Os primeiros Marotos



Capitulo XIX
Os primeiros Marotos

A floresta estava fria. Não se lembrava dela assim na ultima lua cheia, mas a estação deveria estar mudando.
Lancaster sentia-se cansado, acompanhar Noah naquelas madrugadas sempre o deixava assim. Mas havia algo de diferente naquela noite em questão. Olhou em volta desconfiado, sem conseguiu perceber o que seria. Provavelmente era o cansaço que o estava deixando assim.
Resolveu recostar em uma das altas raízes que sustentavam uma das árvores centenárias daquele lugar.
A neblina estava mais pesada que o normal, era difícil enxergar.
De repente se deu conta que não estava na sua forma animaga. Não entendeu por que.
Assumiu para si mesmo que era devido ao fato de Noah não estar por perto.
Olhou em volta, o amigo não estava em parte alguma. Não havia barulho. Só o silêncio.
Foi quando um som de um graveto partindo a sua frente o fez entrar em alerta. Segurando sua varinha.
-Noah?! – gritou – É você?
Não houve reposta. “Também, ele é um Lobisomem, Jack, não vai te responder” pensou.
Outro barulho de graveto quebrando o fez perceber que se tratavam de passos de alguém muito menor que o amigo a se aproximava.
Esgueirou-se perto da raiz, se preparando para pegar o intruso de surpresa. Mas foi ele que foi surpreendido por uma mão em seu ombro. Virou-se num sobressalto.
-Vega! – ela sorriu-lhe de forma amável, algo bem estranho vindo da menina que estava vestindo uma enorme capa negra que lhe descia até os pés, certamente uma veste para passar desapercebida na escuridão do castelo e chegar até a floresta sem ser abordada.
-O que diabos esta fazendo aqui, pequena?
-Você me chamou... E vim...
-Chamei? Eu não te chamei, Vega. Não te mandaria vir para um lugar perigoso como esse e... – ela não prestava atenção no que ele dizia, apenas se aproximava a passos vagarosos – Pequena, o que está fazendo... – ele murmurou sem entender, quando ela já se encontrava muito próxima, ao que ela juntou os lábios ao dele.
Ela se demorou um pouco na boca dele, depois deixou os lábios percorrerem seu rosto, com pequenos beijos, até chegar em seu ouvido.
-Estou fazendo o que você me pediu... – sussurrou, fazendo-o soltar um gemido rouco – Não é isso que você quer, Jack?
-Eu não... Vega... Isso não... – ela já o beijava novamente e, em pouco tempo, as mãos pequenas se embrenhavam pela veste dele, acariciando-lhe os pelos do peito e o fazendo arfar.
Jack não pode mais se conter. A enlaçou com os braços a puxando para junto de si, colando seu corpo ao dela.
Aquilo era loucura, ela não poderia estar ali, era perigoso. Não poderiam estar fazendo o que estavam fazendo. Mas nenhum desses pensamentos parecia capaz de pará-lo. Ou pará-la.
Vega se afastou por um momento, dando-lhe tempo para recobrar a consciência.
-Pequena... Você não deveria estar aqui... Você... – ele engoliu o resto da frase ao vê-la desamarrar o laço que prendia a capa em volta do seu pescoço e deixar o pano cair pesado a sua volta, alguns segundos depois ele completou –...Você é perfeita, pequena... – murmurou, antes de puxá-la novamente para si e voltar a beijá-la, incessantemente.
Deitou-a no chão de terra fofa, e ela não parecia se importar com isso. Os gemidos que soltava o excitavam cada vez mais. As unhas dela lhe arranhavam os braços, como fizeram no pequeno beijo que trocaram mais cedo.
Foi quando um uivo o despertou, não apenas do toque da pele dela, mas do sono que tinha até o momento.
Abriu os olhos para deparar-se com seu quarto, no castelo dos Black. Levou alguns minutos para entender o que acontecia.
-Um sonho... – sussurrou deixando o corpo cair novamente no travesseiro – Um maldito sonho com a pequena. Por Merlin... Eu não devia tê-la beijado como beijei...

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Gargalhadas altas se misturavam a vozes alteradas pela bebida, enquanto quatro rapazes que ocupavam uma das mesas num canto do local riam gostosamente do brinde que um rapaz da mesa ao lado, já não muito sóbrio, fazia ao que Cygnus dissera ser uma senhora já de idade, sem dentes e viúva das redondezas, sendo que da última vez ele o fizera para as suas botas e muitas outras coisas estranhas.
Eric e Noah se entreolhavam de quando em quando, reparando o quanto era estranho ver alguns copos voando para cá e para lá, ora cheios, ora vazios, e pessoas aparecendo e desaparecendo sem parar.
Numa das vezes, um homem aparatara em cima da mesa deles e jurara que tinha pensado em voltar para sua casa. Os dois, juntamente com Jack, riram, mas Cygnus não pareceu muito satisfeito por o homem ter derramado seu whisky de fogo nele mesmo.
Jack, por vezes, se mostrara carrancudo quando alguma nova bebida voava para a mesa deles e os amigos repetiam que isso tudo era em função da sua omissão por tanto tempo em ser um bruxo e, como vingança por uma quebra da sua sinceridade, ele teria que pagar quase toda a rodada de bebidas deles aquela noite.
E, é claro, que as de Cygnus também se incluíam nesse termo.
O rapaz fora abordado pelos amigos pouco tempo depois daquele estranho sonho com a pequena Black e, ainda meio desnorteado, aceitara a proposta para espairecer um pouco. Agora, ele acreditava que se tivesse visto o sorriso que os amigos lhe lançaram na hora, pensaria duas vezes em ir para a taberna.
-Não vai beber mais nada, Jack? – brincou Eric, observando o copo vazio do amigo.
-O que você acha? – ele falou num tom meio arrastado, apesar de esboçar um fraco sorriso. – É meu dinheiro que está pagando isso aqui, não é? Se vocês não me falirem ainda essa noite, acho que conseguirei morrer em paz.
-Você não vai pagar tudo, Lancaster. – Noah comentou, rindo. – Quer dizer, nós três só vamos pagar um quarto das bebidas, então, considere paga a sua parte por nós e nossa por você. É uma bela troca.
-Ah, sim. – ele arqueou a sobrancelha. – Que bela troca, Richards. Pagar por três e beber só uma. – os outros riram em resposta.
-Não nós rendemos a meros lamentos, Jack. Esse foi o acordo.
-Que vocês três fizeram, eu não tive nenhuma ciência disso! – ele olhou feio para Noah, que somente fez rir.
-Por Merlim, Jack, agora você está pior do que o Noah! – Cygnus comentou num ar risonho.
-Hey! O que você está insinuando, Black? – o loiro o encarou com a sobrancelha arqueada.
-Hum, não sei ao certo, mas o jeito de Jack me lembrou como você acorda agora.
-Então, quer dizer que você levanta todas as manhãs ao lado do Noah para saber como ele acorda, Cygnus? – Jack caçoou, ao que Eric gargalhou e os outros dois o fuzilaram com o olhar. – Onde fica a Perse nessa história?
-Não sei quanto a você, mas eu sei bem onde ela deve ficar. – Cygnus sorriu meio malicioso. – E você entendeu o que eu quis dizer, Jack.
-Mas eu não entendi. – Noah falou, encarando Cygnus com certa desconfiança.
-O que eu quis dizer ou o Lancaster quis dizer...?
-Hum... – Noah pareceu meio pensativo. – O que você disse mesmo?
Eric apenas riu e revirou os olhos, sabendo que os dois amigos já estavam mais ébrios do que sóbrios, antes de se virar para Jack, que ainda continuava meio sério e distante.
-Certo, agora, pode me dizer o que está acontecendo?
Jack se fez de desentendido quando se virou para encara Eric firmemente.
-Como assim? – ele esboçou um ar intrigado. – Não está acontecendo nada.
-Certo e eu não sou o príncipe de Camelot. – ele falou com a sobrancelha arqueada.
-Então, o príncipe sou eu por um acaso? – ele rebateu no mesmo tom irônico que ele usava, ao que Eric reprimiu um bufo de raiva.
-É, acabei de descobrir que você é o meu irmão e, conseqüentemente, por você ser mais velho, você herdará o trono. – Eric cruzou os braços calmamente. – E, então, vai falar ou terá mais uma resposta à altura para me dar?
Jack esboçou um ar contrariado dando-se por vencido, ao que Eric sorriu, triunfante.
-É besteira, Eric. – ele murmurou, num dar de ombros. – Não é nada de muito interessante. – ele fez uma leve careta com a boca e Eric ainda o encarava de modo incisivo, como quem não acredita muito. – Certo, certo; é interessante, muito interessante, mas irritantemente interessante ao mesmo tempo.
-Certo, agora chegue ao fato que é e não é interessante. – Eric falou calmamente. Jack apenas soltou um longo suspiro antes de lançar uma olhadela para Cygnus e Noah que, aparentemente, discutiam algo não muito conciso.
-Alguma Black? – Eric questionou e Jack, ao fitá-lo novamente, percebeu que ele havia seguido o seu olhar.
-É... – falou num tom meio vago. – Talvez seja uma Black, ou talvez seja uma elfa doméstica. Afinal, tem outra opção naquele castelo? – Eric revirou os olhos.
-Tem a Persephone, ela não é uma Black.
-E eu ainda tenho um pouco de amor à minha vida. – Jack falou num resmungo de raiva e Eric prendeu o riso.
-Sim, acredito que seja uma Black, então. – ele comentou, ainda risonho. – E, pela sua feição agora, também acredito que seja...
-Um sonho, sim, foi um sonho. – Jack confessou num suspiro, completando o raciocínio de Eric. – Um maldito de um sonho que não sai da minha cabeça.
O outro o encarou de forma séria e um tanto quanto intrigada.
-E tudo por culpa daquele maldito beijo! – ele resmungou, aborrecido. – E, céus, ela nem tem a minha idade! – Eric, dessa vez, ficou ligeiramente lívido, mas o amigo não reparou muito bem no fato. – Eu sempre me interessei por mulheres mais velhas, por que tinha que ser justo ela? E eu nunca me deixo afetar assim por tão pouca coisa e, céus, foi só um beijo! – ele pareceu repensar. – Bem, na verdade foram dois, mas... Droga, independentemente disso, não seria o bastante para eu ficar a ter esse tipo de sonho com ela.
Ele ofegou de leve e depois olhou Eric mais atentamente e, percebendo o rosto pálido do amigo, sorriu.
-Não faça essa cara, a garota com que eu sonhei não é a sua. – completou rapidamente, tomando o copo dele para si e entornando num gole só.
-Que garota? – Eric murmurou, meio rouco.
-Stella Black. – Jack comentou num tom baixo, ao que Eric abriu a boca para protestar. – E não minta, eu sei que é verdade. Assim como é verdade que o Noah gosta da Lynx. – completou, ao que Eric ficou ligeiramente constrangido.
-Não é de agora que se percebe que o Noah gosta da Lynx. – Eric falou quase num sussurro rouco. – Acho que até o Cygnus sabe disso de tão claro que está. – ele tornou a encarar Jack firmemente. – Mas, se não é nenhuma das três... é a Betelguese?
Jack não falou nada a um primeiro momento e, sentindo-se incomodado pelo olhar do amigo, abaixou a cabeça, passando a achar a mesa a sua frente surrada pelo tempo muito mais interessante.
-Não. – ele falou tão baixo que pôde jurar que não passara de um mover de lábios. Depois, respirou fundo e, escorando as costas com certa raiva na cadeira em que ocupava, voltou a encarar Eric, que o mirava entre um ar meio sério, meio risonho. – Ela é só uma criança!
Eric engasgou com a saliva, olhando Jack de forma perplexa e aterrorizada.
-A Lyra?
-O que você tem na cabeça, Eric? – Jack falou após ter se recuperado do choque que quase o fizera cair da cadeira. – Claro que não! –bufou de raiva. – É a Vega! – ele completou num sussurro.
Eric riu um pouco, não pelo fato da garota ser a Vega, mas por o amigo mirar Cygnus mais uma vez, como se temesse que o mesmo estivesse ouvindo a conversa dos dois.
Jack o encarou com certa incredulidade.
-E você ainda ri?
-Eu não estou rindo por isso. – ele tornou a adquirir um ar sério. – Sendo criança ou não, ela te fisgou, Jack... Nunca o vi desse jeito antes.
Jack abriu a boca para comentar algo, mas a voz morreu em sua garganta quando notou que Cygnus e Noah voltaram a atenção para os dois.
-O que vocês tanto conversam aí? – perguntou Noah, desconfiado.
-E o que vocês dois tanto conversam também? – rebateu Eric num meio sorriso.
-Estavam decidindo se o encontro seria no seu quarto ou no de Noah hoje à noite? – caçoou Jack, rindo, disposto a mudar o rumo da conversa. Cygnus fechou a cara.
-Não. – Noah respondeu risonho. – E você e o Eric, já escolheram se seria no seu?
Foi a vez de Cygnus rir.
-Não muito. – Jack rebateu num meio sorriso. – Preferimos passar a noite a caçar estrelas.
Eric corou furiosamente, ao que Noah e Jack riram. Já Cygnus exibira um ar intrigado, como quem está tentando entender ou se lembrar de algo.
-Estrela? – Cygnus murmurou, meio confuso e com a voz já meio pastosa. – Ah, vocês sabiam que os nomes de todo mundo da minha família são de estrelas?
Jack e Noah se entreolharam e gargalharam gostosamente, Eric corou mais ainda e afundou um pouco na cadeira.
-Pegue mais uma bebida, Cygnus, pegue mais uma bebida... – o príncipe murmurou, rouco. – É o melhor que você faz... – ele completou num fio de voz, ao que os outros dos amigos continuaram a rir mais ainda.
Cygnus pareceu achar a oferta muito interessante, pois, segundos depois, uma bebida voou até ele e ele tomou-a com gosto.

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Lynx estava sentada no peitoril da janela do seu quarto observando a lua crescente. Antigamente, gostava de sentar no peitoril dessa mesma janela apenas para olhar a Lua Cheia.
Era irônico que agora, só em pensar em Lua Cheia ela sentia os pêlos da sua nuca se arrepiarem. Deixou que um suspiro escapasse dos seus lábios ao fazer a ligação Noah/Lua Cheia. Vira quando ele, Cygnus, Eric e Jack saíram do castelo em direção ao vilarejo trouxa.
Deveriam estar numa taberna agora, enchendo a cara e flertando com as mulheres que passassem. Porque que os quatro eram homens muito bonitos não havia como negar.
Será que se alguma mulher se insinuasse para Noah ele iria...
Balançou a cabeça para afastar os pensamentos que lhe invadiam a mente.
Ele não iria... Iria?
Ouviu batidas na porta que a fizeram despertar de seus devaneios de Noah e uma misteriosa mulher loira para ver quem entrara no seu quarto. Era Stella.
-Sté... O que veio fazer aqui? Medo do escuro? - Lynx sorriu divertida se referindo ao fato de que quando menor a irmã ia para seu quarto por causa do estranho medo que sentia do escuro.
A mais nova revirou os olhos diante das risadas da mais velha.
-Eu não tenho mais medo. Além do mais, não existe o escuro existe apenas a ausência de luz provocada pela...
-Sté, deixe as suas explicações trouxas de lado. Eu nunca as entendo mesmo. - Ela falou enquanto saltava graciosamente.
-Tudo bem. Mas eu ainda vou lhe fazer entender nem que seja as explicações de Da Vinci.
-Quem é Da Vinci?
-Esqueça... - Sté fez um gesto de pouco caso com a mão e se aproximou mais da irmã lhe entregando um frasco de poção que continha um liquido verde musgo - Entregue isso para o Noah.
Lynx franziu as sobrancelhas.
-E o que seria isso? - depois uma outra dúvida formou-se no seu cérebro - E desde quando você o chama pelo nome?
-Desde que ele me deu permissão. - Sté riu diante da cara que a irmã fez - Não se preocupe... Não irei roubá-lo de você. Isso é uma poção que fará com que os ferimentos dele sarem mais rápido, porque se continuar desse jeito levará dias para ele se recuperar completamente.
-E porque entregou a mim?
-Oras... Ninguém melhor que você para entregar isso a ele - Ela deu um sorriso maroto que fez a irmã corar. Será que Stella sabia que ela... Não. Impossível - E antes que me pergunte porque estou fazendo isso é apenas porque gostaria de ajudar o meu cunhadinho.
-Certo, o seu...STELLLA!
Sté riu ainda mais devido ao embaraço visível da irmã.
-Oras... E quem disse que ele é meu cunhado por sua causa?
-Você não disse, mas insinuou.
-Isso é porque as feridas dele ainda não sararam completamente... - Sté se aproximou da janela a fitando a lua. - Mas isso não o impediu que fosse a farra, engraçado, não?
-Como pode ter certeza onde eles estão? - Lynx levantou uma das sobrancelhas.
-E o que mais quatro homens solteiros fariam num vilarejo trouxa? - Sté deu um sorrisinho de escárnio.
Um silêncio quase palpável se instalou entre as duas irmãs até que...
-E se nós fizéssemos a nossa própria farra? - Lynce sorriu como se de repente tivesse descoberto um caldeirão cheio de galeões.
-Uma autêntica noite das Black? - Sté sorriu saudosa.
-Sim, desde que Cynus, o príncipe e os cavaleiros voltaram que não fazemos, mas isso...
-Lynce?
-Sim?
-O que estamos esperando para chamar as outras?

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