ALGUNS SEGUNDOS
EM PRIMEIRO LUGAR, EU GOSTARIA DE ME DESCULPAR PELA DEMORA INSANA EM ATUALIZAR AS MINHAS FICS. TRABALHO E TRABALHO! MAS, AGORA ESTOU QUASE DE FÉRIAS E PROMETO QUE OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS DESTA FIC E DE “LEMBRANÇAS DO VELHO MALFOY” NÃO DEMORARÃO... MUITO!
OBRIGADO PELA COMPREENSÃO DE TODOS E ESPERO, É LÓGICO, MUITOS COMENTÁRIOS! NEM QUE SEJA PARA ME XINGAR!
OBRIGADO A TODOS OS LEITORES.
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O mês de março de 2.002 não foi dos melhores para o time dos Chudley Cannons. Invicto desde o seu retorno, os laranjas foram derrotados pelos Tornados e pelo União na retomada da Liga Inglesa. É verdade que ainda liderava o campeonato, mas agora tinha a proximidade incômoda das Harpias e dos próprios Tornados. A situação foi compensada pelas atuações sensacionais na Copa Européia, competição na qual o time vinha despontando como favorito.
É verdade também que Harry “Mergulho” Potter vinha sendo poupado para os jogos do selecionado inglês e não estava nada contente com isso.
- É absurdo me poupar dos jogos dos Cannons! – disse o craque do quadribol.
Aparentando indiferenças aos seus resmungos, Hermione o examinava com vários instrumentos, alguns bem estranhos que soltavam silvos e chiados.
- Draco e Vera concordaram – disse a jovem, ainda concentrada nos seus instrumentos de medicina mágica – Os outros jogadores também.
- Lógico que Apolo Cole concorda! – desabafou Harry – Ele pode jogar no meu lugar e mais uma vez pedir aumento ao Draco.
- Harry, eu já disse para você que os seus ossos estão demorando mais do que o normal para se recuperarem – repreendeu-o a amiga – Draco, Gina e o treinador White concordamos que você é essencial para a seleção da Inglaterra. Se você não fosse tão teimoso para se alimentar...
- Mione, a Gina me obriga a comer mais do que eu suporto. E não podemos ir até a Residência Ministerial, que Molly obriga aqueles elfos me encher de comida! Eu vou ficar uma baleia!
Hermione riu da rabugice do amigo. Os pais de Gina moravam agora na residência oficial do Ministro da Magia da Grã Bretanha em Londres, onde elfos domésticos (devidamente remunerados, uma vez que o Ministro vinha insistindo na libertação dos pequenos seres que assim o desejassem e fazia questão de dar o exemplo aos demais bruxos) continuavam a adorar Harry, a quem eles chamavam de “Muito Bondoso e amável Mestre Potter” e a quem não negariam qualquer coisa, ainda mais quando a sua patroa deixava claro que o genro deveria se alimentar direito. E como era fácil de comprovar vendo a silhueta do jogador, ele estava longe, muito longe, de se tornar “uma baleia”.
- Você precisa urgentemente ganhar peso e alguma musculatura – explicou Hermione – Por isso as seções de ginástica e musculação.
Harry adorava sua amiga Hermione. Inclusive recebera com alegria a informação de que seria o padrinho do filho dela e de Rony que nasceria no final daquele ano. Mas achava que ela levava a sério demais as suas atribuições à frente dos Cannons e dos selecionado inglês. Dell Walker, o afetado, mas competente preparador físico, também do clube e da seleção, submetia os jogadores a treinos físicos às vezes extenuantes. Tinha que admitir, entretanto, que a condição física do time laranja era melhor do que a maioria dos adversários e era a equipe com menos casos de contusão na Liga.
A rotina que Walker e Hermione impuseram para ele, no entanto, o deixava maluco. Acordava cedo, comia um grande (na opinião de Harry, exagerado) café da manhã, com Gina fiscalizando-o de perto. Corria em volta do Parque dos Magos, o condomínio que morava, depois tomava poções para fortalecer a musculatura e a estrutura óssea, e seguia com a rotina de refeições fartas, breves períodos de descanso, exercícios, fiscalizados pelo preparador, e mais poções. Era enlouquecedor!
Quando estava em casa, Rony e Mione apareciam a todo instante para visitá-lo (eram vizinhos), mas Harry tinha quase certeza de que estavam vigiando-o. E pouco subia numa vassoura. Hermione só permitiu treinos com vassouras quando se aproximou a nova convocação para os novos jogos contra Chipre (em Puddlemere, no campo do União) e para a aguardada revanche contra a Alemanha em Heildelberg, no estádio do lendário time dos Gaviões, equipe mais popular daquele país.
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Jerry White, treinador inglês, acabara de anunciar a convocação do selecionado britânico. Convocara os mesmos atletas que haviam jogado em fevereiro contra a Alemanha e a Noruega, titulares e reservas.
- Potter realmente pode jogar? – era a pergunta mais freqüente.
Depois da euforia em torno do garoto sensação do quadribol inglês, a sua contusão, no entanto, além da ausência do jogo contra a Noruega, ressuscitou os velhos rumores sobre a saúde do Eleito. Os mais exagerados e ansiosos por espalhar boatos extravagantes juravam que Harry estava amaldiçoado desde a guerra contra Voldemort e com os dias contados. Outros afirmavam que ele não possuía condições físicas para jogar a Copa Mundial a ser realizada em agosto daquele ano nos Estados Unidos.
E sempre havia Dan Carter para dizer e escrever que Harry não passava de um garoto mimado, que estava apenas valorizando sua convocação.
- Carter, eu já afirmei que não responderia qualquer pergunta sua – disse calmamente o treinador inglês quando o jornalista lançou essa insinuação a respeito do seu apanhador titular.
Milos Roberts, presidente da Federação Inglesa acenou para uma jornalista do Profeta Esportivo, ignorando Carter, que continuava querendo provocar o treinador.
- Por que Harry Potter não tem atuado pelo seu time e nem aparecido em público? – perguntou uma jovem bruxa de óculos, que tinha um ar astuto – É verdade que ele tem sido mantido sedado pela Doutora Weasley com poções e só será acordado para a partida contra a Alemanha?
- Certamente que não! – afirmou White, mal segurando o riso – Provavelmente ele quer, com todo respeito, distância desse tipo de bobagens de vocês da imprensa.
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- Eu bem que falei que iriam inventar bobagens a seu respeito se você ficasse se escondendo – disse Rony para o amigo Harry. Os dois, mais as respectivas esposas, assistiam na casa do ruivo a entrevista coletiva, que era transmitida ao vivo pela TV Bruxa.
- Francamente! – afirmou Hermione indignada – “Ficar sedado até o jogo contra a Alemanha”! O que eles pensam que eu sou? Uma cientista louca? Só falta me acusarem de colocar pernas biônicas no Harry!
- Pernas o que? – perguntaram Rony e Gina ao mesmo tempo.
- Ah, deixa pra lá! – disse irritada a jovem Sra. Weasley.
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- Você está mesmo bem, Potter? – perguntou novamente a jornalista que queria saber se o apanhador titular da seleção inglesa permaneceria sedado até o jogo contra a Alemanha.
Todos os demais jogadores da Inglaterra já haviam passado pela bateria de perguntas dos jornalistas. Como todos sabiam que Harry Potter seria o mais requisitado, haviam deixado a sua entrevista coletiva por último. Do seu lado estavam Hermione e o treinador White.
- Eu estou muito bem – respondeu Harry, não pela primeira vez – A Doutora Weasley apenas julgou sensato que eu fosse poupado por algum tempo depois das fraturas múltiplas que eu sofri no jogo contra a Alemanha. E... – adiantou-se Harry à pergunta da jornalista – Não fiquei desacordado à base de poções e nem estou amaldiçoado – acrescentou de bom humor.
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Como apenas a palavra do Eleito não parecia ser suficiente, um grande número de jornalistas e torcedores acharam por bem acompanhar o treino que o selecionado realizaria naquela tarde. E não se arrependeram de acompanhá-lo!
Diferentemente do clima de histeria em torno de Harry, Gina e Rony que marcou as partidas do elenco inglês em Chudley, os torcedores de Puddlemere, cidade que hospedava o time que era um tradicional rival dos Cannons, recebeeram com frieza os atletas dos times rivais. Apenas os batedores Thompson e Wilson, que defendiam a equipe local, foram ovacionados na entrada do campo.
White a princípio orientou um treino dos batedores voando e acertando os balaços. O público aplaudiu e assobiou quando um balaço arremessado por Thompson passou zunindo próximo de Harry, que realizava um vôo de aquecimento.
- Foi mal, Potter – desculpou-se o batedor da equipe local, mas com um sorrisinho no rosto redondo e imenso que não deixava dúvidas sobre o fato de ter sido o arremesso totalmente proposital.
Rony, que voava próximo mostrou-lhe o dedo médio e lhe deu uma ou duas sugestões sobre o uso do bastão de batedor, sendo vaiado pelos torcedores.
- Dá pra acreditar nesses caras? – perguntou Rony, olhando mal humorado para alguns torcedores que faziam caretas para ele. E o ruivo devolvia com gestos obscenos.
A hostilidade em relação aos rivais do União, entretanto diminuiu consideravelmente quando começou o treino dos artilheiros e Gina arremessou quatro bombas em seguida, todas entrando nos aros apesar dos esforços da goleira reserva Imelda Price. E haveria ainda, no final do treino, o show de Harry.
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No momento em que White preparava-se para soltar o pomo de ouro, para treinar os reflexos e a forma do apanhador titular, Draco Malfoy, acompanhado dos irmãos Nebseys, agora incorporados à sua segurança particular, além do robusto Goyle, fazia a sua entrada triunfal. Indiferente aos apupos dos torcedores, o presidente dos Cannons sorriu para as câmeras mágicas e acenou feliz para o campo, onde Harry preparava-se para perseguir o pomo.
Foi tão rápido que poucos notaram. Segundos depois de levantar vôo, o apanhador retornava ao chão com o pomo seguro na sua mão direita.
- Nossa, Potter! Você está lento hoje, hein? – caçoou Draco, para o espanto dos torcedores.
- Aquele não é um pomo de verdade! – afirmou um velhote vestido com uma velha camisa do time da casa.
- Aposto que qualquer um apanha aquele pomo – desdenhou um jovem mal encarado, com o rosto cheio de espinhas.
Como o último comentário foi feito num tom de voz perfeitamente audível do campo de jogo, Harry, com um sorriso malicioso, soltou o pomo na direção dos espectadores que duvidaram do seu talento.
O homem idoso, o rapaz, duas moças também com roupas do União e mais alguns jornalistas tentaram apanhar a bolinha dourada, que passou rapidamente por todos, reaparecendo novamente no campo e subindo na direção dos aros numa velocidade impressionante. Quando ela fez uma curva na direção ao meio do campo, Harry, de novo montado em sua vassoura, alçou vôo e a agarrou. Sem alternativa, a torcida lhe concedeu pela primeira vez generosos aplausos.
Mais duas vezes o pomo foi solto e apanhado pelo ex-grifinório em pouco tempo, não deixando dúvidas sobre a sua forma. Foram capturas espetaculares. O apanhador estava com fome de jogo! Foi ovacionado e teve o seu nome gritado em coro pelos torcedores.
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- White deveria impedir jornalistas e torcedores de assistir o treino – afirmou Toni M’Bea. Era a primeira vez que o africano criticava abertamente o treinador inglês.
O batedor ugandense estava em Puddlemere para comentar o jogo para a “Wizard Sports” dos Estados Unidos e aproveitou para conversar com os amigos após os treinos. Ao contrário dos demais jogadores dos Cannons, M’Bea era querido pelos torcedores locais, pois havia jogado no time antes da guerra. A todo instante tinha que responder aos acenos e aos insistentes pedidos de autógrafos.
- Toni, você seria um grande treinador – sugeriu Draco Malfoy. Não era a primeira vez que alguém sugeria algo desse tipo ao africano.
- Não, por enquanto estou contente em ser apenas jogador e comentarista nas horas vagas – retrucou o batedor um tanto sem jeito – Mas o Jerry deveria impedir torcedores idiotas de incomodar os jogadores. E aquele Thompson então... eu colocaria esse cara na linha!
- Ah, mas você viu a cara deles depois das apanhadas do Harry? – perguntou Rony, feliz da vida, às voltas com um copo gigantesco de suco de abóbora
- Talvez isso não seja suficiente – disse Draco de maneira sombria.
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Não havia sido apenas para provocar os torcedores do União que o loiro rumara para Puddlemere, local do jogo entre Inglaterra e Chipre. Não que a seleção cipriota colocasse medo em alguém. Em quatro jogos obtivera três derrotas e um empate. O empate fora obtido com aquele arremedo de time inglês, sem Harry, Rony, Gina e Angelina. Em condições normais, Draco não levaria a sério as informações preocupantes. Mas seu informante, Demetrio Vasilykus, não deveria ser ignorado. Principalmente porque o grego era muito bem relacionado com bruxos maléficos e demais malfeitores, tanto do mundo mágico quanto do mundo trouxa.
Draco contou para os amigos a conversa com o Senhor Vasilykus:
- Alguém está pagando uma pequena fortuna para machucar o Harry – disse o presidente dos Cannons, aparentando uma genuína preocupação.
- Isso não pode ser boato para intimidar o nosso apanhador? – perguntou Rony
- Acredite, Weasley, meu informante é dos bons – retrucou Draco – E boatos são coisas que as pessoas comentam por aí. Essa é uma informação confidencial. E, infelizmente, merece crédito.
- E o time deles tem de volta o Kasciokus – constatou Toni.
- Marko Kasciokus? – surpreenderam-se Rony, Gina e Harry.
Marko Kasciokus, trinta e oito anos, era de longe o jogador mais famoso nascido no Chipre. Só que o batedor cipriota era famoso pelos motivos errados. Um dos jogadores mais desleais do quadribol europeu e talvez recordista de suspensões. Havia jogado por vários times medianos da Europa Central, sempre arrumando encrencas e tumultos por onde passava. Era muito bom em machucar apanhadores e artilheiros. Uma versão masculina de Vamp Shapiro (1).
- Pensei que ele estava aposentado – disse Gina, estreitando-se ao esposo, como se estivesse pronta para defendê-lo do batedor sanguinário.
- O cara andou pela Coréia e pela Nova Zelândia – explicou Toni – O que é quase uma aposentadoria. Mas dizem que Chipre teve os dois batedores principais machucados depois do jogo contra a Alemanha e eles não tinham mais ninguém para convocar.
- Pois é – suspirou Draco – E vocês nem imaginam quem andou pelo exterior, teoricamente a negócios...
- Não me diga que foi Eden Perfumo – disse Rony, antes dos demais.
- Tudo bem, Weasley – caçoou o loiro – Eu não digo se você não quiser.
- Aquele... – E Rony adicionou ao nome e sobrenome do presidente dos Falcões vários adjetivos bem poucos lisonjeiros.
- Rony! – indignou-se Hermione – Mas, isso é absurdo! – indignou-se mais ainda a curandeira – Esse adorador das trevas vai pagar alguém para ferir o Harry!
- Ah, Mione – disse Harry despreocupado – Eu não tenho medo.
- Mas você deveria – repreendeu-o Toni – Se existe alguém que sabe jogar sujo e poderia machucar seriamente um jogador se estivesse a fim é esse tal de Kasciokus.
- Pense bem, Harry – disse Malfoy – O cara já está em fim de carreira. Seria um ótimo final machucar você e ainda receber uma recompensa do Perfumo por isso.
- Harry, embora você esteja bem melhor, uma contusão séria agora poderia prejudicar a sua ida para a Copa Mundial caso a Inglaterra se classifique – explicou Hermione com sabedoria de sempre, e cada vez mais inteirada do mundo do quadribol.
- Eu não vou deixar de jogar porque um batedor idiota foi pago pra me destruir! – teimou o apanhador.
- Malditos grifinórios com mania de herói! – praguejou Draco entre dentes.
Mas M’Bea lançou a Gina e Draco um daqueles seus olhares significativos, que na verdade queriam dizer “deixem comigo”. Harry, obcecado pela idéia de jogar de qualquer maneira, não havia reparado. Mas Hermione, Gina e Rony perceberam e ficaram um pouco mais tranqüilos. Conheciam bem o seu amigo Toni.
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Como comentarista da TV Bruxa e escrevendo matérias para o “Wizard Sports”, o ugandese Toni M’Bea tinha acesso a todos os locais dos jogos e também às concentrações dos selecionados. Popular e simpático, não havia jogador, dirigente ou treinador que não se dispusesse a lhe dar uma entrevista. As suas conversas com atletas das seleções dos países adversários da Inglaterra vinham aumentando a audiência matutina e noturna da televisão dos bruxos no Reino Unido. O programa chamava-se “Entrevista com Mr. África”, que ia ao ar nesses dias que antecediam as partidas eliminatórias, na hora do almoço, e eram reprisadas no horário nobre.
Encarando o encontro com M’Bea como mais um compromisso corriqueiro, Marko Kasciokus, o batedor cipriota, não estranhou de ter na sua frente, no hotel bruxo no qual a sua equipe estava hospedada, o famoso capitão do badalado time dos Chudley Cannons. Estranhou, contudo, que Draco Malfoy estivesse junto com ele, mas como supôs que o presidente dos Cannons e o africano fossem amigos inseparáveis, sentou-se despreocupadamente num reservado do bar do hotel, praticamente vazio naquele horário. Toni havia marcado com ele uma breve entrevista que iria ao ar no dia seguinte, véspera da partida contra a Inglaterra.
O cipriota era um homem de estatura mediana, bastante encorpado, mas como era comum em alguns homens particularmente musculosos, uma certa gordura já era visível em volta da cintura, uma vez que usava uma camiseta trouxa justa e não as vestes normalmente folgadas de quadribol, ainda usuais em algumas partes da Europa. Draco notou que ele tinha um aspecto desagradável e fazia muita força para parecer simpático aos telespectadores, com seu inglês precário, durante os minutos que durou a gravação da entrevista.
Quando o cinegrafista da emissora retirou-se e o jogador se preparava para sair, certo que o encontro havia terminado, M’Bea acenou pedindo que ele ficasse mais alguns instantes, pois queria falar-lhe. Kasciokus estranhou, mas manteve-se no lugar, olhando desconfiado para o africano e para o loiro, e pedindo aos gritos, num inglês ruim, uma bebida.
- Quanto Perfumo lhe ofereceu para quebrar o meu sócio? – perguntou Draco sem rodeios.
Toni tinha que reconhecer o sangue frio do jogador de Chipre. Apenas os seus olhos se moveram de maneira alerta. Seu corpo, entretanto, continuou relaxado. Manteve-se em silêncio até que um elfo uniformizado trouxe a bebida pedida. Tomou um gole curto, levando o copo à boca com a sua imensa mão, que não demonstrava nenhum tremor. Mas era evidente que havia sido surpreendido pela pergunta do presidente dos Cannons.
- Você vai me oferecer mais do que Perfumo me ofereceu? – perguntou por fim sem nenhuma cerimônia – Digo, para não arrebentar o Potter.
Toni avaliou rapidamente o batedor. Era evidentemente um jogador. E um pilantra profissional. E já havia passado por alguma situação semelhante. Se os dois sabiam do seu acordo com Perfumo seria inútil negá-lo. No curto período em que havia ficado em silêncio estivera raciocinando. Havia percebido que não adiantava blefar. Falaria a verdade e ainda tentaria alguma vantagem com ela.
- O Bar Kocimatus em Atenas lhe diz alguma coisa? – perguntou o africano. A voz de barítono quase sussurrando, mas ainda assim ameaçadora.
- Não há prova nenhuma... – tentou se defender. O cipriota agora havia perdido aquele ar de jogador de pôquer esperto. Estava realmente com medo.
Draco disfarçou a surpresa. Do que diabos os dois bruxos estavam falando?
- Você acha mesmo que o Sr. Malfoy aqui – Toni apontou um dos seus dedos grandes para o loiro – o procuraria sem um trunfo? Acorde, cara! Ele é filho de Lucio Malfoy! Você acha que o velho Lucio não deixou, nas suas voltinhas pela Europa, um monte de provas pra usar contra gente como você? Ele tem umas fotos bem bonitinhas onde você está bem visível no meio de alguns Comensais da Morte muito populares.
- A Federação Internacional dos Bruxos ainda anda atrás de Comensais da Morte... – disse Draco, entendendo o blefe – Você iria para Azkaban ou para alguma prisão cipriota mais rápido do que poderia dizer “Lorde das Trevas”.
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- Não acredito que vocês chantagearam o Kasciokus! – disse Harry na mesa do café da manhã.
A seleção inglesa realizaria dali a pouco o último treino antes da partida. Draco e Toni estavam reunidos com os Potter e o jovem casal Weasley numa mesa longe dos olhos e ouvidos curiosos.
- Não sei se concordo com isso... – ponderou o apanhador titular da Inglaterra.
- Bem, não foi muito honesto, mas... – ia dizendo Hermione.
- E seria honesto o cara aleijar o Harry? – perguntou Draco indignado
- Tenho que concordar com o Malfoy, Mione – afirmou Rony, que ainda não gostava muito de concordar com o loiro – Esses caras são do mal. Não se pode lidar com essa gente mandando convites para um duelo justo ou...
- Ameaçando tirar pontos de sua casa! – completou Draco, fazendo a mesa toda cair na risada.
Enquanto alguns jornalistas e outros jogadores ingleses olhavam divertidos e curiosos para aquela mesa de café da manhã tão alegre, Draco, baixando a voz, perguntou para Toni:
- Me explica melhor aquele negócio do bar que você mencionou pro Kasciokus.
E o africano explicou:
Toni havia tomado, horas antes da reunião com Kasciokus, uma chave de portal até a Grécia, e procurado Teddy Takinopoulos, capitão do selecionado grego e conhecido de longa data do africano. Teddy, uma das pessoas mais decentes que ele conhecia, que odiava bruxos das trevas e todos os seus asseclas, revelara algumas coisas interessantes a respeito do batedor cipriota, que havia atuado também na Liga Grega.
Embora nunca tivesse sido reconhecido como Comensal da Morte, Kasciokus nutria algumas simpatias pelo lado das trevas. Fora visto algumas vezes no bar Kocimatus de Atenas, numa parte da capital grega que era uma espécie de Travessa do Tranco local, e onde a alguns anos atrás Comensais ingleses e de outros países reuniam-se com bruxos das trevas locais. O batedor, após a queda de Voldemort, como muitos outros bruxos europeus simpatizantes das trevas, negara de maneira veemente qualquer ligação com os Comensais da Morte, mas se alguém procurasse bem, talvez fosse possível encontrar testemunhas de seus encontros suspeitos naquele estabelecimento mais suspeito ainda.
Certamente, se fosse no Reino Unido o sujeito estaria encrencado, mas naquela parte da Europa os bruxos das trevas não causaram tanto transtorno a ponto de justificar uma investigação mais exaustiva. O que não significava, contudo que, comprovada alguma ligação com figuras suspeitas , o Sr. Kasciokus estivesse livre de problemas. Uma coisa era a fama de malvado no quadribol, que rendia um bom marketing em alguns países onde o jogo não era muito técnico e valia qualquer coisa para encher um estádio. Outra bem diferente seria a fama de simpatizante do lado das trevas, fato que traria problemas muito sérios e talvez até uma boa temporada em alguma assustadora prisão bruxa.
Irritado com a frieza do cipriota, que admitira descaradamente ter recebido galeões para machucar seu amigo, M’Bea improvisara o blefe. Não havia foto alguma de Kasciokus no bar mencionado, embora desconfiasse que não seria muito difícil encontrar alguém que o tenha visto no estabelecimento de Andreas Kocimatus, um notório seguidor de Voldemort, que felizmente apodrecia atualmente em alguma prisão bruxa grega.
- Ele realmente se apavorou quando Toni mencionou o bar – constatou Draco satisfeito.
- E nos contou tudo que queríamos saber – acrescentou Toni, orgulhoso da própria esperteza.
- Aquele monte de bosta de dragão do Perfumo ofereceu a ele dez mil galeões para acertar o Harry de jeito – explicou o loiro, mal contendo a irritação.
- E mais cinco mil se o Harry ficasse fora das próximas convocações da Inglaterra – disse o africano – Aquele desgraçado!
- Não acredito que ele tenha tanta raiva assim do Harry! – falou Gina, absolutamente indignada.
- Isso é doentio! – afirmou Hermione.
- Conheço Perfumo muito bem – ponderou o loiro – Não que ele não se divertiria machucando o Harry... Mas há mais coisas aí. Tenho certeza que ele se reporta a alguém.
- A algum psicótico que se julga filho de “você sabe quem” (2)... – constatou Rony sombriamente.
- Bom nós já discutimos este assunto longamente (3) – ponderou Malfoy – Temos segurança, temos o ministério do nosso lado dessa vez e principalmente, temos uns aos outros.
- É isso aí – concordou Rony, de maneira surpreendente pela segunda vez.
Não se sabe de quem foi a iniciativa do gesto. Mas todos os presentes na mesa colocaram as suas mãos, umas sobre as outras, num daqueles gestos típicos de equipes esportivas antes das partidas. Juntos eles realmente formavam uma grande equipe.
- Ei, acabei de pensar uma coisa! – disse Harry, quando já se preparava para se dirigir ao campo de treino – Na conversa com Kasciokus vocês não...
- Não, Harry – interrompeu-o Toni – Nós não ofenderíamos você, pressionando o cara para aliviar o jogo.
- É – concordou Draco – Apenas mandamos ele jogar dentro das regras. Ele ainda vai tentar te acertar. Mas não vai tentar de aleijar ou algo assim.
- Certo – concordou Harry com um grande sorriso – Mas eu não pretendo deixar que ele chegue perto do balaço. Pretendo acabar a partida bem rápido – disse o apanhador, soando misterioso.
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Harry entrou no mundo do quadribol profissional quase que por acaso aos dezoito anos, defendendo os Trasgos Diagonais, de quem os Cannons herdaram o posto na Liga Nacional, além da vaga na última Liga Britânica, vencida pela equipe laranja.
Convivendo com jogadores mais velhos, ouvira várias histórias malucas, algumas verdadeiras lendas, sobre os campos de quadribol ao redor da Europa. Falavam de fantasmas que sopravam o pomo em alguns estádios. Alemães juravam que no campo dos Gaviões havia um espírito agourento que paralisava os adversários. E havia uma história nunca comprovada a respeito do campo do União de Puddlemere. Dizia a lenda que o pomo de ouro, uma vez iniciada a partida, deslocava-se frequentemente para os aros à direita dos camarotes.
Mencionava-se um feitiço antigo feito pelo primeiro proprietário do time, que o realizou para deleite próprio e que ninguém havia conseguido anular, fazendo o pomo flutuar alguns segundos na direção do local em que ficava o seu camarote particular. Diziam, que já meio maluco, o velho proprietário ficava agitando os braços, como um maestro regendo a trajetória do pomo.
Embora a história parecesse levemente insana, Harry reparou, nos treinos, que o pomo realmente se deslocava com alguma frequência, no começo da partida, para os aros a direita dos camorotes principais. Durava apenas alguns poucos segundos. Talvez por isso ninguém houvesse conseguido até aquele momento uma captura muito rápida na casa do União.
- Agora, Gina! – disse o apanhador para a esposa.
A ruiva havia enfeitiçado um pomo de treino para que se deslocasse pelo quarto sempre para o mesmo lado. Depois de algumas tentativas, Harry, usando seus assombrosos reflexos, havia apanhado a bolinha dourada em alguns segundos. Treinavam escondidos no quarto de hotel que dividiam, pois não queriam alertar os adversários. Gina, preocupada com a história do batedor cipriota, faria qualquer coisa para ajudar o esposo a acabar a partida da maneira mais rápida possível.
- Quatro segundos! – disse a ruiva, bastante impressionada – Deve ser um recorde em jogo de seleções.
- Só que no campo eu estarei numa vassoura, cercado de jogadores e...
- E você vai se sair bem como sempre – interrompeu a ruiva, beijando o rapaz.
Ambos acharam que já era hora de encerrar o treino. Pelo menos aquele treino.
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Era um dia frio, mas ensolarado, e as arquibancadas, além dos lugares mais caros do estádio do União, estavam todos ocupados. Uma partida de estudantes de Hogwarts foi realizada para aquecer o público, que devorava avidamente bolos de caldeirão, feijõezinhos de todos os sabores e outras iguarias bruxas fartamente vendidas nas barraquinhas próximas do estádio e na lanchonete do mesmo. Milhares de chaves de portais haviam sido autorizadas pelo Ministério da Magia do Reino Unido para o transporte de bruxos de todas as partes do país e uma estação especial de lareiras havia sido montada nas imediações do estádio, que era escondido dos trouxas por vários feitiços de ilusão.
Após a execução dos hinos dos dois países, os cipriotas, de vestes verdes (o goleiro vestia azul) e os ingleses, de branco, à exceção de Rony, que para a revolta dos torcedores do União, trajava um uniforme totalmente laranja, cumprimentaram-se. Marko Kasciokus, entretanto, manteve-se longe de Harry. E Gina nem ao menos olhou na sua direção.
Os cipriotas eram, em sua maioria, ou veteranos demais ou jovens demais. Certamente não eram intimidantes como os alemães, por exemplo. A única garota do time era a sua jovem apanhadora, que cumprimentou Rony e Harry cheia de sorrisos. Gina fez uma nota mental de empurrá-la da vassoura na primeira oportunidade.
Mas não houve tempo para isso. Aliás, não houve tempo para absolutamente nada. A partida foi encerrada cinco segundos e seis décimos após o seu início.
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- BOM DIA, CAROS OUVINTES E TELESPECTADORES! – saudou Lino Jordan. Os auto-falantes mágicos do estádio reproduziriam a sua narração, assim como todo o Reino Unido e vários países de língua inglesa a acompanhariam pela Rádio Bruxa e TV Bruxa. Quando “A Voz”, entretanto, se preparava para anunciar os patrocinadores viu de relance que o jogo havia sido iniciado pelo juiz. Logo depois ouviu um apito.
- EU NÃO ACREDITO! – disse uma chocada Marla Donovan.
- O QUE ACONTECEU, MARLA? POR QUE O JUÍZ ESTÁ APITANDO? – perguntou Lino confuso.
- POTTER APANHOU O POMO! – disse a comentarista – POR MERLIN, ELE APANHOU O POMO COM MENOS DE SEIS SEGUNDOS DE JOGO!
Rony foi o primeiro a perceber. Os cipriotas ainda tentavam arrumar a melhor posição para perseguir a goles, quando surpreso, mas com reflexos rápidos, o juiz português Arthur Coimbra apitou o fim do jogo. O ruivo voou ligeiro para abraçar o amigo, enquanto os demais jogadores de ambos os times olhavam-se confusos. Mas não havia dúvidas. O pomo de ouro brilhava na mão direita de Harry Potter. Demorou bem mais do que seis segundos para o público perceber que o jogo havia acabado. Muitos ainda procuravam os seus lugares, quando, das cadeiras do alto, com melhor visão da partida, a ovação veio num crescendo, até explodir em todo o estádio.
Harry havia acabado de aterrissar e desmontar da vassoura. Em meio à pirâmide de abraços formada por sete jogadores, seu braço direito estava levantado e a bolinha dourada reluzia ao sol da tarde.
Espantados, Lino Jordan e Marla Donovan conferiram o cronômetro mágico de precisão absoluta. O pomo havia sido apanhado após cinco segundos e seis décimos. Recorde mundial em jogos de seleções nacionais.
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(1) A personagem mencionada aparece na fic “Quadribol”.
(2) Capítulos 7 e 8 de “Lembranças do Velho Malfoy”.
(3) Capítulo 9, a ser postado em breve de “Lembranças”.
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