Capitulo XI
Ele andava à volta pela sala na tentativa de conseguir pensar coerentemente. [i]Mandaste-a ao chão! Queres que ela te sorria e te agradeça? Tens sorte se ela voltar a falar contigo[/i]. Harry sentou-se no sofá e suspirou profundamente. Não conseguira controlar-se e reagira por instinto. Não estava à espera que ela percebesse. Não estava à espera que alguém compreendesse.
Quatro dias haviam se passado e nenhum deles procurara esclarecer o que quer que fosse. Kevin tentara ao máximo saber o que tinha acontecido, mas o moreno limitava-se a dizer que tudo correra normalmente. Sabia que o amigo não acreditava, mas também não tinha insistido no assunto. O toque da campainha interrompeu os seus pensamentos, fazendo-o levantar-se e encaminhar-se lentamente até à porta.
Kevin estava encostado ao limiar da porta e mal Harry a abriu, ele entrou e sentou-se pesadamente no sofá. O moreno sentou-se no cadeirão de frente para o amigo, que olhava para ele seriamente.
Para ignorá-lo, Harry pegou num livro que estava em cima da mesa de madeira e começou a ler. O silêncio era interrompido constantemente por suspiros de Kevin, e quando a sua paciência chegou ao fim, o moreno fechou o livro e olhou para ele zangado.
- Importas-te de parar?
- Parar com o quê? – perguntou ele inocentemente.
- Com isso!
- Então ajuda-me.
- Com o quê?
Em resposta, Kevin atirou-lhe uma pasta azul preenchida por papéis. Mal Harry deixou o seu olhar recair sobre o que tinha nas mãos, levantou-se.
- Nem penses!
- Harry é só uma coisinha pequenina…
- Não!
- Mas…
- JÁ TE DISSE QUE NÃO! – gritou ele olhando para o amigo.
O moreno levantou-se e suspirou profundamente. Pegou na pasta pousada na mesa e caminhou até à porta.
- Ela não ia gostar de te ver nesse estado – disse ele num murmúrio fechando a porta atrás de si.
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Não existia nada mais irritante do que um avião atrasado. As pessoas que deviam estar a voar em direcção ao seu destino, ficam retidas num aeroporto demasiado pequeno para a multidão ali aglomerada. A voz de uma funcionária a avisar que o vôo da uma da tarde estava igualmente atrasado, fez com que uma chuva de protestos ecoasse pelo edifício.
A ruiva viu uma criança ao seu lado a brincar tristemente com uma boneca de cabelos loiros e olhos azuis. A tristeza da menina estava marcada nos seus traços infantis.
- Olá – disse Ginny docemente, baixando-se para ficar ao nível dela.
Os cabelos negros da criança caíam até aos ombros e os seus olhos, igualmente negros, fixaram-se na mulher à sua frente.
- A tua boneca é bonita.
A única resposta que ela obteve foi silêncio e um olhar penetrante. – Posso saber qual é o nome dela?
- Is – respondeu ela num sussurro.
- Olá Is o meu nome é Ginny – disse ela com os olhos fixos na boneca – Como é que se chama a tua amiga?
- Claire.
- Têm as duas nomes muito bonitos.
- Obrigado – respondeu a morena, ainda olhando para ela.
A ruiva sorriu e olhou em volta à procura dos pais da rapariga.
- Estás à procura de quem? – perguntou ela curiosa.
- Dos teus pais. Eles não te deviam deixar sozinha.
Quando Ginny voltou a olhar para a menina, ela tinha a cabeça baixa e a boneca apertada contra si.
- Não sabes dos teus pais? – perguntou a mulher preocupada, mas antes que pudesse ter alguma resposta, uma mulher aproximou-se dela.
- Quem é a senhora? – perguntou a mulher.
- Desculpe, chamo-me Ginny Weasley.
- Espero que a minha filha não a tenha incomodado.
- Não, de forma alguma.
- Aqui estão vocês – disse um homem por trás delas.
- Este é o Roger.
- Prazer – disse ele apertando a mão da ruiva – Vamos, princesa?
- Eu não sou a tua princesa – disse a menina num murmúrio.
- Claire!
- É verdade! Só sou a princesa do meu papá.
Ginny olhou para menina, que agora chorava em silêncio, e sentiu uma necessidade desesperante de a abraçar.
- O teu pai foi um cobarde, e não quis saber de nenhuma das duas! Portanto é bom que ponhas na cabeça que agora tens de respeitar o Roger – disse a mulher rispidamente, fazendo a ruiva a olhar incrédula, enquanto o homem ao seu lado parecia encolher.
As lágrimas da pequena rapariga agora corriam livremente pelo seu rosto de porcelana, sem a mãe deitar ao menos um olhar de arrependimento pelas duras palavras. A morena pegou no braço da filha e arrastou-a em direcção ao check-in, sendo seguida pelo homem. Claire deitou um último olhar a Ginny, que sentiu o chão fugir debaixo dos seus pés. A tristeza e solidão que habitavam nos olhos dela, fizeram com que a ruiva fizesse um esforço descomunal para ela própria não começar a chorar.
A sua atenção foi desviada novamente pela voz da funcionária a advertir que o avião com destino a Londres partiria dentro de dois minutos. Ajeitando a mala no ombro, Ginny caminhou em direcção ao terminal.
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Os papeis cobriam grande parte da mesa do escritório. Kevin lia a mesma folha pela vigésima vez. [i]Mas por que raio eu vim para advocacia? Podia ter ido para hotelaria e passar a vida a dizer “seja bem vindo ao hotel Plaza” mas não, em vez disso, passo a vida a ler papéis em que só percebo a data em que foram escritos.[/i]
A campainha sobressaltou-o, fazendo com que ele sorrisse abertamente por ter uma desculpa para deixar aquele trabalho entediante. Mal abriu a porta o seu sorriso evaporou-se ao ver o moreno. Desviou-se permitindo a entrada do amigo, e como se levasse com alguma coisa na cabeça, as palavras que proferira ecoaram na sua mente. Desculpas sem dúvida é o que ele devia pedir, mas a sua mente impedia-o de o fazer.
Harry parou em frente da janela e o seu olhar permaneceu fixo num ponto indistinto. O silêncio prolongou-se por minutos até que ele quebrou o silêncio.
- Como é que te posso ajudar?
Um balde de água fria tinha feito o mesmo efeito em Kevin, que olhou o amigo incrédulo. Ele virou-se e os olhos verde-esmeralda encontraram-se com os olhos castanhos do homem. O moreno caminhou até ao escritório sendo seguido por Harry. Sentaram-se frente a frente e começaram ambos a ler os papeis silenciosamente.
- Obrigado – disse Kevin, e em resposta o moreno limitou-se a sorrir.
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- Ginny!
A loira abraçou a amiga, que o retribuiu. Parvati caminhou até elas, e também ela abraçou a ruiva.
- Conta-nos, como é que correu a viagem? – perguntou Luna animadamente.
- Óptima.
- Então, voltaste a falar com ele? –perguntou Parvati ansiosa.
- Voltaste a falar com quem?
As três mulheres viraram-se, e ficaram estupefactas quando o seu foco de atenção recaiu sobre o loiro com os olhos acinzentados.
- Olá Ginny.
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