A revanche de Vicky



- É aquele ali se achando com a bruxa de verde? – perguntou Nissenson enquanto ele e Vicky espiavam para as pessoas que esperavam na fila para entrar no novo clube.
- É.
O dragão saiu do lado dela para ir em direção a eles, mas Vicky o segurou pelo braço perguntando:
- Vai bater nele?
- Não me confunda com o Christopher. – disse ele apenas, soltando a mão dela e voltando a caminhar.
Conforme ele se aproximou, várias vozes estridentes começaram a exclamar ‘D4!’, ‘Nissenson do D4 está aqui!’, e todas as garotas da fila para entrar no clube ficaram alvoroçadas, inclusive a que estava com Kevin. Foi justamente na frente dela que Nissenson parou e sorriu dizendo de uma forma galante:
- Seu sorriso chamou a minha atenção, senhorita.
- Sério? – perguntou a bruxa não parecendo se conter em si de ter recebido um elogio de um dos bruxos mais cobiçados da Inglaterra.
Kevin o encarou abobado, ainda não entendendo a intenção dele:
- Que foi? Quem é ele? – ele perguntou para a bruxa.
- Não quer ir para um outro lugar comigo? – convidou Nissenson, sem dar a mínima atenção para o garoto ao lado dela.
- Eu vou! – ela respondeu prontamente, não pensando duas vezes em se soltar de Kevin – Vou sim!
- Ei! – o garoto a segurou pelo braço.
- Não tenha idéias precipitadas! – disse ela zangada para Kevin, soltando o seu braço – Não leve a sério só por que eu saí com você algumas vezes!
- Faça o que quiser! – bufou ele com raiva – Posso arranjar outra igual a você em um piscar de olhos!
- Tchauzinho, idiota! – ela se despediu quando Kevin saiu e então perguntou ao dragão – Aonde vamos?
- Desculpa, mas hoje não vai dar. – disse Nissenson que também saiu, deixando a bruxa completamente confusa para trás.
Ele passou por Kevin, esbarrando nele de propósito, indo em direção a Vicky e dizendo:
- Eu já tenho alguém que merece toda a minha atenção. – então ele colocou o braço em volta da cintura dela, sorrindo satisfeito para o garoto.
- Vicky? – murmurou Kevin os encarando com um misto de raiva e surpresa.
- É seu conhecido, Victory? – perguntou o dragão fingindo estar interessado em saber.
Vicky olhou bem para Kevin e procurou fazer uma expressão de desprezo tão cruel que ele sentiria na alma:
- Sei lá... devo ter visto ele pela rua.
Nesse exato momento, atrás deles, Mary surgiu dobrando a esquina e parou um pouco distante, se agarrando na primeira parede que encontrou. Estava mais ofegante que antes, mas aliviada por ter encontrado a amiga.
Kevin fez um aceno com a cabeça para Vicky, como se dissesse que havia entendido a mensagem e fez menção de sair, passando direto por eles, mas Nissenson o segurou pelas vestes e ameaçou:
- Se você se atrever a fazê-la chorar de novo, acabo com você! – e o soltou.
Vicky olhou para o dragão sorridente, tentando dizer que lhe seria eternamente grata por aquilo.
Kevin ajeitou as vestes e saiu, sem dizer mais nada. Mas ao ver uma Mary vermelha e sem ar, escorada na parede do clube, ele pareceu fazer uma ligação sobre o que estava acontecendo e disse para ela:
- Então era isso! Uma vingança sua e daquele tal de Doumajyd, não?
- O quê? – perguntou Mary em um fiapo de voz.
- Diga para ele que apesar daquele jeito estranho dele eu tinha achado que ele era um cara legal! Eu realmente queria ter apresentado umas garotas legais para ele naquele dia! Mas ele preferiu ficar com uma sem graça igual a você!
Mary sentiu como se aquelas palavras tivessem lhe soterrado.
Então... Doumajyd tinha batido no estúpido do Kevin porque ele havia lhe dito para deixar elas e ir atrás de outras?!
- Ele nem ao menos sabe trair! – riu-se Kevin – Ele não é de nada!... Mas para alguém como você, é perfeito! – e saiu, só não gargalhando por ainda estar muito perto de Nissenson.
Mary não pôde se conter. Respirou o mais fundo possível, sentindo uma raiva imensa circular por todo o seu corpo, lhe dando forças, e praticamente rosnou assim que ele passou por ela:
- ESPERE AÍ!
O garoto parou, já quando estava para virar a esquina, e voltou-se para ela com cara de quem achara muito divertido o tom de voz que ouviu.
- Me desculpa por ser sem graça! – disse ela indo até a frente dele, o encarando com toda a intensidade de ódio que conseguiu reunir.
- Ainda bem que você reconhece, baixinha!
- Mas... – ela puxou as mangas das suas vestes e afastou um pé do outro, em uma pose típica de lutador, com os punhos no ar – Não ouse falar isso do Doumajyd na minha frente, por que... – ela deu três pulinhos e berrou – UM LIXO COMO VOCÊ NÃO CHEGA NEM AOS PÉS DELE!!! – e lhe deu um soco certeiro no nariz, fazendo com que o garoto caísse e rolando pelo chão – IDIOTA! VOCÊ NÃO MERECE NENHUMA DAS LÁGRIMAS DA VICKY! – ela ainda bufou antes de seguir até amiga, pegá-la pela mão e levá-la consigo, nem ao menos prestando atenção que havia deixado Nissenson para trás.
Porém o dragão não se mostrou incomodado. Apenas acenou alegremente se despedindo das duas, certo de que os problemas daquele dia haviam terminado.


***


Doumajyd ainda estava na ala do D4, deitado em uma das poltronas pensando, enquanto brincava de jogar para o alto a maçã que Macgilleain havia deixado.
O amigo havia lhe dito para pensar no que estava fazendo, e ele tinha se dado conta que, desde que expulsara Ryan, não tinha analisado realmente tudo o que havia acontecido. Estava mesmo trocando uma amizade de anos por alguém que até há pouco tempo ele nem sabia que existia?... Quem tinha o peso maior em sua vida: Mary Ann Weed ou o D4?
Foi então que ele percebeu que alguém tentava lhe contatar pela esfera. Ele a retirou do bolso do casaco e esperou que a fumaça tomasse forma.


***


- Vou me encontrar com o Ryan! – informou a imagem de Doumajyd na esfera de MacGilleain.
- O quê?!
O Dragão da Lufa-lufa estava em sua sala comunal, tentando passar o tempo com qualquer coisa que o fizesse esquecer dos problemas do D4, quando o amigo o chamou.
- Ele me disse para ir até a estação! – falou Doumajyd e sua imagem mostrava que ele estava andando apressado enquanto falava. – Ele foi expulso e ainda assim se atreve a falar comigo daquela maneira!
- Espera, Chris! Você está nervoso! Se acalme antes de-
- EU VOU MATÁ-LO!
E a imagem se transformou em fumaça espiral.
Sem pensar duas vezes, Macgilleain pegou o seu casaco e saiu em disparada pelos corredores do castelo. Precisava chegar à estação antes que o amigo fizesse alguma besteira, e precisava encontrar Nissenson para ajudá-lo o mais rápido possível.


***


Depois de ter deixado uma Vicky muito mais animada na entrada da sala comunal da Corvinal, Mary finalmente achou que poderia descansar de todo o estresse que estava tendo naqueles últimos dias. E assim que entrou no seu dormitório ela se largou em cima da cama, bocejando demoradamente.
Porém, uma coisa ainda a incomodava: Doumajyd não tinha culpa do que acontecera e ela havia sido extremamente injusta com ele. Precisava falar com o dragão e, no mínimo, pedir desculpas...
Ela olhou para a gaveta onde estava trancada a esfera que o líder dos Dragões havia lhe dado. Logo a imagem de Doumajyd lhe lançando um olhar mortal e dizendo que iria matá-la por não ter acreditado nele desde o princípio surgiu em sua mente. Isso definitivamente era o mais provável de se acontecer, levando em conta com quem ela teria que lidar.
Então uma idéia brilhante lhe veio à cabeça: uma carta. Poderia escrever uma carta para ele se desculpando e explicando tudo o que havia acontecido. Dessa forma, não teria que falar diretamente e isso daria um tempo para o dragão esfriar a cabeça em relação com esse assunto até no outro dia, quando ela esperava ter coragem para conversar com ele.
Sem esperar mais, ela pegou a sua mochila ao lado da escrivaninha, derrubou todo o conteúdo dela em cima da cama, separou um pergaminho e uma pena e pôs-se a escrever.

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