O Mesmo De Antes
O garoto olhou uma última vez para a casa e virou-se. Sentiu o cheiro da noite lhe invadir as narinas e fechou os olhos por alguns instantes, com a intenção de guardar aquela lembrança para sempre na sua mente.
Olhou para a lua, a única luz que iluminava o local e deixou os olhos rolarem pelas casas, sem olhar realmente para nada.
Suspirou algumas vezes e ergueu a varinha, para logo depois ver um grande e barulhento ônibus aparecer na sua frente. Um homem, de no máximo 20 anos, apareceu, abrindo a porta do ônibus roxo e lhe saudou.
- Eu carrego suas malas. – disse o jovem sorridente, levando as malas de Sirius para dentro do Noitebus.
Ele seguiu o homem e não olhou mais para trás, tomando aquele ato como uma atitude que ele se lembraria para sempre. Nunca mais voltaria àquele lugar.
Mas, se tivesse olhado para trás, talvez teria visto uma silhueta de mulher observando aquela cena. Uma silhueta fraca, devido a pouca luz, em uma janela distante, em um quarto da mesma casa que ele deixara para sempre.
O homem acordou agitado e sentia o corpo suado. Abriu os olhos rapidamente e amaldiçoou mentalmente o sonho de uma noite que há tanto tempo acontecera.
Sentou-se na cama e tirou o lençol branco que o cobria e o prevenia do calor inexistente. Levantou-se e foi até um espelho, com uma moldura de bronze, e olhou para a imagem pálida refletida na superfície.
- Você precisa dormir mais. – disse Sirius para si mesmo.
Algumas olheiras marcavam o seu rosto bonito e sua palidez parecia ter se acentuado. Havia passado algumas noites sem dormir, devido ao trabalho e a algumas festas que comparecera. Mas, ainda sim, não deixava de ser um homem bonito e atraente.
Com os seus vinte e poucos anos conservava um ar jovial, mesmo que quem o conhecesse melhor percebesse uma aura pesada ao seu redor. Um corpo magro e forte e cabelos um pouco acima dos ombros.
Mas o que chamava atenção de todos, e principalmente das mulheres, era seu charme interminável. O incansável desejo de atrair a todos, sem limites. Muitas vezes desesperador e obsessivo.
Passou as mãos vagamente pelos cabelos e dirigiu-se a um pequeno guarda roupa que ficava em um canto do quarto. O abriu e tirou uma roupa preta, junto com uma capa também preta.
Enquanto se vestia olhou para um pequeno relógio de bolso e viu que não passavam das três da madrugada. Deveria se apressar.
E apressou-se, já que alguns minutos mais tardes já se encontrava em um sujo e escuro beco, há alguns kilometros de sua casa.
Acendeu seu cigarro e tragou uma vez. A luz do cigarro era a única coisa que iluminava o local, o deixando quase que completamente na escuridão.
Esperou mais alguns instantes até que viu uma pequena luz, vinda de uma varinha, se aproximar. Aguardou, com uma de suas mãos dentro do bolso da capa, segurando sua varinha, pronto para algum possível combate.
Só quando pôde ver o rosto do estranho que relaxou um pouco e sorriu sarcasticamente, voltando a fumar seu cigarro.
- Vocês mulheres deveriam aprender a chegar no horário certo. – comentou Sirius vagamente.
Ela tirou o capuz que cobria seu rosto e o encarou por alguns instantes com desdém. Deixou com que os longos cabelos negros cobrissem seu rosto, como um véu, antes de colocar algumas mechas para trás da orelha.
- E você deveria deixar de tanto papo fiado. – retrucou a mulher.
Ele acompanhou o movimento dos lábios dela e desviou o olhar para os seus olhos, sorrindo e fazendo pouco caso.
- Espero que tenha o que eu quero. – falou Sirius diretamente.
- Tenho. Espero que você também tenha. – ela colocou a mão no bolso e tirou um pequeno envelope. – Antes, é claro: com quantos anos você deu o primeiro beijo?
Ele sorriu e revirou os olhos. Odiava ter que responder perguntas idiotas apenas para ela ter certeza de que era ele e não alguém tentando se passar pelo informante.
- Aos 10 anos. Foi com você, caso você não se lembre, Bella. – respondeu ironicamente.
Ela deixou com que um pequeno sorriso nascesse no canto da sua boca e o olhou divertida.
- Eu nunca esqueceria, caro Sirius. – disse a morena.
- Ótimo. – ele tragou uma ultima vez e jogou o cigarro no chão, pisando nele logo em seguida. – Agora vamos deixar de papo fiado.
Ela observou por alguns instantes o fogo do toco de cigarro se apagar e depois voltou a encará-lo.
- Tenho o seu pagamento aqui. – ela ergueu o envelope que havia tirado do bolso. – Estou esperando a sua informação.
- Então vamos ao que interessa. – começou o homem.
Ele, que anteriormente estava escorado na parede, começou a andar. Deu alguns passos para a direita, se distanciando dela e logo depois voltou a aproximar-se.
- Eles descobriram a sede em Picadillys Circus. Vão tentar uma invasão na terça. – falou ele depois de mais alguns passos.
Bellatrix ficou alguns segundos em silêncio, olhando para o homem desconfiadamente. Abriu a boca algumas vezes, tentando dizer algo, o que foi inútil.
- Essa é uma de nossas maiores sedes... – balbuciou Bellatrix.
Sirius balançou os ombros com desdém.
- Eu sou pago para dar informações, não soluções para os problemas de vocês. – disse ele estendendo a mão.
Bellatrix, ainda contrariada, lhe deu o envelope, com o seu pagamento. Ele o pegou e abriu o envelope, conferindo se o dinheiro estava de acordo com o combinado.
- Ótimo. – disse ele guardando o envelope em um bolso interno da capa.
- Eu espero que você esteja certo. Não gostaríamos de perder uma sede tão importante por culpa de um erro seu. – disse a mulher com um brilho ameaçador no olhar.
- Eu não costumo errar, deveria ter se acostumado com isso.
Ele deu alguns passos e parou na frente dela, acenando com a cabeça levemente e fingindo educação.
- Até a próxima. – disse vagamente.
- Até. – ela recolocou o capuz. – E não se esqueça: nós entramos em contato com você.
Ele fez um aceno positivo com a cabeça e voltou a andar, se afastando cada vez mais. Por fim tornou-se apenas um vulto, que logo desapareceu também.
A morena de pele pálida e corpo escultural suspirou. Se aquela informação estava certa, e ela tinha plena certeza de que estava, eles teriam problemas. Ela suspirou e, em um giro, sumiu no ar, aparatando.
Em pouquíssimos segundos estava surgindo no meio de uma grande sala. Um lugar com móveis antigos e bem cuidados, era iluminado apenas por uma luz vinda de uma lareira.
Ela se dirigiu até uma poltrona, que se encontrava virada para a lareira, e fez uma pequena reverencia, ajoelhando-se ao lado da poltrona logo depois.
- Milorde. – saudou a mulher com a cabeça abaixada, esperando a resposta do amo.
O homem sentado na cadeira virou-se para ela.
- Bella. – falou inexpressivamente, enquanto ela erguia a cabeça para encará-lo.
- Trago noticias alarmantes, Lord.
Voldemort levantou-se e dirigiu-se até a lareira, olhando para o fogo.
- O Black me informou de que os Homens de Dumbledore descobriram a nossa sede em Picadillys Circus. – disse Bellatrix rapidamente.
Voldemort a encarou rapidamente e suspirou. Bellatrix esperou, ainda ajoelhada, por alguma ordem do amo.
O observou por alguns instantes enquanto ele continuava quieto e pensativo.
Era um homem poderoso, que poderia destruí-la em um piscar de olhos, se quisesse. Mas não queria. Era uma ótima aliada, uma ótima Comensal, uma ótima ouvinte e a mais prestativa Comensal. Não era uma amiga, ele não tinha amigos.
Tinha um rosto ofídico e uma sombra de que um dia já havia sido bonito. Há alguns anos, quando Bellatrix se juntara aos Comensais, poderia dizer que o grande poder de persuasão combinado com a grande beleza de Voldemort que a atraíram para aquele mundo. Um homem incrível, com poderes que ela nunca sonharia em ter. E hoje ainda poderia dizer o mesmo, se não fosse pelo brilho muito mais ameaçador do que conquistador nos olhos Dele.
- Teremos que arranjar uma sede provisória. Avise a todos de que dentro de uma hora teremos uma reunião. – anunciou o homem.
- Sim senhor, Lord. – disse Bellatrix levantando-se.
- Black disse mais alguma coisa? – perguntou Voldemort a encarando penetrantemente.
Ela parou por alguns instantes e logo depois deixou um pequeno sorriso invadir seus lábios.
- Nada de útil, senhor.
Voldemort balançou a cabeça positivamente e ergueu o braço em direção à porta, mostrando a Bellatrix de que ela deveria ir.
- Com licença.
Ela saiu da sala e andou rapidamente pelo corredor. Passou por várias portas, que ficavam eternamente trancadas e que nem mesmo ela sabia para que serviam.
Não parou até que chegou à biblioteca.
- Rodolfo, Lucio. – falou Bellatrix entrando no local e saudando os homens que se encontravam sentados à uma mesa.
Rodolfo, que dizia alguma coisa a Lucio, calou-se no instante em que percebeu a presença da mulher e sorriu.
- Bella, achamos que demoraria mais.
- O Lorde das Trevas marcou uma reunião, para daqui uma hora. – anunciou a morena sem dirigir-se a ninguém em especial.
Rodolfo olhou de forma rabugenta para ela e pareceu não gostar do tratamento frio que ela lhe reservara.
- Estaremos lá. – respondeu Lucio.
- Ótimo. Vou avisar os outros. – disse ela se retirando do local.
* * *
O homem abriu a porta de sua sala e sorriu forçadamente para os companheiros.
- Sirius, já íamos mandar uma coruja. – disse Moody num resmungo.
- Desculpem-me a demora, perdi a hora. – falou enquanto dirigia-se para a sua mesa.
Ele tirou o casaco que vestia e colocou na cadeira em frente a sua mesa, encarando os colegas logo depois.
- Posso ajudar em alguma coisa?
- Problemas. – anunciou Alastor.
Sirius suspirou e sentou-se.
- O que, especificamente?
Ivan Smith pegou alguns papeis em sua mesa e se aproximou.
- Os aurores que estavam vigiando a sede de Você-Sabe-Quem nos mandaram uma coruja. Ao que tudo indica os Comensais se retiraram do local. – responde Smith seriamente.
Sirius tentou conter um pequeno sorriso irônico que surgiu em seu rosto e fingiu uma falsa preocupação. Moody o observou atentamente e o jovem disfarçou, tentando mostrar surpresa; não era surpresa para ninguém que Alastor Moody tinha um ótimo faro para mentiras.
- E o que vamos fazer? – perguntou ele.
- Continuar vigiando. Terça-feira verificamos o local. – o auror se afastou. – Eles não deixariam uma sede tão bem posicionada sem nenhum motivo.
Ele se aproximou da porta e tocou a maçaneta, quando Smith comentou, para desgosto de Sirius.
- Por nenhum motivo aparente, Moody.
Uma risada escapou pela boca do antigo auror e ele deixou a sala com um ar levemente misterioso e assustador.
- Às vezes ele chega a me assustar. – murmurou Sirius ironicamente.
- Ele sempre me assusta. – revelou o outro.
* * *
- Ora, ora, se não é o nosso sumido amigo Almofadinhas! – exclamou Tiago assim que viu o moreno entrando pela porta do bar.
Ele soltou sua típica risada que lembrava em muito um latido e aproximou-se dos amigos.
- Como sempre ele está atrasado. – disse Remo sorrindo e abrindo espaço na mesa para o amigo.
Ele se sentou e logo depois todos pediram uma rodada de cerveja amanteigada.
- Estou esperando. – disse Black depois de um tempo.
- Esperando o quê?
Ele balançou a cabeça, tirando os cabelos que caiam sobre os olhos do rosto.
- Esperando vocês dizerem que morreram de saudades do cachorro aqui. – disse convencidamente.
- Eu diria que as mulheres sentiram mais a sua falta, Almofadinhas. – retrucou Pedro sorrindo.
Sirius o encarou pensativo por alguns instantes.
- Depende da mulher. Quase todos os dias da semana têm uma na minha cama, caro Rabicho.
Tiago suspirou e virou-se para os amigos, ignorando a presença de Sirius ali.
- Ele pode até ter ficado por um longo tempo sem dar noticias. – começou. – Mas continua o mesmo metido de sempre.
Sirius abriu a boca para retrucar, quando Pedro lhe interrompeu, parecendo lembrar-se de alguma coisa importante.
- Sirius, você se lembra de uma garota em Hogwarts, uns 2 anos mais nova que nós? Seu nome é Alice. – perguntou entusiasmadamente.
- Eu conheço inúmeras Alices, Rabicho. – respondeu Sirius com desdém.
Remo revirou os olhos.
- De qualquer forma, ela perguntou sobre você. Parecia bastante animada com a idéia de te ver.
Sirius levou o copo quase vazio de cerveja amanteigada até os lábios e terminou com a bebida num gole curto.
- Eu realmente não me lembro dela. É bonita?
- Ela perguntou se você continuava o mesmo. – comentou Tiago ignorando a pergunta do outro.
Ele ergueu uma sobrancelha, com uma certa ironia.
- E o que vocês responderam?
- Que você continuava o mesmo, oras!
Ele pareceu se desanimar e fez sinal, pedindo outro copo de bebida.
- Vocês deveriam parar de mentir.
(N/A):
Capítulo meio curto, eu admito. Os próximos serão maiores, eu garanto.
Eu gostei do início do capítulo, mas achei o final meio fraquinho...enfim, comentem pra dizer o que acharam.
E obrigada por todos os comentários.
Beijos,
Lisi Black
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