Vitórias e Derrotas
Tiago mal tinha dormido, seus olhos pesados não tinham conseguido se fechar a noite inteira. Aquela seria a manhã de um dos jogos mais importantes do campeonato: ele enfrentaria a Sonserina que, depois da Grifinória, tinha o melhor time.
Tiago vestiu-se com o lindo uniforme vermelho e dourado, arrepiou seu cabelo (já havia desistido de penteá-lo há muito tempo), e foi para o vestiário. Como ele era o capitão, se pôs a dar instruções e a incentivar seus colegas a darem seu máximo naquela partida:
- Eu quero que vocês trabalhem duro, joguem como se fosse a última coisa que farão na vida! Vamos mostrar àqueles sonserinos metidos o que é quadribol de verdade!
Após essas palavras, o time inteiro se animou, e postou-se para a entrada no campo. Sob mais gritos do que vaias, eles se puseram a voar, Tiago apertou a mão do capitão adversário brevemente, e voou para bem alto, já procurando pela pequena bolinha dourada.
O jogo começou e, como já era esperado, os balaços fortes e quase certeiros começaram a voar. Tiago, que já tinha se esquivado de dois e que por muito pouco não fora derrubado da vassoura, passou a voar com mais rapidez, para desviar de acidentes. Sua casa acabara de marcar um gol, fazendo 10 a 0, e sem piedade alguma Tiago viu sua melhor artilheira indo de encontro ao chão devido a um balaço direto na cabeça. Agora, mais que nunca, ele queria encontrar o pomo de uma vez, acabar com toda aquela expectativa e cessar com as lesões que seu time estava sofrendo.
Voando agora mais tranqüilamente, tentou concentrar-se no seu objetivo, mas isso era quase impossível quando se tinha Lílian Evans para conquistar. Henrique Stiller, o apanhador forte e grosseiro da sonserina, parecia meio atordoado, pairava na vassoura e não fixava o olhar em nada. Tiago procurava incansavelmente pelo pomo, mas nada encontrava. De repente, ao desviar de um balaço seu olhar parou sobre a arquibancada de sua casa, mais especificamente sobre uma garota, sobre a cabeleira de sua amada. Era um milagre ela ter ido à um jogo, sempre ficava no castelo, mas não naquele dia: ela tinha ido ao campo, estava ali bem na sua frente, linda como sempre. Mas, subitamente, seus olhos brilhantes e esperançosos encontram a minúscula bolinha dourada. Mais que depressa Tiago pôs-se a voar em direção ao pomo, a bolinha ia em direção à arquibancada onde Lílian se encontrava, ela começou a subir, subir, e quando se deu-se de conta já estava sendo seguido pelo apanhador adversário. Tiago, já com o braço estendido, aumentou a velocidade e, em uma manobra incrível, afastou-se de Henrique, deu um giro no ar e instintivamente agarrou o pomo.
A maior parte dos espectadores começou a gritar, festejar, cantar. Quando pousou, o garoto se viu diante de muitos abraços e gritos, ergueu o pomo no alto de seus braços e foi ainda mais aplaudido. Juntou-se ao resto do time e rumaram para o vestiário. De lá foram direto à sala comunal onde certamente estaria ocorrendo uma grande festa.
Chegando ao salão, em meio de festejos, Tiago só tinha olhos para uma pessoa. Não conseguia parar de mirá-la e de desejar falar com ela. Desligando-se de todo o resto ele correu em sua direção. Não sabia o que ia dizer, não sabia o que sentir, o que fazer. Estava tomado por uma alegria surreal. Ao se aproximar, escorou-se na janela, ao lado da garota, e sem prever ou planejar começou a lhe falar:
- Lilly! Te vi no estádio, que bom que foste, não sabes o quanto fiquei feliz ao te ver!
- Oi Tiago, ahh, bom... resolvi ir hoje, mas não vá se acostumando com a minha presença...
- Ah vamos Lilly, você bem que se divertiu, não? Gostou da minha performance hoje? Joguei pra você sabia? – disse todo empolgado.
- É? Bom, jogaste muito bem, como de “praxe” não? Mas, ahmmm, não tinhas coisa melhor por quem jogar? – falou parecendo triste e desanimada.
- Ah, não seja burra! Não existe ninguém melhor para quem jogar, Lilly! Vamos Lilly, sabes que eu te amo, e que faria de tudo por você. Sabes que estou disposto a fazer qualquer coisa para te ter, não?
- Tiago, pare com isso! Nós dois sabemos que o que você sente e quer comigo não é amor! Eu sou só mais uma na sua lista, somente um desafio... bem, talvez o maior deles...
- Não Lilly, o meu desafio é aprender a te amar, meu desafio é poder te merecer. – disse com um ar um tanto quanto romântico.
- Ah, pare Tiago, chega desse lenga-lenga, até mais.
E então, ele viu aquela longa cabeleira ruiva virar-se e tomar a direção do dormitório feminino. Desolado, e agora desanimado, foi à procura de Sirius, mas ao ver o amigo se divertindo e já se engraçando para uma sextanista desistiu, e resolveu sair da comemoração. Passou pelo buraco do retrato sem ao menos olhar para os lados, sem dar a mínima bola para os comentários do jogo.
Rumou para a torre de astronomia, e ao chegar lá e deparar-se com aquela privilegiada visão pôs-se a pensar. Lilly, não podia odiá-lo tanto assim, ele fazia de tudo por ela, não conseguia imaginar o que estava errado, o que tinha de tão errado com ele que a fazia reagir daquela maneira. Agora, olhava para o céu, mirava a estrelas, e no brilho da lua tentava encontrar as respostas. As únicas palavras que vinham à sua mente eram: um dia ela será minha, perseverando, ela vai enxergar que eu a amo.
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