Sem surpresas?
Harry Potter não conseguia dormir naquela noite de 30 de julho.Seu quarto estava escuro.Acendeu a luz e colocou os óculos.Mais uma noite sem dormir, pensou enquanto se olhava no espelho.Você está doente, Harry.Olhou as horas, em uma hora completaria dezessete anos e não precisaria mais ficar ali.Perguntou-se então se detestava tanto o lugar que lhe acolheu por tanto tempo,vendo que não logo em seguida.Sentou-se na cama,esfregou a testa.A cicatriz formigava, mas já era considerado normal depois da volta de Voldemort.Levantou-se e foi até a janela, pondo-se a observar o céu negro e sem estrelas.Pensou em escrever a Sirius,mas este estava morto.Uma fisgada no peito de Harry fez com que ele deitasse novamente para esquecer aquele pensamento.A imagem de Hermione veio nitidamente em sua cabeça,dizendo a ele para esquecer o passado.Ela não sabia,ela nunca vai saber de nada.Com esses pensamentos,Harry adormeceu.
Uma hora depois uma revoada de corujas parou no parapeito da janela dele.Olhou no relógio novamente.Meia noite.Dirigiu-se para as corujas.Presentes dos Weasley,uma capa azul marinho,caixas com algumas "Gemialidades Weasley" dadas por Fred e Jorge,um álbum de fotos de Lupin,com todos os membros da Ordem antiga.Harry sentiu uma ponta de emoção ao ver seus pais parados ali,acenando.Hagrid mandara um bolo aparentemente feito por ele e uma caixa de doces da Dedosdemel.Mas os olhos de Harry pararam na última coruja.Ele desembrulhou rapidamente o embrulho do presente de Hermione,um livro sobre os melhores times de quadribol do último século.Pegou o pergaminho que estava junto a este e leu rapidamente.
Harry,
Feliz aniversário!
Rony e Gina estão aqui.Gostaria muito que você passasse o resto das férias conosco.
Lupin me disse ontem que pode dar um jeito de trazer você aqui se quiser.
Sinto muito a sua falta.
Com amor,
Mione.
Um arrepio desconfortável começou a subir pela nuca de Harry, acompanhado por uma sensação de felicidade súbita ao ver a caprichosa letra de Hermione dizendo que sentia sua falta.Controle-se Harry,pensou sorrindo,está parecendo uma garota.Pegou um pedaço de pergaminho na gaveta mais próxima e escreveu a resposta.
Mione,
Diga ao Lupin que eu vou,lógico!
Vou estar aí o mais rápido possível.
Você não tem noção do quanto sinto sua falta.
Com amor,
Harry.
Amarrou a carta na perna da coruja e esta ganhou os ares.Harry contentou-se em pensar que dentro de poucos dias estaria com os amigos.Foi até a janela olhar o céu novamente.Procurava algo.Procurava alguém.
Iluminada apenas pela luz da lua na janela,Hermione Granger lia um livro de transfiguração,quando sua coruja parou na janela e lhe entregou um pedaço de pergaminho amassado.Ela reconheceu a letra de Harry e sorriu.
Gina,que estava dormindo na cama ao lado,acordou sobressaltada.
- O que houve Mione? - Perguntou esfregando os olhos.
- A resposta de Harry chegou! - Respondeu ela indicando o pergaminho em sua mão. - Ele virá Gina! Ele virá!
Gina sorriu,ainda que se sentindo um pouco exasperada.Sentia falta de Harry.Eles passaram apenas algumas semanas juntos,mas mesmo assim,as melhores da vida dela.Ela demorara a entender o lado do garoto quando este resolveu terminar o namoro,porém concluiu que este estava certo,não podia arriscar a vida dessa forma.Mesmo assim,por algum motivo,ela achava que ter Harry na mesma casa que Hermione não seria uma boa idéia.Afastando isso da cabeça,ela virou-se para Hermione,que agora escrevia a Lupin.
- Hermione. - Ela parou de escrever e virou-se para encarar Gina. - Você gosta do meu irmão?
- Rony? - Gina fez que sim e ela prosseguiu. - É como um irmão pra mim mas...
- Mione!Como pode ser tão ingênua! - Vendo a expressão confusa no rosto da amiga ela explicou. - Meu irmão gosta de você,um pouco mais do que como uma irmã.Creio que você saiba disso há muito tempo.
- Gina eu... - A imagem de Harry surgiu imediatamente em sua cabeça.Sorriu discretamente e respondeu enquanto fitava o chão. - Não sei do que está falando.
Gina deu um longo bocejo e deitou-se,apoiando o braço esquerdo na cama.
- Tudo bem Mione. - Ela estreitou os olhos ao encarar a amiga. - Mas se quiser me contar alguma coisa,não tenha medo,ok?
Hermione fez que sim com a cabeça e enviou a coruja até a sede da Ordem.Fechou o livro e deitou-se,ficando de frente para a janela aberta.
- Procurando alguma coisa? - Disse Gina vendo que a amiga olhava fixamente para algum ponto do céu.
- Alguém... - Respondeu sem pensar.
Ao ver que Gina já estava dormindo,ela puxou os cobertores,mas não fechou a janela.Permaneceu ali olhando a lua e,dali a algum tempo,os primeiros raios de sol do novo dia.Cantarolava baixinho "Parabéns pra você...",concentrou-se para dormir,mas logo desistiu.Ela não sabia porquê,mas não conseguiria dormir naquela noite,mesmo se tentasse.
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Harry acordou na manhã seguinte com uma dor nas costas.Dormira no chão,próximo à janela.Colocou os óculos e se olhou no espelho novamente.Parecia melhor.Sorriu então,tentando imaginar alguém lhe perguntando quantas noites teria passado em claro.Ele mesmo já perdera as contas.Trocou-se e desceu para o café.
- Então agora é maior de idade? - Perguntou um tio Válter muito vermelho enquanto disputava a última fatia de bacon com Duda.
- Sim. - Respondeu ele servindo-se de ovos mexidos. - Vou passar o resto das férias na casa de Hermione e depois vou arranjar um lugar pra mim.
- Isso quer dizer que não vai mais morar aqui? - Disse ele,que após perder a disputa pelo bacon olhava esperançoso para o prato do filho.
- Não.Olha, eu agradeço muito por tudo que fizeram. - Disse o garoto fitando o chão por um momento. - Mas eu realmente preciso viver minha vida.
- E quando você pretende ir para a casa dessa sua amiga? - Dessa vez foi tia Petúnia quem falou,enquanto lavava a louça.
- Estou esperando uma coruja de um amigo meu que vai me levar até lá.
- Onde exatamente é "lá"?
- Londres - Respondeu Harry estranhando a preocupação da tia.
- Vai de flu? - Perguntou ela de repente virando-se para encará-lo.
- Creio que não. - Harry observou a coruja de Lupin romper os ares e parar na janela. - A carta chegou.
Harry tirou o pergaminho e leu.Dizia apenas que eles iriam de ônibus e que Harry deveria estar na estação às dez horas daquele mesmo dia.
- Já vou indo.O ônibus parte às dez. - Disse sorrindo antes de subir as escadas.
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- Lupin disse que viria com ele às dez. - Disse Hermione com um sorriso.
- Você parece estar muito mais animada do que deveria,Mione. - Disse Gina de repente ficando séria.
- Você também devia estar feliz,sabe?
- Eu não acho uma boa idéia ficar as férias inteiras com o meu ex-namorado.Muito menos ver vocês dois na mesma casa.
- Qual o problema de vocês dois? - Ela entendeu o sentido da frase e abaixou a cabeça. - Antes de serem namorados,vocês eram amigos,Gina.Lembre-se disso.
-Hum. - Fez Gina estreitando os olhos. - Rony está vindo aí.Melhor não falarmos com ele sobre isso.
- Ele vem? - Rony perguntou a Hermione,que novamente mergulhava em seu livro de transfiguração.
- Ás dez. - Ela respondeu sem olhar para ele. - Quer jogar xadrez?
O garoto fez que sim e ela conjurou um tabuleiro na frente deles e começaram a jogar.
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- Olá Harry! - Disse Lupin jovialmente ao vê-lo chegar na estação.
- Como tem passado? - Perguntou o garoto estendendo a mão para ele.
- Ah...Você deve saber. - Disse apertando a mão de Harry.Olhou para o céu e assoviou.
Bicuço vinha rasgando o céu,gracioso na medida do possível.Parou ao lado de Lupin e este fez uma reverência,logo retribuída pelo hipogrifo.
- Suba Harry.Mas ande logo,não tenho muito jeito com ele ainda.
Lupin deu um impulso e o hipogrifo levantou vôo. Harry sentiu o vento desarrumar ainda mais seus cabelos enquanto ganhavam mais altura e lembrou-se por um instante como era bom voar novamente.
O hipogrifo desceu rapidamente,denunciando que haviam chegado.Ele virou-se e avistou a casa.Era imensa e realmente muito bonita.Parecia ser bem arejada,na frente tinham alguns pilares de mármore que a faziam parecer com uma construção grega.Era toda branca com alguns detalhes em azul marinho.O brasão dos Granger estava na parte central da casa,imponente e iluminado diretamente pelo sol.
Gina e Rony estavam parados na frente da casa com as malas do recém-chegado.Ele fez sinal para os dois e após descer do hipogrifo correu até eles e abraçou Rony e depois Gina.
- E aí cara!Como está se sentindo? - Perguntou dando um tapinha em suas costas.Harry notou que o amigo havia crescido mais uns dez centímetros,se é que isso seria possível.Cortara os cabelos também,que agora estavam quase que tapando seu rosto.Harry lembrou-se de Sirius por um momento antes de Gina abraçá-lo.
- Que bom ver você,Harry. - Disse ela enquanto se abraçavam.Estava sentindo novamente o perfume doce de seus cabelos.Sentiu-se tentado mais uma vez...
- Onde está Hermione? - Perguntou a Gina e esta fechou a cara momentaneamente.
- Está lá dentro.Disse que está esperando você subir. - Ele sorriu e ela fechou a cara definitivamente.
- O que há com você Gina? - Perguntou por fim ao ver o rosto da garota.
- Nada...Esqueça. - Disse ela passando a mão pelos longos cabelos ruivos. - Suba logo,ela está no hall.
Harry subiu as escadarias devagar.Por que ela não descera para cumprimentá-lo como todos os outros?Será que finalmente...
Então Harry a viu.Estava sentada à beira da lareira com Bichento.Ao vê-lo ela fez sinal para o gato sair dali e encarou Harry,sorrindo.
Harry parou no mesmo segundo que viu Hermione sorrir.Não sabia o que havia naquele sorriso,tão enigmático,tão cheio de inocência.Olhava abobalhado para a amiga.Fizera algo com os cabelos,que agora não estavam mais cheios,mas sim caprichosamente enrolados.Crescera consideravelmente,adquirindo novos contornos.Ele não percebera como estava mais bonita desde a última vez que a vira.Qual é o seu problema Harry?
- Harry?Está tudo bem? - Hermione o encarava com curiosidade.
- Ham? - Fez Harry se esvaindo do devaneio e fitando o chão. - Está...Eu estou bem.
Ela o abraçou e assim permaneceram por um bom tempo.Ele nunca tinha parado para sentir o perfume dos cabelos dela,que não se comparava a nada que Harry já havia sentido.Sentia seus pés deixarem o chão enquanto as mãos dela passeavam pelas suas costas.E um arrepio gostoso subiu a nuca dele novamente quando ela começou a acariciar seus cabelos rebeldes.Ao perceber o arrepio de Harry,Hermione,que acabara de ter um calafrio quando Harry colocou os dois braços em volta de sua nuca,abraçou-o mais forte,se é que isso fosse possível naquele momento.
- Senti sua falta Harry. - Sussurrou ela em seu ouvido.
- Ham. - Eles se soltaram,desconcertados.Era a Sra.Granger. - Então esse é o Harry?Hermione não falou de outra coisa o verão inteiro.
- Sim. - Respondeu envergonhado,olhando Hermione,que agora fitava seus dedos da mão esquerda. - É um prazer conhecê-la. - Disse por fim,beijando a mão dela,sem deixar de encará-la nos olhos.
- Um perfeito cavalheiro,como disse a Hermione. - Ele sorriu.O Sr.Granger estava parado junto à escadaria,acenando.
- Sr.Granger. - Disse Harry jovialmente estendendo a mão para ele.
- Harry Potter.É realmente um prazer conhecê-lo.Hermione fala muito de você.
Assentiu com a cabeça e dedicou-se a examinar os pais de Hermione.Ela herdou os olhos do pai,castanhos e extremamente atentos a tudo,e a beleza da mãe.Eram muito parecidas,tinham o mesmo formato do rosto,nariz e boca.
- Não quer colocar suas coisas lá em cima Harry? - Disse Hermione atrás dele. - Posso te mostrar onde vai dormir.
- Ham?Ah! Claro... - Respondeu Harry,atordoado.
Subiram silenciosamente até o quarto onde Rony estava hospedado também.Era demasiado grande para apenas duas pessoas.Hermione sentou-se na poltrona próxima a janela e fez sinal para Harry se acomodar.
- Você ainda quer ir a Godric's Hollow? - Perguntou ela de repente,fazendo Harry se assustar um pouco.
- Sim. - Respondeu ele,que agora já não sorria.
- Quando partiremos? - Perguntou ela,encarando Harry com apreensão.
- Partiremos?Quem aqui falou "partiremos"? - Ele elevou o tom de voz suavemente,fazendo a garota parar de sorrir. - Vou sozinho.
- Ah não vai não! - Retrucou ela que agora falava alto também. - Você não vai bancar o herói de novo!
- Bancar o herói? - Levantou-se e encarou Hermione,já mostrando sinais de uma possível explosão. - Quer dizer que eu banco o herói?Sou eu que leio milhões de livros à procura de uma resposta pra tudo isso?Sou eu que sempre sei tudo?Responda Hermione!SOU EU?
- NÃO GRITE COMIGO! - Ela levantou-se também.Os olhos de ambos faiscavam. - VOCÊ PODE SER QUEM FOR,MAS NÃO TEM O DIREITO DE GRITAR COMIGO!
- E quem você pensa que é pra me dizer que banco o herói?
- Você sabe muito bem o que aconteceu quando você tentou bancar o herói no ministério.
- VOCÊ ESTÁ ME DIZENDO QUE A CULPA FOI MINHA? - Gritou ele,fazendo um vaso de flores que estava em cima da escrivaninha espatifar-se.
- É! TALVEZ ESTEJA SIM! - Respondeu ela,irracionalmente,na mesma altura.
- AH É?! - Disse ele,a raiva contrastando nitidamente com o verde intenso de seus olhos. - É ÓTIMO SABER DISSO! SE SOU UM ASSASSINO,POR QUE INSISTE EM IR A GODRIC'S HOLLOW COMIGO? POSSO MATAR VOCÊ,MIONE,SE É ISSO QUE ESTÁ QUERENDO DIZER.
- Eu me importo com você,Harry.Sabe disso. - Ela se sentou novamente,acalmando-se ligeiramente.
- Ah sim...Você se importa.SE IMPORTA TANTO QUE ESTÁ ME CHAMANDO DE ASSASSINO!
- Eu não chamei você de assassino.Você sabe que me importo Harry,só não admite. - Uma lágrima escapava silenciosa do seu olho esquerdo.
- VOCÊ NÃO SE IMPORTA! NUNCA SE IMPORTOU! PESSOAS MORREM NESSA GUERRA HERMIONE! EU VOU MORRER NESSA GUERRA MAIS CEDO OU MAIS TARDE! EU SÓ QUERO...
- NÃO DIGA QUE QUER ME PROTEGER! ACORDA HARRY! VOCÊ NÃO PROTEGE NEM A SI MESMO! QUE GRANDE HERÓI VOCÊ É,NÃO? LUTANDO SOZINHO! VOCÊ PRECISA DE NÓS HARRY! NÃO SEJA TÃO IRRACIONAL! PARE DE PENSAR EM SI MESMO! PENSE NO SIRIUS. - Harry sentou-se.O lábio inferior de Hermione tremia.Ela baixou o tom de voz e prosseguiu. - Pense que se você não fosse tão estúpido ele não teria morrido.
- Hermione.Você já me chamou de assassino,prepotente,irracional, estúpido...O que falta?Eu vou embora daqui,não se preocupe. - Disse ele,ironicamente,levantando-se e parando na porta do quarto. - Agora,por que não pega um bom livro pra ver se acha mais algum adjetivo pra mim?Ou que tal escrever ao Vitinho?Diga a ele que o Harry malvado gritou com você hoje,ele vai ficar muito zangadinho comigo.
Hermione sentiu o cérebro parar de trabalhar enquanto era tomada pela fúria.Levantou-se e se colocou na frente de Harry,que sustentava um sorriso de triunfo.Olhou dentro daqueles olhos verdes que conhecia tão bem.Controlando o impulso involuntário que sentia,levantou a mão e levou-a ao rosto de Harry,atingindo-o com uma força que não era sua.
- Hermione! - Disse Harry segurando o braço dela com força. - O que você...
A garota deixou-se perder por um instante naquela imensidão verde.Por um momento tudo que viu foram os olhos dele.Mas não podia,era perigoso demais.Lembrou-se então que acabara de dar um tapa no rosto dele e que ele ainda a segurava.
- NÃO TOQUE EM MIM! - Gritou ela antes de se soltar e correr para fora do quarto. - Você anda muito sensível.Cuidado para não matar o primeiro que te disser umas verdades...
Harry sentou-se na cama,exasperado.Como ela podia ter dito aquilo?Logo ela...Pensou,enquanto acariciava o lugar onde Hermione havia acertado o tapa,que agora estava muito vermelho e ardendo incomodamente.Levantou-se e fechou a porta.Começou a gritar todos os xingamentos que conhecia enquanto fazia tudo se espatifar sem tocar em nada.Não sou um assassino!Pensou,agora reparando tudo que havia quebrado com um aceno de varinha.Sem pensar muito no que fazer a seguir,desceu as escadas.
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