na Grifinória – disse ela de maneira séria, quase solene – Portanto eu gostaria de lhe oferecer o castelo para a sua cerimônia de casamento. – Harry arregalou os olhos diante da afirmação - Dumbledore concorda inteiramente comigo – completou Minerva lançando um olhar de esguelha para o quadro do diretor, que, para a surpresa de Harry, estava acordado e acabara de piscar para MacGonagall de maneira discreta.

- Ma-mas diretora, quero dizer, Minerva – disse ele incrédulo, balançando a cabeça de um lado pro outro – faltam poucos dias! Já está tudo preparado. A Gina já planejou, quero dizer, os convites já foram enviados, ela passou meses organizando tudo para que a cerimônia fosse na Toca, não que eu não queira, de maneira nenhuma, eu adoraria, mas...


A diretora o fez se calar com um gesto de mão.

- Não se preocupe com isso. Eu já pensei em tudo Harry.




~~~~ §§ ~~~~





O sol claro e brilhante daquela manhã já denunciava que aquele seria um clássico dia de primavera. Hermione espiou pela alta janela de seu antigo dormitório em Hogwarts a movimentação que se formava lá embaixo, nos gramados. Nunca imaginou que voltaria ao dormitório que fora sua casa durante tantos anos... Principalmente em uma ocasião como esta.

- Mione! – gritou Gina atrás dela, assustando-a – Preciso da sua opinião! Anda! Diz como eu estou?


Ela se virou a tempo de ver a cabelereira e a costureira saindo do aposento e fechando a porta, e se perguntou quanto tempo gastara em seus devaneios. Encarou os olhos ansiosos da amiga, que agora sustentavam uma leve maquiagem rosa, os cílios alongados, a íris cor de chocolate destacada.

- Você está linda Gina – disse com afeição. E ela realmente estava. Era a visão mais encantadora e doce que Hermione já havia visto na vida. A ruiva parecia flutuar dentro de seu vestido branco tomara-que-caia. Uma fita de cetim o prendia logo acima da enorme barriga de sete meses de gravidez, e era a partir dali que as várias camadas do tecido leve e tranlúcido se abriam e deslizavam até o chão, como uma nuvem fofa. Gina parecia uma princesa vinda direto de um conto de fadas. Seu cabelo vermelho, meio solto meio preso, estava decorado com uma tiara feita com as mais perfeitas, pequenas e delicadas flores do campo – Você está absolutamente linda! – enfatizou Hermione.

- Não ficou exagerado demais? – perguntou a ruiva, observando-se no grande espelho com pés de garra e moldura de madeira, e ajeitando as flores no cabelo com cuidado.

- Está na medida certa! – disse Hermione, aproximando-se e olhando-se também no espelho, para alisar a saia de seu vestido azul claro, que, como o de Gina, acinturava-se acima de sua barriga de grávida – Casamentos a luz do dia são tão lindos. Ainda mais ao ar livre como o seu! E é primavera Gina! Tudo aqui está cheio de cor, de flores, de brilho... – disse indicando a paisagem através da janela. Ela alcançou a mão de Gina e a segurou firme. As duas se olharam, uma alegre, a outra além da incrivelmente feliz, cheia de esperanças e de expectativa.

- Vai dar tudo certo – disse Hermione – Eu prometo.


As duas se abraçaram. Antes que pudessem se soltar, uma Sra. Weasley completamente transtornada entrou no dormitório.

- Bem que vocês podiam ter me avisado dessa mudança de planos, Ginevra Weasley! – disse ela apontando o dedo para a filha mais nova – Você não sabe o trabalho que eu tive essa manhã transferindo essa festa e os convidados pra cá.

- Não exagera mamãe! – disse Gina despreocupada – A professora MacGonagall tinha tudo preparado, nem foi tanto trabalho assim! – Molly desfez um pouco a sua carranca, e Gina continuou - As chave-portais trouxeram todos os convidados? Deu tudo certo?

- Sim, já estão todos lá embaixo. Os últimos acabaram de chegar do último portal em Hogsmeade – respondeu a Sra. Weasley, já mais calma – Não está faltando nada nem ninguém, mas eu ainda acho que um casamento na Toca...

- É pelo Harry que estamos fazendo isso mamãe – disse Gina cortando o discurso familiar de Molly, com uma voz que implorava compreensão – E você deveria ficar feliz por ele.

- Eu estou feliz querida. Eu estou muito feliz – disse Molly balançando a cabeça, conformada, e depois sorrindo ao observar melhor a filha em seu vestido de noiva – E daqui a pouco você tem que descer!


Gina lançou um olhar nervoso para Hermione, que acenou com a cabeça, num gesto tranqüilizante.




~~~~ §§ ~~~~





Rony se jogou em sua antiga cama de baldaquinho, esticou os braços para subir as mangas de seu terno claro, e colocou as mãos atrás da cabeça, aconchegando-se o máximo que conseguia enquanto assistia à hilária tensão de Harry, que achatava os cabelos espetados em frente ao espelho.

- Se eu fosse você, desistia – disse com sarcasmo.


Harry resmungou alguma coisa, e Rony apenas se acomodou melhor entre as almofadas vermelhas e douradas da Griffinória, abrindo a boca num bocejo – Já está na hora de você descer, cara.


Harry virou-se nervoso, e atirou o pente na direção de Rony, que se desviou com destreza e começou a rir.

- Eu sei que já está na hora de descer, ok? – disse Harry, ansioso – Se não for pra ajudar, pelo menos fica quieto!


Rony deu um pulo da cama, ficando de pé e se aproximando do amigo com um sorriso maroto. Com um movimento rápido, esticou as mãos até os cabelos de Harry, bagunçando o pouco que ele tinha conseguido assentar e se afastou correndo, fugindo dos socos enraivecidos.

- Para de ser ridículo! A Gina gosta do seu cabelo do jeito que é! – disse, quase engasgando de tanto dar risada – E vamos descer rápido, você está uma gracinha! Eu juro!


Sem achar a menor graça das piadinhas de Rony, e mesmo com borboletas no estômago, certo de que deveria ter se esforçado, ao menos no dia de seu casamento, para arrumar seu cabelo, Harry se deixou ser arrastado pelas escadas da torre abaixo, tentando engolir o nervosismo.




~~~~ §§ ~~~~





Agarrando-se ao braço de seu pai, na tentativa de parar de tremer e firmar melhor as pernas, Gina atravessou as portas do castelo e pisou com suavidade na grama dos terrenos de Hogwarts. Sabia que ninguém podia vê-la, por estar usando a capa da invisibilidade, e sorriu com emoção ao ver o lindo lugar mais a frente, próximo ao lago, que haviam preparado para o casamento, e os rostos ansiosos de todas as pessoas reunidas ali.

- Você está pronta? – perguntou o Sr. Weasley com carinho para a filha que ele não conseguia enxergar, mas que conseguia sentir apertando seu braço e se apoiando no seu lado direito.


Gina observou com calma, tudo a sua frente, respirando fundo, tentando desacelerar as batidas de seu coração. Antes de retomar sua caminhada até o altar, queria memorizar cada detalhe de tudo aquilo. Desligou-se dos rostos apreensivos das pessoas que esperavam e enxergou os enormes arcos sucessivos, feitos de ferro fundido, que formavam um teto vazado, onde o altar e os convidados se reuniam. Galhos, folhas e flores coloridas se entrelaçavam com delicadeza e se emaranhavam por toda a extensão dos arcos, deixando passar apenas alguns feixes de luz daquela manhã sobre as pessoas. Ela se esforçou, e conseguiu avistar as fadinhas coloridas que sobrevoavam as flores, e os bancos, também de ferro fundido, onde os convidados se acomodavam. Era mais maravilhoso do que ela poderia ter imaginado.


Sentiu o sorriso se espalhando mais ainda em seu rosto, a alegria lhe dando forças e a ansiedade lhe revirando o estômago. Respirou fundo mais uma vez.

– Estou pronta, pai.


Com a iniciativa de Arthur, os dois recomeçaram a lenta caminhada, e Gina notou que estava caminhando por um tapete de flores frescas. Expectativa se estampava nos rostos dos convidados, que pareciam confusos por não poder vê-la, mas notavam as marcas de seus pés esmagando devagar as flores no chão, e o rastro de seu vestido, revirando-as com delicadeza.


Assim que alcançaram as fileiras de bancos, Arthur parou a caminhada e se postou atrás da filha. Ela desamarrou com cuidado a capa do pescoço e deslizou-a pela cabeça, deixando que o pai a retirasse de seus ombros, revelando-se finalmente para as pessoas ali presentes. A música, que ela nem reparou que estava tocando, parou de repente. O silêncio foi absoluto por um breve instante, em que ela sentiu dezenas de pares de olhos observando-a com encantamento. Não conseguia desfazer o sorriso estampado em seu rosto, mas se sentiu corar. O assombro e os murmúrios se alastraram como fogo em palha, quebrando o silêncio, e foi então que, distante, no fim do corredor, ela avistou Harry. Ele também sorria. Os olhos verdes brilhando mais do que nunca, e o rosto também corado de alegria e embaraço. Harry acenou afirmativamente para ela, convidando-a a continuar. Estava lindo, maravilhoso em seu terno claro, os cabelos negros espetados, com alguns fios da franja caindo displicentemente sobre a testa, quase alcançando os olhos, da maneira que ela adorava... E o jeito tímido que só ele tinha. Parecia um garoto.


Gina firmou o buquê de flores-do-campo na mão direita, e voltou a segurar a mão do pai com a esquerda. A música recomeçou. Linda, melodiosa, deliciosa de se ouvir... E ela voltou a caminhar, desviando o olhar de seu futuro marido a frente, e sorrindo para as pessoas a sua volta, uma por uma. Seus familiares queridos, seus amigos. Alguns emocionados, com lágrimas nos olhos, outros simplesmente sorrindo... Seus antigos professores... Tonks e Lupin, a Sra. Stone e seus filhos... Seus irmãos... Rony piscou, sorrindo para ela lá do altar, e Gina riu. Ao lado dele, Hermione estava linda, com sua barriga enorme, a aparência mais sadável e o rosto mais cheio e corado pela gravidez. Sua mãe chorava, como sempre, apoiada por Gui, que sorriu para ela, charmoso. E lá na frente, atrás do altar, um velho senhor de aparência bondosa parecia pronto para iniciar a cerimônia.


Gina cintilava com um brilho próprio que emanava da sua pele e também de seu vestido, branco e suave, enquanto caminhava ao lado de seu pai, inebriada pelas emoções que sentia.


Hermione se adiantou para segurar seu buquê. Então ela se virou para seu pai, que a abraçou, tentando esconder as lágrimas, e o beijou com carinho. Com um aperto de mão cheio de confiança, Arthur a entregou ao noivo, e finalmente, ela segurou as mãos de Harry e o encarou mais uma vez. Os dois trêmulos, mas incrivelmente felizes.


Harry observou os cabelos vermelhos de Gina, enfeitados de flores, e se surpreendeu com o fato de que ela havia conseguido ficar ainda mais bonita. As bochechas rosadas e o rosto redondo pela gravidez a deixavam mais graciosa, e ela sorria como uma criança, irradiando brilho. Essa era sua Gina... Mulher, menina, forte, delicada... Ele apertou suas mãos pequenas e frias com mais força, quando a voz do juiz chamou a atenção de todos para o início do discurso, e os dois se viraram para escutar. As palavras pareciam bonitas, mas Harry nunca havia conseguido prestar atenção a discursos. Concentrava-se na mão de Gina apertada na sua e na respiração dela ao seu lado. Será que ela se sentia tão feliz como ele? Ele podia sentir o coração sacudindo dentro do peito incansavelmente.


Com a aliança que Rony lhe entregou em mãos, Harry repetiu com todo o fervor e sinceridade que conseguiu as palavras que o juiz lhe disse, olhando diretamente nos olhos marejados de sua noiva, deslizou a aliança pelo seu dedo com cuidado e beijou sua mão. Escutou, de coração aberto, enquanto ela fazia seu próprio juramento, deixando que ela colocasse uma aliança em seu dedo também. Aproximou-se dela, segurando seu rosto carinhosamente, sem se importar se este já era o momento, e a beijou, enquanto sentia todas aquelas emoções incharem em seu peito, e a chuva de estrelas, vindas da varinha do juiz, entrelaçou-os. Ele abraçou Gina o mais próximo que pôde. Seu filho estava ali entre eles. E era assim que deveria ser daqui pra frente. Ele sabia disso. Ele lutaria por isso. Juntos sempre. Uma família.


Separou-se dela por um instante e se ajoelhou para abraçar e beijar seu filho que ela carregava. E sabia que estaria sempre, sempre ali, presente...


Gina o puxou e o beijou novamente, emocionada, enquanto palmas e assovios ensurdecedores os rodeavam, e eles sorriram mais uma vez.



~~~~ §§ ~~~~




N/A: Ai que saudade de vocês gente!

Juro que é muito bom ler os comentários de cada um!
Não vou responder dessa vez, porque faz tanto tempo!
Eu nem sei aonde eles pararam no último capítulo! O.o
Mas vou tentar responder dá próxima, ok?
E me desculpem mais uma vez por fazê-los esperar!
Eu prometi que voltava e voltei!

Infelizmente, eu não passei no vestibular... :/
Um sistema foi implantado esse ano aumentando a nota dos alunos de escola pública em
15%, e a nota de corte do meu curso, que ano passado foi 87, passou para 99,5. Eu fiz 93,2.
Fiquei triste demais, tanto estudo... Mas agora bola pra frente, fim do ano tem mais.

Então, só coisa boa agora! Vamos falar do capítulo!
O que vocês acharam??
Adoreeeeei escrever!
Tentei fazer o mais emocionante e delicado possível,
e Hogwarts me pareceu o lugar perfeito pro casamento do Harry e da Gina!

No próximo capítulo teremos a festa, o desfecho pra todos os personagens,e... Bebês!

Aguardo o comentário de vocês!

Um beijo e um abraço bem apertado pra cada um!!


Ana Fuchs







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