Capitulo 5



Capitulo 5

Hermione acordou com vozes abafadas. Um bom-dia dito em inglês britânico a fez lembrar-se de imediato de onde se encontrava. Sentou-se, assustada.

-Calma, você desmaiou. – Harry sorria.

A presença dele já seria ruim o suficiente, mas o problema maior era que havia outro homem junto, alto, magro, que usava uma barbicha e óculos de lentes grossas.

-Este é o dr. Klemm, meu médico particular.

Ainda tensa, Hermione se deu conta de que tinha trocado suas roupas; agora usava um pijama de seda cor-de-rosa. Passou o olhar pelo quarto, sentindo uma leve tontura, e se ajeitou na beira do leito.

-Eu disse que não queria médicos.

-E eu lhe disse que ele seria discreto, querida.

Hermione ia rebater, mas a sensação em sua perna e no ombro era de alívio. Passara muito tempo desacordada, e isso não estava em seus planos.

-Bem, se é que se importa, moça, sua perna levou quinze pontos, e seu ombro, sete. – o médico não parecia nada satisfeito. – Supercola é uma idéia, mas nada recomendável. Como não tornarei a vê-la, pelo que Harry disse, os pontos cairão sozinhos.

Hermione concordou. Ele era discreto e competente. Sorriu e agradeceu, o que surpreendeu o dr. Klemm por sua súbita amabilidade.

-Mais alguma recomendação, George?

-Não, Harry. Procure evitar a piscina, porém, minha jovem. Cuide dos arranhões em suas costas também. Há pomada anti-séptica no criado-mudo, se quiser usar mais. Bem, até mais, senhorita.

Os dois foram e Hermione tratou de procurar mais roupas no closet. Depois, seguiu para o banheiro, cuja porta teve o cuidado de trancar. O banho de chuveiro fez seus ferimentos arderem um pouco, mas estava delicioso. Usou a escova de dentes nova e creme dental do armário sobre a pia.

Quando voltou para o quarto, esperava encontrar Potter por ali, mas teve um susto quando ouviu as batidas na porta de vidro que dava para a sacada. Lá estava ele, sorrindo.

-Você nunca trabalha? – ela indagou, abrindo-lhe a porta.

Havia uma mesa posta para dois, com um desjejum farto.

-Café? – Harry ofereceu.

-Não. Uma coca-cola, por favor.

Ele arqueou as sobrancelhas, mas fez um sinal a Reinaldo, que esperava próximo, pedindo chá para si próprio.

-Malfoy ou moço inteligente já deram sinal de vida hoje? – Mione quis saber, aceitando sentar-se na cadeira que ele puxava.

-Ainda é muito cedo. Sente-se melhor?

-Sim. – pegou um morango e mordeu-o. – Não costumo desmaiar. Mas me sentia cansada e...

-Hermione, considerando-se o que causou seus ferimentos, não tem de me explicar nada.

Ao fitá-lo, ela sentiu de novo a sensação estranha de atração que já a tomara antes e que chegava a assustá-la, tão forte era.

-Vamos, coma uma panqueca – Harry a instigou.

Reinaldo voltou com o chá e o refrigerante. Em seguida, retirou-se.

-Você me despiu ontem?

-Sim, mas juro que não olhei.

-Sei...

Ele riu, fazendo-a rir também. E seus olhos se cruzaram.

-Está bem, olhei só um pouquinho – Harry admitiu. – Mas foi necessário. Mal acredito que tenha entrado pela clarabóia e jogado Rony na piscina, com ferimentos assim. Eu mesmo estive no hospital.

-É, vi nos jornais. – Hermione mantinha o olhar na testa de Harry, onde uma atadura muito leve amparava o ferimento.

-Então, interessou-se por meu estado... – ele observou, em voz mais baixa.

-Queria saber se eu estava encrencada.

-Já esteve tão... encrencada como agora?

-Não que me lembre.

De súbito, Harry teve uma vontade enorme de beijá-la. E o teria feito se estivesse diante de qualquer outra mulher; mas Hermione Granger necessitava de cuidados e atenção. Por isso, prometeu:

-Vamos tirá-la dessa confusão.

O celular sobre a mesa tocou e, quando atendeu, Harry ouviu os gritos de seu advogado:

-Meu Deus, precisa berrar desse jeito?!

Rony passou a falar mais baixo, mas continuou com a verborragia.

-Venha para cá e traga a papelada do seguro. – com isso, Harry desligou e tornou a encarar Hermione.

-Más notícias?

-Conhece Etienne DeVore?

Os dedos dela apertaram mais o copo de coca.

-Por quê?

-Conhece! – tomando-a por um braço, ele a levou para dentro do quarto. – Quero saber o quanto?

-Não muito. Por quê?

-A polícia o encontrou esta manhã.

-Etienne? Não pode ser. Nem o Homem-Aranha o pegaria.

-Ele está morto, Hermione.

Ela empalideceu. Harry estendeu os braços para ampará-la, achando que fosse desmaiar outra vez, mas Hermione apenas se sentou na cama, trêmula.

-Então, conhecia-o bem. Sinto muito.

Harry se acomodou numa cadeira próxima. Pensava no criminoso que a polícia de Paris conhecia como “gato da noite”. E, como Hermione tinha a mesma atividade do sujeito, poderia ter sido ela a ser tirada das águas do Atlântico por agentes da Interpol.

-Como? Onde? – Hermione murmurou, atordoada.

-Ao norte de Boca Raton. Acharam-no na praia. Não fizeram autópsia ainda, mas Rony disse que foi morto com vários tiros.

Hermione esboçou um sorriso triste.

-Etienne sempre dizia que morreria bem velhinho e rico, com inúmeras mulheres seminuas a seu redor na ilha que iria comprar. Deus... eu gostava dele. Era chato, mas tão cheio de vida! Tenho de fazer uma ligação, se não se importa. – aproximando-se, ajoelhou-se diante dele. – Preciso de um telefone que não possam rastrear.

Harry ajudou-a a se erguer, sussurrando:

-Venha comigo. – tomando-a pela mão, levou-a para seu escritório.

-Pode arranjar encrenca por isso, Potter.

-Eu me arranjo. Linha três, direto.

Tensa, ela discou sete números. Chamada local.

-Stoney? Não, não. Tudo bem. O que são biscoitos sem patê de galinha quando você joga buraco em parceria?

Harry franziu a testa ao ouvir semelhante absurdo.

Ela prosseguiu:

-Como está seu travesseiro? Ótimo. Adeus.

-Mas... o que foi isso?

-Ele está bem, mas, depois do que houve com Etienne, achei melhor verificar. Bem... preciso de sua ajuda mais uma vez.

-Claro. Se me explicar sobre os biscoitos, o patê e o travesseiro.

Harry entendeu que o tal Stoney era Justino Barstone, que a polícia mantinha sob vigilância e que devia ser o amigo a que Hermione já se referira.

-É um código. Biscoitos sem patê de galinha: Chicken World.

-Sei. O aviário na estrada 95.

-E, quando você joga buraco em parceria...

-São quatro pessoas. Quatro horas... Vamos encontrá-lo nesse horário, presumo.

-Vamos, não. Eu vou. Leve-me à cidade e eu cuido do resto.

-Não a perderei de vista.

-Você é um grande alvo. Irão notá-lo e a mim, e depois a meu amigo também.

-Esqueça. Irei junto. Mesmo que seja disfarçado.

-Olhe, entendo que tudo isso seja... diferente e emocionante, para você. Mas duas pessoas já morreram, e é valioso demais para se arriscar desse jeito, Potter.

-Está se esquecendo de que, se alguém a seguir, ou estiver lá por manter seu amigo sob vigilância, vocês dois serão presos. Posso ser seu salvo-conduto, querida.

Hermione tinha de reconhecer que ele tinha razão.

-Está bem, então.

-Ótimo! Vamos buscar meu chá, sua coca, e caminhar um pouco.

-Caminhar?!

-Pelos jardins. Quero que dê uma olhada em tudo.

-Achei que o moço inteligente estivesse vindo para cá...

Harry tinha esquecido. Fez uma breve careta, mas insistiu:

-Ele que nos ache.

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A caminhada mostrou-se agradável como todos os demais momentos que Hermione passava ao lado de Harry. E isso a preocupava. Fazia-a sentir-se sem equilíbrio e, em seu ramo de atividade, tal fraqueza podia significar prisão ou morte.

-Acha que este ponto é vulnerável? – Harry apontava para a folhagem que subia, alta, junto de um dos muros.

-Você tem boa visão para isso.

-Entenderei sua observação como um elogio.

-Pediu para a companhia de segurança instalar tudo isso ou o equipamento já estava aqui quando comprou a propriedade?

-As câmeras, sim, mas eles instalaram os sensores de movimento. Por quê?

-Porque há locais com falhas. É uma segurança de fato muito ruim para um lugar como este. Não há câmeras dentro da casa, apenas guardas... – Hermione parou, tocando uma folha danificada de planta.

-Encontrou algo?

-Não sei. Podem ter sido os policiais que fizeram isso, quando fizeram a verificação. Não há pegadas. E é um local que os sensores não alcançam. Pode me ajudar a subir para verificar melhor o muro?

Harry entrelaçou os dedos, unindo as mãos em concha viradas para cima, para que Hermione pisasse.

-Sabia que foi DeVore que entrou aqui com os explosivos, não?

-Em meu ramo de atividade, apenas poucas pessoas são capazes de atingir certo grau de especialidade.

-E ele era uma delas?

-Sim.

-Você também é?

Hermione não respondeu; encontrara uma marca de sapato na parede. Tocou-a de leve. Etienne era cuidadoso, mas no meio da noite ficava sempre difícil descartar a lama de uma sola. No entanto, o cuidado dele ao sair significava algo. Ninguém podia saber que estivera ali. Por quê?

-O que encontrou aí em cima, Hermione?

-Uma pegada com pouca lama seca na borda. Pode me descer agora?

Ainda muito próxima dele, Hermione ouviu-o indagar:

-Por que não disse nada se sabia quem havia entrado aqui?

-Ética entre ladrões. E estou mais interessada em saber quem contratou Etienne, e se ele veio pela pedra ou para matar você. Etienne... me ligou e disse para ficar fora da jogada.

Harry arregalou os olhos.

-Mas você está aqui me ajudando...

-Sou teimosa, e o aviso dele veio um tanto tarde. Quero descobrir tudo.

-Como eu.

Houve um estranho momento de silêncio. Eles se encararam. Sem uma palavra, Harry baixou a cabeça e beijou-a muito de leve.

-Por que fez isso?

-Por admiração, acho.

-Mesmo? Admiro-o também, Potter.

Respirando fundo, para tentar controlar a respiração que, de repente, se acelerara, Hermione afastou-se, sem olhar para trás.

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Rony Weasley e quatro mensagens telefônicas esperavam por Harry no escritório.

-Reinaldo disse que foi andar pelos jardins...

-É. Para verificar a segurança, que, pelo visto, é muito ruim.

Harry olhou para Hermione e Rony o imitou, mas nem se deu ao trabalho de cumprimentá-la.

-Malfoy quer vir e mostrar-lhe algumas fotos de Etienne DeVore para saber se o reconhece. O sujeito tinha mandados de prisão em oito países!

-Disseram quando foi morto? – Hermione interveio, com suavidade.

-Ah, então o conhecia... Uma convenção de ladrões, ao que tudo indica.

-Pare, Rony – Harry avisou. – Eles eram amigos.

-Oh, sinto muito... – Rony fez um esgar de sarcasmo. – Não, não sei quando DeVore morreu. Malfoy deverá ter mais informações depois da autópsia.

-Etienne me ligou na quinta. Pareceu-me irritado por eu estar no meio da situação. Se alguém ouviu o telefonema... Devem tê-lo matado por falar demais. Mas tenho certeza de que não seria um alvo fácil para um estranho.

-DeVore tinha um amigo? – Harry usava a linguagem que aprendera com ela.

Hermione sorriu-lhe.

-Ninguém em especial. Ele gostava de lidar direto com o cliente.

-Tem certeza de que foi Etienne quem causou a explosão e levou a pedra? – Rony falava pela primeira vez sem ironia.

-Ele me ligou e disse que sim, mas, mesmo que não o tivesse feito, é difícil encontrar alguém tão bom quanto Etienne. Ainda quero ver as gravações feitas naquela noite, em pontos ao norte da propriedade.

-Faremos isso antes de sairmos.

-Aonde vão, Harry?

-Dar umas voltas por aí, Rony – mentiu. – Trouxe mais alguma coisa para mim?

-As estimativas de perdas da companhia de seguros. Neville vai trazer os valores reais para que eu possa compará-los. Também tenho comigo estatísticas para a compra da WNBT. Connor as enviou depois que você cancelou a reunião. Acho que está com receio de que desista do negócio.

-Não ocorreu a Connor que eu possa estar com outros problemas para resolver, como a explosão que houve em minha casa?

Rony achou graça.

-Pelo jeito, não.

-Problema dele então, se deixar a demora baixar o preço.

-Creio que não precisam mais de mim aqui. Portanto, vou para o jardim. – e Hermione se afastou da janela, onde esteve até então.

Assim que ela saiu, Rony voltou a insistir:

-Harry, a mulher é uma ladra. Pode ter encontrado um bom meio de usá-la agora, mas...

-Não gosto de suas insinuações, mas farei de conta que não ouvi. E saiba que faço o que bem entendo.

_Calma! Não se arme contra mim. Trabalho para você, lembra?

-Certo. Ao telefone, você falou que descobriu algo sobre o pai dela.

Harry queria encontrar um motivo para Hermione ser o que era. Talvez uma infância sofrida, ou vontade de ajudar os pobres. Ou sofrera chantagem e tornara-se ladra. Mas sabia que nada disso era verdade. Ela gostava de sua profissão e era boa nisso.

-Bem, descobrimos que Gerard Granger cumpriu cinco anos numa penitenciária de segurança máxima. – Rony entregou-lhe algumas anotações. – E deve ter sido assim, porque conseguiu escapar de outras prisões por três vezes.

--O que ele fez?

-Roubava coisas. Muitas coisas. Havia pedidos de extradição para Gerard em Florença e Roma, mas foram deixados de lado.

-Por quê?

-Porque ele morreu na prisão em 2002. Ataque cardíaco, pela autópsia. Lembra-se do fiasco do roubo da Mona Lisa, há anos?

-Foi ele? Tem certeza? Não foi Hermione...

-Ela devia ter dezesseis quando aconteceu, não pode ter ajudado o pai. O fato é que, com ou sem parceiro, Granger roubou objetos muito valiosos. Jóias da realeza, pinturas originais, objetos de valor histórico. E Hermione é filha desse sujeito. Jamais será uma professora primária, concorda?

-Pare de gracinhas, Rony.

-Pois aposto que, na próxima vez em que ela roubar algo, será porque você mentiu para os policiais e a deixou....

-Pare!

Rony respirou fundo e calou-se. Pegou o jornal de Palm Beach que trouxera e estendeu-o a Harry.

-Leia. Página três.

Aquela coluna era destinada aos ricos e famosos. Os tablóides passaram a explorar a vida pessoal de Harry depois do divórcio, mas, após dar início a alguns processos contra eles, tornaram-se mais cautelosos. Dessa vez, a foto era grande e mostrava Rony recostado na limusine, enquanto ele, Harry, conversava com uma mulher elegante, que, graças a Deus, estava de costas.

-Não diga nada a Hermione sobre isso, Rony.

-Não direi nada a ela. Nem quero falar com essa moça!

Passaram, então, a analisar o relatório da companhia de seguros, até que Neville apareceu, com seu próprio inventário dos danos.

-Mais alguma coisa sumiu, além da pedra troiana? – Harry quis saber.

-Não. Mas os danos às outras peças foi terrível e...

-Espere.

Aliviado por constatar que Hermione, de fato, nada levara, Harry levantou-se e, indo até a janela, chamou-a. Os danos podiam esperar.

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Hermione foi apresentada a Neville como consultora de segurança.

-Neville Longbotton lerá o inventário sobre os danos sofridos por minha coleção de arte na explosão.

Quando Neville parou para respirar, após a leitura da longa lista, Hermione comentou:

-Parece que o sujeito levou apenas uma peça e não se importou em estourar todo o resto, apesar de serem obras muito valiosas.

-Exatamente, senhorita. Não costumo recomendar comprar de objetos de menor valor.

Hermione, que achara graça dos modos afetados do gerente, pediu licença e voltou a seu quarto. Lá, comendo uma maçã que Reinaldo deixara com outras frutas sobre a mesa-de-cabeceira, ligou a televisão e sintonizou a emissora que Potter queria comprar, a WNBT. Um filme tolo não lhe chamou a atenção e, minutos depois, alguém bateu na porta. Era Harry.

-Quando se adquire uma emissora, a programação é alterada? – Hermione perguntou de imediato.

Ele se aproximou, ocupando uma cadeira próxima.

-nem sempre. Por quê?

-Antes de responder, quero fazer uma reclamação. Deveria usar protetores sobre os móveis. Veja este copo sobre esta mesa vitoriana. Ela tem duzentos e cinqüenta anos, sabia?

-Duzentos e trinta e um, para ser mais exato.

-Bem, agora a resposta: esta é a única emissora que transmite filmes de monstros japoneses de manhã até a noite!

-Entendo.

Um breve silêncio se seguiu, até que Harry questionou, de repente:

-Por que rouba, Hermione?

-Por que se casou com sua ex-mulher?

Ele respirou fundo.

-Mais cedo, ou mais tarde, imagino que vá confiar em mim o bastante para revelar-me a verdade.

-Neste momento, no entanto, o que quero é ir encontrar meu amigo.

-Certo. Vamos, então.

-Sabe de uma coisa? Você é estranho.

-Sou misterioso. Devia aprender a me apreciar melhor.

Se gostasse dele ainda mais, Hermione fecharia os olhos e se entregaria em seus braços, pondo de lado todas as conseqüências...


Obs: Ta aí pessoal!Esse é o capitulo 5, espero que gostem!O capitulo 6 só lá por quarta ou quinta. É que tenho trabalho da faculdade para fazer. A propósito, respondendo a pergunta da Ana Lívia, a fic terá 12 capitulos. Bom, era só. Bjux a todos, em especial a Ana Lívia que está sempre acompanhando a minha fic!!Obrigada pela força!!!

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