Godric's Hollow



Godric’s Hollow era uma pequena vila, próxima a Little Hangleton. Apenas alguns quilômetros, porém, Harry teve de usar um meio de transporte. Não pôde ir de vassoura, pois estava carregando o seu malão de Hogwarts. Por isso, usou um outro método para chegar lá.
Resolveu aparatar. Havia usado esse meio antes para que ele e seu antigo diretor, Dumbledore, chegassem à Hogwarts, logo após apanharem o falso medalhão. Estava inseguro se iria funcionar ou não, pois não tinha feito o teste de aparatação, mas era o meio mais fácil – e mais seguro – de chegar à vila onde, antigamente, moravam seus pais.
Parou no meio da Rua dos Alfeneiros, observou se não tinha ninguém olhando. Ainda ouvia os berros do primo. E, com um giro, aparatou.
Uma sensação horrível perpassou pelo seu corpo. Logo, viu que tudo tinha parado de rodar. Continuou com os olhos fechados. Pensava que tinha dado errado, mas, quando abriu os olhos, estava enganado.
A primeira coisa que viu lhe fez imaginar um lugar em ruínas, mas parecia ser habitado. Em uma placa, lia-se:

Vila de Godric’s Hollow
Habitantes: 364

Harry endireitou os óculos para ler a placa, e atravessou um grande arco de mármore, para entrar na cidade.
Não escutava nada. Só o silêncio. Ouvia apenas a sua imaginação, que estava a mil por hora. Caminhava pela rua de paralelepipedos, escutando somente o bater de seu coração.
Mas, do seu lado, naquele exato instante, uma cobra passara por ele! Levara um grande susto. Pensava que era Nagini, mas não podia ser... Podia? Tinha de tomar cuidado. E todo cuidado era pouco...
Como não sabia onde seus pais moravam, entrou em um pub da cidade, para conseguir algumas informações.
O Phoenix’s Pub era um lugar sujo, porém muito freqüentado. Devia haver bem umas 50 pessoas lá, mas nenhuma que Harry conhecia. Ou pensava que não.
Foi ai que um homem bem mal vestido chegou para perto de Harry:
- Olá, meu jovem! – disse – Deseja alguma coisa?
- Hum... Olá. Sim, eu gostaria... – disse – Sirva-me um copo de vinho, por favor.
- OK – disse – Está de viajem?
Harry achou a pergunta do homem muito estranha. Lembrou-se do que Scrimgeour disse “Temos de prestar muita atenção nas pessoas em quem confiar, Sr. Potter”. Respondeu:
- Há alguma razão especial para o senhor querer saber?
O homem fez uma cara séria para Harry, mas, em seguida (para a surpresa de Harry), sorriu:
- Não está me reconhecendo, Harry? – perguntou, o sorriso estampado no rosto.
- Hum... Não. – ofegou - Quem é o senhor? – perguntou meio confuso.
- Sou eu, Harry! Tonks! – murmurou.
- Ton...? – exclamou Harry, mas Tonks interveio.
- Psiu! Não fale tão alto... – disse, colocando a mão na boca de Harry - Aqui não é seguro. Vamos lá para cima comigo.
Tonks levantou da cadeira:
- Ah, primeiro sua vinho! – disse, pegando um copo da mesa do pub. Fizera isso tão rápido, que acabara derramando tudo, e manchado sua roupa e as de Harry.
- Ah, meu Deus! – exclamou, baixinho – Desculpe!
Com um aceno, tirara a varinha do bolso da jeans, e murmurou: Evanesco! O vinho sumiu, inesperadamente, e Tonks – no caso, o homem – conjurou um copo de vinho bem na frente de Harry, escondido entre o casaco.
Harry olhou para a taça, e Tonks disse:
- Tudo bem, sou eu! Pode beber...
Harry olhou novamente para a taça. Levou-a na boca, e nada aconteceu.
Bebeu-a, e os dois subiram as escadas de um corredor próximo a onde estavam sentados.
- Você trabalha aqui? – perguntou Harry.
- Temporariamente – respondeu Tonks - Viemos resolver uns negócios aqui em Godric’s Hollow, e me ofereci para ajudar.
- Viemos? – perguntou Harry – Como assim?
- Já vai saber – respondeu Tonks, sorrindo para o garoto.
Entraram no quarto número 7. Era muito escuro, com apenas uma cama, cômoda e uma janela com cortinas cheias de poeira.
- Acho que aqui tá seguro – disse para Harry.
Inesperadamente, Tonks deu uma volta, e voltou ao normal. Estava com os cabelos roxos, e parecia um pouco alegre, porém mais exausta do que antes.
- E aí, beleza Harry? – perguntou, finalmente.
- Tudo sim. Mas... O que você está fazendo aqui? – indagou Harry.
- Depois que você disse que iria para Godric’s Hollow... – disse, mas foi interrompida.
- Viemos para cá para assegurar que você ficaria bem!
Um homem saiu das sombras do quarto. Também estava com uma aparência exausta, mas parecia o mesmo de sempre. Era...
- Lupin! – exclamou Harry.
- Acho que sim – respondeu Lupin, rindo.
- Mas, como...? – perguntou Harry.
- Rony... E Hermione – disse, por fim.
- Não faz muito tempo, eles mandaram uma coruja para nós – continuou Tonks – d’A Toca.
- Disse que não iria para Hogwarts – continuou Lupin muito sério – Que viria para cá atrás de "pistas".
- Não, resolvi voltar – disse – Recebi uma carta ontem a noite, dizendo que Hogwarts seria reaberta.
- Isso, nós sabíamos – disse Lupin, sentando-se na cama – Foi um dos trabalhos da Ordem da Fênix durante as férias...
- Ah, precisamos de sua autorização! – exclamou Tonks, indo se juntar a eles, na cama, e tropeçando nos próprios pés – AI! Tudo bem, tá tudo certo... Então, precisamos de sua autorização, para podermos utilizar o Largo Grimmauld como a sede, sabe. Sirius a deixou para você...
- Dumbledore já tinha me pedido - disse Harry, sentando-se na cama - Quando ele me buscou na rua dos Alfeneiros ano passado...
- Sim, mas ainda não tinhamos utilizado o Largo Grimmauld depois da morte do... Da morte do Sirius, e achamos melhor nós mesmos pedirmos sua autorização.
- Claro! – exclamou – Por que não? Mas... Com uma condição.
Eles ficaram em silêncio. Lupin e Tonks intrigados demais para perguntar.
- E qual seria? – perguntou Tonks.
- Queria saber se poderia participar da Ordem da Fênix sabe, de qualquer missão que envolva Voldemort... Poderia ajudar – acrescentou, esperançoso.
Um silêncio pairou sobre eles. Harry ficou imaginando se deixariam ou não. Mas eles não poderiam negar... Ele seria realmente útil.
- Você tem certeza? – perguntou Lupin – Porque é um trabalho realmente difícil, e muito arriscado... Poderia por em risco sua vida...
- E já não está em risco? – perguntou, indiferente.
Lupin pensou por um momento, e disse:
- OK, você pode nos ajudar – disse, dando um sorriso para o garoto – Vou conversar com os outros membros da Ordem. A próxima missão, você participa.
Harry ficara muito feliz . Seu maior sonho estava se realizando: participaria da Ordem da Fênix! Ajudaria a deter Voldemort, e isso não dispersaria por nada.
- Bem, voltando ao assunto... Você disse que veio até aqui atrás de "pistas". Mas... Que pistas, Harry – perguntou Tonks.
- Queria saber um pouco sobre meus pais – respondeu, rapidamente – O que aconteceu na noite em que eles... Sabe, morreram.
Logo depois de um tempo que pareceu a Harry horas, perguntou:
- Lupin, você sabe onde era a casa dos meus...
- Dos seus pais? – perguntou Lupin - Claro! Você gostaria de ir até lá? – perguntou.
- Sim. – respondeu Harry, na hora.
- Vamos, então! Você vem querida? – disse Lupin, referindo-se a Tonks.
- Não, tenho muito trabalho aqui no pub – disse.
E, sem mais nem menos, deu um giro pelo corpo e voltou a forma de homem maltrapilho como antes.
- Bem, desçam vocês primeiro. Irei logo atrás de vocês – disse – E não façam nada de anormal nas ruas, a não ser que seja muito importante. Essa vila é de trouxas, e não de bruxos.
Lupin batera a porta e descera as escadas. O pub estava um pouco mais vazio, porém, ainda havia muita gente.
Eles saíram pela porta de entrada e caminharam por entre as ruas de Godric’s Hollow.
- E ai, Harry... Problemas para chegar até aqui? – perguntou Lupin.
- Não – disse – Aparatei.
- E já tem a prática com aparatação? – perguntou.
- Hum... Confesso que não – disse Harry, rindo – Mas se deu para chegar até aqui...
- É... Lembro que na sua idade, tinha muitos problemas como esse, também... – disse – Enquanto seu pai, Tiago, era ótimo nisso.
E deu um sorriso para Harry.
- Ele era bom em tudo – confessou – O que mais irritava nele, segundo a sua mãe. Lílian não gostava muito do seu pai. Achava ele arrogante – e era – Até um dia que eles combinaram de sair em Hogsmeade. Isso no 7º ano deles em Hogwarts. Ela não conhecia bem seu pai. Era um homem bacana, o Tiago... Logo, terminaram a escola e, um tempo depois, recebi o convite de casamento! Logo que vi, não acreditei... Mas eles tinham tudo para dar certo... E deram! – acrescentou, virando uma esquina, próxima a uma praça – Aquele foi o dia mais feliz da vida de seu pai, e sei disso. Talvez, exceto, pelo dia em que você nasceu...
- Você estava lá? – perguntou curioso.
- Claro! Claro que estava, vi você nascer... – exclamou – E foi nessa mesma casa que acabamos de chegar.
Harry olhou para frente, mas não viu nada.
- Eu... Eu não estou vendo nada – disse confuso, á seu ex-professor.
- Não está vendo agora...
E tirou um papelzinho de dentro das vestes, onde estava escrito:

Casa dos Potter, Godric’s Hollow, número 7.

- Você já sabe, não é? – disse, olhando para Harry.
O garoto memorizou o papelzinho, e murmurou o que estava escrito.
Com um gesto com a varinha, Lupin ateou fogo no papelzinho e, entre as casas número 6 e 8, apareceu a casa de seus pais.
Era uma casa muito grande, em comparação com as outras a seu redor. Tinha um amplo jardim, e três andares...
- Siga-me – disse Lupin.
Harry o seguiu para dentro da casa, mais a porta estava trancada.
- Alohomora! – murmurou Harry.
A porta se abriu, revelando uma grande sala de estar . Estava muito empoeirada, e estava claro que não entravam ali havia anos... Haviam dois sofás grandes, porém cobertos pelo mofo. Quadros e quadros de bruxos desconhecidos, porém pode ver uma cópia da foto que Moody lhe mostrara anos atrás da Ordem da Fênix antiga, dos "Marotos", Lílian e Tiago, de Harry... Na lareira, cinzas e cinzas, mas pode ver um saquinho de pó que reconheceu imediatamente como pó de flu. Haviam duas grandes janelas, de frente para a praça da cidade. No centro dela, um enorme chafariz jorrava água para todos os lados.
Havia muita coisa para olhar, mas o que tinham que se preocupar começava na cena da tragédia...
Lupin o levou para cima, onde entraram em um quarto. Estava decorado com coisas de bebê: provavelmente, o antigo quarto de Harry.
- Foi aqui que Voldemort tentou...
- Me matar. E que matou minha mãe – disse, com muita tristeza – Veja.
E mostrou que a porta de seu quarto fora arrombada. Tinha uma lembrança que mostrava a porta sendo arrombada, e Voldemort matando sua mãe, com uma risada fria e cruel.
- Sim... – observou Lupin – Ele a arrombou.
- Será que aqui há alguma coisa que vai...
- Ajudar-nos?
- É – concordou.
- Não tenho tanta certeza... – disse – Mas não custa procurar... Harry, eu procuro lá embaixo, enquanto você vasculha os quartos... OK?
- OK.
Lupin se fora. Harry estava sozinho no seu antigo quarto. Começou olhando o guarda-roupa. Havia muitas roupinhas que, antigamente, foram suas. Brinquedos...
Observou sua cômoda. Havia uma foto dele e de seus pais... Como sentia sua falta. Queria que estivessem sempre ali, com ele...
Foi ai que viu algo que chamou sua atenção: um bilhete. Não havia remetente, mas logo que abriu, identificou a caligrafia de Sirius:

Caro Pontas,
Estou indo para ai, para comemorarmos o Dia das Bruxas com a Lílian e com o Harry. Como andam as coisas entre vocês? Espero que tudo esteja bem...
Um grande abraço do amigo,
Sirius.
PS: Irei trazer Aluado e Rabicho comigo, OK?
Londres, 30 de Outubro de 1981.

Uma carta de seu padrinho, para seu pai? Quer dizer que...
- E ai, Harry? Achou alguma coisa?
Era Lupin.
- Ahm... Lupin, você nunca me disse que veio aqui quando meus pais morreram – disse.
Mostrou para ele a carta, e ele a leu.
Lupin fez uma cara muito triste, e disse:
- Harry... Iria te contar...
- Mas você não me contou... – continuou.
- Me desculpe Harry... Eu te conto agora, se quiser... – disse.
- Eu quero – disse, com firmeza.
– Claro que quer... – disse – Chegamos eu, Rabicho e seu padrinho no Dia das Bruxas, por volta de umas 6 da tarde. Quando chegamos, Sirius tirou esse mesmo papelzinho de suas vestes (Sirius era o fiel do segredo dos Potter). Na hora, Rabicho parecia muito interessado nisso... Bem, que seja. Passamos lá, festejamos... Foi ai que Sirius convenceu Tiago e Lílian a fazer com que Rabicho se tornar o fiel de seu segredo.
Por volta de umas 10 horas, fomos embora. Sirius nos deixou (eu e Rabicho) em casa, e foi para a dele. Naquela mesma noite de Dia das Bruxas, Rabicho entregou Lílian e Tiago à Voldemort, que deve ter chegado à sua casa lá pela meia-noite, não tenho certeza... Logo, recebemos a notícia que seus pais faleceram, e que você sobrevivera... Mesmo sendo um garotinho. Quando ele percebeu, foi encontrar Rabicho na casa de seus pais, mas não estava lá. Encontrou Hagrid, que estava retirando você da casa para entregar aos seus tios. Até emprestou a sua moto, para chegarem sãos e salvos à Little Whinging.
E o procurou a noite inteira. No dia seguinte, encontrou-o não muito longe dali. Parecia muito assustado, e, quando seu padrinho o acusou de ter entregado o segredo dos seus pais, ele ocasionou um tipo de explosão, que matou 13 trouxas que passavam por ali. Cortou o próprio dedo, e se transfigurou para rato. Tudo para incriminar Sirius de ter feito tudo aquilo. Rabicho fugiu. Muito depois ficamos todos sabendo da verdade... Ainda hoje há muitos que não acreditam na inocência de Sirius, mesmo depois de sua morte.
Falar sobre seus pais e Sirius deixava um aperto no coração de Harry.
- Eu realmente sinto muito, Harry – disse Lupin – mas, não há nada de tão revelador nisso.
- Não... Não tem problema... – disse Harry – E você, encontrou algo?
- Creio que sim – disse – Siga-me.
O coração de Harry palpitava... O que será que Lupin encontrara?
Ele o levou para a porta dos fundos da casa. Lá, também havia um amplo jardim, porém, embaixo de um carvalho, havia dois túmulos.
O coração de Harry deu uma batida muito forte: era o túmulo de seus pais!
Lá, estava escrito:

Lílian e Tiago Potter
1959 – 1981
“Para a mente bem estruturada, a morte é apenas uma grande aventura seguinte.”

Logo, lembrou-se da frase de Dumbledore, que ouvira no seu primeiro ano em Hogwarts.
Encontrara o túmulo de seus pais... E não havia mais nada de importante na casa. Nunca se perguntara onde estariam os corpos de seus pais, nunca teve grande interesse em saber... Mas ali estavam, bem diante dele. O sol ia se pondo atrás das colinas que haviam atrás da cidade, e, quando Harry percebeu, estava com os olhos marejados em lágrimas...
- Tinha me esquecido completamente disso – disse Lupin, com os olhos marejados – Um tempo depois, viemos todos enterrar seus pais. Menos Sirius... Estava em Azkaban. E eu acabei virando o fiel do segredo... Se bem que não é tão importante agora que eles... Que eles morreram – disse, com uma única lagrima caindo de seus olhos.
Harry sentiu uma grande tristeza lembrar-se do padrinho e de seus pais. Queria que estivessem ali, com ele. Daria tudo por isso...
Depois de mais uma boa olhada, sem se falarem por um tempo, não encontraram mais nada na casa. Ou passaram despercebido por algo...
Saíram dela, que voltou a se esconder entre os números 6 e 8.
Eram quase 7 da noite. Sairam da casa, o chafariz fazendo barulho pela água sendo jorrada para fora. De repente, parou. A água, que outrora saia abundantemente, agora não saia mais. Nas ruas, nenhum sinal de vida. A não ser uma sobra, que se aproximava cada vez mais deles. Harry não destingiu quem poderia ser, pois a neblina tomara conta do lugar. A sombra caminhava lentamente entre eles, até que puderam ver quem era. Viram alguém que jamais esperariam ver tão cedo...

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