Surpresas
Hermione acordou enrolada em uma confusão de lençóis e edredons, sentindo-se exausta e ao mesmo tempo relaxada. Ouviu a respiração quente e pesada de Rony na sua nuca e apertou os braços dele que a envolviam. “A cama não parece tão grande e vazia assim, afinal...” pensou com um sorriso. Rony se mexeu um pouco, apertando as costas de Hermione com mais força contra o peito, enquanto resmungava alguma coisa no seu sono.
“É muito cedo ainda...” concluiu ela, observando a penumbra no quarto. Virou-se de frente pra ele com dificuldade, já que, mesmo dormindo, ele a abraçava com uma força enorme, como se tivesse medo de que ela fugisse durante a noite. Observou seu rosto, parcialmente enterrado no travesseiro cor de pêssego, e não conseguiu evitar as lágrimas que lhe inundaram os olhos. “Seu ruivo ciumento e bobo! Seu Rony corajoso e leal!” Afastou os cabelos bagunçados e flamejantes do rosto dele com cuidado, passando os dedos com carinho por aquele nariz comprido e aquela boca que estava sempre vermelha e viva, como a de uma criança. Os ombros eram tão largos e bonitos... Apoiou-se melhor no travesseiro e encontrou uma posição confortável, entrelaçando suas pernas nas dele. Pele com pele.
Então, ela fechou os olhos devagar, entregando-se a um sentimento de realização. Segurança. Rony emitia tanto calor que ela duvidava que algum dia sentisse frio de novo.
Quando Hermione abriu os olhos novamente, uma luz intensa os atingiu, ofuscando-os. Ela os fechou e sentiu que alguma coisa estava errada. Um frio estranho a envolveu, como se alguém tivesse arrancado seu edredom enquanto dormia. Apalpou o colchão de um lado e do outro procurando sua fonte de calor...
Onde estava Rony?! Sentiu um desespero lhe apertar a garganta. Levantou-se com pressa, empurrando as cobertas e, percebeu que estava nua. Girou confusa no mesmo lugar, tentando raciocinar, e pegou um roupão de seda que estava jogado no chão.
Correu pelo corredor, ainda amarrando o roupão na cintura.
Porque estava tão aflita assim? Será que era medo de tudo não ter passado de um sonho? “É claro que não havia sido sonho!”
Mas então Rony estava lá, abrindo a porta do apartamento e entrando na sala, completamente vestido e parecendo estar acordado há um bom tempo.
Ela desceu as escadas correndo e se atirou em seus braços, antes mesmo que ele a tivesse visto. A garganta de Hermione se apertou. “Não seja ridícula! Engula essa vontade de chorar!” ordenou mentalmente para si mesma. Rony a abraçou forte, assustado com o desespero dela.
- Calma Mione – disse ele, antes de beijar o topo da cabeça dela – Me desculpa ter saído sem avisar. Mas é que... Fiquei com medo de te acordar.
Ela respirou fundo, se acalmando aos poucos. “Pronto, você já o encontrou, tudo bem... tudo bem...”. Percebeu que estava abraçando-o tão forte que seus braços doíam. Afrouxou o aperto, sentindo seu coração desacelerar.
- Eu estou bem – disse ela, envergonhada por ter se desesperado sem motivos – Mas desde quando você acorda cedo?
Ele consultou o relógio de pulso propositalmente, com uma expressão grave – Ham-ham... Já é meio-dia.
Ela deu um grito, levando as mãos à cabeça, desesperada, e correu escada acima como se o mundo fosse acabar.
- Ei! Você não vai trabalhar hoje! – disse Rony.
Ela parou, no meio da escada e se virou, olhando para ele.
– Como assim? Eu sei que não vou voltar naquele Instituto do Malfoy, mas eu também trabalho no St. Mungos, lembra?
- Eu fui lá avisar que você não está se sentindo muito bem e não pode trabalhar – disse ele com um sorriso satisfeito, sentando-se em uma poltrona.
- Mas eu estou ótima, Rony! – ela desceu as escadas, descontrolada – Pode me dizer por que você fez isso?
Ele a olhou com seu sorriso mais convencido e irritante, espalhando-se ainda mais na poltrona, antes de responder:
- Porque você vai passar o dia comigo. Eu ainda preciso de cuidados médicos...
Ela apertou os olhos, enfurecida, e cruzou os braços antes de parar na frente dele.
- Isso não foi honesto, Ronald! Meu trabalho é muito importante e sério! Eu estou ótima! E você, depois de tanto esforço físico se mostrou estar melhor ainda!
Ignorando a raiva e as palavras dela, ele a puxou, e sentando-a em seu colo, imobilizou-lhe os braços, enquanto ela esperneava indignada.
- Será que você pode confiar em mim ao menos uma vez? – pediu, parecendo um pouco magoado – Será que é tão difícil assim?
Ela parou de espernear e se soltou do aperto dele, um pouco envergonhada e arrependida. Ficou de pé novamente e encarou o rosto triste de Rony.
- Você podia ter me avisado – disse ela com calma – Conversado comigo sobre isso. Por que quer que eu falte ao trabalho?
- É uma surpresa... Pensei que você fosse gostar. Mas eu esqueci que o trabalho vem antes de tudo. Sempre o trabalho...
Ela se sentiu horrível com o jeito infeliz dele. Tudo bem que ele não podia ter feito aquilo, mas havia sido com uma boa intenção. “Você que é uma insensível, Hermione!” ela se xingou em pensamento.
- Me desculpe – disse Rony se levantando da poltrona – A gente pode fazer isso outro dia. Você está certa.
Ele andou devagar na direção da cozinha, sem olhar novamente para trás.
- Ron...
- Não se preocupe Hermione. Tudo bem. Tudo bem mesmo.
- Volta aqui... – disse ela numa voz baixinha e suplicante, estendendo os braços pra ele.
Ele se virou relutante, mas a visão de Hermione parecendo tão desamparada, ali, com os braços esperando por ele, o fez voltar e abraçá-la forte.
- Só espero que seja uma boa surpresa... – sussurrou ela no ouvido dele.
- Você nem imagina.
Os dois sorriram. Teriam mesmo que aprender a ceder um pouco, se quisessem realmente ficar juntos. Compreensão e confiança. Ela resolveu que daria essa oportunidade a Rony, deixaria tudo nas mãos dele por um dia, sem se preocupar com nada. E sabia que não se arrependeria nem por um minuto.
Rony sentia suas mãos tremendo e seu coração acelerado enquanto guiava uma Hermione de olhos vendados pelo gramado aveludado e verde, sob as copas daquelas duas árvores gigantescas. Dissera a ela que se vestisse para um passeio num parque, mesmo que aquele lugar não fosse exatamente um parque. Assim, ela usava um vestido tão leve e feminino que, aos seus olhos, parecia uma fadinha.
- Posso ver agora? – perguntou Hermione, impaciente.
- Ainda não. Relaxa.
Ele a levou com cuidado até a toalha xadrez rosa e branca, que se estendia por uma grande faixa de grama, e sobre a qual estavam duas enormes cestas de vime e dois buquês, um de flores coloridas e o outro de rosas vermelhas. Tirou a venda dos olhos dela com cuidado.
Hermione olhou em volta, se sentindo um pouco zonza. Viu imediatamente o piquenique preparado ali no chão. Lindo... “Rony está realmente inspirado”. Ela sorriu. “Mas... Não podia ser... Aquele lugar... O cemitério onde estavam seus pais!” Ela viu os túmulos de mármore reluzindo contra a luz do sol, afastados. Vários deles... E o mais próximo era exatamente o dos seus pais.
- Rony... Por quê?
Ela se virou para ele, emocionada. Ele parecia muito sério e ansioso.
- Porque eu sei o quanto esse lugar é importante pra você – disse ele sacudindo os ombros – E foi onde eu me aproximei... Quando eu perdi a vergonha de te amar.
Ela sentiu tanto carinho por ele. Sorriu e estendeu as próprias mãos para segurar as grandes e desengonçadas de Rony, que também sorriu, sem jeito. Ele se abaixou e beijou a testa de Hermione com cuidado, depois a abraçou, afagando seus cabelos soltos.
- Vem, vamos sentar aqui – disse ele se sentando sobre a toalha e se escorando no tronco grosso do carvalho.
Hermione se aconchegou entre as pernas de Rony, escorando-se no peito dele. Ele apertou aquela fadinha delicada contra si, afundando o rosto nos seus cabelos perfumados, feliz por ter acertado o lugar. Agora só faltava saber se ela também gostaria do resto...
- Certo senhor Ronald, você está conseguindo – disse ela rindo – Mas aposto que sei quem preparou essas cestas aí e te ajudou com tudo...
- Tudo bem, eu assumo – ele riu – A Gina me ajudou. Mas, você tem que levar em conta que eu não sei nem fritar um ovo, Mione!
- Eu não estou reclamando! – disse ela se virando para ele e beijando-o – Mas, estou morrendo de fome...
Hermione se afastou um pouco e se sentou perto das cestas. Abriu uma e encontrou bolos, biscoitos, geléia e sucos. Na outra: pães, torradas, queijos e presuntos, junto com pratos, talheres e copos.
- Uau! Por isso é que eu amo a minha cunhada! – disse Hermione se servindo de um copo de suco e de um pedaço de bolo – A Gina me alimentou esse tempo todo que morou comigo.
- Depois eu é que sou o mal acostumado, né? – perguntou ele enquanto enchia a mão de biscoitos.
Hermione comeu de tudo um pouco, acabando, sozinha, com metade do bolo e remexendo em tudo dentro das cestas, parecendo faminta, enquanto Rony olhava espantado.
- Sabe de uma coisa? – perguntou ele debochado – Ou a convivência comigo te influenciou ou a noite passada realmente esgotou suas energias...
Ela voou para cima dele, enchendo-o de tapas, enquanto os dois riam sem parar. Rony inverteu a situação, imobilizando-a e deitando-a no chão, enquanto enchia o rosto e o pescoço dela de beijos e ela continuava a rir descontrolada.
- Me solta Rony! Você sabe que eu odeio quando você me prende! Seu trasgo covarde!
Mas ele sabia como fazê-la ficar quieta. Beijou-a em cheio na boca, forçando passagem para sua língua. Colou o corpo no dela, sentindo que se rendia, derretida. Os dois se entregaram a um beijo calmo e delicioso, sentindo a brisa que soprava suave. Rony rompeu o beijo devagar, deitando-se ao lado dela e encarando-a de frente. Ela fechou os olhos, respirando fundo, sentindo a paz de espírito que só encontrava naquele lugar. A fada pura e delicada, deitada sobre a grama, debaixo da árvore, com um sorriso sereno no rosto. Rony estendeu uma mão para afagar seus cabelos macios e afastá-los do seu rosto corado.
- Você tem idéia do quanto eu gosto daqui? – perguntou ela abrindo os olhos e segurando a mão dele – Do quanto é perfeito você aqui comigo? Você acertou em cheio, Ronald Weasley.
- Você é tão linda, Mione – ele murmurou com sinceridade – E eu sei que eu sou um ogro na maioria das vezes e só faço besteira... Mas eu juro que, daqui pra frente, vou fazer de tudo pra te ver feliz.
- Fica comigo Rony – ela apertou a mão dele com mais força – Só fica comigo e eu já vou ser a mulher mais feliz do mundo.
Ele a beijou, abraçando-a pela cintura e puxando-a mais pra perto. Sentiu as duas mãos dela em seu peito e seu corpo tremendo de leve. O que mais poderia querer na vida?!
- Eu não sairia de perto de você, nem se você me azarasse e mandasse embora a ponta pés.
Os dois riram mais uma vez, enquanto Hermione o enlaçava pelo pescoço e o abraçava forte. Ela beijou toda a extensão do pescoço dele, até alcançar a boca. Enterrou os dedos nos cabelos macios da nuca de Rony, enquanto sentia as mãos dele passeando por suas pernas e se aventurando embaixo da saia do vestido.
- Eu amo você – ele sussurrou no ouvido dela.
- Eu também amo você.
- Será que já tem um Weasleyzinho aqui dentro – perguntou ele sorrindo e deslizando para baixo, até que seu ouvido se encostasse, através do tecido, à barriga lisa de Hermione.
- Se depender dos seus esforços é capaz de serem trigêmeos – respondeu Hermione, rindo.
Rony encheu a barriga dela de beijos delicados, fazendo-a rir mais ainda. Hermione se sentou, escorando-se na árvore, forçando-o a parar. Ele se levantou e se ajoelhou na frente dela, somente com um joelho no chão. Passou as mãos nos cabelos, exatamente da maneira que fazia quando se sentia irresistível, tirou uma caixinha de madeira rústica do bolso e abriu, revelando o conteúdo pra ela. Era a aliança mais delicada e maravilhosa que ela já havia visto na vida! Vários fios prateados e finos se trançavam suavemente, pontilhados por pequenos brilhantes.
- Rony!
- Eu não estou imitando o Harry, ok? Já venho pensando nisso há um bom tempo.
Os olhares dos dois se cruzaram por um instante. Hermione emocionada demais para dizer qualquer coisa. Rony clareou a garganta e olhou para ela esperançoso.
- Quer casar comigo?
- Quero! Claro que quero!
As lágrimas saltaram dos olhos de Hermione enquanto ela observava Rony colocar aquela peça tão delicada em sua mão direita. Ele beijou o anel com carinho, e logo depois foi sufocado pelo ataque de abraços e beijos de Hermione, que o derrubou de costas no chão. Ele não tinha certeza se ela estava chorando ou rindo... Provavelmente os dois.
- Oh Rony! Rony! Eu não acredito!
- Você só tem que me prometer uma coisa – disse ele enquanto parava de rir e olhava sério para Hermione, que estava em cima dele.
- O que? – perguntou ela, curiosa.
- Acho que você se lembra qual é meu maior sonho...
O sorriso dela se iluminou mais ainda.
- Prometo! Já prometi! Um beijo bem apaixonado sempre que você chegar em casa e nossos filhos correndo pra todo lado!
- Merlin me ajude! – disse Rony rindo.
Ele rolou por cima dela, voltando a beijá-la. Apertou-a com tanta força contra si que teve medo de machucá-la. Mas precisava desse amor, dessa mulher, dessa bruxa. Sua bruxinha.
A tarde se escurecia lentamente em volta dos dois. Naquele lugar sagrado, onde tantas pessoas queridas encerraram suas vidas, Rony acabava de começar uma totalmente nova com Hermione. O vento pareceu soprar mais forte por um instante, as árvores grandes e as pequenas se chacoalharam, libertando suas folhas e flores, que caíram graciosamente sobre o casal. Uma benção dos céus.
- Olha só essas flores – disse Hermione, que observava incrédula.
- Falando em flores... – disse Rony se levantando e puxando-a para que ela se levantasse também.
Ele pegou os dois buquês nas mãos e estendeu o de rosas vermelhas, grandes e aveludadas para Hermione, com um sorriso galanteador. Ela pegou o buquê nos braços e passou as mãos pelas rosas, sentindo a sua textura. Eram lindas.
- Você está mesmo inspirado hoje.
Ele estendeu uma mão e ela segurou, acompanhando-o pela grama. Rony se dirigiu em direção ao túmulo dos pais dela e parou ali, contemplando a lápide de maneira respeitosa. Dividiu o buquê de flores coloridas em dois e deu metade para Hermione.
- Er... Esse é um outro motivo por eu ter escolhido esse lugar – disse ele sério – Eu queria que eles fossem testemunhas, e não pensassem que eu estou roubando a filha deles sem permissão.
Hermione sorriu emocionada.
- Não se preocupem. Eu vou cuidar dela pra vocês daqui em diante – disse Rony com uma expressão grave no rosto, olhando fixamente para a lápide.
Ele se abaixou devagar para deixar as flores ali e voltou a ficar de pé ao lado dela. Hermione deu o buquê de rosas vermelhas para Rony segurar e se abaixou para deixar as outras flores ao lado das dele.
- Eu amo vocês. Preciso de sua benção.
Rony apertou o ombro dela de uma maneira confortadora, observando as lágrimas silenciosas que caíam de seus olhos castanhos e se derramavam sobre suas bochechas. Ela pegou as rosas de volta e retirou quatro das mais bonitas do buquê. Rony a acompanhou enquanto ela caminhava devagar pelas outras lápides do pequeno cemitério, deixando cada uma sobre um túmulo: Carlinhos, Percy, Quim e Flitwick. Virou-se novamente para Rony, soluçando baixinho e o abraçou.
- Obrigada.
- Não chora Mione – disse ele afagando os cabelos dela.
- É de felicidade. Nunca me senti tão feliz – completou se afastando e se colocando nas pontas dos pés para beijá-lo.
- Pronta pra mais uma surpresa? – perguntou ele com outro sorriso ansioso.
- Você só pode estar brincando... – disse ela, sem saber se ria ou chorava.
- Se você não quer...
- É claro que eu quero!
Ele a abraçou firme, esmagando as rosas entre os dois, e Hermione fechou os olhos antes de sentir o corpo girar no ar e mergulhar no limbo.
Quando abriu os olhos novamente, viu-se diante de uma enorme casa de campo. Uma cerca baixa de pedra cercava o jardim, que abrigava dois grandes carvalhos, um em cada ponta. A estrutura da casa era feita de colunas de pedra, e seus dois andares tinham varandas espaçosas e várias janelas de madeira. A trepadeira cobria boa parte das paredes externas, criando um ar misterioso, mas mesmo assim ela pôde ver que a sua pintura era verde oliva. Um caminho de ardósia levava até a porta principal, que era alta e se abria em duas. A casa devia ter uns cem anos, mas isso só a deixava ainda mais atraente e charmosa.
Hermione virou as costas para a construção, tentando descobrir onde estava, e percebeu que estavam em meio a árvores e pastagem, como se a casa se encontrasse no centro de um bosque. Exatamente em frente a ela, a uns cem metros de distância, um caminho de cascalho terminava em um rio largo e de correnteza mansa. Ela percebeu que estava de boca aberta e que Rony a observava silencioso.
- Onde estamos? – perguntou curiosa.
- Aquele é o rio Otter – respondeu ele, apontando com uma mão.
- Você quer dizer que estamos perto da Toca? Em Ottery St. Catchpole? – perguntou ela perplexa.
- Exatamente! Daqui até lá são uns dois quilômetros – respondeu ele – Mas eu pensei que você fosse querer entrar na sua casa...
- Minha casa? Você não pode estar falando sério... – disse ela se agarrando ao buquê de rosas que já se desfaziam.
- Aqui estão as chaves – disse ele, entregando-lhe um molho de chaves antigas – Vá em frente.
- Como?... Quando?... Você?... – ela não conseguia se decidir o que perguntar primeiro.
- Eu costumava vir até aqui com Fred e Jorge quando a gente era criança – ele respondeu adivinhando as perguntas – Eles me traziam até o bosque pra me pregar sustos, mas não vem ao caso. Eu sempre adorei a casa. Sempre sonhei em morar aqui. Comprei no Natal passado, quando vim de férias da Irlanda e já tinha bastante dinheiro.
- Então porque você foi morar com o Harry quando voltou?
- Nunca me acostumei a morar sozinho, muito menos a me cuidar sozinho.
Ela pareceu não encontrar mais nada para dizer. Rony chutava as pedrinhas do chão, parecendo receoso. Na verdade, Hermione ainda não conseguia realmente acreditar. A única coisa que conseguiu fazer foi sorrir sincera para ele e ficar feliz ao receber o mesmo sorriso de volta.
- Vamos? – chamou ele.
Ela segurou firme a mão dele, e os dois adentraram o jardim pelo portãozinho de madeira e seguiram juntos até a porta. Hermione reparou que todas as janelas da casa estavam abertas, convidativas. Enfiou a maior chave de todas na porta, com as mãos tremulas, e a girou na fechadura.
Entrou numa sala espaçosa, com piso e decoração em madeira maciça. Uma lareira enorme de granito alcançava quase a sua altura, no centro da parede direita. De cada lado da lareira, uma porta dupla dava acesso à varanda. Dois sofás de couro, confortáveis e espaçosos, se posicionavam ali; um lustre muito antigo e dourado pendia do teto, mas a iluminação agora vinha do sol, que se punha lá fora e entrava pelas gigantescas janelas de madeira.
Ela engasgou com a visão. Era tudo tão confortável e valioso. Sentiu Rony abraçá-la pelas costas, afundando o rosto em seus cabelos como adorava fazer.
- Você gostou? – perguntou ele ansioso.
- Nem em sonho eu poderia ter imaginado.
Ela caminhou tocando os móveis de madeira escura até alcançar a porta do outro lado, girando para poder captar todos os detalhes. Parecia mais um salão para recepções do que uma sala. Atravessou o portal. Chegou até uma sala de jantar, um pouco menor que a outra, mas também com uma porta à direita que dava para a varanda. Uma mesa oval, da mesma madeira de todos os outros móveis, se postava no centro, com cadeiras de espaldar alto. Atravessou mais esse aposento, ouvindo os passos de Rony seguindo-a, e chegou até a cozinha, que era moderna, com um grande fogão, balcões de granito e armários de aço.
- Essa casa é enorme Ronald! – disse ela assim que ele chegou até a cozinha também.
- Mas... Você gosta dela mesmo? – perguntou ele inseguro.
- É cheia de móveis e detalhes ricos, mas não é opressiva – disse Hermione sincera, observando tudo à volta – Tudo combina e parece confortável e aconchegante. Eu adoro! Me sinto bem aqui...
- Que bom que você gostou, Mione! Eu também adoro essa casa!
- Olha esse quintal! – disse ela olhando pela porta oposta para a enorme área gramada atrás da casa.
- Vamos subir – disse Rony puxando-a pela mão, de volta à sala – Quero que veja os quartos.
Eles percorreram todo o caminho de volta e subiram por uma larga escada de madeira, do lado esquerdo da sala, até um patamar formado por um único corredor e quatro portas altas.
- São quatro suítes, mas a nossa é a da frente, que dá para a varanda – disse ele, puxando Hermione até a primeira porta e abrindo-a.
Ele entrou na frente e foi correndo abrir as duas portas que davam acesso à varanda, para que o resto do sol da tarde iluminasse o quarto. Hermione estava pasma. Uma cama de bronze enorme, com um dossel alto, todo desenhado de flores em alto relevo. Ela tocou a roupa de cama, que era de uma seda branca e limpa. Foi quando se deu conta: a casa estava totalmente limpa.
Observou o guarda-roupa enorme que tomava uma parede inteira, até o teto, e uma escrivaninha elegante na qual, com certeza, ela passaria horas trabalhando.
- Você tem que ver essa vista, Mione – gritou Rony, empolgado, lá da varanda.
Ela deixou o buquê de flores sobre a cama e atravessou a porta até a varanda. Encontrou Rony encostado na balaustrada de madeira, olhando para o rio. O por do sol batia no rosto e nos cabelos dele, acentuando ainda mais os fios ruivos, e a brisa soprava, bagunçando-os de leve.
- Eu tenho que estar sonhando... – disse ela se aproximando dele e se deixando envolver pelos seus braços para observar a vista linda – É perfeito Rony! Perfeito! Já consigo imaginar minha vida inteira aqui.
- Era a única coisa que faltava eu ouvir – disse ele alegre.
Os dois observaram por alguns minutos o sol se pondo e refletindo seus raios nas águas calmas do rio.
- Só não me diga que você também pediu à Gina que arrumasse essa casa... – disse Hermione num tom duro.
- Ela teve ajuda da minha mãe, Hermione.
- Ela está grávida, Ronald!
- Eu não podia fazer tudo isso sozinho em uma manhã!
Ela se calou, não querendo mais discutir, e se pegou olhando para a aliança delicada em sua mão. “Será que algum anjo do céu resolvera realizar todos os seus sonhos? Não! Era aquele anjo ruivo e maravilhoso, que não tinha asas, e estava aqui mesmo na terra”. Ela se enroscou nos braços de Rony como uma gata manhosa.
- Eu ainda não consigo acreditar – disse num suspiro.
Rony levantou seu queixo, puxando sua boca até a dele, presenteando-a com um beijo cheio de amor e esperanças para o futuro. O céu se tingia vagarosamente de violeta, fazendo de toda aquela cena uma verdadeira obra de arte.
- É real, Mione.
Ele entrou novamente no quarto, sem esperar que ela o acompanhasse, e agarrou o buquê que estava em cima da cama.
- Acenda as velas – disse, apontando para os candelabros de bronze sobre a escrivaninha e sobre a cômoda.
Ela começou a acendê-las, enquanto Rony despedaçava as pétalas das rosas e as derramava sobre os travesseiros e sobre o lençol de seda, com cuidado. O quarto era a encarnação do romance, envolto na penumbra das velas e do crepúsculo, com a brisa do campo entrando pela varanda, o vermelho das rosas se destacando contra o branco do lençol, e o cheiro delas se espalhando pelo ar.
Rony se aproximou, cheio de charme, e estendeu a mão para ela.
- Que tal uma estréia em grande estilo para dar sorte?
Ele puxou-a devagar para perto de si e envolveu sua cintura com uma mão, explorando seus cabelos com a outra. Ela olhou diretamente para os olhos azuis tão espetaculares, abertos e vivos diante dos seus, acesos com o fogo das velas e inundados de pura paixão.
- Você não existe Ronald Weasley – disse antes de se entregar ao beijo.
De uma vez, Rony firmou um braço sobre seus joelhos enquanto segurava-a pelas costas, e carregou-a devagar até a cama, depositando-a, com cuidado, entre as pétalas e se juntando a ela enquanto a tarde se tornava noite lá fora.
Rony abraçou protetoramente aquela pequena mulher, entregue em seus braços. Hermione estava adormecida, um leve sorriso se formava em sua boca rosada. Ela parecia feliz e segura, e isso, mais do que tudo, aumentava a satisfação e a felicidade dele mesmo. Só de pensar no quanto ela sofreu durante esses anos, no quanto ela chorou, na dor que sentiu... Era como se algo gelado e viscoso se enrolasse em seu peito... “Não, isso não importava agora. Nunca mais deixaria que nada acontecesse a ela, nada mesmo. Faria de tudo por aquela mulher! Faria qualquer coisa...”
Beijou seus cabelo, tomando cuidado para não acordá-la. Sentiu sua pele colada à dele, e amaldiçoou sua imaginação e seu instinto, que enviavam mensagens estimulantes para todo o corpo. “Será que você não se cansa? Deixe ela dormir um pouco!”. Mas a verdade é que ele nunca cansaria. Só sentir o perfume dos cabelos e da pele de Hermione já era suficiente para acender seu desejo.
Acomodou melhor as costas no travesseiro, deslizando uma mão pelo dorso de Hermione, sentindo a pele dela ainda quente. Sentia-se tão poderoso nesse exato momento... Mais do que nunca se sentira na vida. “Tinha o amor de Hermione Granger! Era o único homem capaz de fazê-la feliz pro resto da vida... Seu escolhido, seu protetor, seu amigo, seu amante, seu futuro marido. E faria de tudo, absolutamente tudo, daqui pra frente, para fazer jus a todos esses postos importantes!” Estufou o peito, feliz e orgulhoso, e levou uma mão a nuca, bagunçando os cabelos enquanto sorria. “Eu consegui! É, consegui sim!”. Aquele dia saíra ainda melhor do que ele imaginara.
Rony observou as velas que já estavam quase completamente derretidas, mas ainda iluminavam fracamente o quarto. Sentiu a respiração leve de Hermione, enquanto seus pulmões se enchiam e se esvaziavam lentamente... Os seios nus, totalmente aconchegados em seu peito. “Ok, concentre-se em outra coisa... Qualquer coisa!”
Mas antes que ele pudesse realmente se lembrar da aparência exata de um explosivim, Hermione se mexeu preguiçosamente, abraçando a cintura dele. Ainda de olhos fechados, ela começou, devagar, a beijar o seu ombro, mordiscando de leve e deslizando uma mão sobre os pelos ruivos e finos de sua barriga.
- Eu não queria ter acordado você – murmurou ele.
- Eu não estava dormindo, só descansando – disse ela, voltando a encostar-se ao ombro dele.
Rony se distraiu tirando algumas pétalas de rosa que se emaranhavam no cabelo dela, já que, aparentemente, Hermione continuava muito sonolenta e cansada para fazer qualquer outra coisa a não ser se encostar nele e acariciar seus ombros com os dedos delicados.
- Hermione?
- Sim?
- Eu estava pensando... Nós já temos a casa, já temos um bom emprego... Não acha melhor nos casarmos o quanto antes? É que... Você sabe... Não consigo suportar a idéia de continuar dormindo sem você ao meu lado.
Ela soltou uma risada curta, antes de responder – Casar não é só dormir junto Rony. E eu também não sei como vou dar conta dessa casa enorme... – ela fez um movimento amplo com o braço.
- Er... Eu tenho uma idéia. Mas não vá se zangar comigo, deixa eu falar primeiro – disse ele receoso. Ela concordou com um aceno de cabeça, e ele voltou a falar – Nós podíamos contratar um elfo. Mas você sabe, com salário, férias e tudo mais... Tipo como o Harry faz com o Monstro. E você poderia dar exemplo às outras pessoas de como tratá-los e respeitá-los...
Hermione ficou quieta por um minuto, considerando a sugestão de Rony, então concordou com um aceno de cabeça.
- Acho que poderia dar certo. Nós arrumaríamos roupas decentes pra ele, antes de tudo, e eu poderia estipular um horário de traba...
- Ok, ok – Rony cortou o que sabia que seria um longo discurso – Podemos resolver tudo isso depois.
Ela olhou brava para ele, contrariada por ter sido interrompida, mas era realmente melhor não se preocupar com essas coisas nesse exato momento.
- Onde você quer que seja o casamento? – perguntou Rony, mudando de assunto na tentativa de distraí-la.
- Eu não sei... Não pensei nisso. Que tal a Toca?
- Nah! Gui já se casou lá, perdeu a graça – disse ele sacudindo a cabeça - Por que não aqui?
- Aqui?
- É. O jardim é grande, e a sala também. Aposto que cabe bastante gente...
- É verdade... – disse Hermione sorrindo – Está decidido então. Nos casamos aqui! – ela deu um beijo estalado na boca dele – Mas... Acho que não podemos preparar tudo em menos de um mês Rony, sua mãe enlouqueceria.
Ele pensou por um instante, antes de responder - Um mês me parece bom...
Hermione riu novamente – Então suponho que seja melhor eu tirar minhas férias acumuladas no St. Mungus se quiser preparar meu próprio casamento.
- Quanto tempo eu vou ter que ficar sem jogar quadribol?
- Olha, daqui quinze dias eu farei mais testes em você e, se tudo estiver bem, você pode voltar a treinar.
- Então suponho que até lá, eu também possa te ajudar.
Hermione deslizou a mão pelos ombros dele, perdida em pensamentos e idéias. Rony também acariciava suas costas, distraído, parecendo tão deslumbrado com tudo quanto ela.
- E a Gina e o Harry? Quando será que eles pretendem se casar? – perguntou Rony com uma ruga na testa.
- Eu não sei... Mas vou conversar com ela amanhã. Suponho que também tenho que voltar ao apartamento e começar a organizar tudo para a mudança.
- O que você vai fazer com o apartamento?
- Acho que vou vendê-lo. Nem eu, nem a Gina vamos continuar morando lá. Posso guardar o dinheiro para decorar o quarto do bebê. Sempre sonhei com um lindo quarto de bebê... E, ajudar nas despesas do casamento, claro.
- Você não precisa fazer isso – disse ele contrariado, apoiando-se no colchão com as mãos e se sentando melhor na cama – É o apartamento dos seus pais! Eu posso pagar tudo Hermione, sem problemas.
- Não seja prepotente Rony! – disse ela puxando o lençol para cobrir os seios e se sentando também – Você já comprou a casa, o anel de noivado... Será que eu não posso nem decorar o quarto do meu filho?
- Certo, certo. Tem razão, você tem razão... – disse ele abaixando a cabeça e bagunçando os cabelos da nuca com uma mão - Faça o que quiser, ok?
Ela continuou afastada dele, parecendo contrariada. Odiando a idéia de arruinar um dia perfeito com uma briga, Rony puxou-a pela nuca para um beijo de desculpas.
- Eu sei que você não liga pra essas coisas de dinheiro Hermione, e que faz questão de participar também. Mas essa é a primeira coisa que posso fazer por nós dois. Só vamos nos casar uma vez na vida! Faço questão de pagar.
- Você é um machista, Ronald Weasley! – disse ela se esforçando para continuar brava com ele.
Com um pulo para o chão de madeira, Hermione saiu da cama, antes que Rony pudesse alcançá-la, dando a ele uma visão privilegiada de sua nudez e de seus cabelos desalinhados caindo pelas costas, então agarrou a camiseta grande dele que estava jogada no chão e a vestiu, ainda de costas.
Ele praguejou baixinho, prestes a ir atrás dela, mas ela se virou subitamente e subiu na ponta da cama, parando de pé na frente dele e passando as mãos pelos cabelos para empurrá-los para trás. Rony descobriu, olhando para as pernas cobertas somente até a metade das coxas e para o contorno delicado do corpo de Hermione sobre a blusa larga de algodão, que aquilo era mais excitante do que vê-la nua.
- Sabe de uma coisa? – disse ela terminando de fazer um coque nos cabelos com um nó – Está na hora de uma revolução feminista aqui! Você comandou e fez o que quis durante o dia inteiro.
Ela caminhou sobre a cama, até suas pernas estarem ao alcance das mãos de Rony, que tinha a boca aberta e um olhar bobo e, depois, desceu lentamente, até se sentar no seu colo e apoiar as mãos em seus ombros.
- Eu não vou deixar você fazer tudo sozinho! Agora é sua vez de se surpreender.
N/A: Como eu adoro todos vocês, sempre compenso a demora com outro capítulo bem rapidinho...
Eu achei esse tão fofo!
Como é possível não amar esse ruivo? Aiai...
Espero que vocês tenham se lembrado de que a primeira cena da fic é exatamente a Hermione no cemitério. Então não se assustem por eu ter escolhido esse lugar. E a casa deles tinha que ser um lugar especial, assim como a Toca, porque será o novo lar Weasley!
Fico triste em avisar que temos apenas mais três capítulos e um epilogo, e então a fic estará terminada. É estranho pensar que não vou ter mais que escrevê-la... Mas eu tenho muitos outros projetos em mente, mesmo que não seja pra esse ano.
Muito obrigada todo mundo que acompanha!
Comentem! Por favor!
Autora carente de comentários!
Beijo bem grande pra todo mundo!
Ana Fuchs
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