Era uma vez um bruxinho...
Era uma vez um bruxinho...
Quase todas as estórias de fadas e bruxas começam com “era uma vez”, e em quase todas as estórias os bruxos e bruxas são malvados. Mas, não nessa estória que eu vou contar: nessa estória, os bruxos e as bruxas são bonzinhos.
O bruxinho da nossa estória era criança ainda e... o nome dele? Bom, ele poderia se chamar Henrique, Zezinho ou até mesmo Davi, mas nessa estória ele vai se chamar Harry Potter.
Harry Potter vivia com a sua mãe (o bom nas estórias de bruxas e fadas, é que a gente pode fazer acontecer o que quiser!), numa casinha coberta de palha do outro lado da Floresta Perigosa, o nome da mãe dele era Lílian, e ela era uma bruxa também.
Mas Lílian não era igual às bruxas das outras estórias, que tem um narigão enorme e uma verruga na ponta dele, na verdade Lílian tinha uma pintinha no nariz sim, mas era tão pequenininha que até parecia um piercing. E ela era muito bonita também, com cabelos bem ruivos e um sorriso um pouco tímido, mas sincero e maravilhoso.
Harry e Lílian eram muito pobres, a única coisa de valor que eles tinham era uma velha vassoura de bruxa, daquelas que você pode voar pra onde quiser, e Lílian tinha ensinado ao pequeno Harry como voar, e ele adorava: quando sua mãe não estava usando a vassoura ele sempre saía voando com ela para passear ou jogar quadribol com os amigos.
Mas, Harry Potter tinha um desejo secreto: ele não gostava muito de ser pobre, tá certo que nunca lhe faltou nada que ele precisasse em sua casa, mas ele gostaria de ter uma coisa de grande valor, ele gostaria de ter uma enorme riqueza.
Um dia, depois de ter brincado um tempão com seus amigos, eles começaram a conversar sobre vontades e desejos que eles tinham, e um deles disse que num lugar muito longe dali, existia um animago muito poderoso, e que ele tinha o poder de fazer acontecer o desejo das pessoas, se elas merecessem isso.
— O que é um animago? – Harry quis saber.
— É um mago que pode se transformar no bicho que quiser! – contou o outro.
— E qual é o nome desse mago animago? – perguntou Harry ao seu amiguinho.
— É o grande mago Alvo! – respondeu o outro.
— E... ele é um mago malvado? – se interessou o pequeno Harry.
— Dizem que não... ele é muito sério e nunca dá risada... mas, se a pessoa que o procurar realmente merecer, ele pode fazer o desejo dela acontecer. – contou o amigo.
— E... onde esse tal de Alvo mora?
— Dizem que é do outro lado da Grande Montanha, depois da Floresta Perigosa, atravessando o Lago Proibido!
Harry Potter ficou pensando, então, se aquele mago não poderia lhe dar a riqueza que ele tanto queria e, sorrindo sozinho, como fazem todas as crianças quando estão tendo uma idéia que as deixa muito contentes, ele falou:
— Pois eu vou encontrar esse mago, e vou pedir para ele realizar o meu desejo!
— Você está louco? – se espantou um outro amigo – É muito longe... como você vai fazer pra chegar lá?
— Bom... – ele pensou mais um pouquinho – Eu posso ir com a vassoura da minha mãe... às vezes ela fica escrevendo cartinhas pros amigos dela e nem vê o tempo passar... Aposto que eu consigo ir até a casa desse tal mago e voltar e ela nem vai perceber.
Todos os amiguinhos de Harry tentaram fazer ele desistir daquela idéia, dizendo que era muito perigoso e que ele poderia ficar com frio ou com fome durante o caminho, mas ele não desistiu: perguntou pra um monte de gente onde ficava aquela tal Grande Montanha e aquele Lago Proibido, e fez até um mapinha pra não se perder quando conseguisse ir pra lá.
Naquela noite ele foi dormir muito confiante, tinha feito uma pequena trouxa com um guardanapo de pano, onde colocou uma garrafinha de água se sentisse sede, um pedaço de bolo se acaso tivesse fome e um cachecol de lã se por ventura esfriasse muito.
No dia seguinte, assim que Lílian se sentou na frente da escrivaninha e pegou sua pena e um pergaminho, o pequeno Harry correu até o armário onde sua mãe guardava a vassoura e, depois de amarrar sua trouxinha no cabo dela, montou-a e saiu voando bem rápido, na direção que seu mapa mostrava.
Ele voou bastante tempo, até chegar na Floresta Perigosa e, quando ia fazer sua vassoura subir um pouquinho mais pra voar por cima das arvores, ele viu uma coisa se mexendo no chão, logo no começo da floresta.
Como toda criança, ele ficou curioso pra saber o que era aquilo, e resolveu descer pra investigar. Ele sabia que a floresta era perigosa, como dizia o nome, mas ele era um bruxinho e não tinha medo de nada.
Quando chegou perto, ele viu que era um Gato, parecia ser bastante velho e seu pelo era grisalho, ele tinha o focinho um pouco mais comprido que o normal e era um pouquinho torto na ponta. Ele pousou ao lado do bichano, e se surpreendeu ao ouvir ele dizer:
— Miau! Um bicho numa vassoura! Espero que você não queira me fazer mal!
— Puxa! Você fala? – disse o menino, com os olhos arregalados.
— Ué? E todos não falam? – respondeu o animal, sentando-se à sua frente.
— De onde eu venho, os bichos não falam!
— Miau! Mas, você fala! Você não é um bicho?
— Não, eu sou Harry Potter, sou um bruxo, digo, sou um menino!
— Ah! Um Harry Potter bruxo menino! Bom, seu... menino, aqui na floresta até alem do Lago Proibido, todos os bichos falam... é bom se acostumar! – então o bichano se deitou de lado no chão, e parecia muito cansado.
— O que você tem?
— Eu acho que me perdi! Na verdade, eu moro do outro lado da floresta, saí para caçar e me distraí e vim parar aqui: acho que nunca mais vou conseguir voltar, tenho muita sede, faz dois dias que não encontro água.
Harry deu um sorriso de satisfação e, enfiando sua mão na pequena trouxa que trazia presa à vassoura, tirou de lá a sua garrafinha de água.
— Olhe! Pode beber a minha água!
O Gato arregalou seus olhos e passou a língua pela boca, esticando suas patinhas pra pegar a garrafinha.
— Miau! Posso mesmo beber? Você não vai precisar dela? Glub-Glub... – disse e já começou a matar a sede – Pra onde está indo?
— Eu vou atravessar a floresta pra encontrar o mago Alvo!
— Oh! É uma viagem muito longa... você vai precisar de toda água... e eu ainda estou com sede!
— Não se preocupe, Gato! Pode tomar tudo que depois eu me viro! E, sabe de mais uma coisa? Como eu vou mesmo atravessar a floresta, eu te levo até o outro lado... não é lá que você mora?
— Sim, muito obrigado! – agradeceu o bichano – Miau!
E, depois de esvaziar a garrafinha de água, o Gato se ajeitou no colo de Harry e os dois começaram a voar por cima da floresta. Eles demoraram um pouco pra atravessar a mata que era muito grande, e durante o caminho Harry contou ao Gato o que ele queria com o mago Alvo.
— Espero que você consiga o que deseja, Harry! – disse o Gato, depois que terminaram de atravessar a floresta e o bruxinho o havia deixado no chão em segurança – Logo à frente é o começo da Grande Montanha... ela é muito alta... tenha cuidado!
— Pode deixar! – disse o bruxinho dando tchau pro Gato e voando na direção da montanha logo à frente.
A Grande Montanha era realmente muito alta, e não tinha como dar a volta, porque ele continuava até se perder de vista, então ele começou a subir e subir cada vez mais, com sua vassoura, pra tentar passar por cima, quando percebeu alguma coisa se mexendo lá embaixo, bem no começo do paredão.
“Será o Gato de novo?” – pensou ele – “Não, não pode ser... acabei de deixar ele lá atrás!” – ele pensou consigo mesmo.
Mais uma vez sua curiosidade o fez abandonar o que estava fazendo e descer rápido até o chão, pra ver o que era.
— Crau! Um bicho numa vassoura! – disse o Urubu, ao vê-lo pousar no chão, ao seu lado.
Sim, porque era um Urubu que estava caído ali, ao pé da montanha e, a exemplo do Gato que encontrara a pouco, também parecia ser bastante velho, pois suas penas não eram todas pretas, havia umas branquinhas no meio, fazendo-o parecer grisalho, e ele também não parecia estar muito bem.
— Olá senhor Urubu, sou Harry Potter, sou um menino! – disse-lhe o bruxinho.
— Ah! Um menino! – respondeu a ave, ele tinha um longo bico que era um pouquinho torto na ponta, Harry achou, por um instante, que o conhecia de algum lugar – Você não vai me comer, espero! Dizem que carne de Urubu não é muito saborosa! Crau!
— Claro que não! Só quero saber por que está aqui embaixo no chão, em vez de estar voando lá em cima com os outros Urubus!
— Ah! Já não sou tão forte como era antes! Eu desci do meu ninho, onde descansava, pra procurar comida, e não consegui voltar: faz muito frio lá em cima e minhas asas estão congeladas!
Novamente, um sorriso de satisfação iluminou o rosto do pequeno bruxo, ele rapidamente enfiou a mão em sua trouxa e retirou de lá o cachecol que trouxera.
— Tome, me deixe enrolar isso em você que vai te manter aquecido!
— Crau! Obrigado... mas, você não vai precisar do seu cachecol? Pra onde está indo?
— Eu vou atravessar a montanha pra encontrar o mago Alvo! Onde é o seu ninho? Eu posso te levar até lá, já que tenho de voar até o topo da montanha pra atravessá-la!
— Ah! Que bom! Meu ninho fica mesmo no galho mais alto, lá em cima da montanha... e faz muito frio lá... cai até neve! Se você vai atravessar a Grande Montanha, vai precisar se aquecer: não posso ficar com o seu cachecol!
— Pode sim! Não se preocupe comigo, eu me viro! – e, enrolando o Urubu com o cachecol, colocou-o em seu colo e disparou pra cima com sua vassoura.
Era uma subida muito longa, Harry teve que ir voando em círculos para poder chegar até o fim do enorme paredão, enquanto isso, aproveitou pra contar ao Urubu quem ele era e o que pretendia fazer.
Quando finalmente conseguiram chegar no topo da Grande Montanha, Harry colocou o Urubu no ninho que ficava no galho mais alto e se despediu dele, que agora estava bem quentinho e se sentindo bem melhor.
— Logo depois que terminar a cadeia de montanhas, começa o Lago Proibido. – disse-lhe o Urubu – Espero que você consiga o que procura, Harry! Crau!
O bruxinho deu tchau para o novo amigo e voou para o outro lado da montanha, estava fazendo bastante frio, porque o topo da Grande Montanha era coberto de neve, e também não havia água lá, só gelo, e ele já começava a sentir um pouquinho de sede.
Quando conseguiu terminar de atravessar a montanha, ele já conseguia ver o Lago Proibido ao longe, então voou decidido em sua direção: “Pelo menos vou matar minha sede!” – pensou – “Água é o que não pode faltar em um lago!”.
Ao chegar na margem do Lago Proibido, ele saltou da vassoura e ajoelhou-se na beira da água, enchendo as duas mãos com água e levando-as à boca, já estava quase bebendo quando ouviu uma voz às suas costas.
— Fssst! Você não pode beber dessa água!
O garoto abriu as mãos, deixando a água cair sobre seu colo. Era um Lagarto que se encontrava parado ao lado dele, tomando sol sobre uma pedra e, da mesma forma que o Gato e o Urubu, ele também parecia ser bem velho, ele tinha o couro negro e todo salpicado de pintinhas brancas e, seu longo focinho era um pouquinho torto na ponta.
— Oh! Senhor Lagarto! – disse Harry – Porque eu não posso beber dessa água?
— Porque somente os bichos do lago podem beber!
— Mas... tem tanta água aqui! Não acho que um pouquinho só vá fazer falta...
— Desculpe! Fssst! Eu não me expliquei direito! Se você tomar dessa água, você se transformará num dos bichos do lago! Mas, se está com tanta sede assim... vá em frente! Você pode ser um belo peixe, ou talvez uma tartaruga, ou ainda um Lagarto... como eu!
O bruxinho levantou-se, enxugando as mãos na roupa e, observando melhor o Lagarto, percebeu que ele tinha uma aparência péssima: estava muito magro e parecia quase não ter força para se mover ou falar.
— Tudo bem... não estou com tanta sede assim... O que você tem? – ele perguntou – Parece tão fraco e cansado!
— É que, por já não ser tão jovem, tenho dificuldades pra encontrar comida... faz uma semana que saí da minha toca, do outro lado do lago, e não encontro nada para comer! E agora não tenho forças para voltar.
Harry sentiu um repuxão em seu estômago, também estava com fome, e sede... e atravessar aquela montanha cheia de neve o deixara gelado e tremendo. Mas, mesmo assim, ele sorriu e, retirando o pedaço de bolo que havia em sua trouxa, ofereceu-a ao senhor Lagarto.
— Tome! – disse ele – Pode comer isso... vai se sentir melhor. E, quando terminar, eu o levarei até a sua toca... tenho que atravessar o Lago Proibido de qualquer forma, para encontrar com o mago Alvo.
— Fsst! Muito obrigado! Você é muito gentil! – agradeceu o Lagarto, enquanto abocanhava o pedaço de bolo – Vai ver o mago, é? De onde você vem?
— Moro do outro lado da Floresta Perigosa além da Grande Montanha! – disse ele, apontando com o dedo para o lado de que tinha vindo.
— Hum! É bem longe... você deve ter bastante comida aí na sua trouxa pra fazer a viagem de volta!
— Bem... na verdade, eu só tinha esse pedaço aí...
— Oh! Então eu não posso aceitar... você não vai agüentar a viagem de volta se não tiver nada pra comer!
— Não se preocupe com isso... eu darei um jeito e, você precisa bem mais do que eu!
Quando o Lagarto terminou com a ultima migalha de bolo, Harry o colocou no colo e começou a voar com sua vassoura sobre o lago, que era muito grande. Durante o caminho ele contou ao Lagarto os seus planos sobre o pedido que ia fazer ao mago.
Quando finalmente chegaram à margem oposta, já começava a escurecer, e Harry não pode deixar de pensar se Lílian já havia sentido a falta dele, imaginando que, neste momento, ela deveria estar despachando diversas corujas com suas cartinhas.
O Lagarto entrou muito satisfeito em sua toca e, enquanto o menino lhe acenava, ele disse:
— Muito obrigado, Harry! Espero que consiga o que procura com o mago! É só seguir em frente: a casa dele é logo depois da curva!
Harry seguiu o caminho que faltava a pé, estava muito ansioso para saber se ia conseguir o que tinha vindo buscar, seu coração batia apressado, seus dentes batiam de frio, seu estomago reclamava de fome, e sua boca estava seca de sede.
Quando virou a ultima curva, deu de cara com uma casa enorme, de vários andares e toda feita de pedra. Bem na frente havia uma longa escada que levava até uma porta muito grande e bonita. Ele subiu os degraus um a um, com um pouco de receio, arrastando sua vassoura com uma das mãos até chegar na porta, que estava aberta: ele entrou.
— Olá! – gritou ele – Com licença, senhor mago! Estou entrando!
Ele avançou por um longo salão, onde, do outro lado podia avistar uma antiga e bonita cadeira, como se fosse o trono de um rei e, na cadeira havia um homem sentado... só podia ser ele: o mago Alvo.
— Sou um menino, senhor mago! – ele disse, com simplicidade.
— Eu sei que é um menino! Pois eu também já fui um, um dia! – respondeu-lhe o homem.
— Desculpe! Tem razão, sou um bruxo! – tentou consertar.
— Pois estou vendo que é um bruxo! Pois um eu também sou... e sua vassoura aí ao lado prova isso! – rebateu o outro.
— Sim! É verdade! Sou Harry Potter, senhor mago!
— Ah! Agora sim! Muito prazer, Harry Potter, eu sou o mago Alvo!
Harry observou melhor o homem, agora que estava bem em frente à sua cadeira: ele não era novo, mas também não era velho, não era muito magro, mas também não era gordo, ele não parecia ser muito alto, mas também não era baixinho, mas, o que Harry mais prestou atenção foi que ele tinha os cabelos grisalhos e o nariz meio grande e um pouquinho torto na ponta. Ele não sabia porque, mas tinha a impressão de que já o conhecia de algum lugar.
— Muito prazer, senhor! – respondeu meio sem jeito.
— E... o que você deseja de mim? – perguntou-lhe o mago, olhando-o dentro dos olhos.
— Eu... tenho um desejo... e ouvi dizer que pode realizá-lo... gostaria que me desse alguma riqueza... algo bem valioso!
— Oh! Entendo, entendo... e que riqueza seria essa? Que coisa tão valiosa é essa que você não possui?
— Na verdade, senhor... não possuo nada... sou pobre e... a única coisa que eu e minha mãe temos... é essa vassoura!
O mago levantou-se de sua cadeira e dirigiu-se até Harry, parou à frente dele e pegou sua vassoura com uma das mãos, ficando a observá-la durante algum tempo, depois desamarrou o guardanapo de pano que ainda estava amarrado em seu cabo e também o analisou. Por fim, voltou-se para Harry e, após olhá-lo atentamente da cabeça aos pés, entregou-lhe novamente os objetos e disse:
— Não tenho nada mais precioso para lhe dar do que aquilo que você já tem! – e, virando-lhe as costas, voltou até a cadeira e sentou-se outra vez.
Harry ficou algum tempo sem saber o que dizer: não havia entendido nada do que o homem falara.
— Mas, senhor... já lhe disse que não tenho...
— Você tem sua mãe, Harry... não existe nada mais valioso do que o amor de uma mãe! Você é corajoso, Harry... as pessoas que não tem medo de enfrentar o desconhecido, conquistam as riquezas com suas próprias mãos! Você tem a bondade em seu coração, Harry... aqueles que tiram de si próprio para dar aos outros, possuem a maior riqueza que se pode alcançar! Vá embora... não há nada pra você aqui!
O pequeno Harry abaixou sua cabeça, fez um leve gesto de agradecimento ao mago, pois sua mãe o havia ensinado que sempre se deve agradecer às pessoas, mesmo que elas não tenham te feito aquilo que se desejava, e virou-se em direção à porta por onde viera, caminhando lentamente e arrastando sua vassoura pelo chão com umas das mãos e o guardanapo de pano com a outra.
Mas, nesse pequeno pedaço de chão que o levava até a porta ele pensou... pensou nas palavras que o mago lhe dissera e, então, ele compreendeu: sim... ele era rico... ele ia voltar pra sua mãe Lílian agora, ela o poria na cama e lhe contaria uma estória... e ele tinha sua coragem também, afinal chegara até ali, não chegara? ... e tinha as amizades que conquistou, não apenas seus amiguinhos bruxos, mas também o Gato, o Urubu e o Lagarto...
— A não ser que... – ouviu a voz do mago às suas costas.
— Sim? Senhor? – disse ele, voltando-se e encarando o homem que estava em pé novamente.
— A não ser que tenha algo muito valioso para me dar... então lhe darei em troca uma das coisas mais preciosas que existem!
— Mas, não entendo senhor... eu entendi o que quis me dizer... realmente, tenho uma riqueza que poucos possuem... não sei como poderia lhe dar algo tão valioso...
— Mas, você já me deu, Harry! – disse o homem, com bondade, retirando uma varinha mágica de seu bolso e a apontando para o guardanapo de pano na mão do menino – Você me deu sua amizade!
Várias faíscas douradas saíram da varinha e foram voando até o pedaço de pano, que se amarrou novamente em formato de trouxa e pareceu se encher novamente por dentro.
— Este é um presente meu pra você, Harry! Tudo que você der aos outros, com bondade, você receberá em dobro, nessa pequena trouxa!
Harry abriu um pouco a trouxinha e lá dentro viu que havia duas garrafinhas de água, dois cachecóis e dois pedaços de bolo.
— Senhor... estou confuso...
— Como não entende? Por acaso não lhe disseram que eu era um animago? – e girando rapidamente em volta do próprio corpo, transformou-se no Gato que Harry ajudara na entrada da Floresta Perigosa, para em seguida, num novo giro, modificar-se no Urubu que foi auxiliado no sopé da Grande Montanha e, numa outra reviravolta, tornar-se o Lagarto que fora amparado do outro lado do Lago Proibido e, finalmente, voltar a ser o mago.
— Ah! Agora entendo tudo! – disse o bruxinho com um sorriso – Bem que eu achei que o conhecia de algum lugar! Muito obrigado pelo presente! – disse, olhando satisfeito para a pequena trouxa que iria lhe garantir uma tranqüila viagem de volta.
— Não foi nada, Harry! Saiba que tudo aquilo que plantamos durante nossa vida, logo mais à frente, nós colhemos seus frutos! Mas isso é só um presente, a riqueza que vou lhe dar como pagamento pela sua bondade e amizade é outra.
E, enfiando uma das mãos por dentro do casaco que vestia, retirou uma pequena esfera brilhante e vermelha, muito reluzente, e que parecia flutuar sobre a palma de sua mão.
— O que é isso, Alvo? – disse o bruxinho maravilhado, a luz vermelha e intensa refletindo em seus olhos.
— Isso é um beijo! É a forma mais pura e sincera de se demonstrar o amor! Não se deve dar um beijo a ninguém se realmente não gostar da pessoa! Diga-me, Harry, qual é a pessoa que você mais ama nesse mundo?
— É a minha mãe, Lílian! – respondeu sem nem piscar os olhos.
— Então leve com você, esse beijo... e toda noite, antes de dormir, dê um beijo em sua mãe... como prova do seu amor!
Harry Potter guardou aquela preciosidade em seu peito, junto ao seu coração, agradeceu muito ao mago Alvo, e retornou o mais rápido que pôde pra sua casa, tendo chegado quando Lílian recebia um monte de corujas com as respostas de suas cartinhas, ela percebeu que seu filho tinha demorado, mas não se preocupou porque sabia que podia confiar nele e, além disso, ele parecia ter aprendido muita coisa durante aquele seu passeio.
E toda noite, antes de dormir, Lílian contava uma estória como essa para o seu filhinho. E toda noite, o menino dava um beijo em sua adorada mãe... um beijo do Alvo.
E essa estória termina como terminam todas as estórias de fadas e de bruxas, assim:
E viveram felizes para sempre...
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