Prólogo



Ele entrou no saguão. Era uma cena cinzenta. O grande saguão tinha pisos de lajota e paredes de concreto. O teto era tão alto que não se podia enxergar. Centenas de pessoas, crianças, adultos, idosos, estavam dispostos espalhados pela sala, todos de pé. Seus rostos não tinham expressão. Tudo parecia meio empoeirado e o único barulho que se ouvia eram os passos apressados da pessoa que adentrava o saguão, aparentemente sem se perturbar com a cena. Com certeza já estivera ali. Trazia em suas mãos uma abóbora esculpida, como as de dia das bruxas. Foi até o centro da sala onde havia uma espécie de pilar, e depositou a abóbora em cima. Olhou para o pulso e puxou um dos botões da manga do smoking, dizendo, em alto e bom som, para o nada.
- Ativada. Pronta para a liberação do Saguão A.
E então, ele saiu apressadamente da sala cinzenta e sem vida, deixando lá a abóbora colorida e luminosa.
Passados alguns instantes, voltou, dessa vez sem nada nas mãos. Andou rapidamente até o pilar no centro da sala, e então começou a se apalpar.
- Droga, onde eu coloquei?
Percebeu algo pequeno no bolso interno do smoking, e, enfiando a mão nele, retirou um dado branco.
Tirou a “tampa” da abóbora, que obviamente estava oca e colocou-a no chão. Logo depois, levou a mão esquerda, enluvada, até os olhos e os tapou. Pôs a mão direita, também enluvada, mas contendo o dado, sobre a abóbora aberta e chacoalhou a mão, deixando enfim o dado cair na abóbora. Antes de tirar a mão dos olhos, disse:
- Sorte... – E então sorriu.
Saiu do saguão e fechou a porta, deixando mais uma vez a sala cinzenta silenciosa como um túmulo.

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