Prólogo
Era uma noite calma, uma noite claramente igual a tantas outras de Junho. Um friozinho agradável corria, escondido, pelos cantos da escuridão.Uma carruagem, guiada por cavalos pretos, puro-sangue, deslocava-se a alta velocidade pelas ruas londrinas. O aspecto da carruagem não passaria despercebido por qualquer habitante, mas a verdade é que ninguém dava conta que, mesmo a seu lado, cavalos imponentes, ofegantes, voavam.
Pararam em frente a um casebre abandonado. Os cinzentos das paredes e dos farrapos que esvoaçavam nos vidros partidos misturavam-se com a escuridão que o candeeiro apagado dava à rua.
Uma mulher elegante, de cabelos castanhos e olhos claros saiu meteu a sua cabeça fora da janela e murmurou
- 12, Grimmauld Place.
E, quem olhasse atentamente, veria que não existia mais um casebre, ali. Não. No seu lugar estava agora uma mansão imponente, de ar sombrio, e cujos portões se abriram automaticamente, enquanto uma voz fina murmurou dentro da carruagem.
- Bem vindos, mais uma vez à casa da família Black.
- SIRIUS! RÉGULOS!
Um grito feminino ecoou pela casa. Wallburga Black era uma mulher que não gostava de perder tempo. Nem de demoras. Nem de atrasos. Nem de imprevistos. Nem de mudanças de planos. Resumindo, Wallburga não gostava de nada que saísse dos ideais do Toujours Pour , a lei da família.
E nessa noite, tudo estava ao contrário dos seus gostos.
Primeiro, o irmão do seu marido tinha vindo antes do previsto. Depois, seus dois filhos não tinham aparecido quando os chamara pela primeira vez. E ainda, Kreecher, o elfo domestico, tinha-se metido sabe-se lá onde.
- Wallburga…
- Cygnus… Druella…
Apesar de serem da mesma família, não havia lugar para demonstrações de afecto. Não. Mais uma vez, isso ia contra os ideais da família.
- As tuas filhas estão crescidas. – apontava Wallburga, com um aceno de cabeça, em direcção às três jovens que permaneciam atrás dos pais.
- E os teus? Também me parecem crescidos… – murmurou Druella, numa voz calma, mas superior.
Wallburga olhou para trás. Lá estavam seus dois filhos. O mais novo, de cabelos pretos, lisos, olhos claros, de mãos ao lado do corpo, a seriedade no rosto que era tão parecido ao do pai. Régulos.
E o outro. Sirius. O mais velho. Também de cabelos pretos. Olhos azul-noite. Braços cruzados à altura do peito. Sorriso sarcástico. Tão parecido consigo e, ao mesmo tempo, tão diferente. Tão… rebelde…
Só pode indicar o caminho até ao salão, sendo seguida pelos dois adultos, enquanto os jovens ficavam para trás.
- Sirius. Régulos. Indiquem os quartos às vossas primas. Sirius. Leva as malas.
As três jovens permaneciam quietas, olhando nos olhos dos seus dois primos. Régulos parecia meio intimidado, mas Sirius encarava-as de frente.
- Não me digam que esperam que leve as vossas malas, não? – ele falou, num tom de ironia. E depois, bateu ao de leve na cabeça do irmão – Puto, vai descobrir o Kreecher e diz-lhe que leve as malas.
Régulos massajou a cabeça e ia retrucar, mas a ideia de ficar com as primas era mais assustadora, e logo desapareceu por detrás de uma esquina.
Sirius permaneceu no mesmo sitio, encostado na parede, mirando cada uma das primas de cima a baixo.
Bellatrix… a mais velha… decididamente, o apelido não destoava… Bella … estava cada ano mais bonita… os seus cabelos permaneciam sempre lisos… negros… pela cintura… sempre presos num apanhado alto… com algumas mechas a caírem pelo rosto… seus olhos verdes… gelados… o rosto magro, tal como o corpo, mas não cadavérico… usava um vestido preto, pelos joelhos, rodado em baixo, justo… o que lhe permitia ver as suas curvas… e que curvas…
Andrómeda… Andie… a sua prima do meio… a mais inteligente… sempre com um ar descontraído, desleixado… mas não este ano… agora estava… diferente… os seus cabelos castanhos, sempre presos numa trança, estavam agora soltos… e mais curtos… pelo pescoço… seus olhos estavam agora num tom acinzentado… só agora reparara que seus lábios eram carnudos… e bem carnudos… o vestidinho azul-claro que vestia era simplesmente… perfeito… nela…
Narcissa… Cissy… a caçula… a princesinha… cabelos loiros… olhos azul-piscina… sempre com um ar curioso… sempre atrás de Régulos… mas… novamente… diferente… aquele cabelo cacheado… o vestido vermelho bem curto… aberto nas costas… o olhar penetrante… e o sorriso enigmático… o mexer nos cabelos…
Sirius estava atónito com a beleza que as primas demonstravam ter. Três irmãs. Tão parecidas… mas, ao mesmo tempo, tão diferentes…
Deu por si a ter pensamentos nada inocentes, enquanto subia as escadas. Iriam ficar instaladas nos mesmos quartos de antes.
Quando pararam no inicio do corredor, as três soltavam risinhos abafados, ao mesmo tempo que entravam nos quartos. Todas fecharam as portas, menos Andie.
- Andie… quantas saudades…
Ele abraçou a prima. Ela tinha um cheiro diferente das outras vezes… um cheiro mais… inebriante. Ela retribuiu o abraço, apertando-o forte e roçando o corpo no dele. Soltaram-se. Ela sorria.
- Eu preciso entrar no quarto. – ela murmurou, com vontade de rir, no que ele percebeu.
- Andie… o que se passa… porque é que estão assim?
- Assim como?
- A rirem-se de mim
Andromeda olhou para ele e encostou-se na ombreira da porta, apoiada numa mão. Uma pose nada infantil.
- Mudamos assim tanto ou… estarás a pensar em alguma… amiga em especial…
Sirius olhou na direcção dos olhos dela e reparou no volume que se formava nas suas calças.
- Passa por cá depois… pode ser que… tratemos de… por a conversa em dia…
Fechou a porta com um piscar de olho.
Realmente… iam ser umas longas férias…
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