Um Malfoy... Uma Weasley...
Gina foi a primeira menina do quarto a acordar, ainda estava escuro, o Sol apenas ameaçava se levantar. Liberta do pesadelo Gina chorou amargamente, como sempre fazia quando sonhava com Tom Riddle. Ela se sentia mal, náuseas, tontura, fraqueza, nojo. "Até em sonhos ele faz mal para as pessoas...", ela pensava em meio a um soluço e outro.
- Gina... – era Lenina, que dormia na cama ao lado e fora acordada pelo choro da amiga – O que foi?
- Eu sonhei... Um pesadelo... – ela abraçou a amiga
Mesmo com as poucas palavras, ela compreendeu.
- Foi um daqueles sonhos, não foi? Vamos, eu levo você para a Ala Hospitalar... – disse Lenina, sabendo o que aqueles pesadelos provocavam na garota.
Precisou de quase todo o dia e de muito chocolate para se recuperar. Mesmo que lá pelas dez da manhã Gina já se sentisse disposta para ir para sala de aula, Madame Pomfrey não quis nem pensar no assunto.
- A Srta. precisa de muito repouso. Só saí daqui quando estiver inteiramente recuperada.
Não era tão ruim, tudo que Gina queria era ficar quietinha e esquecer que tinha tido aquele maldito sonho. O mal estar físico tinha passado, mas ela ainda estava assustada e frágil. Só voltou ao normal mesmo quando seu irmão veio ver se ela estava bem, um pouco antes do almoço. Rony acabou convencendo Madame Pomfrey a dar alta a Gina para que ela pudesse almoçar no salão principal.
- Por favor! Almoçar com todo mundo vai fazer bem pra ela!
- Isso mesmo! – disse Gina pulando da cama – E eu já estou bem melhor!
- Esta certo. – ela disse contrariada - Mas que fique claro que eu preferia que a Srta. passasse a noite em observação.
Depois de receber mimos dos amigos durante todo o almoço, Gina arrumou uma desculpa e foi encontrar-se com Draco. Naquele dia, mais do que nunca ela desejava encontra-lo. "Sonho ruim, dia ruim...", era o que sempre dizia sua mãe, e Gina começava acreditar nisso
- Como você está? – foi a primeira coisa que Draco disse ao chegar. – Eu ouvi dizer que você estava na enfermaria! O que houve?
- Eu tive um pesadelo... – disse sem entusiasmo, porque não queria que parecesse um assunto muito importante. – Mas eu estou melhor agora.
Draco a olhou de alto a baixo, querendo confirmar o que ela havia dito. Achou que ela parecia abatida, mas como ela disse que estava melhor ele não se preocupou.
Gina fez o mesmo, analisou-o com atenção, sem nem saber porque. Só soube o que estava procurando quando encontrou.
- Outra carta? - ela apontou com a cabeça para o volume no bolso de Draco.
Ele confirmou, olhando-a com estranheza. "Acaba de sair da enfermaria e vem perguntar das minhas cartas?", ele pensou. Ele se perguntava se havia sido apenas o sonho, ou se tinha acontecido mais alguma coisa. Achou melhor não expor sua dúvida a Gina.
- E você não vai me dizer o que há nela, não é?
O tom era desolado, um pouco irônico. Draco sentiu que ela estava fazendo rodeios e começou a ficar desconfortável.
- Eu já te disse que não é nada demais. São só as coisas da minha casa, nada que... – respondeu com impaciência.
- Você está mentindo! – ela elevou o tom de voz – Eu sei que está...
- Gina o que você tem? – disse sem esconder a preocupação na voz – Eu não estou mentindo! Da onde você tirou essa idéia?
- Ele me disse... Eu sonhei com ele e ele me disse.
Draco riu, porque não encontrou sentido naquelas palavras. "Talvez ela esteja com febre", ele ponderou. Mas, no fundo, ele sabia aonde ela queria chegar com aquela conversa.
- Você não pode ficar assim por causa de um sonho! – ele passou a mão no rosto dela com carinho. – Acho que você devia dormir um pouco... E quem é esse "ele", hein?
- Tom Riddle... As vezes eu sonho com ele...
Draco não teve reação. A verdade é que ele se sentia um pouco culpado pela história do diário. Não era exatamente culpa, é que era constrangedor saber que seu próprio pai tinha sido o culpado por algo tão grave.
- E como ele é?
- Ele quem? – ela se surpreendeu - Tom Riddle?
- Claro! – ele debochou – Quem mais ia ser?
- Eu não sei... - era difícil encontrar as palavras pra definir um pesadelo – Porque você quer saber?
Aquela pergunta, aqueles dias tensos. "Não era bem assim que nós deveríamos ter essa conversa", ele pensou imaginando aonde aquilo ia terminar.
- Bem, se ele vai ser meu "chefe", é bom que eu saiba algo sobre ele. – disse em tom de piada, cedendo a um impulso.
Gina contraiu os lábios e olhou pra ele com severidade.
- Não brinque com essas coisas.
- Eu não estou brincando...
Por alguns segundos, ela achou que tinha imaginado. Ele não podia ter dito aquilo a sério. E não podia estar fazendo uma piada tão cruel. Mas Gina sabia que era sério. "Eu não quero ouvir isso. Vamos voltar e fingir que isso não aconteceu.", uma voz suplicava dentro dela. Mas, no fundo, ela sabia que aquele assunto não poderia ser evitado por muito mais tempo.
- Draco, você não pode estar falando sério...
Sem saber o que fazer, Draco usou a velha técnica de "o ataque é a melhor defesa", foi agressivo.
- Ora, Gina! Não haja como se não soubesse! – ele vociferou.
"Porque estava gritando comigo?" Gina olhou para ele incrédula do que tinha acabado de ouvir. Ele estava confirmando? Não estava nem preocupado em desmentir, em justificar.
- Eu sabia, mas achei que você era diferente! – ela imitou-lhe o tom de voz.
- E o que fez você pensar que eu seria diferente das últimas mil gerações de Malfoys? – ele disse gesticulando e se afastando dela. A cada palavra que dizia, Draco achava que estava sendo precipitado e estúpido demais. Mas algo havia começado que ele não podia mais parar.
- Você está comigo, não está? – ela elevou mais ainda o tom de voz – Pra mim isso é um sinal de que você não é como os outros Malfoys!
Gina tinha usado um bom argumento. Essas palavras certamente tiveram algum efeito em Draco, mas ele não queria pensar nisso agora. Eles estavam brigando, e tudo que ele mais queria era dar uma resposta rápida. Ele suspirou, baixou o tom de voz, mas não a tensão na fala.
- Olha, não é assim tão fácil... – ele passou a mão pelos cabelos – Meu pai, enfim, minha família esperam coisas de mim... Eu não posso, nem quero e nem devo decepcioná-los.
Gina segurou a mão de Draco, mordeu o lábio, e olhou diretamente em seus olhos.
- E a mim? A mim você pode decepcionar?
Nenhuma resposta. Ele estava sem expressão, mantendo os olhos firmes na mão delicada que segurava seu braço. "Porque ela tem que agir assim? Não era óbvio, que dizer, eu sou um Malfoy...", ele justificava para sí mesmo.
- Eu não te prometi nada. – ele disse com frieza – Você criou expectativas demais, eu não posso corresponder a elas.
"O que esta acontecendo?", pensou a ruiva, achando que de repente, eles estavam tão distantes. Eram um Malfoy e uma Weasley. Só isso.
- Eu não posso acreditar que você esteja me dizendo isso! – ela já estava gritando novamente.
- E eu não acredito que você esteja fazendo esse drama! – ele bateu com força em uma das mesas, fazendo Gina suspender a respiração por um instante – Quem você achou que estava namorando? Com algum tipo de herói, como o Potter? Eu sou um Malfoy! – ele fez questão de dizer seu sobrenome mais alto - Não achei que você fosse esquecer disso com tanta facilidade!
Havia um quê de maldade nas palavras de Draco. Os olhos castanhos de Gina se encheram de lágrimas. "Como eu pude ser tão boba?", e as palavras de Tom Riddle voltaram a sua mente, escarnecendo dela.
- Eu não posso ficar com alguém que quer ser um Comensal da Morte, Draco... – a voz embargada pelas lágrimas - Não posso... Você não pode fazer isso comigo!
Mesmo olhando com o canto dos olhos, ele sentia todo peso do olhar de Gina. Ele podia sentir a cobrança sobre seus ombros. Precisava sair daquela situação sufocante.
- E você não pode me impor essa escolha. – ele encerrou a discussão.
Um Draco furioso e confuso saiu da sala batendo a porta, e deixou pra trás uma Gina perplexa e chorosa.
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