O anjo :)
Quando, finalmente, os primeiros raios de sol apareceram pela janela do dormitório feminino do sétimo ano, ela resolveu se levantar. Não conseguiu dormir a noite inteira, ficou encarando a lua.
Tão bonita naquela noite. Qualquer pessoa que a visse poderia ficar observando por horas, admirando sua beleza... mas ela não. Encarava a lua como se fosse sua maior inimiga. E era.
Como uma coisa tão bonita podia fazer mal as pessoas? Por quê? Era o que Mel Jones se perguntava todos os dias do mês em que a lua era cheia. E ao mesmo tempo em que culpava aquela lua por não ser feliz por completo, implorava.
Implorava num pedido silencioso pra que a lua iluminasse o caminho dele todas as noites, pra que ela não o fizesse sofrer tanto, pra que ela o protegesse mesmo o condenando quando, no pôr-do-sol, aparecia.
Só que não tem asas iaiá
Oh meu Deus
Quando asas tiver
Passe lá em casa
Olhou pela janela e viu que a lua havia sumido e dado lugar ao sol. O sol que Mel tanto amava era esse, o do final da lua cheia, o que trazia paz e esperança pra ela e pra ele.
Agradeceu ao sol por espantar a lua, sabia que ela ainda se encontrava ali, escondida em algum lugar, mas amedrontada pela luz dele, não sairia tão cedo. E mesmo quando saísse, não seria a mesma, ela estaria diminuindo e só voltaria com aquela força no próximo mês.
Foi ao banheiro. Tomou banho, se trocou e desceu para o café da manhã. Suas amigas de quarto ainda estavam ferradas no sono, era domingo, não precisavam acordar cedo, mas Mel nem sequer dormira...
Após o café foi aos jardins. Era aonde eles se encontravam em todos os dias que sucediam a semana de lua cheia, era cedo. Como sempre, ela chegou antes. Todas as noites de lua cheia ela não conseguia dormir.
Só que não tem asas iaiá
Oh meu Deus
Quando asas tiver
Passe lá em casa
Queria poder amenizar a dor dele, poder passar essa dor pra ela mesma, só pra que ele não a sentisse, não agüentava ver a pessoa que ela mais amava daquele jeito.
Observou as flores que nasciam perto do lago naquele começo de primavera. Estava uma manhã linda, a mais linda desde o começo da estação. Os pássaros já voavam e já se podia notar as ondas causadas pela Lula Gigante no lago.
Sentou-se no chão e passou a observar uma flor em especial. Um lírio. Era totalmente branco e esbanjava beleza até na sua simplicidade, assim como Remus...
Riu. Era incrível como tudo a levava a pensar nele. Suspirou e pensou em tudo o que já passaram desde o momento que ele resolveu aceitar ser feliz.
Pras estrelas eu vou te levar
Com a ajuda da brisa do mar
Te mostrar onde ir
Conhecia Remus Lupin desde o primeiro ano de Hogwarts. Sempre o achou especial, era diferente. O modo como ele ficava bravo quando seus amigos aprontavam, como ele ficava preocupado com estudos, o modo com lia todos os finais de dia na Sala Comunal...
E conforme eles cresceram o que ela sentia por ele cresceu ainda mais. O que era apenas afinidade, amizade entre crianças, virou paixão, amor...
Ela tentava chegar perto, demonstrar o que sentia e o que sabia que ele sentia também por ela, dava pra ver em seus olhos, dava pra sentir quando eles conversavam, mas ele sempre fugia.
Mel sabia o porquê, dava pra perceber suas razões. Merlin! Só um tolo não perceberia que Remus não tinha uma avó que ficava doente todos os meses, durante uma semana.
Apresento-lhe a lua e o Sol
E no céu vai ter mais um farol
Que é a luz do teu olhar
Era um lobisomem. E ele próprio se culpava por isso. Não era culpa dele!
Remus era a pessoa que Mel conhecia que menos merecia ter uma vida dessas. Ele é tão amigo, carinhoso, sincero... Não era justo!
E ele continuava fugindo dela. Dizia que não a merecia, que não podia fazer isso com ela, que podia ser perigoso. Ela sabia o porquê, sempre soube, mas perguntou.
E ele disse, confidenciou esse segredo que até então não tinha contado a ninguém, seus amigos só sabiam porque, como Mel, tinham descoberto por conta própria.
Ainda não tenho casa iaiá
Oh meu Deus se um dia eu tiver
Visto minhas asas
Não importava! Nada importava pra ela, o amor que tinha era maior que isso tudo.
Depois de dois longos anos ele cedeu. Disse que não agüentava vê-la sofrer do jeito que sofria sem ele. Não agüentava viver tão perto, mas ao mesmo tempo tão longe dela.
Eram felizes agora. A lua, felizmente, não conseguiu acabar com eles.
Passou seus dedos delicadamente pela flor sentindo sua maciez. Fechou os olhos e deitou na grama, sentiu os raios de sol a atingirem enquanto esperava...
Pras estrelas eu vou te levar
Com a ajuda da brisa do mar
Te mostrar onde ir
Remus chegou ao jardim assim que saiu da Ala Hospitalar. A enfermeira cuidou de seus poucos ferimentos e o dispensou, estava ansioso, queria vê-la, precisava.
Como sempre, Mel já estava lá. Se permitiu ficar a observando e segurou a vontade de ir até ela e sentir sua pele tão macia outra vez.
Merlin! Estava linda! Bom, ela é linda. Os raios de sol iluminavam seu rosto que mostrava que seus pensamentos estavam longe. A viu sorrir, não pode conter seu próprio sorriso diante do ato da menina.
O vento fraco da manhã balançava levemente seus cabelos morenos, que estavam dourados refletindo no sol. Dava pra ver parcialmente seus olhos verdes brilhando ao observar a flor, como se fosse a coisa mais certa pra fazer naquele momento.
Apresento-lhe a lua e o Sol
E no céu vai ter mais um farol
Que é a luz do teu olhar
Era linda como a flor que agora acariciava tão delicadamente como se tivesse medo que quebrasse. As duas vestiam branco naquela manhã. O lírio e a Mel, a pessoa que mais amava na vida. Porém a flor nem chegava aos seus pés. Não era linda o bastante, não era delicada o bastante...
Viu a menina fechar os olhos e se deitar na grama, parecia um anjo...
O seu anjo.
O anjo que o dava forças todas as noites, aquelas noites de sofrimento, de angustia, de medo.
Só que não tem asas iaiá
Oh meu Deus
Quando asas tiver
Passe lá em casa
Chegou perto em passos lentos, não queria que ela percebesse, queria observá-la mais de perto. Parecia tranqüila e tinha um pequeno sorriso nos lábios. Queria continuar assim pro resto da vida, mas precisava ver o brilho do seu olhar, era seu combustível.
Acariciou seu rosto levemente e a viu abrir seus olhos. Foi como se a noite virasse dia. Sorriu pra ela, que devolveu o sorriso o abraçando forte, passando todas as suas forças pra ele, sabia que ele precisava disso.
- Oh, Merlin! Remus, você está bem? – começou a passar suas mãos em todos os lugares, procurando algo de imperfeito, de errado. – Machucou em algum lugar? Merlin! Você tá pálido! Diz que comeu algo antes de vir! Remus, você precisa se alimentar bem pra...
- Calma, Mel. Estou bem, melhor impossível agora que estou com você. – ele segurou as mãos dela e as entrelaçou com as suas, carinhosamente a olhando como se fosse uma jóia, uma raridade. – Você não imagina a saudade que senti...
Só que não tem asas iaiá
Oh meu Deus
Quando asas tiver
Passe lá em casa
- Ora, aposto que foi menor que a que eu senti por você! – disse ela, dando um leve beijo nos lábios do garoto, que sorriu e voltou a encarar suas íris verdes, agora brilhavam ainda mais, intensamente.
- Impossível! – disse dessa vez a puxando pra um verdadeiro beijo, o que ambos ansiavam. Suas bocas tinham um encaixe perfeito, suas línguas dançavam num ritmo só deles. Mel tinha seus braços em volta do pescoço de Remus e fazia carinho em sua nuca, o puxava mais pra perto, com medo de perdê-lo de novo.
Ele passava suas mãos pelas costas dela. O mundo tinha acabado e eram só eles. Não precisavam de mais nada pra serem felizes. O cheiro dela o entorpecia, viciava. Estava embriagado por todas as sensações que a menina proporcionava apenas ao tocá-lo. Ele era dela, do seu anjo...
Pras estrelas eu vou te levar
Com a ajuda da brisa do mar
Te mostrar onde ir
Mel parou o beijo com um gemido de reclamação de Remus. Riu e deu um pequeno selinho nele, esperou que ele abrisse os olhos e enquanto ele não o fazia, ela o observou.
Estava pálido e tinha olheiras. Tinha aparência cansada, mas mesmo assim ele era perfeito. Sorria. Seus dentes perfeitos compunham um sorriso que ela sabia que o menino só dirigia a ela. Ele abriu os olhos, fazendo Mel o admirar ainda mais. Lindo. Seus olhos eram caramelo, mas apesar do brilho feliz que emitiam, a menina notou o cansaço de Remus neles, acariciou o rosto do rapaz de um jeito preocupado...
- Remus... você precisa descansar. Sabe-se lá o que você passou durante essas noites, os perigos que correu...
Apresento-lhe a lua e o Sol
E no céu vai ter mais um farol
Que é a luz do teu olhar...
- Mel... – disse ele com os dedos pousando nos lábios da menina delicadamente. – eu só posso me sentir bem quando estou perto de você. Pensar em você é o me dá forças à noite. Pensar que o sol vai trazer a possibilidade de te ver de novo, de te sentir de novo.
“Não corro perigos. Seus olhos me guiam nas noites mais escuras, iluminando meu caminho. Meu amor por você é o que me protege, o que me fortifica, o que me dá esperanças... Mel, você é a minha vida, o meu anjo...”
Remus olhou nos olhos de Mel, que agora se encontravam molhados. Ele enxugou uma lágrima que desceu pela bochecha da menina, sorriu. Ela fez o mesmo. Ele continuou...
- E todas as noites eu fico esperando e esperando, e sonhando em ver seu sorriso outra vez. Quando sorri, você me aquece, causa sensações que eu nunca tive em toda minha vida, só seu sorriso me faz sorrir, só seu sorriso me faz feliz... Ah, Mel, eu te amo tanto! Amo cada parte de você! Amo você, meu anjo... Pra sempre!
Ela o abraçou e ficaram ali, por horas... dias... por toda a eternidade! Juntos, como um só: Remus e seu anjo...
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