Uma agradável surpresa



Já haviam se passado cinco dias desde a chegada da família Evans em Los Angeles e pouca coisa havia mudado. Lílian e Petúnia viviam continuamente brigando uma com a outra, Jerry continuava espontâneo e divertido enquanto Jeannie, bom... Jeannie era Jeannie. Como sempre ela queria ter sempre o roteiro das férias em mãos que para ela era algo sagrado e intocável. Perfeccionista como era, já tinha planejado todos os lugares que a família iria visitar até o final do verão.
Porém naquele lindo sábado de manhã a rotina da família parecia drasticamente alterada. Petúnia estava empolgada porque hoje iria a praia conhecer os amigos de Susan, a sua nova colega que não parava de ligar para ela. As duas combinaram de se encontrar as oito da manhã na casa dela, já que Petúnia não conhecia bem a cidade. Jerry e Jeannie iriam almoçar num restaurante francês de três estrelas que parecia ser referência em Los Angeles. Lílian ia ficar sozinha no quarto, mas foi com Petúnia a praia por insistência de Jeannie que achava deprimente uma garota com aquela idade ficar trancada em um quarto de hotel num dia lindo de verão.

- Mas mãe, isso não é justo! Susan não a convidou - protestava Petúnia indignada de ter que levar Lílian a tira colo.
- Eu não faço muito questão de ir - disse Lílian de dentro do banheiro.
- Ela vai e ponto final! - falou Jeannie berrando para tentar por fim a esse assunto.
- Eu esperei esse tempo todo para poder conhecer os amigos da Susan e essa garota vai e estraga tudo.
- Você quer que eu faça o que, posso saber? Quer que eu a leve comigo? - disse Jeannie enquanto se levantava da cama que estava sentada e andava até o outro quarto.
- Essa era a idéia - disse Petúnia parecendo encontrar a solução.
- Você sabe muito bem que não dá. Eu e o seu pai precisamos ter algum tempo a sós.
- Algum tempo a sós? E porque que eu e que tenho que aturar ela - indagou Petúnia indignada.
- Já falei que não faço questão de ir a lugar algum! - intrometeu-se Lílian novamente.
- Chega! - gritou Jeannie irritada pela briga das duas - Vocês são irmãs e eu não quero ver vocês brigando de novo. Se me desobedecerem estarão de castigo até o fim férias!

Um silêncio momentâneo pairou sobre o quarto 909 do Green Garden Hotel. Todos pararam de se mexer para ficarem boquiabertos. Até Jerry, que lia pacificamente o seu jornal em um canto do quarto, parou.

- Espero que estejamos entendidas! - disse com rispidez Jeannie após algum tempo.
- Cla...Claro... - murmurou Petúnia em um tom baixo, ainda com uma cara assustada.

Meia hora depois Lílian e Petúnia estavam, pela segunda vez nessas férias, na rua Bartler. Petúnia se adiantou e já estava a frente da casa de Anna. Susan estava sentada em um banco no jardim.

- Por que da demora? Pensei que não vinha mais - Susan disse se levantando e indo até o portão da casa.

Nesse momento Lílian chegava.

- Por causa dela - disse apontando para irmã.

Lílian fechou a cara e disse em voz baixa.

- Estou aqui porque fui obrigada.
- Obrigada? Por quem? - apesar de Lílian ter murmurado Susan parecia ter ouvido perfeitamente.
- Pela chata da minha mãe. Acredita? - resmungou Petúnia - Já que essa garota é toda esquisita, não é de se surpreender que não tenha muitas amizade.
- Hei... pessoal! Já que estamos aqui, vamos logo - disse Susan pondo panos quentes na briga das duas e evitando uma catástrofe maior.

Uma vez saindo da casa de Susan não demoraram muito para chegarem na praia. Apenas entraram em um ônibus e dez minutos depois, chegaram.
Susan, Petúnia e Lílian, nessa exata ordem, desembarcaram e caminharam por uma rua até chegarem ao fim dela, ali era a praia.
Lílian se encantou com a formosura daquele lugar. Susan olhou para Petúnia e a viu igualmente fascinada pelo vai-e-vem das ondas.
Como em qualquer sábado de manhã ensolarado o local era ponto de encontro dos jovens. Lotado de pessoas bonitas em trajes de banho, Petúnia pensou mentalmente que aquilo era o paraíso.
Um grupinho de seis ou sete pessoas acenou para Susan que, prontamente, foi ao encontro de seus amigos. Perto dali, uma pequena quadra estava montada e uma rede esticada ao máximo. Parecia tudo pronto para uma amigável partida de vôlei.
Ao se aproximarem Susan vez as apresentações. Petúnia estava tão ocupada cumprimentando os seus novos amigos que não percebeu que Lílian se afastou dali. E estava ocupada mesmo, mas estava gostando muito de conhecer novas pessoas, até que viu aquele rosto conhecido novamente.

- Válter essa é a Petúnia. Petúnia esse é o Válter - disse Susan fazendo as apresentações desnecessárias a ambos.
- Você? O que está fazendo aqui? - perguntou Petúnia surpresa ao ver o "garoto do esbarrão" como gostava "carinhosamente" de chamá-lo em seus pensamentos.
- A praia é pública. E além disso eu vou aonde eu quiser - respondeu Válter em tom arrogante.
- Vocês se conhecem? - perguntou Susan assustada pela coincidência.
- Infelizmente - responderam ambos juntos.

Aos poucos um foi xingando o outro e se formou por ali uma pequena confusão. Petúnia já estava ficando ótima nisso, mal conhecia o garoto e já batiam boca. Uma pequena roda de pessoas se formou ali para assistirem. Comentários como "isso está melhor que uma luta de boxe" foram freqüentemente ouvidos.

- Queridos... por favor, por favor...- Susan havia apartado a briga, pelo menos aparentemente já que Petúnia ainda olhava torto para Válter - Já que estamos aqui, por que não vamos todos nos divertir juntos? Que tal, hein? - disse ela olhando de Válter para Petúnia - Não sei de onde vocês se conhecem, mas será que não dá para esquecer isso e tentar se divertir um pouco?
- Não, porque foi ele que começou. Aliás, ele começou tudo. - disse Petúnia com malícia na voz.
- Tudo o quê? - Susan já dava indícios de curiosidade.
- Ele... fez grosserias comigo - disse Petúnia pausadamente.
- Eu fiz? Se você é tão esperta me responda, o que foi que eu fiz?
- Nada em especial, mas esbarrou em mim - disse ela apesar de agora achar que perdia um pouco sua razão, já que ele realmente não havia feito nada demais e parte da culpa era dela.
- Eu não sei se você sabe, "senhora sabichona", mas você não estava muito atenta naquele dia.
- Típico, quer por agora a culpa em mim - falou com ar de arrogância. Ela sabia que andava mesmo distraída naquele dia, mas não poderia dar o braço a torcer, não agora.

Novamente Susan tentou apartar a briga.

- Por favor... - disse já meio descrente - Vamos parar de brigar. Pelo que eu entendi foi apenas um mal entendido que aconteceu entre vocês, então talvez possam pedir desculpas um para o outro e assim tudo se resolverá.
- Desculpas pelo quê? Eu não fiz... - Petúnia interrompeu sua frase ao meio, talvez fosse melhor parar agora do que continuar brigando manhã adentro - Está certo... me desculpe - disse estendendo a mão para Válter.

Válter em resposta apertou a mão dela.

- Talvez eu tenha alguma culpa - resmungou ele.

As pessoas presentes no momento aplaudiram aquela atitude. Petúnia abriu um sorriso discreto e Válter também parecia feliz.
Com o problema entre Válter e Petúnia aparentemente resolvido, todos voltaram a se preparar para o vôlei. Na hora do jogo Petúnia não parecia a melhor, mas até que para uma primeira vez tinha jogado bem. Válter, por outro lado, jogava muito bem. Parecia fazer isso a séculos. No final, aquelas horas de esporte deixaram ambos mais amigos.
No intervalo de um jogo e outro, Válter a chamou em um canto para conversarem.

- Vou ser sincero com você. E...e...eu - Válter gaguejava muito, sinal claro de nervosismo - eu pensei que... - não conseguiu evitar de passar nervosamente a mão no seu cabelo - você fosse muita chata, mas esse nosso reencontro me mostrou que talvez não fosse para acabar ali nosso relacionamento...

Petúnia o cortou na mesma hora.

- Relacionamento? Nos nunca tivemos um "relacionamento". Mal nos conhecíamos.
- De qualquer modo, eu acho que não era para ter terminado assim, conosco brigando. Talvez se nós nos conhecermos melhor poderíamos ter um relacionamento.
- Você está me chamando para sair? - perguntou tentando disfarçar a total surpresa.
- É - disse ele simplesmente.
- Nada contra você Válter, mas vamos devagar - Petúnia estava sem graça, nunca tinha dado um fora em rapaz algum - Temos amigos em comum e tenho certeza que ainda nos reencontraremos.

Válter saiu dali decepcionado.
Até que Válter era legal e Petúnia talvez até tivesse um carinho por ele, mas nada muito forte. Não iria sair com um garoto que mal conhecia.
"Será que eu devia ter aceito?" - ela ficou se perguntando até ser interrompida por Susan que a chamava.

- Petúnia! - gritou ela se aproximando da amiga.
- O que foi? - perguntou a amiga.
- É a sua vez de jogar.
- Você veio até aqui só para me dizer isso?
- Não - disse Susan sem graça - É que...eu vi você e o Val juntos, só queria saber o que estava acontecendo.
- Ele apenas me chamou para sair - disse Petúnia normalmente.
- E você aceitou, não é - Susan olhou para a cara da amiga já meio que adivinhando a resposta, mesmo assim insistiu - Aceitou , não foi?
- Não... mas, você não sabia que ele ia me convidar, ou sabia?
- E como eu ia saber?

Petúnia deu de ombros.

- Talvez ele tivesse lhe contado. Você aqui é a única pessoa que me conhece. Não precisaria pensar muito para deduzir que ele falou com você antes.
- É, ele falou - disse Susan admitindo.
- E por que você não me disse nada antes? - perguntou Petúnia indignada - Eu fiquei com a maior cara de tacho e sem saber o que responder. Se eu soubesse de tudo antes poderia ter ensaiado algo melhor para dizer. Fiquei totalmente surpresa com a aquela proposta.
- Você ficou surpresa?
- Lógico! - disse Petúnia como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
- Mas está tão na cara que ele gosta de você! - disse Susan naturalmente.
- Só que a menos de três horas ele me odiava e agora está gostando de mim? Isso é muito confuso. Ele nem se quer me conhece direito...
- Ok. Eu entendi que você ficou surpresa com o convite, mas por que recusou?
- Eu já disse. Eu não conheço ele direito e...
- Não é uma proposta de casamento e só um encontro - cortou Susan com rispidez.
- Você só pode estar brincando.
- Não estou não.
- Está certo. Você quer que eu saia com ele, não é?
- Claro que eu quero! - disse Susan.
- E eu posso saber por que?

Susan ficou desconcertada e sem palavras. Apenas olhou para o chão até encontrar uma resposta ao menos convincente.

- Porque eu gosto de te ver feliz - respondeu com uma cara deslavada.
- Não tinha uma resposta melhor para dar?

Susan bufou e resolveu de uma vez por todas contar a verdade.

- Eu falei para ele te convidar para sair - disse Susan num tom de voz quase inaudível, mesmo assim Petúnia ouviu muito bem.
- Você arrumou um encontro para nós dois, só isso, não foi? - perguntou Petúnia com medo da resposta
- Na verdade, eu tive que convencer ele que você estava gostando dele - disse novamente em tom quase inaudível.
- Eu não acredito! Que amiga que você é, hein? Mentindo...
- Eu só queria unir um casal - disse ela enquanto formava um sorriso bem grande no rosto.
- Desde quando você virou cupido?
- Eu não sou cupido, mas por que você não reconsidera a sua decisão e aceita o convite?
- Para que? Para ele me beijar achando que eu estou afim dele?
- Já vi que estraguei tudo - disse Susan cabisbaixa indo embora.
- É...estragou sim!

Depois das revelações de Susan, Petúnia não teria coragem de olhar para Válter de novo. Não hoje. Resolveu voltar para o hotel, não havia mais nada que pudesse ser feito. Chamou Lílian que estava sentada em um banco e partiram.

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