Capítulo 8
Hass fallen apart right in front of you”
- Draco! DRACO! – Snape chacoalhava o garoto pelos ombros para que ele pudesse voltar a si. Quando este pareceu estar de volta à cozinha da casa, ele continuou de maneira irônica. – As cenas com seu pai são muito comoventes, eu juro, e eu vou precisar de um lenço se continuar assim. Mas acredito que, na atual situação, gostaria de não ver isto, se puder me poupar desta emoção extrema.
Draco não sabia o que dizer. Era óbvio que não se sentia confortável com Snape vendo tudo aquilo. Todos os sentimentos contraditórios e confusos do jovem loiro estavam agora abertos para Snape, por mais que o garoto tentasse evitar. Precisava aprender a esconder suas emoções, assim como havia feito com os pais durante toda a vida. Mas era difícil, com Snape gritando aquele feitiço e invadindo seu cérebro com o mesmo sangue frio e a mesma facilidade com que ele gritara Avada Kedavra horas antes para assassinar Dumbledore.
- Você não me deu tempo para me defender e nem explicou o que eu deveria fazer quando me atacasse – Draco se viu falando alguns momentos depois. – Como quer que eu aprenda algo se não consegue me mostrar os princípios básicos... professor?
- Draco, se você não fosse um garoto tão insolente e convencido, talvez não estivesse nesta situação agora – Snape falava, saboreando a expressão de Draco se tornar raivosa. – Narcisa e Lúcio criaram você de uma maneira completamente errada.
- NÃO CRITIQUE MEUS PAIS! – Draco gritou, sem poder se conter, retirando uma das mãos de Snape que ainda repousava em seu ombro.
- Lembre-se de que eu posso não querer te ensinar Oclumência – Snape chantageou, andando pela cozinha e sentando-se numa das banquetas empoeiradas. – E então o Lorde das Trevas saberá como te recompensar satisfatoriamente pelos serviços prestados a ele. O que você prefere?
- Professor Snape – Draco murmurou entre dentes, absolutamente contrariado – Ensine-me Oclumência... por favor.
- Muito bem, vejo que já aprendeu a se comportar melhor e a me chamar de professor – Snape batia palmas, deixando as unhas sujas à mostra. Draco sentiu nojo, mas então se deu conta de que estava tão sujo quanto Snape. Não conseguia se lembrar da última vez em que tomou banho. – Então, vamos ao que interessa. Para fechar a mente, você deve se concentrar. Esconda seus pensamentos secretos. Mostre apenas aquilo que é inofensivo, aquilo que eu posso ver. Selecione as lembranças.
A explicação era vaga e não parecia nada convincente. Draco começou a se sentir em pânico diante de um procedimento tão surreal. Não era como um feitiço, não tinha fórmula, palavra murmurada mais movimento. Era uma coisa bem mais sutil, uma sutileza que Draco julgava não possuir.
Fechou os olhos, na esperança de que talvez assim pudesse se concentrar melhor. Apoiou as mãos na borda da pia, sentindo a superfiície ensebada de gordura. Tentou se lembrar de algo inútil, talvez uma briga boba com Potter ou alguma tarde com Pansy Parkinson em Hogsmead. No entanto, quando Snape apontou a varinha e proferiu novamente Legilimens!, a roupa suja que Draco tentava esconder enfiada no fundo da gaveta saltou de volta para a superfície, afogando-o num mar de podridão.
Draco estava em Azkaban. Não imaginava que ali pudesse haver um sistema de visitas, mas tudo poderia ser arranjado naquele momento delicado em que os dementadores estavam quase definitivamente aliados ao Lorde das Trevas. Ele caminhava de braço dado com a mãe, ambos vestindo capas negras e simples para que não houvesse ostentação. Narcisa escondia os belos e compridos cabelos loiros com o capuz, algumas pequenas rugas de preocupação despontando em seus belos olhos azuis. Mesmo assim, estava muito bonita, os lábios com o batom vermelho que ela tanto gostava e os cílios ressaltados com rímel preto. O salto agulha de seu sapato fazia barulho enquanto ela caminhava ao longo do extenso corredor que levaria à sala destinada para o encontro com o marido.
- Pare, Draco! – Snape trouxe o aluno novamente para o presente, desta vez sem tocar nele. – Você precisa se concentrar. Não vejo esforço em você. Será que a perspectiva de perder a vida não é suficientemente assustadora? Pense em sua mãe, então!
- Minha mãe? – Draco sentiu o coração saltar no peito e arfou antes de continuar. – Minha mãe está em casa, protegida de...
- Sua mãe está em poder do Lorde das Trevas – o homem de cabelos negros foi absolutamente direto, e Draco sentiu como se tivesse tomado um tapa muito mais dolorido do que aquele que recebeu de Hermione em seu terceiro ano. Um tapa que doía na alma.
- Aquele-que-não-deve-ser-nomeado seqüestrou minha mãe? – o desespero era visível na voz de Draco, que suplicava internamente para que não fosse verdade. – Você está mentindo! Quer me enganar para estimular a aprendizagem, eu sei disso. Você só está dizendo isso porque quer que eu aprenda Oclumência de qualquer maneira!
- Não, Draco. Estou dizendo isso porque Narcisa está em poder do Lorde das Trevas. Ela era o tributo caso você falhasse em sua missão.
Draco levou as mãos aos ouvidos, tampando-os com força até só escutar o barulho distante da tempestade, que já tinha perdido muito da força e havia se tornado apenas uma chuva comum. No entanto, a tempestade que sentia em seu coração era muito maior do que qualquer furacão que pudesse assolar a Inglaterra. A bela Narcisa, a sua mãe, sua estrela perfeita estava nas mãos do impiedoso Lorde das Trevas. E Draco havia falhado miseravelmente em cumprir aquilo a que fora destinado.
- NÃO!!! NÃO!!! – o jovem saiu correndo e gritando pela casa. Voltou à sala, chutando e esmurrando tudo o que via pela frente, como se quebrar as coisas de Snape pudesse diminuir a sua própria dor. Derrubou e espalhou as peças de um jogo de xadrex de bruxos que estava logo acima da lareira, os cavalos, peões e torres protestando irritados. Depois, chutou a mesa bamba, o candeeiro voando longe e se espatifando no chão. Logo em seguida, desabou sobre os cacos de vidro, cortando e queimando as palmas das mãos com o óleo líquido ainda quente.
- Draco, não seja estúpido! – Snape foi atrás do aluno e levantou-o pelo capuz da capa negra. Com a força que fez para tirar o loiro do chão enquanto ele queria permanecer ali, a capa se rasgou. Draco pareceu não notar e se deixou ficar apenas de camisa branca, ainda com a gravata da Sonserina, e calça preta. Os olhos estavam secos, não conseguia chorar, mas por dentro ele sangrava, o amor pela mãe e o ódio por seu Lorde perfeitamente mesclados numa mistura explosiva e perigosa, capaz de matar. – Sente-se aqui, vou buscar essência de murtisco para os seus machucados – o garoto se deixou conduzir à mesma poltrona puída onde sentia que poderia permanecer para o resto de sua inútil vida. Se é que ela duraria muito mais tempo.
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