A CARTA DE LUPIN



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“ Você me seguirá
Com o sol em seus olhos
E por conta própria.” (Keane)




O sol somente nasceria dali a quatro horas, no entanto Harry e Hermione não estavam em suas camas. Alguma coisa ocupava a mente dos dois, impedindo-os que adormecessem. Embora nenhum deles conseguisse compreender exatamente o porquê, já fazia certo tempo que a falta de sono havia se tornado uma amiga constante na rotina daquelas férias. Cansado de dar voltas no quarto de hóspedes, Potter abriu a janela, projetando o corpo para frente. Ele sentiu o vento estranhamente frio acariciando sua face, enquanto gotas discretas da chuva pareciam abrir caminhos nas lentes dos seus óculos. Em um outro cômodo, Hermione folheava impaciente alguns livros, procurando por respostas capazes de por fim às dúvidas que a consumiam durante todo o verão. Não demorou muito para que os dois, derrotados pela insônia, acabassem fazendo a única coisa razoável em uma situação dessas: abandonar o quarto. Quando ambos se encontraram a caminho da cozinha, com as faces ainda cansadas do dia animadamente agitado que tiveram, ficou impossível conter a sensação de preenchimento e felicidade por partilharem tantos instantes. No entanto, foi difícil também ignorarem a expressão fatigada no rosto do outro.

- Harry? Imaginava que você ainda estava dormindo, – ao sentir a própria mão ser envolvida pelo calor de outra, Hermione surpreendeu-se enquanto caminhava. Aquele pequeno gesto do rapaz a recordou, em frações de segundo, a mudança que se operou no relacionamento dos dois; a maneira como aquela conexão sempre existente se modificou de uma forma imprevisível no ano anterior.

- Não, – Potter a fitou de maneira demorada, ainda tentando desvendar o motivo que fez a menina permanecer desperta até aquela hora. – Não haveria como eu dormir quando eu sentia que você poderia estar acordada, Mione – o garoto respondeu com um sorriso, todavia sem enfrentar imediatamente a preocupação que o tomava. Talvez, as mesmas razões pelas quais Potter continuava - dia após dia - dormindo cada vez menos, estivessem impedindo que o sono de Hermione chegasse. Os dois continuaram a trocar olhares cúmplices quando chegaram à cozinha, contudo nenhum ousou interromper o silêncio daquela conversa muda.

Enquanto Potter se lembrava mentalmente de vários momentos maravilhosos com os Granger, ele percebeu já haver passado alguns meses desde a sua partida da casa dos Dursley. Ainda era difícil para Harry acreditar, mas seus tios permitiram a viagem. Aquela visita inesquecível a Stratford tinha se prolongado em uma proveitosa estadia que apenas terminaria dali a algumas horas, já que ele e Hermione viajariam para a Toca. Por algum motivo, ambos estavam bastante preocupados com a ausência de notícias dos Weasley, embora desconfiassem das razões daquela falta absoluta de correspondência. Potter ainda se perguntava intimamente quais efeitos o tempo teria naquele caso e, se não tivesse percebido uma estranha palidez invadir as feições de Hermione, ele mergulharia ainda mais em todas essas reflexões. Entretanto, seria impossível ignorar o que se seguiu. De repente, Hermione fixou-se absorta em um ponto distante na janela e, sem explicações, deixou o copo de leite que segurava escapar-lhe dos dedos, caindo violentamente sobre o chão. Os estilhaços se espalharam ruidosos entre a poça branca que agora se formava e, ao longe, a garota parecia assistir a um filme inesperadamente exibido apenas para ela:

- Depressa, idiotas! – a voz fria ecoou pelo corredor negro parcamente iluminado e o som de chamas se acendendo mostrou que aquele lugar vazio já não se encontrava tão ermo quanto deveria estar. A madrugada avançava impiedosa e, enquanto todos dormiam, algumas pessoas permaneciam secretamente despertas e prontas a realizar as determinações recebidas, quaisquer que elas fossem. – Para onde foram os outros?

- Até a outra sala, mestre. Eles acharam um modo de remover os obstáculos – o homenzinho com expressão de roedor apressou-se em responder.

- Excelente! Não devemos demorar muito. Quero que retorne à entrada principal e verifique se está tudo bem. Dessa vez, não poderão existir falhas – ordenou o impaciente bruxo, voltando-se para apreciar a própria imagem refletida numa cúpula de ouro. Ele olhou para o chão de piso xadrez, encarando de maneira enfadada dois corpos que jaziam inertes ali e apenas sorriu pela ironia de toda aquela situação. Observou compenetrado outros tantos objetos existentes nas prateleiras e peças de exposição e se questionou como um tesouro particular tão relevante poderia ser negligenciado daquela forma. De qualquer sorte, pouco importava. Melhor para ele, pior para os outros.

- Mestre, conseguimos! – informou alguém mais distante, mantendo o tom baixo.

- Encontraram-no também? – indagou o bruxo aos demais servos que acabavam de chegar.

- Sim, mestre, – confirmou um deles, retirando o capuz negro e revelando a cabeleira loira. – Já é um dos nossos agora. Só falta encontrar um meio para garantir que o retorno seja seguro.

- Então não falta mais nada – comemorou o bruxo com extrema satisfação.



*****


- Mione! Mione! – Harry gritava pela segunda vez a uma garota totalmente ausente. O menino ainda não conseguia entender como seus berros foram insuficientes para despertá-la do estranho transe em que ela se encontrava. Como se observasse em sua frente uma tela cheia de imagens fragmentadas, Hermione ainda procurava absorver as cenas que passavam em sua mente de forma inexplicável e desconexa. Ignorando os insistentes cutucões que pressionavam seu ombro de modo incômodo, ela permaneceu imersa naquele universo invisível até sentir uma leve tontura se apossar do próprio corpo. Uma escuridão foi, pouco a pouco, nublando a sua visão e os sons, antes claramente audíveis, tornaram-se meros zumbidos indecifráveis. Sem conseguir explicar como havia chegado até lá, a morena se viu deitada sobre a cama do seu quarto, minutos depois do desmaio, observada atentamente por um Potter apreensivo.

- Mione, toma um gole disso – o garoto pediu bastante preocupado. – Vai se sentir melhor. – Harry a fez beber metade do copo com água que havia apanhado na cozinha e ajeitou todos os travesseiros ali existentes de forma a assegurar o maior conforto possível para ela.

- Não foi nada, – tranqüilizou Hermione com a face lívida e uma voz fraca.

– Como não foi nada? – Harry indagou incrédulo. A cicatriz dele latejava insistentemente, mas aquele não era o instante de pensar nela. – Você sequer me escutou quando a chamei, Mi, e ainda desmaiou. Sabe que não posso considerar isso “nada”, - insistiu o rapaz. - Preciso procurar pelos seus pais...

- Não, - suplicou a menina. – Foi somente uma sensação ruim. Com toda a chuva, está fazendo um frio grande essa noite. Por favor, não os acorde por isso... Vamos viajar daqui a pouco para a Toca e tenho certeza de que o tempo lá estará mais fresco. Não quero preocupar minha família sem motivo...

- Mas, Mione, nunca a vi daquele modo... Você parecia estar em outro lugar. Simplesmente não estava mais aqui... – o menino resistiu aflito.

- Harry, vai ficar tudo bem. Não sei exatamente o que aconteceu, mas prefiro ter certeza antes de dizer. Promete não acordar os meus pais?

- Mione...

- Basta ficar aqui comigo... Só preciso de você agora... – Forçando um sorriso, Hermione implorou com um semblante debilitado. Harry a observou vagarosamente, avaliando se deveria ou não ceder a um pedido daqueles. Apesar de uma voz em sua consciência quase exigir que ele relatasse o ocorrido aos pais dela, bastou um apelo frágil para impedi-lo de pronunciar qualquer palavra sobre aquele assunto. Potter beijou Hermione calmamente e permaneceu ao seu lado até o sono preguiçoso e envolvente a arrastar para algum local inexplorado e do qual certamente ela não lembraria com o raiar do sol. Depois, o rapaz caminhou em passos silenciosos pelos corredores do casarão, ainda intrigado e pensativo. Ele havia evitado se questionar sobre o que poderia ter efetivamente ocasionado o súbito desfalecimento de Hermione, no entanto tinha a impressão de que aquele verão chuvoso não guardava qualquer relação com aquilo. Inquieto, Harry desceu a longa escadaria rumo à cozinha. Desejava recolher os cacos de vidro e impedir que a bagunça levasse aos naturais questionamentos sobre o acontecido. O menino possuía a imaginação frouxamente solta e quase não percebeu o som de uma voz branda chamando-o devagar.

- Sem sono, rapaz? – o velho senhor Granger, avô de Hermione, indagou de maneira amistosa enquanto oferecia um dos assentos da sala ao garoto. Potter não havia reparado na presença dele alguns minutos antes, contudo o homem de olhar tranqüilo continuava ali na penumbra. Apenas contemplado o ir e vir das chamas na lareira.

- Senhor Granger? Não tinha percebido que estava aqui... - confessou Harry, notando-o somente naquele instante.

- Cheguei aqui faz pouco, - explicou o homem de bigode engraçado, afastando a bengala para que Potter pudesse sentar.

- Está precisando de alguma coisa que eu posso fazer? – O menino questionou educadamente.

- Não, Harry. Aprecio o seu cuidado. Está tudo bem comigo, rapaz. Mas acredito que é você quem está precisando de algo que eu posso fazer: conversar. O que o está deixando apreensivo ao ponto de fazer você perder o sono?

- Sabe? Ainda estou procurando a resposta, – o menino sorriu de maneira corajosa e, apesar de não entender a razão, sentia-se completamente à vontade para falar com o avô de Hermione.

- O começo das respostas sempre está nas perguntas. Primeiro se pergunte sobre o que o incomoda. A resposta virá em seguida e como conseqüência – o velho homem fitou Harry com interesse, parecendo escolher as outras palavras que usaria em seguida. – Possui relação com a minha neta?

- De certa forma sim. Hermione é muito importante para mim, senhor Granger, e tenho medo de que algumas das minhas escolhas tenham sido erradas. Tenho medo de como isso vai afetar a Mione daqui em diante – Potter confessou honestamente, observando o senhor Granger enrolar o bigode entre os dedos nodosos, de forma pensativa.

- Filho, não há nada mais certo do que a convicção de que um dia erraremos. Mas, mesmo as escolhas aparentemente erradas, podem se mostrar certas depois. Dependerá de como você vai reagir aos acontecimentos que vierem delas. Não se preocupe com minha neta, Harry. Ela costuma acertar nas escolhas que faz, – o velho Granger sorriu sinceramente para Potter, enquanto piscava o olho de maneira significativa. – Agora, tome um bom copo de leite e tente dormir. Acredito que seus amigos chegarão logo para apanhar vocês.

- Obrigada, senhor Granger. Ainda o verei? – Potter perguntou sem esconder o apreço que desenvolvera pelo avô da namorada. Certamente sentiria saudades dele e possuía a leve impressão de já ter escutado palavras semelhantes àquelas em uma outra ocasião.

- Harry, despedidas nunca fizeram bem ao meu coração, entende? Verei vocês saírem da janela do meu quarto. Meu filho e minha nora vão se despedir melhor por mim e, antes de dormir, darei um beijo em minha neta. Cuide dela do mesmo modo que ela cuidará de você e tudo ficará bem – finalizou o senhor Granger, levantando-se com o apoio da bengala. O velho homem bagunçou os cabelos de Potter com carinho, abraçando-o de modo paternal. Então, caminhou vagarosamente para a escada, sumindo minutos depois no ponto mais alto; e sem perceber que Harry ainda o olhava lá embaixo, com extrema admiração. O garoto sentia haver alguma coisa nas palavras do avô de Hermione. Elas eram bem mais profundas do que simples expressões de conforto e, decididamente, existia algo maior nelas, apesar de Potter ainda desconhecer o quê.

A fim de recolher os cacos de vidro e limpar o leite que havia se espalhado sobre o chão, Harry rumou apressado até a cozinha. Logo, a bagunça foi substituída pela antiga e acolhedora ordem que marcava o lugar. Potter apanhou a lata de biscoitos e se serviu de outro copo de leite quente. Esperava recuperar o sono enquanto observava pela janela o ar noturno perder o seu espaço para o dia que chegava. Mas, um ponto de luz intermitente se aproximou de modo estranho do vidro, obrigando o menino a se levantar para verificar do que se tratava. Harry recriminou-se imediatamente por não estar na posse de sua varinha e se prometeu não cometer o mesmo erro, caso a situação fosse superada. O garoto apanhou a vassoura que havia usado para limpar o chão e abriu a porta dos fundos, fechando-a por fora. Apurou os ouvidos, com o objetivo de captar qualquer som, e não demorou a perceber uma coisa peluda ronronando entre os arbustos. Potter empurrou a vassoura de modo ameaçador em direção às árvores, fazendo respingar gotas da chuva acumulada nas folhas. Não demorou muito e ele pôde ouvir também um miado irritado, seguido de um grito de dor. Havia acertado o alvo.

- Ei! Isso dói! – resmungou uma voz bastante conhecida. A cabeleira ruiva deixou o abrigo dos arbustos, carregando uma bola de pêlo nervosa que não demorou a pular dos braços do garoto com uma aparência pouco amigável. Bichento fugiu em direção ao quarto de Hermione, enquanto Harry ainda saudava o amigo recém chegado.

- Rony! Por que não avisou que era você? Pensei ter visto alguma coisa, mas esperávamos que chegasse mais tarde. – Potter abaixou a vassoura, aliviado.

- Trocamos a hora e achamos melhor aguardar aqui... Acreditávamos que vocês estivessem dormindo, – explicou o ruivo apertando o local onde Harry tinha atingido.

- Não foi minha intenção... – Potter falou sinceramente envergonhado.

- Tudo bem, – resignou-se Rony, aceitando as desculpas do amigo.

- Pelo jeito, você também incorporou os métodos trouxas de defesa, – interrompeu Jorge sorridente, com um falso tom sério. - Acertar as pessoas com vassouras? Fred, nosso pai precisa saber disso, hein?

- É, Harry, mas se lembre de que você ainda é um bruxo. Ou era quando o deixamos. As vassouras devem ser enfeitiçadas para varrer, ou usadas para voar... um apanhador deveria saber disso, – continuou o outro gêmeo que surgira na ponta das folhagens, esforçando-se muito para controlar o riso.

– Mas o que você esperava fazer com essa vassoura? – Rony questionou assombrado, massageando o lugar dolorido. – Não seria melhor usar a varinha?

- Cuidado com o que deseja! Se com uma simples vassoura você está mancando, é melhor não desejar que Harry use a varinha em outra oportunidade! – Gina falou sombriamente. - Não sobraria muita coisa – completou a menina entre risos, recebendo uma careta do irmão como resposta.

- Gina? Afinal, quantos de vocês vieram? – Potter indagou visivelmente surpreso.

- Apenas nós quatro! – Informou a ruiva, abraçando Harry de maneira cordial, sem notar um leve constrangimento no rosto do rapaz. – Jorge veio buscá-lo, já que papai não pôde. Fred, Rony e eu decidimos vir também agora que a Toca está vazia.

- Vazia? – Harry questionou com evidente curiosidade.

- Papai recebeu um chamado urgente do Ministério da Magia quando estávamos saindo. Parece que aconteceu alguma coisa não sei onde... e mamãe viajou para a Ordem da Fênix correndo, mas nos disse que voltava logo – Ronald falou aos sussurros, observando ao redor.

- E Neville, Dino, Luna e Lilá? Eles estavam passando as férias com vocês, certo? – Potter perguntou, no entanto continuava pensando sobre a convocação repentina do senhor Weasley.

- Eles já voltaram para suas casas, Harry. Talvez alguns apareçam na Toca antes do início das aulas, - ponderou Gina, um pouco incerta se todos retornariam mesmo.

- E a Mione? – Rony questionou naturalmente interessado. Havia meses que não trocava uma palavra com Hermione ou Harry e era evidente que sentia falta de ambos.

- Deixei-a dormindo... – Respondeu Potter. - Quer dizer, Bichento já deve tê-la acordado agora. Vamos entrar – o menino sugeriu, fazendo todos andarem até os fundos.

- Você conseguiu se trancar do lado de fora, Harry? – Ao perceber a porta fechada, Gina analisou o menino com uma expressão indecifrável. – Não é seguro ficar sem varinha fora de casa nos dias de hoje.

- Já estava sem varinha quando vi uma luz vindo em direção à janela. Não sabia quem estava aqui, mas tinha certeza de uma coisa: não havia tempo para pegar varinha alguma. – Levemente incomodado por aquela observação da ruiva, o garoto coçou a cabeça. Efetivamente não foi a melhor das idéias, no entanto a única que Harry tivera naquele instante. – Fred, Jorge, vocês... – Antes que Potter pudesse terminar a frase, um breve estalido se seguiu: Crack! Os ruivos haviam acabado de aparatar no interior da cozinha e abriram a porta para que todos entrassem.

- Vocês adoram fazer isso, não é? – recriminou Rony após alguns minutos.

- Enquanto tomamos chá em frente à lareira quentinha e esperamos Hermione, deveríamos deixar o senhor aqui fora no frio por essa reclamação, – sugeriu Fred com um olhar terrivelmente maroto.

- Acho que não será preciso me aguardar, nem deixar Rony congelado, mas poderíamos mesmo considerar a idéia desse chá como uma boa despedida do casarão – argumentou Hermione, encerrando o princípio de uma calorosa discussão. Ela carregava Bichento entre os braços, verdadeiramente animada pela presença dos amigos.

- Mione! – exclamaram Rony, Gina, Fred e Jorge ao mesmo tempo e minutos antes de formarem uma fila para abraçar a garota. Harry fixou sua atenção na evidente e rápida melhora que ela tivera desde o instante do desmaio, sentindo-se feliz por ter se enganado quanto à primeira hipótese que conseguira levantar secretamente.

- Mi, você está bem? – O menino esperou que todos estivessem entretidos em uma algazarra passageira para se aproximar da namorada e questionar. Ele alisou carinhosamente a face dela com uma das mãos, percebendo a mudança na temperatura. – Está mais quente agora.

- Já estou bem melhor, – Hermione o acalmou, aproveitando o instante de distração de todos. – Vamos falar com meus pais para sairmos?

Potter concordou mecanicamente e, após juntarem todas as malas nos fundos do casarão, despediram-se com brevidade. A senhora Granger conseguiu se manter calma, apesar de demonstrar clara ansiedade ao lado do marido. Não era a primeira vez que ela apresentava dificuldades naquela separação, todavia certamente foi a única na qual observou a filha caminhar sem voltar o olhos para trás, procurando uma segurança perdida. Na verdade, Hermione demonstrava estar mais consciente do que qualquer outro sobre os obstáculos que poderiam surgir no futuro, contudo era a coragem grifinória que moldava suas ações e não o medo.

- Cuidem bem um do outro, – pediu a senhora Granger, acenando para o grupo que se afastava em direção ao ponto mais arborizado dos jardins.

Atravessando os arbustos, os gêmeos, seguidos de Gina, Rony, Harry, Hermione, e um trio de malões voadores, caminharam depressa até um objeto curioso que se encontrava fincado no solo como uma estaca de madeira.

- Chave de portal? – indagou Harry ainda avaliando aquele estranho graveto.

- Não... Magia de Ilusão, – explicou Fred com simplicidade. - Papai nos emprestou o novo veículo dele e o disfarçamos antes de deixá-lo aqui. O ruivo sorriu quando o irmão idêntico rodeou o pedaço de madeira, conjurando os feitiços reveladores.

– Papai achou melhor não usarmos as chaves de portal, nem a rede de flú com a confusão no Ministério, - concluiu Jorge, ao se afastar da estaca que agora parecia emitir raios de luz alaranjados enquanto se abria cada vez mais, dividindo-se e se agrupando em milhares de tranças, ora grossas, ora finas. Aos poucos, o emaranhado disforme de cordões foi se arrumando de tal modo a formar uma cesta grande e forte que possuía uma discreta portinhola.

- Vamos! – Convidou Rony que a abriu, entrando primeiro. - Mamãe evidentemente ainda não imagina como chegaremos à Toca, - admitiu o menino, pensando na reação da mãe se soubesse daquilo. – Para ser mais honesto, mamãe não sabe da existência disso...

- E convém que permaneça sem saber... – asseverou Gina atrás do ruivo. – Lembra-se do último artefato trouxa que o papai enfeitiçou?

Quando Hermione e Harry chegaram ao cesto, que agora parecia enorme, fitaram o alto, apreensivos, como se tentassem enxergar algo mais. Para surpresa de ambos, pequenas poltronas confortáveis os aguardavam no interior daquele curioso meio de transporte. Jorge e Fred também entraram, fazendo os malões levitarem até um canto da imensa cesta e coube ao último proferir o feitiço que produziu um feixe de chamas azuis. Cuidadosamente, o ruivo direcionou-o com a varinha até um ponto acima das cabeças de todos, acomodando-o em um compartimento transparente. O fogo azulado alimentou a linda bola de tecido prateado, perceptível somente aos olhos deles. Pouco a pouco, ela se encheu majestosa ganhando altitude e arrastando para o céu aquela imensa cesta onde todo o grupo se encontrava.

- Estamos em um balão? – perguntou Hermione atônita, encarando a luz intermitente que as chamas provocavam.

- Então foi isso que eu vi da janela. – Potter constatou igualmente estupefato. – Não parecia um balão...

- Papai projetou para que, na escuridão, as pessoas notem apenas a luz. Elas imaginam ser uma estrela, – riu Gina. – Há um costume trouxa de fazer desejo para estrelas que passam, não é? – A ruiva indagou a Harry e Hermione. A morena tinha fixado sua atenção no nascer do sol que despontava no horizonte e aparentou não escutar a pergunta.

- Há sim... – apressou-se o rapaz em responder.

- Fico imaginando quantos pedidos não foram feitos a esse balão por engano, - comentou a ruiva, voltando-se para Fred e Jorge que estavam ocupados em controlar aquele grande monstro voador.

- Balões voam normalmente no mundo trouxa. Alguma razão especial para disfarçar esse? – Hermione havia despertado da sedução que o nascer do sol exerceu sobre ela durante aquele começo de manhã.

- Papai se preocupou em dar mecanismos de disfarce para que pudéssemos voar sem sermos vistos. Durante o dia, tem o nuviador que pode disfarçar o balão em nuvens compatíveis com o tempo do ambiente. Se houver uma tempestade, as pessoas lá embaixo nos enxergarão como uma nuvem escura e pesada. Caso haja sol, uma nuvem branca. Por uma questão de segurança, sabe? - Esclareceu Rony, encarando a amiga nos olhos pela primeira vez depois de meses. – Senti sua falta... – abaixando a voz para que apenas Hermione pudesse ouvir, ele assumiu sorrindo. – Precisamos arrumar a festa de aniversário do Harry, certo? – Acrescentou finalmente, antes de receber o olhar agradecido dela.

Quando chegaram à Toca, Harry ficou feliz ao constatar que o lugar pouco havia mudado. Os gêmeos continuaram lá fora por um tempo; certamente para esconderem o balão em algum lugar secreto. Assim que tornaram à entrada da casa, os dois ainda puderam ouvir um barulho de aparatação apressada.

- Você por aqui? Não deveria estar na Ordem como todos os outros?– perguntou Fred, assustado com aquela visita inesperada. – Aconteceu alguma coisa?

- Queria ver se haviam chegado bem... – justificou Lupin que parecia estar extremamente pálido e cansado. – Onde está Harry?

- Lá dentro, - respondeu Jorge. – Papai foi chamado ao Ministério e nos mandou cuidar de Harry e dos outros.

- Não posso demorar, mas preciso trocar uma palavra com o Harry antes de ir. Podem chamá-lo aqui fora? – Remo pediu com um olhar pesaroso e os gêmeos concordaram imediatamente. Instantes depois, Potter saia esfregando as mãos para espantar o frio daquela atípica manhã de verão.

- Professor Lupin! Jorge e Fred disseram que desejava falar comigo... Por que o senhor não entrou?

- Não tenho muito tempo, Harry. – O rosto do Remo se contorceu em um misto de dor e resistência. – Você precisa me prometer que não fará nada sem consultar Dumbledore...

- Fazer... Fazer o quê? – Desesperou-se o rapaz sem compreender absolutamente nada. – Do que o senhor está falando, professor?

Chamando a atenção de Harry e Lupin, um segundo barulho de aparatação se seguiu. Ao mesmo tempo, ambos apontaram imediatamente suas varinhas em direção ao ponto de onde vinha o estrondo, baixando-as em seguida, após constatarem quem se tratava.

- Remo? Todos estão procurando por você... O que houve afinal? – Tonks o olhava, apreensiva. – Oi, Harry – cumprimentou ela finalmente.

- Precisava ver se Harry estava bem... – Lupin falou de modo vago. – Vamos voltar...

- Professor, mas e... – O menino não teve tempo de balbuciar as últimas palavras.

- Depois, Harry. Depois... – encerrou o bruxo, pouco antes de aparatar com Ninfadora para algum lugar desconhecido por Potter.

O garoto entrou na Toca com uma expressão de ansiedade e frustração. Não tinha entendido aquilo que Lupin tentara lhe dizer e se sentia visivelmente irritado por mais uma vez ter sido deixado fora de algo importante e que, com certeza, guardava relação com ele. Hermione foi a única quem percebeu a mudança no humor de Potter e teve de fazer um grande esforço para não indagar sobre o que havia se passado naquela conversa rápida entre Harry e Remo.

Com o correr do dia, as coisas pareceram melhorar. Enquanto Rony se encarregava de ocupar o tempo de Harry com uma partida de xadrez bruxo, Gina e Hermione começaram a organizar os preparativos para a festa surpresa do dia 31 de julho. Jorge e Fred, por sua vez, revezavam-se vasculhando os arredores da Toca, à procura de sinais estranhos, mas o faziam discretamente, a fim de que os demais não se preocupassem de modo desnecessário.

- Lupin tentou me dizer alguma coisa... – Potter contou a Rony o que havia acontecido.

- Realmente estranho. Todos da Ordem foram chamados por algum motivo, sabe? Até a mamãe, que não costuma deixar a Toca sem nós, viajou. Se Lupin veio, ele estava muito preocupado com você. Melhor você não fazer nada mesmo sem conversar com professor Dumbledore.

- Mas eu não estou fazendo nada, - retrucou Harry, chateado. – Esse é o problema.

- Você contou a Hermione sobre a conversa com Lupin? – Perguntou o ruivo, observando o amigo com ansiedade.

- Não. Achei melhor não estragar a festa surpresa que ela está preparando... – assumiu o moreno, olhando através da janela do quarto de Rony uma coruja se aproximar esbaforida.

- Fe-festa surpresa? De onde você tirou essa idéia? – As orelhas de Ronald estavam vermelhas e uma repentina tosse o acometeu.

- Pela sua reação, não tenho mais dúvidas, – Harry riu do ruivo e abriu uma das vidraças para que a coruja entrasse. Apanhou cuidadosamente a carta que estava na patinha dela, recompensando-a com um pouco dos petiscos de Edwiges. – Carta de Lupin... – o garoto comunicou logo, antes de mergulhar em uma leitura silenciosa. – Ele quer me ver...

- Ver? Ele acabou de ver você, Harry! – Ronald encarou Potter sem acreditar.

- Não é agora. Ele deseja que eu o encontre no dia 31 de julho.

- 31 de julho? Quê! Ele enlouqueceu? Você não pode ficar passeando por aí com Você-Sabe-Quem querendo matá-lo! Foi por isso que professor Dumbledore preferiu alternar suas férias em casas diferentes dessa vez. Para todos os efeitos, você ainda está nos Dursley, sabia? Tenho escrito cartas essas férias inteiras para lá e respondido as cartas que recebo.

- Como isso é possível? – Potter fitava o amigo com ceticismo e uma expressão irada. – Por que eu não fui informado sobre nada?

- Não sei, Harry. Coisas de Dumbledore... Agora, eu sei de uma coisa: não faz o menor sentido Lupin querer que você saia no dia do seu aniversário; um dia que ele estará aqui como os outros, para conversar sei lá o quê em algum lugar esquisito. – Rony se alterou. – Tem algo errado.

- Lupin não quer conversar, Rony. Ele quer me entregar alguma coisa sobre a qual não pôde falar e possivelmente não poderá me dizer na frente dos outros em meu aniversário.

- Então você está pensando em ir? Não acredito... - Ronald balançava a cabeça negativamente em sinal de discordância.

- Ao menos, alguém quer me esclarecer o que está acontecendo, – resmungou Harry, amargurado. – Isso se tornou coisa rara – continuou o moreno enquanto devolvia a coruja ao peitoril da janela.

- Certo... Apenas acho que você não deveria ir. Lupin estará aqui no dia 31. Se ele virá, qual a razão de fazer você ir até lá?

- Não sei ainda, mas, quando todos parecem estar escondendo alguma coisa, já é muito alguém tentar esclarecer algo, – o moreno reclamou mais uma vez, guardando a carta no bolso. – Não quero que Hermione saiba disso.

- Tudo bem. – O ruivo se levantou da cama profundamente ofendido. – Mas, sabe? Acho que você poderia seguir o primeiro conselho que Lupin lhe deu. Foi o único sensato nessa história toda.

- Qual?

- Você deveria escrever ao Dumbledore antes de fazer qualquer coisa... – embora possuísse uma vaga certeza de que o amigo já não o escutava mais, Rony murmurou e seguiu em direção à sala com a convicção de que o ambiente lá embaixo deveria estar bem melhor.



Continua...


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Agradecimentos:


Meus queridos,

Que prazer retornar! Que coisa boa reencontrar os meus leitores antigos e os novos que estão chegando! Realmente, esse carinho de vocês é a maior recompensa pelo esforço que faço para estar aqui. Muitos já sabem das minhas complicações com a falta de tempo e têm consciência da relevância das opiniões, sugestões, dicas, apoios, críticas e manifestações que vocês expressam aqui. Quem já me conhece de outras ficções sabe que sempre tento atender aos pedidos feitos por cada um e sempre mantenho meu ouvido aberto para aprender. Portanto, sintam-se soltos para comentar, escrever, reclamar, bendizer e maldizer, pois tudo isso importa e é o que transporta a ficção para o universo de vocês. Continuarei me empenhando, apesar do fator tempo, e conto com a paciência e generosidade de todos para compreenderem as minhas limitações. Nós vamos começar mais uma ficção... “Nós”, porque meu trabalho é em conjunto com vocês e, na medida do possível, aperfeiçoado pelos comentários que recebo de todos. Espero não ter perdido o jeito com a tentativa de escrita, nem cometido homicídios grandiosos contra as regras de português. Aqui, apenas tento alegrar, entreter e espero conseguir isso com a ajuda indispensável de vocês para melhorar a cada capítulo. Sejam vem vindos! Agora, sigo para os comentários ainda não respondidos. Todos me deixaram bastante feliz!

Querido JERRY MAGUIRE, eu tentei como pude antecipar o nosso encontro, mas foi realmente impossível. Saiba que também senti a sua falta e, apesar de não estar aqui, lembrava-me sempre de você e todos os amigos da livraria Floreios e Borrões. Espero que tenha conseguido atender parte da sua expectativa com esse capítulo, Jerry. Sua confiança realmente me comove e senti bastante sua falta também. Muitos beijos, Arwen.

JULY MALFOY, obrigada! Fico contente que tenha gostado do prólogo, querida, e feliz que aprecie a escrita. Seu pai é bastante sábio. Realmente é muito difícil ver todos os erros e leio inúmeras vezes antes de postar. Quando passamos muito tempo trabalhando em um texto, é complicado enxergar. Por vezes, deslizamos em algo que sabemos e enxergaríamos, caso não estivéssemos tão envolvidos. Ces´t la vie (é a vida/ risos). Obrigada mesmo pelo seu carinho e também pela sua presença, querida.

CORRETOR UMBRIGDE, obrigada pelas sugestões para melhora da escrita. Saiba que costumo prestar atenção ao escrever. Ao menos, tento – embora nem sempre consiga ver tudo. Geralmente, escrevo em horários pouco adequados e isso deve contribuir para que os erros aconteçam. Eu, como você, também não sou professora de português e sempre acho que é possível melhorar! Portanto, não me incomoda seu estilo de comentário e você sempre será bem vindo. Na verdade, nenhum comentário deve incomodar qualquer autor, se for feito com educação. Quando escrevemos algo, estamos sujeitos à avaliação positiva e negativa. Acredito que tudo pode ser usado como um fator de amadurecimento. Certamente, alguma coisa boa deve ter chamado sua atenção nessa ficção. Afinal, seu comentário robusto e detalhado demonstra que você se preocupou em apontar as eventuais falhas existentes para que eu aperfeiçoasse e corrigisse possíveis vícios. Apenas posso agradecer! Notei que você confundiu algumas coisas (sujeito e predicativo do sujeito/ “venenoso ardil”/ venenoso só está qualificando ardil), mas respondi cada um dos pontos que você levantou por e-mail para não transformar esse espaço de comunicação em um debate gramatical (risos). Tornar-se-ia realmente enfadonho. Se você quiser novamente esmiuçar o uso da norma culta na língua portuguesa, agradeceria se utilizasse o meu e-mail {[email protected]}. O MSN será ainda mais útil, pois adoraria escutar suas opiniões com mais atenção! Beijos e muito obrigada pelo auxílio!

Querido OTAVIO BACH, demorei muito para o primeiro capítulo, mas me deixa muito feliz ver que você está aqui! Pode deixar: vou continuar confiante, mas sempre ciente de que é possível melhorar. Fico muito contente em saber que gosta do estilo de escrita adotado aqui. Realmente, nunca é possível agradar a todos e, apesar do esforço, sempre faltará alguma coisa (seja aqui, seja em outro lugar). Meu esforço será para que falte cada vez menos! Agradeço mesmo seu apoio! Você sabe que é um leitor especial! Beijos, querido, e até o 2°.

TAY A.P.A, muito obrigada mesmo! Alegra-me saber que gostou da “Poção” (tenho um carinho muito especial por ela e o amor foi fundamental lá). Generosidade sua dizer que sou uma escritora boa. Faço apenas um esforço grande para que fique o melhor possível e não tem preço escutar isso de você! Beijos grandes, Arwen.

PROSERPINE APONI GRANGER MODINGER, que coisa linda de se escutar (ler). Saiba que seu amor é correspondido! Realmente ainda não tinha capítulo e sou grata pela sua fidelidade e paciência. Você não conseguiu ver a Folha da Magia? Vou enviar para o seu e-mail e, se não conseguir ler mesmo assim, darei outro jeito. Jamais permitiria que você ficasse fora disso. Justo você? Uma das melhores investigadoras daqui. Não. Você lerá a Folha... Providenciarei isso. Você assistiu ao Senhor dos Anéis, foi? Amo os livros e os filmes. Estava morrendo de saudades de você, sabia? Beijos especiais, querida!

GABRIEL MICHELOTTO, demorei mesmo, não foi? Desculpas, querido! Uma pena não ter conseguido atender ao seu desejo antes, mas agradeço muito a sua presença aqui! Beijos para você!

BRUH ANGELLORE, sei que você me entende e como isso me deixa aliviada! Li o seu comentário lindo lá na Folha da Magia! Maravilhoso saber que gostou da idéia! Lembrei-me de você quando a tive. Não sei se a fanfic vai ser brilhante, mas darei o meu melhor para que ela seja alguma coisa (espero que boa/risos). A ficção COLD FEELINGS está tão intensa! Ainda preciso me atualizar por lá! Mas, em setembro (engraçado... começo das aulas em Hogwarts) sei que estarei mais livre (assim espero). Beijos grandes minha adorada, Bruh! Também esperava revê-la antes, mas o que importa é que nos encontramos agora e é sempre muito bom rever as pessoas das quais gostamos!

Agradeço novamente TODOS pela presença, pelos importantes comentários (aqui e na Folha da Magia), por tudo que cada um representa. Vocês sempre são a razão de ser da história que é escrita por vocês e para vocês!

Beijos, fiquem com Deus e até o nosso 2° encontro,

Arwen Undómiel Potter.



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