Capítulo VI



Capítulo VI

No dia anterior tinha falado com Richard, explicado para onde ia, tinha comprado o bilhete de avião e reservado o hotel. Naquele momento estava a aterrar em New Jersey e a perguntar-se a si mesma aonde é que tudo aquilo iria parar.
Ao chegar ao hotel, abriu a porta de correr que dava acesso directo à varanda, e começou a desfazer as malas. Ainda não tinha decidido o que fazer, porque nem sequer sabia onde procurar. Agora que estava sozinha e ali, começava a questionar-se se aquilo não seria a coisa mais idiota que fizera na vida.
Quando acabou, desceu as escadas e foi até a praia que ficava a poucos metros do hotel. Um bar destacava-se na paisagem. Era todo em madeira, com uma bonita esplanada, e várias mesas e chapéus. Ao lá chegar, Ginny sentou-se numa das mesas, a olhar o oceano.
- Boa tarde.
Ginny voltou-se sobressaltada e deparou-se com um jovem que aparentava ter vinte e dois anos, com uma bandeja e um bloco na mão.
- Boa tarde, quero um sumo de ananás e uma sandes mista por favor.
Ela viu o rapaz afastar-se e a gritar ordens para a cozinha. Pouco tempo depois ele voltava com um sumo e uma sandes, pousando cada um suavemente sobre a mesa.
- Obrigada.
- Desculpe a indiscrição, mas parece que estás à procura de alguém, posso ajudá-la?
- Não estou à procura de ninguém – disse ela rapidamente – mas se calhar até pode. Eu estou aqui para fazer uma reportagem sobre novos talentos no mundo da escrita, será que conhece alguém?
“Ginny Weasley de onde é que isso veio? É a ideia mais estúpida que tivestes nos últimos tempos!”
- Bem conhecer, não conheço. Mas a minha irmã encontrou uma carta, que tenho que admitir, está muito bem escrita. Se quiser vou ali tirar-lhe uma cópia.
- Tem a certeza de que não há problema?
- De forma alguma, volto já.
Ela ainda estava atordoada com a conversa. A mentira que ela inventara segundos atrás podia ter feito com que ela descobrisse uma carta nova. Não podia ser! Era ímpossivel!
- Aqui tem.
Ginny segurou rapidamente a carta que o rapaz lhe estendia, e reconheceu de imediato a caligrafia. “É dele” pensou radiante.
- Só mais uma coisa, não conheces ninguém que possa ter escrito isto?
- Desculpe, mas não.
- Obrigada.
Acabou a sandes, pagou o rapaz e dirigiu-se a passos apressados para a praia. Quando chegou à beira-mar, sentou-se de pernas cruzadas, cuidadosamente desenrolou a mensagem e começou a ler.

6 de Julho de 1992
Meu amor,
Não sei como consigo escrever, se toda esta dor me está a consumir por completo. Não consigo falar, comer e, sinceramente, não sei como consigo pensar. A minha mente nunca está comigo, ela, há dois dias, te acompanha incansavelmente nos teus passeios pelo mar, e nas conversas com os anjos.
Após a tua partida eu pensei em ir contigo, mas sempre que o tentava fazer, qualquer coisa me impedia. Não é muito díficil para mim acreditar que ainda não o consegui por tua causa. Pela tua necessidade de me ajudar.
Acredites ou não, a única coisa que me podes fazer é voltar para junto de mim. Não sei como, mas sei que, sem ti, a minha vida não faz sentido. Fostes a única pessoa que eu amei, que amo, e que sempre amarei. Nada vai fazer com que te afastes de mim. Estamos unidos, não pelos corpos, mas pelas almas, que mesmo depois da tua partida, passeiam juntas pela imensidade do oceano.
Estes dois dias foram os piores da minha vida. Acordar sem te ter a meu lado, chamar por ti e não me responderes, procurar-te em todos os lugares e nunca te ver, é a pior tortura que me podem fazer.
Quantas vezes já te chamei, na esperança que tu deixasses de te esconder, como fazias quando éramos pequenos, e olhasses para mim com os olhos que me hipnotizaram para sempre, e dissesses que nunca mais te irias embora. Que me abraçasses, e nesse abraço, levasses todas as minhas mágoas e dúvidas, tal como fazias antes.
Mas sou obrigado a encarar a realidade. Nada te trará de volta. nada fará com que eu veja novamente o teu sorriso, que oiça novamente a tua voz, que inspire novamente o teu perfume, que sinta novamente o teu toque.
Muitas vezes quis desistir de tudo, mas sempre me dizias que a verdadeira justiça sempre prevalece, que sempre triunfa. E foram as tuas palavras que sempre me deram força. Agora pergunto-te, onde está a justiça em que os dois acreditávamos? Onde está a justiça no que te aconteceu? Acreditavas na verdade e na justiça, como muitos acreditam na própria vida, mas a tua convicção falhou. Deixou-te cair, para tu nunca mais te conseguires levantar.
Mas tu és forte, irás erguer-te sem medo do que possa acontecer. Vais olhar o céu e sorrir. O teu cabelo em sintonia com o vento vai soltar-se e esvoaçar livremente, e aí irás caminhar alegremente até à costa. Passo a passo. Sem pressa. E quando chegares, vais até a nossa casa à beira-mar, abraçar-me-ás por trás, e sussurrar-me-ás ao ouvido que viestes para sempre.
E eu, infantilmente, mergulharei no teu abraço, como uma criança que se aconchega no colo da mãe. Nesse instante o mundo irá parar. Vou sentir o chão a cair debaixo dos meus pés, e o ar a sair dos pulmões. Mas estarei seguro e em paz, pois sei que a partir daí, nada nem ninguém, nos poderá separar novamente.
Com amor,
Harry

Sem se aperceber, lágrimas brotavam nos olhos dela, e mesmo que não quisesse, deu por si a imaginar como seria viver tão grande amor.
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