Uma conversa de meninos
Dois dias depois Harry está sozinho em casa. As crianças estão na escola; a senhora Weasley foi ao beco diagonal renovar o seu estoque de poções. Gina, Rony e o pai estão no ministério.
Embora Gina tenha solicitado uma licença por tempo indeterminado para acompanhar a recuperação de Harry, a ruiva ainda precisa ir de vez em quando ao trabalho para resolver algumas questões pendentes.
Dois anos depois do nascimento dos gêmeos, Gina começou a trabalhar no ministério na sessão de localização de bruxos filhos de trouxas. Seu trabalho é, em conjunto com Hogwarts, localizar crianças como Harry e Hermione e encaminha-los para que tenham uma educação adequada.
Harry anda pela casa, um pouco entediado com aquela calma, é estranho pra ele ficar sozinho em casa sem fazer nada. As crianças fazem falta pensa. E minha ruiva também...
Harry sobe até o quarto e pega a caixa com suas coisas que Gina lhe deu. Ainda têm coisas que não vi direito pensa. Ele revê todas as fotografias e no fundo da caixa vê uma pequena chave. De onde será? Pensa. Vou perguntar pra Gina mais tarde
Alguém bate na porta do quarto. Ele vê a cabeça de Rony apontar.
Harry – Oi! Já chegaram?
Rony – Não... Eu vim mais cedo. Gostaria de conversar com você. Tudo bem?
Harry – Claro! Entre
Rony – Não... Te espero lá em baixo.
Harry desce um pouco cismado. O que será que aconteceu? Ele vê que além de Rony, Fred e Jorge também estão lá. Pelo jeito essa é, como diria meu filho, uma conversa de meninos. Eu devia imaginar, eles são irmãos dela e se preocupam. Devo ficar feliz que não estão todos os seis.
Harry desce as escadas vagarosamente os três ruivos o encaram – Bem. Aqui estou ( diz ele). Onde estão os outros?
Rony – Carlinhos está na Romênia, como você sabe, Gui tinha uma reunião importante no Gringotes e Percy... Você imagina ele saindo mais cedo do trabalho algum dia, seja por qual motivo for?
Harry sorri por um minuto e logo fica sério. – Vocês querem conversar... Imagino que seja sobre a Gina...
Fred – Exatamente...
Jorge – Depois que você voltou, fizemos uma reunião em família onde foi cogitada a hipótese de estuporarmos você por ter engravidado a nossa irmãzinha com apenas dezesseis anos, aí nós decidimos ter essa conversinha.
Harry – Eu sei que eu fui... Nós dois fomos irresponsáveis. Mas havia toda uma situação... Nós éramos muito jovens e havia a guerra... Não sei direito o que ocorreu; quer dizer eu lembro de algumas coisas, mas outras ainda estão confusas. Então podemos deixar essa parte pra quando eu me lembrar de tudo vocês não acham?
Rony – Nesse ponto você tem razão. Mas você pegou pesado cara, ela era uma menina. (olha pra Harry e dá um pequeno suspiro). Como você falou, essa é uma conversa pra quando você tiver recuperado completamente a memória.
Mas tem outra coisinha... (Os gêmeos falam praticamente ao mesmo tempo)
Harry (olhando para os três) – Então...
Fred – O Rony falou que vocês estão juntos novamente
Jorge – E que minha irmã, sabe-se lá como, convenceu meus pais a deixar que você se mudasse para o quarto dela.
Harry – É verdade. (Olha para os dois). Eu ainda não me lembro de tudo, mas quero deixar uma coisa bem clara. Mesmo sem me lembrar direito dela, no primeiro momento que a vi, a minha primeira sensação foi de que ela era importante pra mim. Eu gosto dela. E nunca faria nada que a magoasse.
Rony (meio sem jeito) – Você era... É... Sempre foi meu melhor amigo, cara. Mas ela é minha irmã... Minha irmã caçula...
Harry – Eu entendo. Mas eu realmente gosto dela, nunca iria magoá-la, já disse.
Rony – Todo mundo aqui ta cansado de saber que você gosta dela. Você ficou super mal quando terminaram. A nossa preocupação é com relação a sua memória. Você deve ter consciência que algo terrível aconteceu durante a guerra. Nosso medo é que quando você se lembre isso acabe atingindo a ela e aos garotos de alguma forma
Harry olha para os três e não fala nada. Ele evita pensar nesse assunto, mas no fundo sente o mesmo receio
XXXXX
Alguns dias depois, Harry e Gina estão novamente no hospital. Harry vai tomar a terceira dose da poção. A cada dia que passa ele se torna mais parecido com o antigo Harry Potter.
No entanto, Harry sabe que falta muita coisa. Suas lembranças são todas de momentos felizes.
Medi-bruxo (entregando a poção a Harry) – Como eu falei da outra vez a dose agora é mais forte ainda. Pelo que eu estou percebendo as lembranças mais fortes e dolorosas ainda não vieram. Agora é que seu tratamento começa realmente podemos dizer assim. Você vai ter sonhos mais freqüentes. Ou pesadelos. Não sei. Talvez fosse melhor você ficar aqui. Você já passou por muita coisa, desde criança. Provavelmente as lembranças não serão bonitas.
Harry – É talvez seja melhor...
Gina – Nem pensar. Quero que você fique conosco
Harry – Ruiva... Eu não quero que você veja certas coisas. Eu não sei direito o que aconteceu comigo, mas pelos sonhos que eu tive já deu pra perceber que são terríveis. Estou querendo poupar você e as crianças
Gina fala categórica – Eu não quero ser poupada! Se você ficar, eu fico.
Harry dá um suspiro e toma a poção. Diabo de ruiva teimosa. Pensa antes de cair em sono profundo...
XXXXX
Gina permanece velando seu sono. A ruiva pediu para a mãe buscar os gêmeos na escola e colocá-los na cama caso ela não apareça. Gina sabe que a dose desta vez é mais forte e que talvez eles não retornem hoje.
Ela passa algum tempo acariciando os cabelos revoltos e, como o sono de Harry está tranqüilo, levanta-se e vai até a janela.
Quem diria que finalmente eu iria encontrá-lo. Não que tivesse perdido as esperanças um dia. Mas ela tinha consciência que quanto mais o tempo passava mais difícil se tornava a sua busca.
Até que não foi tão difícil convencê-lo pensa sorrindo. Mas... E se ele não quisesse vir? Ela treme só em pensar. Acho que o enfeitiçaria, estuporaria, usaria a impérius se fosse preciso. Faria qualquer coisa pra ele voltar comigo. Não o deixaria naquela ilha nem morta, eu vi bem o jeito que aquela nativa olhava pra ele.
Ele está se lembrando... Já se lembrou de muita coisa. Mais um pouco e ele será o meu Harry de sempre.
Ela chega perto de Harry. Nota que ele balbucia palavras sem nexo.
XXXXX
Harry está num lugar sombrio. Úmido e sombrio. A névoa dificulta a sua visão. Mas ele sabe quem está a sua espreita. Harry sabe o que tem que fazer... Ele sabe que tem que prosseguir
Algo impede que ele vá adiante. Várias imagens passam por sua cabeça. Cedrico, Sirius Dumbledore, seus pais... Ele ouve uma voz dizer ao longe. Sua culpa Harry! Sua culpa! Você não conseguiu salva-los! Quantos mais morrerão? Ele está estático... Sem saber o que fazer
XXXXX
Harry (dormindo) – Minha culpa... Tudo minha culpa...
Gina vê que ele fica cada vez mais agitado. Seu rosto está banhado de suor e Harry balbucia palavras sem nexo. Desta vez está pior pensa. Será que eu devo chamar o medi-bruxo? Mas eu não quero deixá-lo...
Ela se inclina para enxugar o suor de Harry quando sente algo apertar seu pescoço.
Harry acorda sobressaltado e se vê com as mãos no pescoço de Gina. O que eu estou fazendo? Ele vê o pânico nos olhos da ruiva
Ela vê o remorso e o arrependimento nos olhos dele. Harry a abraça desesperadamente
Harry – Desculpe... Me perdoe
Gina – Não era você... Vai ficar tudo bem...
Eles permanecem abraçados por um longo tempo. O coração de ambos batendo descompassadamente
O medi-bruxo entra. Logo ele percebe que há algo errado – O que aconteceu?
Harry (ainda abraçado a Gina) – Eu... Eu a ataquei enquanto eu dormia. Não sei direito o que aconteceu. Senti um vulto em minha direção e quando eu vi estava com minhas mãos no pescoço dela.
Medi-bruxo – As lembranças estão ficando mais intensas. Seria bom que você ficasse aqui
Gina – Não. Eu posso cuidar dele.
Harry – E se acontecer de novo?
Gina – Não vai acontecer... Em parte foi minha culpa também. Você estava tendo um pesadelo. Eu fiquei perto demais. Você estava sonhando, não sabia que era eu. Eu vou tomar mais cuidado. (para o medi-bruxo) Ele pode ficar em casa, não pode?
Medi-bruxo – Na verdade agora só o que temos a fazer é esperar os efeitos da poção. Seria aconselhável ele ficar aqui por uns dois dias justamente para evitar o que aconteceu agora. Pense senhorita Weasley, se isso acontece perto de um dos seus filhos?
Harry – É melhor eu ficar por aqui, pelo menos por essa noite. A Camy tem mania de me acordar... (para de falar horrorizado mediante a idéia de atacar um dos filhos sem querer)
Gina olha para o medi-bruxo e para Harry sem falar nada. O medi-bruxo continua. – Apenas por um ou dois dias. Até passar o período mais perigoso.
Gina – Um dia e não se fala mais nisso
Harry sorri concordando. Gina continua – E eu vou ficar aqui
Harry revira os olhos – Adiantaria eu dizer que não?
Gina o beija – Você sabe que não. Vou avisar minha mãe e dar um beijo nas crianças
Harry – Dê um beijo nelas por mim.
Harry e o medi-bruxo ficam sozinhos
Harry – Você acha que é possível que eu machuque alguém?
Medi-bruxo – É difícil, mas não é impossível. Mas fique tranquilo, aqui no hospital iremos monitorar seus sonhos
Harry olha para o medi-bruxo e não fala nada.
Gina retorna
Harry – Foi rápida!
Gina – Só o tempo de falar com minha mãe e com as crianças (dá um beijo nele). Elas mandaram
Harry – Até o Andy?
Gina sorri – Nosso garoto não é tão dado quanto a irmã. Mas depois que ele é conquistado...
Harry olha pra Gina – Eu estava mexendo naquelas coisas minhas que você me deu e achei uma chave...
Gina – É a chave do seu cofre no Gringotes. Contém o dinheiro que você herdou de seus pais e de...
Harry – Sirius...
Gina assente com a cabeça – Você se lembrou?
Harry – Meus pais... Cedrico... Sirius... Dumbledore... Todos mortos! Por minha causa
Gina – Você...
Harry – Sim. Eu me lembrei... Eu vi no meu sonho. Todos me olhavam. Me culpavam...
Gina – Não é verdade...
Harry parece falar consigo mesmo – E depois... Senti que alguém estava prestes a me atacar. Os olhos... Olhos de fogo... Olhos de serpente
Gina – E você me atacou...
Harry não fala nada e abraça Gina. Os dois permanecem abraçados por algum tempo. Em silêncio, cada um perdido em seus próprios pensamentos.
Harry quebra o devaneio. – Ruiva...
Gina vira-se e olha pra ele Harry continua – Você falou que aquela chave é do meu cofre... Você sabe que esse dinheiro é seu também. Seu e dos meninos.
Gina levanta-se – Pode ir parando. Eu não toquei e nem vou tocar naquele dinheiro
Harry levanta-se também – Eu sei que você não tocou. Eu te conheço sua orgulhosa. Mas deveria ter tocado. Tenho certeza que você precisou. E os meninos também... (tenta passar a mão no rosto dela)
Gina afasta-se – Escuta aqui senhor Potter, nem eu nem os meus filhos nunca passamos necessidades!
Harry a abraça. Gina tenta desvencilhar-se, mas ele a aperta nos braços – Calma ruiva. Eu sei que nem você nem NOSSOS filhos nunca passaram necessidades. Mas a vida de vocês poderia ter sido mais fácil...
Gina olha pra ele com lágrimas nos olhos. – Eu nunca usei. Porque usá-lo seria admitir que você estivesse morto. Eu nunca poderia...
Harry – Agora eu estou aqui... E vai ficar tudo bem...
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Uma semana depois Harry, Gina e os gêmeos estão na casa que Rony e Hermione estão construindo. O casamento se aproxima e eles querem deixar tudo em ordem.
A casa é de tamanho médio. Não fica muito longe da toca e possui um bonito jardim
Harry – É perfeito. Perfeita para uma família.
Gina olha pra ele numa compreensão muda e sorri marotamente – Eu falei para os meus pais que se eles tivessem algum problema em você se mudar pro meu quarto a gente acharia um lugar...
Harry – Você teve coragem?
Gina – Me cortou o coração ver a cara da minha mãe. Mas eu faço qualquer coisa pra ficar com você.
Harry – Ia ser legal ter uma casa só nossa... Me casar com você...
Gina – Você esta me pedindo em casamento?
Harry – Quando isso tudo acabar... Quando eu souber de tudo que aconteceu... (olha pra ela) por quê? Você não quer?
Gina – Seu bobo! Claro que eu quero! Eu sempre fui casada com você. Sempre me senti assim.
Antes que Harry possa falar alguma coisa eles vêem um clarão. Ambos correm para o jardim onde as crianças estavam brincando. Eles vêem Andy desacordado no chão.
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