O Retrato
Mais um capítulo.. Espero que vocês estejam gostando e por favor, comentem sim??
- Eureca! - exclamou Rony. - Então estávamos certos mesmo! A tiara é uma horcruxe! Pronto, Harry, temos sua última horcruxe!
Harry sorriu. Mesmo sem saber porquê, estava desanimado.
- Algum problema, Harry? - perguntou Hermione.
Como sempre, Harry nunca conseguia esconder nada da amiga.
- Estou bem - mentiu.
- Certeza?
Ele afirmou, mas os amigos continuavam olhando-os, desconfiados.
- Eu estou bem, ok? - falou sem encará-los. - É que estou pensando... Dessa vez não temos pistas. Podemos ter certeza de qual é a horcruxe, o que já é um grande início, mas não temos a mínima idéia de onde ela está!
- Podemos não ter ainda, Harry. Mas vamos ter. É só ter um pouco de paciência.
- Paciência? Enquanto pessoas morrem, Hogwarts é ameaçada e trouxas correm perigo? Sinceramente, não vejo "paciência" como a palavra que mais se encaixa aqui.
Do canto dos olhos, Harry viu os amigos se entreolharem, mas continuou sem a mínima vontade de encará-los.
- Harry...
- Eu acho que vou me deitar um pouco. Diga a sua mãe que não vou jantar, Rony. Boa noite.
- Boa noite - responderam os amigos num murmúrio quase inteligível.
Harry subiu as escadas, preocupado se tivesse sido grosseiro com os amigos. Mas... eles iriam entender, deois pediria desculpas. Precisava ficar sozinho agora. As imagens do que vira na mente de Elizabeth ainda latejavam na sua cabeça.
Abriu a porta do quarto onde Sírius costumava ficar, e deitou-se ali, na cama enorme e ao mesmo tempo tão horrível no centro do quarto.
O colchão meio esburacado; a roupa de cama e os travesseiros embolorados; o suporte de madeira que rangeu sob seu peso; as paredes empoeiradas...
Ficou olhando para o teto.
Quantas e quantas famílias não sofriam com isso também? Tudo aquilo que aconteceu com Elizabeth, em quantas famílias isso também não acontecia? E quantas vezes isso se repetiria?
Harry mesmo não fora uma vítima? Não perdeu os pais, o padrinho, dumbledore; essas pessoas que eram a sua família?
E agora? O que lhe restara?
Tinha amigos, tinha uma pessoa em especial, que amava mais do que qualquer outra coisa, mas TODOS que se aproximavam dele, corriam riscos.
Podia fugir? Podia imitar Elizabeth? Se fingir de louco em um hospital com segurança máxima?
Não, não podia. Não tinha escolha. Essas famílias eram separadas, essas vidas destruídas, por causa de uma única pessoa: Voldemort.
E era ele, Harry Potter, o eleito, o escolhido, o garoto que sobreviveu, e todos os outros apelidinhos que ganhara desde a queda de Lord Voldemort, o responsável por isso. Podiam dizer que não, que ele não tinha culpa, que ele fazia tudo o que podia, mas ele não acreditava. Podia ter acabado com Voldemort já, e tudo isso não teria acontecido, já teria acabado com boa parte dos problemas de todos. Mas não. Ele estava ali, parado, impossibilitado de ir atrás de Voldemort, de derrotá-lo, de diminuir o sofrimento das pessoas, essa sua culpa irrefreável pesava em seu coração e ele não podia evitá-la, não podia fazer nada.
Todos confiavam nele, depositavam sua última esperança em um rapaz de 17 anos que não sabia nem como evitar lágrimas de rolarem pelo seu rosto em um momento tão impróprio.
Rony, Hermione, a Ordem, todos confiavam nele. Se soubessem quem era o garoto que devia destruir Voldemort... Se pudessem vê-lo naquele momento... Harry podia até imaginar a decepção no rosto de cada um deles...
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Rony e Hermione ficaram olhando o amigo subir as escadas, surpresos, por assim dizer, já que a reação do amigo não era a esperada por ter descoberto mais uma horcruxe.
- O que deu nele, afinal? - Rony perguntou para Hermione.
A garota mordeu os lábios.
- Acho que ele está se culpando demais. - falou. - Está carregando tudo o que está acontecendo nas costas. Precisamos convencê-lo de que não é assim.
- Mas como?
- Boa pergunta.
- Uma que você não sabe a resposta? Mesmo?
Hermione encarou-o, pronto para censurá-lo, mas deve ter mudado de idéia ao ver o ar divertido do ruivo, que só estava esperando uma reação.
Tacou-lhe uma almofada.
- Ei!
Rony revidou.
Começaram uma guerrinha de almofadas, e estavam se divertindo bastante, até que a sra. Weasley entrou na sala e pediu para que a desocupassem pois alguns membros da ordem iriam chegar para ter uma pequena conversa antes do jantar.
- Vamos tentar falar com o Harry? - perguntou Hermione.
- Vamos - concodou Rony abrindo a porta de seu quarto, mas Harry não estava ali.
- Hum... Para onde ele foi, então? Não disse que ia dormir?
- Essa casa é tão grande... Quero ver acharmos em algum lugar.
- Hum... Então eu vou para o meu quarto, Rony, quando ele chegar me chama, não vá falar com ele sozinho.
Ela deu meia volta, mas Rny a segurou pela mão e a puxou com força.
Surpresa, ela se viu cara a cara com ele, muito próximos...
- Porquê? - ele perguntou, se a proximando ainda mais.
- Porquê o quê? - repetiu ela, encarando aqueles olhos que brilhavam refletindo sua imagem.
- Porque já vai embora? Fica um pouco aqui...
Ele corou ao dizer isso, e ela riu.
- E se o Harry chegar? Ficaria pior...
Rony mordeu os lábios, tentando, mas não conseguindo encontrar uma solução.
- Acho que tenho a resposta por você - disse ela.
- Tem, é? - disse ele enlaçando sua cintura e a puxando para mais perto.
- Tenho - respondeu ela, corando um pouco também, e se desvencilhando carinhosamente de Rony. - Vamos... para um outro lugar - completou, corando ainda mais e o puxando levemente pela mão.
- Onde? - perguntou Rony divertido com o acanhamento da garota, mas deixando-se levar.
- Vamos para o m-meu q-quarto - gaguejou.
Rony parou, o coração a mil.
- Para onde?
- Para o meu quarto - respondeu ela o encarando, mas vendo que pelo seu olhar era melhor acrescentar. - Só para o Harry não nos encontrar, claro. O jantar é daqui a 20 minutos.
- Ah, certo - disse Rony, o coração voltado ao lugar de sempre, talvez agora um pouco decepcionado.
Ela continuou levando-o, até entrarem no seu quarto.
- Aqui ele não vai aparecer? - brincou ele, fechando a porta.
- Com certeza não - ela respondeu sorrindo e se aproximando um pouco.
Rony se apoiou na parede, esticou o braço tocando na cintura da garota e a puxou, colando seus corpos. Teve que afastar um pouco as pernas para diminuir sua altura, e permitir que os lábios dela encontrassem os seus.
Hermione sorriu e cedeu a força. Estremeceu um pouco com o contato; era a primeira vez que ficavam tão próximos assim. Semicerrou os olhos, enquanto sentia a respiração dele em seu rosto com um roçar suave. Seus lábios se encontraram, úmidos e apaixonados, e por alguns instantes permaneceram assim, como no primeiro beijo que trocaram.
- Estava com saudades - disse Rony, se afastando apenas o suficiente para poder falar alguma coisa.
´- Eu também - disse Hermione, apoiando a cabeça no ombro do ruivo. - É um pouco difícil a gente ficar sozinho com tudo o que anda acontecendo.
- Estamos sozinhos agora - disse Rony em seu ouvido. - Por apenas... - Ele olhou no relógio. - Quinze min agora; Tem que ser bem aproveitado.
- Perto do tempo que andamos tendo, é até que bastante.
Ela sorriu, e ele, aproveitou para puxá-la para mais um beijo. Dessa vez, mais caloroso e com mais fervor.
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Harry potter pegara no sono,
umidecendo o travesseiro com suas lágrimas. Respirava ruidosamente, e seu sono parecia inquieto. Estivera tão perturbado, sentindo-se tão incapaz, tão solitário, que qualquer pessoa que tivesse presenciado o momento diria que era a melhor coisa que poderia lhe acontecer.
Mas não era.
Harry sonhava... E seu sonho só faria com que se sentisse pior.
Estava abraçado com Gina no sofá da sala. Pareciam bem uns 20 anos mais velhos. Assistiam a uma jovem muito bonita, de cabelos ruivos e olhos verdes tocar uma suave melodia no piano.
- Explêndido! - exclamou quando a garota acabou de tocar. - Realmente muito bom! Você melhorou bastante, Lily, ficou bem melhor dessa vez.
- Obrigada, papai - ela agradeceu, sorrindo radiante. - É meu presente para vocês.
Gina chorava.
- Realmente l-lindo - soluçou. - me fez l-lembrar do n-nosso casamento...
- Mamãe, não chora! - disse a garota chamada Lily. - Eu toquei para que ficassem feliz! Não é todo dia que se comemora 25 anos de casado!
- Não ligue, Lily - falou Harry. - Sua mãe só está emocionada. Não é, Gina?
Ela afirmou com a cabeça, enquanto tentava secar as lágrimas e sorria.
A campanhia tocou.
- Chegaram - disse Harry, olhando para a porta.
- Minha maquiagem! Deve ter borrado...
- Pronto, mamãe - disse Lily acenando a varinha para a mãe quando a campanhia tocava pela segunda vez.
- Vou atender - disse Lily.
Ela sumiu pela porta que levava a outra sala. Harry se virou para Gina, sorrindo.
- Tudo bem? - perguntou.
- Claro - respondeu ela, os olhos brilhando intensamente.
- Eu te amo - disse Harry, deslizando os dedos pela face da esposa.
Ele lhe beijou apaixonadamente.
- Eu também te amo - disse. - Sempre amei.
- Tiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiooo!!!
Os dois olharam: um garotinho de uns 4 anos, ruivo, com pequenas sardas embaixo dos olhos, no nariz e nas bochechas veio correndo e se jogou nos braços de Harry.
- Ôô! - exclamou, pegando o garoto no colo. - Como anda meu sobrinho arteiro?
- Mas arteiro do que nunca - disse um ruivo durgindo de repente na sala, tinha mais ou menos a mesma idade que Harry.
- Como vai, Rony? - perguntou Harry, apertando a mão do cunhado com a mão desocupada.
- Muito bem, obrigado. Parabéns, cara! 25 anos, heim? Parece que foi ontem! Josh, porque não conta ao seu tio o que você fez ontem com os parafuzius do vovô?
O garotinho corou e suas bochechinhas rosadas e sardentas incharam quando ele fez uma careta.
- Gina? Como vai, maninha?
- Muito bem, obrigada. E você?
- Ótimo! Parabéns!
- Obrigada!
- E então, Josh? - perguntou Harry. - E os parafusos?
- Eu não fiz naaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaada.
- Não fez, é?
- Eu xó peguei os palafujo e coloquei nuns bulaquinho na palede... xó ixu!
- Buraquinho na parede? - perguntou Harry olhando interrogativo para Rony.
- Tomadas, Harry.
Os três olharam. Hermione vinha entrando. Os cabelos lanzudos meio presos atrás da cabeçam, ainda mais bonita do que era quando era jovem. Parecia haver um pequeno relevo em seu ventre, onde ela colocava as mãos. Rony se adiantou.
- Está melhor? - perguntou, oferecendo-lhe o braço.
- Sim, já passou - ela aceitou o braço de Rony, cumprimentou os amigos e se sentou.
- Esta gravidez está me dando mais trabalhos do que a de Josh e Robert. Nunca passei tão mal.
- Cadê ele? - perguntou Gina, notando a ausência do rapaz.
- Está com Lily na outra sala, a espera dos outros.
Os olhos das velhas amigas se encontraram, e elas trocaram sorrisinhos discretos. Os rapazes conversavam sobre quadribol.
Logo ouviram mais vozes diferentes na outra sala.
Harry se lavantou, sorridente, e colocando Josh no chão para cumprimentar o novo casal (que não tinha absolutamente nada de novo), que acabara de entrar.
A mulher tinha os cabelos vermelhos com várias mechas brancas preso num coque, e olhos profundamente verdes que se encheram de lágrimas ao ver o filho. Vinha acompanhada de um homem magro com os cabelos ainda negros e depenteados, usava óculos redondos com lentes bem grossas. Sorriu também, e pareceu rejuvenescer uns 15 anos com o sorriso maroto.
- Mamãe! Papai! - exclamou Harry, abraçando os recém chegados. - Como foi a viagem?
- Ah, você sabe, querido - disse a bruxa. - Pó de flú já não me faz muito bem. Não é mais como antigamente!
Ela suspirou e Harry riu.
- Que isso! A senhora ainda é muito jovem!
- Como vai, sr. Potter? - perguntou Gina, dando um abraço no sogro.
- Ótimo! - respondeu ele sorridente. - Saudades do quadribol, apenas. Na minha idade, não enxergo nem um pomo direito.
- James trocou a vassoura pela bengala, Harry.
Todos olharam. Sírius, com a aparência mais jovem do que qualquer um deles vinha logo atrás dos amigos.
- Sírius! - exclamou Harry se levantando e indo cumprimentar o padrinho que lhe deu um abraço de quebrar os ossos. - Não vi que tinha chegado também. Cadê o Lupim?
Sírius suspirou, indo se sentar ao lado de James.
- 'tá chegando a lua cheia.
Não foi preciso mais nenhum comentário.
Conversaram alegremente por algum tempo. Mas passados alguns instantes a imagem se evaporou completamente, e Harry se viu perdido em um lugar repleto de fumaça. Uma fumaça estranha, como se fosse uma substância desconhecida, branca, gélida, cuja textura ele não conseguia adivinhar se era gasosa, se era sólida... Tentou chamar os outros.
- Gina?
Silêncio.
- Mamãe? Papai? Sírius!
O silêncio continuava...
- Rony? Hermione? Líly? Cadê vocês? Isso é uma brincadeira?
Tentou andar, mesmo sem enxergar absolutamente nada. Seus olhos piscavam, cegos pela escuridão cinza que tomava conta do local.
Tropeçou em alguma coisa, e caiu, em cima de algo que lhe pareceu um corpo.
- O... o que..?
Esfregou os olhos, tentando enxergar. Mas era em vão, ele não conseguia...
- Quem...? Quem é...??
Foi de repente: ele tentou se aproximar um pouco de onde ele imainou estar o rosto da pessoa, quando a fumaça de dissolveu exatamente naquele lugar, o suficiente para tornar visível o rosto de Gina.
Ela tinha os olhos abertos, marcas roxas envolta deles, e sangue escorrendo de um corte horizontal em toda a extensão do pescoço.
Harry deu um pulo para trás.
- Gina! - exclamou desesperado, sem conseguir voltar a olhá-la.
A imagem ainda estava fixa em seus olhos, em sua mente. Tentou se afastar, com os olhos tapados pelas mãos, mas pisou em alguma coisa que fez seu coração parar.
Não era possível... era? Mas ela estava na outra direção!
Mesmo sem confiar muito no que fazia, Harry se voltou para olhar. Um grito, que pareceu não ter sido ouvido por ninguém, ecoou de sua garganta quando ele viu no quê tinha pisado:
Era Lily, sua filha, e ao seu lado tinha um belo rapaz, também ruivo, com os lindos olhos castanhos de Hermione, agora sem brilhos, sem beleza, apenas... abertos.
- Lily! Não, o quê... - tentou virar o rosto da garota, mas ela estava gelada, sem vida...
- Não, isto não está acontecendo, é um absurdo...!
Harry tentou sair correndo dali, perturbado, mas escutou uma gargalhada fria e sombria, que o fez paralizar.
Tudo começou a girar na cabeça de Harry. As imagens de Lily, Gina, Robert, a gargalhada fria, tudo se misturou dentro de sua cabeça e ele pensou que iria vomitar. Fechou os olhos e os apertou com a força, na esperança de que sua cabeça parasse de rodar. Estaria até funcionando se ele não sentisse uma mão agarrar o seu joelho e fosse obrigado a abrí-los novamente.
Se deparou com Sírius, os olhos esbugalhados, com sangue por todo o lado direito de seu rosto, tentava dizer alguma coisa...
- Harry... Seu pai... e sua mãe... Voldemort... mortos.
Caiu, sujando suas vestes de sangue.
A fumaça se dissolveu completamente, e ele pode ver o que não queria ver. Lílian e James Potter estavam mortos, caídos em cima do sofá, mas não eram Lílian e James com mais de 60 anos; eram Lílian e James jovens, de 20/25 anos... Virou as costas pronto para correr, aquela gargalhada fria ainda ecoando em sua cabeça, mas deu de cara com Rony. Tentou falar com o amigo, contar tudo o que estava acontecendo, pedir para que ele lhe dissesse que aqueilo não era verdade, até que percebeu que faltava alguma coisa no amigo: Faltava o brilho da vida. Só quando chegou nessa conclusão percebeu a palidez estampada no rosto dele e suas olheras escuras.
Se afastou correndo, definitivamente achando que ia vomitar. Aquilo não podia estar acontecendo, as pessoas que ele tanto amava...!!
Mas acontecia. Tinha esperanças de encontrar Hermione e Josh agora. Eram os únicos... Tinham que estar vivos, tinham que ter escapado!
Olhou ao redor, e a encontrou. Sentada no sofá com Josh em seu colo, ela ergueu os olhos quando ele a viu, e sorriu. Como ela podia sorrir com tudo oq estava acontecendo? Foi quando ele notou que começava a jorrar sangue por uma de suas narinas, e por entre seus lábios. Olhou novamente para o garoto, e viu que ele não estava mais ali. O que havia poderia já ter sido uma criança, mas agora não era mais nada, além de uma massa grotesca de carne e sangue.
Harry acordou. Não deu tempo de chegar até o banheiro, se virou e vomitou ali mesmo. A figura daqueles corpos desconfigurados latejando em sua cabeça.
Se sentia mais estranho do que nunca. Ver aquela lembrança não lhe fizera bem, se sentiu agora na pele de Elizabeth, perdendo todas as pessoas que amava.
Se sentou na cama, acendeu as velas que tinha ao lado (batendo palmas) e procurou a varinha. Quando a encontrou, limpou a sujeira ao lado da cama, e permaneceu em silêncio, tentando acalmar as batidas descompassadas de seu coração.
Levantou-se e olhou no espelho.
- Lumus! - exclamou, e uma claridade maior iluminou o seu reflexo, pálido, no espelho.
- Foi só um sonho - disse a si mesmo, ao perceber que continuava com seus 17 anos a julgar por sua aparência jovem. - Só um sonho, nada mais.
- Falando sozinho, eh?
Harry se sobressaltou, a varinha em punho caso precisasse usá-la. Quem estaria ali? Não estava sozinho?
- Quem está aí? - perguntou.
- A mesma coisa pergunto eu, quem está aí? - a voz respondeu, quer dizer, também perguntou.
O coração de Harry voltou a acelerar-se. Aquela voz... Onde ouvira antes?
Tomando corajem, acendeu as outras velas.
Não viu ninguém no quarto.
- Quem está aí? - repetiu. - Quem é você?
- Sou sua consciência - falou a voz, repentinamente mais séria.
- Hãm? - fez Harry. Será possível? Estar ouvindo a própria consciência agora? - Quero dizer... Mesmo?
- Claro que não, né, ô besta! Tinha que ser um Black! Você não acreditou de verdade, acreditou?
Harry não respondeu. Um misto de frustração e raiva se alimentavam dentro dele.
- Não sou um Black - resmungou.
- Não? Ah... então seja bem vindo! Venha até aqui para que eu possa olhá-lo melhor.
- Até aqui... onde?
- Ai, ai... Tem certeza de que não é um Black? De onde está vindo minha voz? Não basta você seguí-la?
Aquilo estava começando a me irritar...
Harry se virou para onde ele achava que estaria vindo a voz. Continuou sem ver ninguém. Mas um grito o fez se assustar.
- O que houve? - perguntou Harry.
- James? - perguntou a voz.
Harry ficou em silêncio, olhava para o chão a fim de ver algum ser pequeno, sei lá... alguma coisa que lhe indicasse que não estava falando com a própria sombra.
- Não sou James - respondeu.
- Como assim não é o James! É um irmão gêmeo ou o quê? E porque vc tanto olha para o chão?
- Estou procurando você, oras!
- 'tá me achando com cara de rato? Não vai me achar aí embaixo!
- Então vou achar onde?
Harry começou a virar para o outro lado, já completamente irritado. Acabara de ter um péssimo sonho e o que menos precisava agora era de alguma sombra falante resolver ficar lhe dando lições.
- Ei! Eu estou aqui em cima!
Harry ergueu os olhos, confuso. Foi com um assalto de susto e alegria que percebeu que a voz vinha de um porta retrato pendurado entre tantos na parede, a diferença era que quase todos os outros cochilavam.
- Sírius! - exclamou, se lembrando finalmente porque a voz soara tão familiar:
Sentado, no maior charme e ego que poderia ter naquela época, estava seu padrinho Sírius Black; um Sírius jovem, talvez com a mesma idade dele, com os traços de beleza que possuía antes de Azkaban roubá-la dele.
- Você me conhece, é? - perguntou ele.
- Você é meu padrinho - respondeu Harry, se aproximando. - Quero dizer, era antes de morrer.
- Eu morri?
Harry piscou; estava óbvio que aquele retrato só mantinha as recordações que obtivera em sua idade.
- Morreu - disse ele, sentindo um nó na garganta.
- Ah... Que triste! Não pude nem ir ao meu enterro! Mas padrinho? Eu sou seu padrinho?
- Sim...
- Você se parece tanto com James! - exclamou Sírios, olhando- o atentamente.
- Eu sou filho dele...
- Filho? Filho de James? Mas James não tem idade pra ter um filho do seu tamanho! E seus olhos... engraçado! Parece os olhos de... Não! Mas ela nunca se casaria com ele... ha!
- Sírius... - Harry começou pacientemente. Estava feliz, no fundo, por poder falar com seu padrinho, por mais que não fosse o padrinho que conhecera. E não ligava em explicar toda a história, era até bom, de certa forma. Fazia com que se distraísse e esquecesse o cruel sonho.
Sírius escutou tudo atentamente. Toda a história. Não acreditava que Lily e James haviam se casado, se divertiu com isso. Depois, soltou uma onda de palavrões e ofensas a Pedro, quando soube que ele entregara os Potter.
- Ah! DEixa esse Pedro comigo! Eu não acredito que ele nos traiu! Mas deixa só eu encontrar com ele na rua! Eu mato ele~, ou morro tentando!
Harry sorriu.
- Mas você está morto, Sírius. Não vai ter como matá-lo. Eu o mato por você, não se preocupe.
- Ah! É!
Sírius era mesmo como Harry imaginara através da penseira em seu quinto ano. Era bem divertido, e uma ótima companhia.
Quando terminou de contar toda a história, alguns raios de sol já entravam pelo quarto.
- Esta é uma situação complicada - disse Sírius. - Lamento por você. Lamente muito.
- Tudo bem - disse Harry, se saber o que mais poderia dizer.
- Você parece que teve um sonho perturbado - continuou o padrinho. - Não quer desabafar?
- Não, não foi nada - respondeu Harry, depressa.
MAs em questão de segundos, Ele já se viu contando tudo o que se passara com ele naquele dia, desabafando tudo o que sentia, todo o peso que tinha em seus ombros, tudo que o incomodava, que ele só queria ser um garoto normal vivendo com as pessoas que amava, e que não queria nunca que a vida delas ficassem em risco graças a ele. Que muitas das pessoas haviam morrido por sua culpa, e que ele se sentia mal por isso.
Sírius era um bom ouvinte. Ouviu tudo atentamente, sem interrupção. Não fazia comentários, nem careta, muito menos mensão de interromper para dizer algo.
Harry estava aliviado por poder falar com alguém assim, sem remorsos, sem achar que está estrapolando, que está incomodando alguém.
Parou um instante para respirar, e notou que já falava há muito tempo. Decidiu parar um pouco, foi então que o seu padrinho do retrato resolveu abrir a boca.
- E seus amigos? O que acham disso?
Harry pensou por alguns segundos.
- Então - disse - Eles dizem que não deveria me sentir assim. Estão do meu lado sempre, e eu agradeço isso. Mas... Ao mesmo tempo acho que estão estragando suas vidas. Eles não precisam fazer isso, não foram "destinados" a derrotar Voldemort, têm o caminho livre. Tenho certeza de que gostariam de abandonar tudo isso e viver uma vida normal.
- Porque tenho certeza?
- Oras, porque apesar de não dizerem nada, quem iria querer uma vida assim? Só não querem me deixar sozinho.
- E você sabe porque, não sabe?
Harry abriu a boca, mas logo fechou-a novamente. Entendeu, finalmente, onde o padrinho queria chegar.
- Eles não reclamam, Harry - continuou Sírius. - Porque, como você mesmo disse, são seus amigos. Não são obrigados a estarem com você, podem abandonar isso a hora que quiserem. E por que não abandonaram? Porque não querem. Escolheram estar ao seu lado, escolheram esse caminho. Ninguém os está obrigando a ficar com você, Harry. Estão do seu lado porque querem.
- Eu sei mas... As vidas deles estão em risco por minha causa.
- Por sua causa? Tem certeza de que é por sua causa? Faz diferença para quando Voldemort for matá-los, se eles estão com você ou não?
Harry não respondeu. Estava se sentindo bem melhor com as palavras dele, não era como receber uma bronca, uma lição de moral. Era um conselho... Coisas que ele só estava acostumado a ouvir de Dumbledore...
- Não - disse. - Tem razão. Voldemort não se importa em quem são as pessoas que quer matar, apenas se importa com seu poder. Nâo vai fazer diferença...
- Exatamente. O que ainda os deixa livres para poderem escolher se vão querer permanecer ao seu lado ou se vão querer aproveitar o máximo de conforto que podem ter enquanto a guerra ainda não começa de vez. E o que eles escolheram?
Harry ficou quieto novamente, a resposta latejando na sua cabeça.
- Considerarei isso como uma resposta. Sei que você compreendeu. Estão do seu lado, e você pode confiar neles. Sei que confia - retornou, quando Harry o olhou, indignado. - Mas digo que deve abrir um espaço maior para que seus amigos entrem na sua vida. Eles querem continuar ao seu lado, mas querem participar da sua vida para poderem lhe ajudar melhor. Não estão reclamando, a culpa não é sua pelo que anda acontecendo. Tem que compreender isso. A culpa é de uma única pessoa: Voldemort.
Harry concordou com a cabeça, satisfeito e aliviado. Foi bom ter conversado com Sírius, apesar de ser um Sírius diferente do que ele conheceu. Estava se sentindo bem melhor.
- Obrigada - agradeceu, e o padrinho lhe sorriu.
- Não foi nada. Normalmente nunca tenho nada para fazer, foi bom conversar com você. Vem sempre aqui?
- Vou ver se dá para ficar dormindo aqui, senão, qualquer coisa eu apareço sempre para conversar com você. Obrigada de novo.
- Espero ter ajudado em alguma coisa.
Foi a vez de Harry sorrir.
- Ajudou - respondeu. - Ajudou sim. Agora acho que é melhor eu sair daqui... as pessoas devem estar acordando...
Ele olhou para a janela, estava bem claro, apesar da chuva que caía.
- Vou tomar um banho e descer para o café. Encontro você aqui em qualquer momento?
- Normalmente sim, se eu não estiver paparicando o quadro de minha mãe...
Ele sorriu com o olhar de Harry.
- É brincadeira, claro!
Harry saiu do quarto, sentindo-se mais leve e novamente com suas forças recuperadas para prosseguir.
Sentiu-se um pouco envergonhado pelo comportamente que tivera até então, desde quando voltou do hospital. Mas... Ele também era humano! Agora tinha certeza de que os amigos entenderiam isso.
Apesar de se sentir bem melhor, ainda precisava de um banho.
Chegou ao banheiro mais próximo, trancou porta, depiu-se, e entrou embaixo do chuveiro.
A água estava gelada... Caíu sobre sua cabeça, enxarcando-lhe os cabelos em questão de segundos. Ele fechou os olhos e os apertou, pensando no sonho que tivera e na conversa que acabara de ter com o retrato jovem de Sírius Black.
Era tudo muito confuso, ele sabia. Primeiro tivera uma imagem desesperadora na cabeça, depois conversara com a pessoa mais inesperada e ao mesmo tempo mais conveniente naquele momento.
Mas... fora bom, fora útil. Ele estava tranquilo agora, estava em paz....
Abriu os olhos, terminou o banho e se vestiu, descendo para o café da manhã, que provavelmente já estava sendo servido.
N/a: A propósito, terminamos na página 144 do Word. Vocês tem noção do tanto que já leram até agora? Bjos
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