Noah & Lynx



Capitulo XIV
Noah & Lynx

O castelo estava estranhamente silencioso depois da chegada de Alexander Potter carregando um Noah desfalecido em seus braços.
Lynx se lembrara do olhar de nojo da mãe e o surpreso do pai ao reconhecer aquelas feridas como de alguém que fora atacado por um lobisomem, além da discussão que se seguira entre seu pai e seu tio sobre o que se faria a seguir, que se sucedeu logo depois deles terem deixado Noah aos cuidados de um curandeiro local que ali chegara poucos momentos depois de ser contatado por eles.
A mais velha dos Black podia entreouvir algo como “Mas ele salvou a sua filha!” do seu tio ou “Eu não quero uma escória desse tipo residindo no mesmo teto em que eu moro...” que sua mãe praticamente gritava quando seu pai dizia que amparar o rapaz era a coisa certa a se fazer no momento, quando os murmúrios da conversa chegavam até ela vindo da porta da pequena sala que ela agora encarava.
Suas irmãs e sua tia, juntamente com Eric, certamente ainda deveriam estar juntos esperando que o curandeiro lhe desse alguma notícia do estado do rapaz.
Ou talvez, Stella deveria estar olhando atentamente para a entrada que dava para a floresta, a fim de distrair-se um pouco e captar algum indício que lhe dissesse que Cygnus e Jack estavam chegando com Vega a salvo.
Mas por mais que ela insistisse em acreditar que poderia haver alguma esperança de que isso não fosse verdade, ela sabia que todos já tinham certeza de uma coisa: Noah ficaria com a maldição... E tudo por culpa dela.
Eram tantos os “se” que lhe povoavam a cabeça que ela se sentia ligeiramente tonta e desnorteada. Mas aquilo eram apenas possibilidades, coisas que não podiam ser mais refeitas...
Suspirou pesadamente, enquanto encolhia-se mais sobre o seu próprio corpo, cruzando os braços de modo firme. Ela não estava errada em pensar, há alguns momentos atrás, que aquela estava sendo a noite mais longa da sua vida e, apesar de tudo lhe mostrar indícios de que já começava a amanhecer, sua mente ainda estava naquela floresta e ela ainda via o sangue dele na boca do animal.
Os murmúrios que, aos poucos, cessavam, indicaram a ela que a conversa estava quase encerrada.
Vendo ali a deixa para ir embora, ela passou a caminhar a esmo pelo corredor e assim permaneceria se não notasse a aproximação de alguns passos em direção a ela. A morena olhou para trás e encontrou o rosto meio sereno de Jack.
-Achei que a senhorita estivesse com sua irmã. – ele falou num ar cordial. – Não soube da chegada dela? Eu e seu irmão a trouxemos de volta.
Lynx permitiu-se sorrir e apenas virou o rosto, voltando a caminhar calmamente. Estava feliz por isso, mas tudo o que queria era ficar sozinha, pelo menos, por alguns instantes. O problema que, para o azar dela, Jack se mostrava um tanto quanto insistente demais.
O rapaz segurou em um dos braços e fê-la voltar-se para si calmamente.
-Me deixa em paz! – ela falou com a voz meio alterada, sabendo que ele lhe perguntaria algo que ela não queria responder.
-O que aconteceu de errado, senhorita Black? – ele perguntou num tom estranhamente sério.
Lynx pensou na possibilidade de dizer que estava tudo bem, mas ela cria que seus olhos ligeiramente vermelhos e sua feição pálida não confirmariam a sua resposta.
-Não foi nada, Lancaster. – ela falou num ar cansado, puxando o braço calmamente para perto de si. – É coisa minha...
-Eu tenho a ligeira impressão de que não é, Lynx Black. – ele murmurou em resposta. – O que houve? – ela permaneceu impassível. – Eu e o Cygnus ouvimos os uivos. Havia algo naquela floresta. – prosseguiu rapidamente. – O que era?
A garota permanecera calada, mas dessa vez ela não mais encarava Jack. A mão em volta de seu braço doía e tudo o que ela queria era sair dali e ficar sozinha.
-Aconteceu alguma coisa com o Eric? – ele perguntou de modo rápido e ela negou avidamente. – E com o...
-Você está me machucando. – ela falou num tom ruidoso. Jack diminuiu a pressão em seu braço, mas não a soltou. – Por favor, Lancaster, eu não sou a melhor pessoa para te responder isso; eu só quero ficar sozinha agora...
Jack não precisou de muito mais para chegar à conclusão de que havia acontecido algo grave e, no exato momento em que viu Eric se aproximando com um ar estranhamente sério, acompanhado de Betel e Persephone, ele chegou à conclusão de que o atingido dessa história fora Noah.
-Precisamos conversar. – ele falou quando chegou perto o bastante do amigo e Jack notou que ele estava pálido.
O rapaz apenas assentiu, esperando pelo pior.
Antes que Eric pudesse dizer algo, porém, o curandeiro apareceu no corredor. Trazia o semblante calmo o que aliviou o coração dos demais, já que a ferida ainda tinha a possibilidade de tirar-lhe a vida.
-E então?
-Ele vai viver, Vossa Alteza... – Jack deixou o sorriso se alastrar pelo rosto, seja lá o que tivesse acontecido estava resolvido – Só não sei se isso é uma boa noticia, claro, devido a ataque... Vocês sabem...
-Como assim não é uma boa notícia? – perguntou Lancaster, confuso, ao que encarou o amigo.
-Jack, o Noah foi atacado por um lobisomem. – disse Eric rapidamente, antes que perdesse as palavras ou algo acontecesse.
O que foi muito bom já que a aparição de Cygnus, Vega e Stella retardaria o momento de novo.
O grupo chegara a tempo de ouvir a frase do príncipe. Vega e Cygnus ficaram tão perplexos quanto Jack. Bom, talvez não tanto quanto ele, que agora já imaginava todo o sofrimento que o amigo teria pelo resto de sua vida.
Houve um silencio constrangedor que só foi quebrado quando os olhos de Jack caíram sobre a pequena Vega.
-Espero que esteja satisfeita, senhorita Black. – rosnou entre os dentes - Conseguiu desgraçar com a vida de alguém... Infelizmente não foi com a sua.
E, sem mais palavras, Jack saiu na direção em que vira o curandeiro chegar, a fim de ver amigo. Eric foi atrás. E, como se sentisse obrigação de fazê-lo, Cygnus seguiu ambos.
Vega permaneceu observando, com certa surpresa e raiva, o local por onde Jack sumira com os outros e a pequena Black ainda permaneceria assim se não sentisse alguém abraçá-la pelos ombros, com carinho.
-A culpa não foi sua, Vega. – era Betel. – O Lancaster deve estar irritado pelo que houve com seu amigo e apenas descontou a raiva na primeira pessoa que viu pela frente.
-Eu não estou pensando nisso. – Vega murmurou, orgulhosa. – Eu só acho que aquele Lancaster não tem direito algum em falar comigo daquela maneira.
-E se há alguém para culpar nessa história, essa pessoa sou eu... – Lynx murmurou num ar meio distante. – O Slughorn queria vingança; ele queria me atingir. – ela suspirou pesadamente, antes de sorrir para a irmã, que a encarava com um ar meio intrigado, mas se deu por satisfeita quando Stella lhe sussurrou que lhe contaria tudo depois. – Estou feliz que esteja de volta, Vega. – ela acariciou os cabelos dela de modo afetuoso. – Eu... Eu vou me deitar um pouco.
-Acho melhor todas nós fazermos o mesmo. – Persephone se pronunciou um ar cansado. – Todas nós tivemos uma longa noite. – houve um murmúrio em concordância e, algum tempo depois, aquele corredor ficara deserto.

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Lynx andava distraidamente pelos corredores do castelo, não se sentindo nem um pouco propensa a trancar-se no seu quarto e tentar dormir um pouco. Seu corpo estava cansado, ela sabia. Também estava cansada de andar, mas acreditava que aquilo era necessário para que criasse coragem para encará-lo de frente.
Ela riu de forma desgostosa, lembrando-se que estava agindo como uma criança preste a fazer algo errado, e tinha medo que as pessoas desconfiassem disso, acabando por recriminá-la.
Ela, que desde pequena fora tão corajosa e pouco se importava com o que os outros pensavam ou deixariam de pensar pelas suas atitudes e ousadia; e ela que se portara de uma maneira tão estúpida há poucas horas atrás...
Um longo suspiro escapou dos seus lábios tão logo ela parara de andar. Seus olhos perspicazes miraram o corredor a sua frente com certo receio e, respirando fundo, ela prosseguiu avançando com extrema cautela, procurando ser o mais silenciosa possível.
Sabia que o aposento de Noah Richards ficava próximo ao dos amigos e a última coisa que ela queria era chamar a atenção para o que estava preste a fazer.
Um estalo de uma fechadura sendo aberta fê-la despertar-se dos seus pensamentos e, num gesto rápido, a garota esgueirou-se por uma pequena abertura que havia atrás de uma tapeçaria, rezando para que não tivesse sido vista pelos três rapazes que agora saíam do recinto que ela pretendia entrar.
Empurrou a tapeçaria de leve para frente, a fim de deixar uma pequena abertura para que tivesse uma visibilidade melhor do corredor. Seu irmão acabara de fechar a porta e, ao que tudo indicada, o curandeiro já havia se retirado.
-Será que ele tem uma noção do que aconteceu com ele? – ela ouviu Cygnus comentar. Jack e Eric suspiraram em resposta. – Não sei ao certo, mas creio que vai ser difícil contar para ele. Talvez seja mais difícil ainda de se aceitar. Mesmo para aqueles que nasceram bruxos, isso é algo que não se aceita tão facilmente e ainda... – ele suspirou.
-Ele vai ficar bem. – Eric murmurou mais para si do que para os outros. – O Noah já agüentou coisas piores. – ele mirou Jack com um sorriso meio incerto.
-Talvez o desgraçado até brinque com a situação. – Jack comentou com um quê de alegria melancólica. – E ainda vai comentar que foi por uma boa causa.
Lynx prendeu a respiração e rapidamente largou a tapeçaria. Tivera a ligeira impressão de que Jack havia lançado um olhar significativo na direção da tapeçaria, como se soubesse que ela estava ali. Mas, aparentemente, fora alarme falso, pois o mesmo mencionara que iria descansar um pouco e, aparentemente, a idéia não fora de todo insatisfatória para os outros dois.
Quando o som de passos cessou no corredor e ela ouvira o som das fechaduras, depois de alguns minutos a morena achou que era finalmente seguro sair.
Caminhou a passos lentos em direção a porta do quarto do rapaz e, quando estendeu a mão para abri-la, percebeu que ela tremia. Reprimindo-se mentalmente, ela fê-la abrir com um estalo que ela achou que fora muito mais alto do que o normal e empurrou a porta devagar, como se tivesse medo que, a qualquer momento, ela se desmanchasse.
Ela procurou olhar para baixo quando adentrou o quarto e virou-se de frente para porta a fim de fechá-la com cuidado. Lynx mordeu o lábio inferior de leve, antes de voltar-se para onde sabia que estava a cama de Noah, suas mãos deslizando de leve sobre a porta como quem não sabe ao certo o que fazer no momento.
Ela sentiu o coração parar de bater por um breve instante, antes de começar a acelerar quando se deparou com o rapaz ressonando tranqüilamente na cama a sua frente. Sua feição pálida com leves olheiras contrastava com o seu ar calmo e sereno, enquanto seu peito coberto por faixas subia e descia no ritmo da sua respiração ressonante.
Como Lynce havia previsto, ele estava dormindo.
A morena não soube por quanto tempo ficara ali a observá-lo e muito menos o que a levou a se aproximar da cama dele e subir nela calmamente, sentando-se ao seu lado. Lynx ficou a observar as feições do rapaz por um longo período e, ao notar que uma pequena mecha loira estava próxima às suas pálpebras cerradas, afastou-a com a ponta dos dedos, permitindo-se sorrir brevemente.
Sua mão permaneceu parada no ar e, com um longo suspiro, ela tocou-lhe de leve o rosto, descendo lentamente pela bochecha, sentindo a leve aspereza dos pequenos fios da barba. O rapaz soltou um longo suspiro, mas, aparentemente, isso não fora o bastante para impedir que ela continuasse o trajeto, deslizando a ponta dos dedos pelo pescoço dele até chegar ao peito encoberto pelas faixas. Seus dedos se perderam no meio do peito dele, enquanto ela fitava as faixas com um ar distante.
Quando Lynx deu por si e notou o que estava a fazer, fez-se tomar um leve susto e se afastou dele, mas antes que pudesse fazer muita coisa, ela sentiu a mão de Noah fechar-se sobre o seu pulso e ele abrir os olhos, surpreso, e encará-la firmemente. Os olhos dele brilhavam.
-Eu sabia que mais cedo ou mais tarde você viria... – ele falou num tom meio baixo, ao que Lynx, ainda surpresa pela repentina ação dele, sentiu-se ligeiramente corada. – Eu estava esperando por isso...
-V-v-você estava... – ela pigarreou ao notar que gaguejara um pouco. – Estava acordado, Richards? – ela completou num murmúrio, tentando não notar que sua mão estava completamente espalmada no peito dele, por cima do curativo e como ele a segurava meio firme, apesar do estado debilitado em que se encontrava.
-Não, não estava. – ele respondeu num tom gentil, soltando o pulso dela calmamente. – Mas é difícil manter-se dormindo com tantos abrires e fechares de porta. – ele falou seriamente – Ou ao sentir um toque macio sobre o meu corpo. – ele lhe lançou um sorriso meio de lado – Eu tenho o sono muito leve, sabia?
Ela apenas negou, sentindo os olhos marejarem perante a naturalidade que ele estava agindo diante ao que acontecera com ele. E, sem ao menos se frear – e sem se importar que ele ainda estava ferido –, o abraçou meio sem jeito, deixando um soluço escapar dos seus lábios, escondendo o seu rosto em algum ponto entre o pescoço e o ombro dele.
-Desculpe-me... – ela murmurou com a voz embargada. – A culpa foi toda minha... Eu não queria... Eu não... – ela embaralhou-se nas palavras e prosseguiria, se não sentisse uma das mãos dele sobre o seu rosto, fazendo com que ela se afastasse dele a ponto de que ela o encarasse firmemente.
-A culpa não foi sua. – ele murmurou num ar sério, quando notou que ela lhe encarava nos olhos; ele, agora, segurava a cabeça dela com ambas as mãos. – Eu nunca mais quero ouvir isso, certo? Eu fui até lá porque quis e me pus na sua frente porque eu quis que fosse desse jeito.
-Mas... – ela insistiu rapidamente. – Será que não...
-Eu sei disso, Lynx. – ele murmurou, como se adivinhasse o que ela iria dizer. – Eu sei que também vou virar... – ele respirou fundo. – que eu vou virar isso na próxima lua cheia. – ele sentiu vontade de rir pelo ar surpreso dela. – Eu já me sinto um pouco diferente, até... Sendo sucinto, eu sinto que meus sentidos estão um pouco mais... estranhos.
-Noah... – ela murmurou num tom rouco ao que ele arqueou a sobrancelha, entre um ar indignado e risonho.
-O que foi agora? – a interrompeu, de leve – Será que tudo o que lhe disse não surtiu efeito?
Ela soltou um breve riso.
-Não, é que... – ela lançou um olhar para o peito dele e sorriu meio amarelo. – eu acho que eu estou te machucando, não?
-É, um pouco... – ele confessou, meio risonho. Lynx rapidamente se afastou dele e suspirou pesadamente.
-Desculpe. – ela falou, envergonhada. – Eu sou uma idiota, não é? Acho que eu só sirvo nessa maldita vida para machucá-lo. – Lynx o encarou firmemente. – Seja sincero, Noah, por que você está agindo com tanta naturalidade? Céus, isso é uma maldição incurável, você vai carregá-la pela vida toda! Eu, em seu lugar, estaria me odiando por eu ter sido tão tola e não ter reagido; e estaria te achando um idiota também, por ser dado a cavalheirismos e não conseguir ficar parado por ver uma dama inútil, que não sabe se defender sozinha, em apuros.
Lynx parou de falar e o encarou de maneira ofegante como quem espera uma resposta. Noah não disse nada a um primeiro momento, apenas desviou o olhar do dela e suspirou.
-Machucaria mais se a maldita vida dessa dama inútil se tornasse mais maldita ainda. – ele confessou num tom baixo, mas sabendo ser alto o suficiente para que ele ouvisse. – Eu creio que não conseguiria ficar parado vendo aquele bicho te machucar, Lynx. Fiz o que achei certo e, confesso, não me importaria em fazer quantas vezes fosse preciso só para que você não se machucasse.
A morena piscou várias vezes, um tanto quanto perplexa, antes de curvar os lábios num sincero e amável sorriso.
-Obrigada. – ela murmurou, sem saber o que dizer. Noah tornou a encará-la e ela notou que ele estava um tanto quanto envergonhado.
-Às suas ordens, senhorita. – ele brincou, sorrindo, ao que ela retribuiu o sorriso, colocando uma mecha atrás da orelha.
-Acho que essa é minha deixa. Você precisa descansar. – ela comentou baixinho, fazendo menção de levantar, mas Noah a impediu, tornando a segurar o pulso dela.
-Seria pedir demais para que você ficasse? – ele murmurou, num tom rouco. – A cama tem espaço suficiente para dois.
Lynx sentiu o rosto esquentar, mas notou que aquele comentário não tinha nenhum quê de malícia. Noah curvou os lábios num largo sorriso e fez um gesto para que ela recostasse a cabeça no seu peito. A morena pareceu receosa.
-Você não vai me machucar. – ele falou num breve riso. – Vem.
-Mas...
-A senhorita não vai negar um pedido de um pobre doente, vai? – ele falou num tom divertido, ao que ela conteve um revirar de olhos.
-Se o pobre doente se aproveitar dessa situação, fique certo de que ele será um homem morto. – ela rebateu no mesmo tom, enquanto se aconchegava nos braços dele.
Lynx sentiu-se ligeiramente aquecida por dentro quando sentiu ele puxá-la meio de leve para perto de si, antes de levar a mão até os seus cabelos e começar a acariciá-los de forma meio receosa e ao mesmo tempo agradável. A morena se ajeitou, meio manhosa e fechou os olhos, entorpecida e a última coisa que ouvira antes de cair no sono por completo foi o longo suspiro que os lábios de Noah deixaram escapar.

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