Capítulo 19



CAPÍTULO 19:

Coma

- E O QUE MERLIN ISSO QUER DIZER, HERMIONE?

- Ginny, se acalme! – ouviu ao longe a voz do pai.

- EU NÃO VOU ME ACALMAR – levantou da cadeira e bateu com as mãos na mesa – EU QUERO SABER O QUE SIGNIFICA ISSO!

- Bem... – a cunhada se mostrava assustada, mas ao mesmo tempo resignada com atitude da ruiva – O que ocorre é que com a falta de oxigenação o cérebro de Matt...

Não deixou a cunhada terminar a frase. O consultório foi varrido por uma corrente de ar, apesar de a janela estar fechada.

- HERMIONE, DANE-SE ESSES SEUS TERMOS DE CURANDEIRISMO – a mesa sofreu uma nova pancada, dessa vez mais forte e estrondosa – O QUE EU QUERO SABER É SE MEU FILHO VAI FICAR BEM OU NÃO!

Viu que a morena desviou os olhos dos seus e esse simples gesto significou tudo para Ginny. De repente o furor a abandonou, só restavam a dor e o desespero. Num incrível contraste, sua voz agora saiu baixa.

- Por favor, Mione, por favor.... Diga que ele vai ficar bem! Diz que o meu garotinho vai voltar pra mim.

Sentiu que era abraçada, não sabia quem era, mas o calor daquele corpo lhe proporcionou uma certa dose de conforto e ela definitivamente precisava disso.

- A verdade, Ginny... – Hermione voltou a se manifestar – É que eu não sei... Não sei te dizer agora, se e quando, Matt vai melhorar.

Até aquele momento a dor era maior do que qualquer outra que ela já havia sofrido. Achou que nada poderia superar. Não que estivesse preocupada em medir sua dor é claro, mas à declaração da cunhada seguiu-se uma pontada no peito que lhe tirou o ar e uma debilidade que impediu que ela fizesse qualquer movimento ou emitisse qualquer som.

Seu corpo amoleceu, suas pernas tremiam e não suportaram mais o seu peso, sentiu-se cair, mas antes de chegar ao chão o seu corpo foi amparado. Percebeu que estava sendo carregada para o sofá. A pessoa a manteve em seu colo e Ginny não reclamou, ela precisava de algum calor, pois sentia frio, muito frio.

Uma das suas maiores características era sua força, mas agora não havia nenhum sinal dela. Dificilmente chorava, exceto naqueles tão conturbados dois anos do pós-guerra. Agora seus ombros se sacudiam devido ao choro convulsivo. Seu corpo estava sendo enlaçado, e ela se aconchegava mais e mais ao calor que dali emanava, se agarrou aquele alguém assim como um naufrago se agarra a um pedaço de madeira.

***
Do sofá, onde mantinha Ginny no seu colo, Harry observava o sofrimento do Sr. e da Sra. Weasley e de Ron e Hermione, os casais se abraçavam procurando apoio um no outro, assim como ele fazia com a ruiva. O sofrimento deles pareceu multiplicar o seu, e era tudo culpa sua.

Após um tempo sentiu que o corpo de Ginny já não tremia tanto, o choro desesperado tinha sido substituído por pequenos sons de lamúria. Passou a acariciar o cabelo dela.
- Não se preocupe meu amor, tudo vai ficar bem. Matt vai voltar pra gente – ele queria acreditar naquilo, ele precisava acreditar naquilo.

Assim que terminou de proferir aquela tentativa de conforto, o corpo de Ginny ficou tenso. A cabeça que estava recostada no seu peito se levantou e os olhos da ruiva passaram a encará-lo. Harry devolveu o olhar e encostou a testa na dela.

- Vai dar tudo certo, confie em mim.

No mesmo instante Ginny saiu de seu colo. Harry também se levantou. A mulher começou a ficar com a ponta das orelhas vermelhas e o moreno sabia que isso não era um bom sinal.

- Matt estava na sua casa – ele assentiu – Então o...

Harry já sabia a lógica que ela ia seguir, então completou por ela.

- Sim, o acidente aconteceu na minha casa. Me distraí por uns instantes e acho que Matt se aproveitando disso pegou minha vassoura. A verdade é que mais cedo eu tinha permitido que ele guiasse a vassoura... – nesse ponto, Ginny arregalou os olhos - ...enquanto dávamos uma volta, e acho que ele pensou que seria capaz de guiá-la sozinho.

Harry viu que Hermione imediatamente se soltou de Rony, a Sra. Weasley também se desvencilhou do marido. As duas olhavam assustadas dele para Ginny, enquanto esta tinha uma expressão de confusão no rosto.

- Você... você deixou Matt guiar sua vassoura?! – ao fazer a pergunta Ginny formou uma expressão de confusão que seria cômica se a situação fosse outra.

- Ginny... – Hermione chamou a amiga e já vinha em direção a ela.

- Nem pense nisso Hermione – a ruiva sem desviar o olhar de Harry, sibilou para a cunhada enquanto apontava o dedo em sua direção – Fique exatamente onde está.

A morena pensou em algo para dizer chegando mesmo a abrir a boca, mas foi impedida de continuar pelo marido que lhe lançou um olhar de advertência. Harry viu quando a transformação aconteceu, a ruiva tinha abandonado por completo a atitude vulnerável de momentos atrás, e o rosto que já estava vermelho pelo choro, adquiriu uma coloração mais intensa.

- Eu sei... Eu sei que estava errado, eu vejo isso agora. Acho que o incentivei... – Ginny o interrompeu.

- Você acha que o incentivou? – a pergunta estava carregada de sarcasmo.

Harry se aproximou de da ruiva, mas não a tocou.

- Você não sabe como eu sinto, meu amor – Harry tentou pegar as mãos de Ginny, mas ela se afastou, não permitindo que ele a tocasse – eu sinto muito.

- Sente muito... sente muito?! – a medida que ia falando a ruiva ia se aproximando – Não Harry, você não sente... ao menos não tanto quanto eu...

- Ginevra, minha filha, por favor, seja razoável – tentou intervir o Sr. Weasley, mas Ginny o ignorou.

- Eu sei que a culpa por Matt estar aqui é minha, mas eu vou dar um jeito e...

- CALE A BOCA! CALE ESSA MALDITA BOCA! – vociferou a ruiva.

A tensão no ambiente aumentou. Os outros quatro apenas observavam a ira de Ginny.

- EU NÃO QUERO MAIS ESCUTAR... EU NÃO QUERO ESCUTAR AS SUAS PROMESSAS, AS SUAS MENTIRAS. EU CONFIEI MEU FILHO A VOCÊ HARRY, MESMO DEPOIS DE TUDO QUE VOCÊ FEZ, EU CONFIEI A VOCÊ O QUE EU TINHA DE MAIS PRECIOSO... – grossas lágrimas voltaram a correr pela face da ruiva e mesmo acontecia a Harry - ... MAS COMO SEMPRE VOCÊ SE MOSTROU UMA DECEPÇÃO...

Harry chegou a recuar, as palavras de Ginny lhe causavam dor física. O coração que antes estava apertado pareceu começar a sangrar.

- A CULPADA SOU EU... EU E SOMENTE EU... – a voz dela estava embargada.

- Não existem culpados Ginny, foi um acidente – Harry ouviu a voz de Hermione.

Mas a mulher voltou ao seu discurso, apesar de agora num tom de voz mais baixo, mas não menos ameaçador.

- Por favor Hermione, eu não tenho forças e nem quero discutir com você agora. Existe sim um culpado nesta estória, e sou eu... – neste momento viu Ginny respirar fundo, na tentativa de conter um soluço - ... Fui eu que permiti que meu filho, ficasse com ele ... – apontou Harry com o queixo, o olhar cheio de desprezo - ... mesmo sabendo da sua incapacidade de cuidar de alguém.

Não sabia o que fazer. Sua defesa não era uma opção, por que ele compartilhava da opinião de Ginny. Ele não tinha cuidado de Matt, ele tinha se distraído pensando nos seus próprios problemas, nas suas aflições.

- Minha filha você esta sendo cruel, não vê que Harry esta sofrendo tanto quanto você – quem se pronunciava agora era a Sra. Weasley.

Ginny deixou de encarar Harry e voltou a atenção para a sua família. Um arremedo de sorriso se desenhou nos seus lábios. Instantes depois ela ria desvairadamente, assustando a todos os presentes.

- Essa é boa... não, não, essa é ótima. Meu Merlin! Será que até numa situação dessas vão achar justificativas para você Harryzinho – não havia o mínimo sinal de carinho no apelido.

Harry estava destruído. Ele não sentiu quando as palavras saíram de sua boca.

- Eu não sei o que dizer Ginny. Só... Me desculpe, eu nunca vou me perdoar por isso...

- Não se preocupe você não estará sozinho nessa, eu também nunca vou perdoar você ou a mim, principalmente a mim...

Mais uma vez Ginny começou a chorar copiosamente. Escondeu o rosto nas mãos , deixou-se cair de joelhos no chão e depois se apoiou nas próprias pernas. O sofrimento dela lhe era insuportável, num movimento autômato se aproximou da ruiva, ajoelhando-se próximo a ela e em seguida a abraçou.

– Não chore... não chore... a culpa é minha. E eu vou dar um jeito de consertar isso.

Harry sentiu uma energia emanar do corpo dela, sentiu uma carga elétrica no próprio corpo, antes de ser impulsionado para longe de Ginny de maneira violenta, e só parou quando suas costas encontraram a mesa de Hermione. Seus óculos caíram do seu rosto, mas mesmo sem eles pode perceber o movimento que a ruiva fez quando se levantou e veio em sua direção.

- SEU DESGRAÇADO! SEU CRETINO! - Harry se levantou - MATT NÃO É UMA COISA PARA SER CONSERTADO...

O moreno começou a receber vários golpes de punho no peito, mas nem tentou se defender. Percebeu um movimento na sua visão periférica e em seguida deixou de ser golpeado.

- Isso não resolve nada Ginny! – ouviu a voz grave de Ron sair meio estrangulada, provavelmente pelo esforço que tinha que fazer para conter a irmã.

- ... ME LARGA, SEU IDIOTA!!! – Harry localizou seus óculos e os recuperou, assim pode acompanhar nitidamente a tentativa que Ginny fazia para se soltar – EU QUERO ACABAR COM ELE.

- Deixa Ron – Harry viu a mensagem de “acho melhor não” nos olhos do amigo, mas ele o encarou de maneira firme até que o outro com um olhar de resignação o obedeceu. Imediatamente Ginny veio em sua direção, mas ele se sentiu ser puxado para trás e em seguida viu Hermione se interpor entre ele e a ruiva.

- Saia da minha frente Hermione! – soltou a ruiva entre os dentes.

- Olhe para você... – a morena agarrou a outra pelos ombros - ... você está descontrolada!

- Será que nem agora você pode deixar de protegê-lo? Será que você não pode deixar de pensar nele e pensar no seu afilhado? – na voz de Ginny havia mágoa.

Hermione sacudiu a cunhada, que pareceu assustada com o ato. Harry não gostou daquilo e já ia tomar uma atitude quando Hermione o conteve com um olhar, para em seguida voltar a encarar a amiga.

- Acho que quem não está pensando em Mathew é você. No que você vai ajudá-lo atacando Harry desse jeito?! – Ginny se retraiu com indagação da cunhada – Não interessa como aconteceu ou quem é o culpado. Nós temos que nos focar em Matt, em como ele está agora e no que nós vamos ter que enfrentar daqui para frente.

Ao fim do discurso de Hermione, a ruiva soltou um soluço sofrido e se jogou nos braços da amiga.

- Você tem razão, mas é que... – Ginny foi interrompida por um novo soluço - ... eu não sei o que fazer Mione... eu... eu só quero meu garotinho de volta.

As duas mulheres abraçaram-se fortemente.

- Eu também quero isso Gin, eu também quero – Hermione afastou-se um pouco para poder encarar a outra – O que nós vamos fazer agora é ficar com Mathew, vai ser bom ter as pessoas que o amam ao lado dele.

Ginny assentiu para a amiga. Nesse momento o Sr. e Sra Weasley se aproximaram da filha e a abraçaram, Ron imitou os pais. Harry ficou apenas observando. Era melhor não se aproximar, pois isso poderia causar um novo furor em Ginny.

Instantes depois o grupo se soltou do abraço coletivo e se encaminhou para a porta. Harry já ia seguindo o grupo , mas quando Ginny percebeu sua intenção se voltou para ele e disse num tom raivoso.

- VOCÊ NÃO... – Harry viu que Hermione deu um suspiro cansado, enquanto os outros olhavam dele para Ginny com um olhar de confusão –... eu não quero você perto de mim ou do meu filho! Desde que você chegou a nossa vida se tornou uma confusão.

O nó no peito de Harry se tornou mais apertado.

- Mas minha filha... – tentou o Sr. Weasley.

- Não papai, nem adianta tentar, como eu disse eu sou a culpada por Matt estar aqui, por algo tão ruim ter acontecido a ele... – a voz da ruiva estava embargada e ao mesmo tempo obstinada – ... mas eu não vou mais permitir que nada de mal aconteça. E a presença de uma pessoa como Harry não pode trazer nada de positivo para Matt. Afinal, ele tem um dom especial de acabar com tudo de bom que há a sua volta.

Dito isso a ruiva voltou a se movimentar para sair do consultório da cunhada.

Harry escutou o som de horror emitido pela Sra. Weasley, viu o olhar de pena que o marido dela lhe lançou e o tom verde-acizentado que tomou conta do rosto de Rony. Hermione ficou um tempo acompanhando o afastamento de Ginny, se voltou para encarar o amigo e já ia dizendo algo quando ele a interrompeu ao levantar a mão.

- Ela está certa Hermione... – doeu dizer, doía sentir, mas era a verdade – ... Podem ir! Ela e Matt precisam de vocês agora.

A amiga assentiu a sua decisão, mas antes de sair lhe deu um beijo no rosto, que foi seguido por tapinhas no ombro, do Sr. Weasley e de Ron, e um abraço quebra-ossos da Sra. Weasley. Depois que todos se retiraram Harry deu uma olhada no consultório da amiga e encarou o longo corredor do hospital. Avaliando suas forças notou que estas não eram suficientes para levá-lo até a entrada. Aparatar estava fora de questão. Então ele encarou o sofá e julgou que a energia que lhe sobrava era capaz de fazê-lo percorrer aquela distância. Assim que chegou perto do móvel, o moreno se deixou cair nele e chorou.

***

N/A: Mais uma atualização em tempo recorde. É claro que isso é considerando os meus últimos intervalos de atualização, hehehehe...

Olha só! Eu não quis alardear antes, mas o fato é que a fic está chegando ao fim. Na verdade este o próximo será o último capítulo. É uma pena, pelo menos para mim e espero que para vocês também. Enfim...

Dani W. Potter: Aí esta o capítulo e o fim da sua ansiosidade... ou não, hehehe. Você adora minha fic, eu adoro isso. E pra mim é emocionante saber que você se dispõe a lê-la. Muito obrigada.

Carol Lee: Você voltou!!! Espero que a fic tenha voltado ao hall das favoritas. O Matt realmente saiu ao pai... e a mãe também se me permiti dizer. Quanto ao acidente e a sua consequência, o que acontece é que eu me sentei para escrever o capítulo e ele se desenrolou assim. Foi forte, eu sei, mas... não se descabele. Muita calma nessa hora Carol! Quantos aos comentários na Before, logo, logo você os verá.

Tonks & Lupin: Acalma esse coração! Vou te tranqüilizar o bebê está a salvo. Acho que as coisas não ficaram melhores, mas quem sabe no próximo capítulo. Leia!

Priscila Louredo: Viu a reação da Ginny ? Venhamos e convenhamos a ruiva sabe ser cruel. Obrigada pelos votos de ano novo. Espero que 2009 seja ótimo pra vc tbm.

Dora: Viu a Ginny não matou o Harry. A Hermione deu um sacode nela antes disso. Eu recebi uns sacodes tbm, vamos ver o que vai acontecer com o Matt.

Yumi Morticia Voldemort: Como eu disse a Dora, a Hermione interviu antes do assassinato do Harry. Repito: ABANDONAR A FIC JAMAIS!!!!!

Paty Black Potter: Que bom que gostou.

Alessandra: Deixando bem claro: A autora não tem veia assassina, dramática sim, mas assassina não, hehehehe. E eu também fiquei muitíssimo feliz por vocês não terem desistido dela. Obrigado pelo elogio. Isso conta muito.

Mari Black: Fato: Hermione sempre tira Harry das enrrascadas, hehehehe.

É isso aí. Espero que tenham gostado do capítulo. Até a próxima, um beijo a todos. E um 2009 repleto de conquistas, saúde e felicidade para todos nós!


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