O segredo ameaçado
Domingo de manhã. Gina ainda não tinha aberto os olhos, mas sentia a forte luminosidade através das pálpebras fechadas. Já devia ter passado das dez... Esticava-se toda na cama, cheia de bom humor e preguiça. A vida ia bem, não é? Tirava boas notas (até em Poções!), tinha seus amigos (mesmo que eles estivessem cada vez mais estranhos), sua família ia bem... Mas nem é preciso dizer que todo aquele bom humor era quase todo graças a Draco. Gina considerava-se a garota mais sortuda do mundo por ter um namorado tão especial.
- Você esta atrasada. – Draco disse em um dos encontros do casal. Ele trazia as mãos cruzadas sobre o peito, ignorando todas as vezes em que ele mesmo tinha se atrasado.
- Desculpe! – Gina disse sorrindo. Há muito ela tinha aprendido que sorrir e ignorar era a melhor forma de lidar com as crises de mal humor do namorado. – É que eu estava conversando com a Mione. Sabe que ela estava me contando que...
- Não me interessa! – o louro disse com rispidez – Nada do que aquela sangue ruim tenha para dizer me interessa.
Ok, nem sempre ele era um anjo de candura. Hum... Na verdade ele nunca era muito doce quando se tratava dos amigos de Gina. Mesmo assim, a garota recordava essas cenas achando muita graça (mesmo que não tivesse rido nem um pouco na hora).
Ainda estava largada de olhos fechados sobre a cama, quando uma voz conhecida soou e uma mão muito leve tocou seu ombro. Ela levantou-se num pulo.
- Desculpe, eu não queria te assustar... – Hermione tinha uma expressão séria.
- O que?! Ah... Bom dia, Mione. - Gina se recompôs e se sentou na cama, convidando a amiga fazer o mesmo. - ...não assustou...não muito. – um bocejo preguiçoso – O que houve?
- É um assunto um pouco delicado... – Hermione parecia estar procurando as palavras certas.
Um assunto delicado? Vindo da Hermione, Gina imaginou as piores coisas.
- Poxa Mione, você esta me preocupando! Fala logo!
- O que você estava fazendo com o Malfoy ontem a tarde? – Hermione disse lançando um olhar incisivo.
Aí estava algo que Gina não esperava ouvir.
- Drac...MALFOY? – Gina arregalou os olhos e perdeu o ar – Malfoy?! – ela repetiu debilmente tentando organizar os pensamentos – Bem, eu...eu estava... Estava estudando! Isso! Estudando!
"Acredite, acredite, acredite, acredite...", Gina pensava apavorada. E se ela soubesse de tudo? Não, isso era ruim demais! Não podia ser... ela tinha que acreditar.
- Estudando? – a monitora fez cara de descrença – E porque estudando com o Malfoy? Se você tem tanta gente melhor do que ele pra te ajudar... – ela disse claramente referindo-se a sí mesma.
- Bem, o professor Snape passou uma pesquisa, e eu precisava de ajuda... – Gina gaguejava cada vez menos, à medida que tomava confiança no que dizia - ... Como eu sei que você anda ocupada, eu perguntei ao professor quem mais poderia me ajudar...
- E ele te recomendou o Malfoy?! – disse franzindo a testa.
- É... – Gina deu uma risadinha amarela esperando que Hermione tivesse acreditado. Seria o fim do mundo se ela ou qualquer outra pessoa descobrisse o que estava realmente acontecendo entre ela e Draco. "Isso não pode acontecer NUNCA!", pensou se esforçando pra manter uma expressão natural no rosto. – Mas como você...bem...Você estava me espionando ou coisa assim?
"Hum... Isso não foi uma coisa boa pra dizer. Vai deixar ela mais desconfiada". Gina agora prestava atenção a cada movimento da amiga.
- Eu não estava te espiando, Gina! – a frase soou defensiva, e Mione parecia realmente ofendida com a pergunta – Eu estava olhando na janela quando ví vocês indo para perto daquela arvore atrás do campo de quadribol... – ela disse apontando para a janela - Eu fiquei preocupada, eu quase falei com seu irmão, mas preferi falar com você primeiro...
Gina deu um suspiro aliviado. Só a simples menção de que Rony pudesse desconfiar de algo a fez tremer dos pés à cabeça.
- Você fez bem! É só uma bobagenzinha! – ela não via a hora de terminar logo aquela conversa. – E além disso, eu não preciso mais me encontrar com aquele Malfoy...
"Aquele Malfoy...", pensou satisfeita, "Isso sim foi convincente!".
- Já terminou a pesquisa? - Hermione abriu um sorriso de aprovação.
- Ah sim! Ainda bem! Eu... eu não agüentava mais! – Gina quase deu uma gargalhada ao dizer aquilo.
Hermione revirou os olhos nas orbitas, provavelmente imaginando os maus bocados que Gina deveria ter passado com o terrível Malfoy.
- Isso me deixa muito Mais tranqüila! Sabe, quando eu ví vocês juntos eu quase pensei que...
- O importante é que agora você já sabe a verdade! – Gina interrompeu antes que Hermione formulasse suas desconfianças. Foi acompanhando a amiga até a porta do quarto, quase colocando ela para fora. – Mas lembre-se: isso já terminou, você não tem mais que se preocupar!
"Porcaria!", Gina trocava de roupa enquanto pensava em como ia avisar Draco de toda aquela confusão, "A Hermione não tinha mais o que fazer além de ficar na janela?!". Apesar dos pensamentos ácidos, a ruiva estava muito agradecida que tinha sido Mione e não Rony a vê-la com Draco.
Antes de sair da torre da Grifinória, Gina lembrou-se de olhar no relógio, que marcava quinze para as onze da manhã. "É tarde", pensou aflita, "Preciso falar com o Draco antes do almoço...". Com esse objetivo em mente, saiu, pensando de que forma o conseguiria.
"Aonde será que ele esta?", pensava passando os olhos rapidamente por todos os estudantes que cruzavam seu caminho. "A essa hora? Hum...talvez na aula de Historia da Magia". Gina chegou sem fôlego e descabelada a porta da sala, depois de atravessar o castelo correndo. Quando espiou e viu a sala vazia, disse um palavrão bem alto, atraindo olhares curiosos de quem passava por alí. Gina ruborizou.
"Só eu mesma pra procurar o Draco na sala de aula em pleno DOMINGO!", ela ralhava consigo mesma. "E mesmo que não fosse... Seria muito interessante eu dizendo ‘Professor, eu preciso falar com o Draquinho...’. Sim! Esse seria um modo muito esperto de manter meu segredo.". Envolta nesses pensamentos raivosos, a ruiva não notava nada a sua volta.
Bem, distração e o jeito estabanado dos Weasley, só podiam resultar em uma coisa: um encontrão.
- Desculpe! – Gina disse instintivamente.
- Humf! – uma garota de, no máximo, doze anos, alisava o uniforme. - Tudo bem, acontece...
Gina se perguntou porque alguém usaria o uniforme num Domingo, quando a cobra no brasão atraiu o olhar da jovem. "Sonserina...", suspirou, "Esta explicado...". Gina ndeu uma olhada discreta na menina que tinha atropelado: Tinha os cabelos quase brancos como os de uma veela e os ombros largos demais para seu corpo magro e sua pouca altura. A menina parecia muito irritada por estar com o uniforme amassado e batia as mãos na saia com alguma violência. A ruiva achou que aquela era uma boa oportunidade de sair de fininho...
- Ei! Você é uma Weasley! – disse a sonserina sem esconder a surpresa.
Quando virou-se para olhar, Gina viu que o rosto da garota formava um conjunto bem estranho com o resto de seu corpo. A face ossuda, boca pequena e nariz afilado. Mas o que a marcava era sua expressão, mesmo sendo muito mais baixa, olhava Gina como quem olha para baixo. "Será que todo mundo na Sonserina tem que fazer isso?!", pensou irritada.
- Tá eu sei...cabelos vermelhos, sardas... – a ruiva recitava tediosamente.
- Weasley?! Das Gemialidades Weasley?! – a garota interrompeu.
Gina assentiu com a cabeça.
- Uau! – a menina sorriu, dando um toque de simpatia para seu rosto tão estranho – Isso é o máximo! Eu comprei um livro explosivo lá! Poxa! Você precisava ver a cara daquelas corvinais metidas!
A ruiva estava chocada e a garota pareceu notar isso.
- Qual é seu nome, Weasley? – disse tentando ficar séria novamente, mas sem poder conter um brilho de empolgação nos olhos escuros.
- Gina...E o seu?
- Soniêtchka Liebsemanôva, descendente direta da linhagem do poderoso Rasputin da Rússia. Claro que você, sendo uma grifinória, não vai saber dizer meu nome... Eu entendo, o que mais se pode esperar de um grifinório, não é? Meu irmão disse que são todos uns burros... – ela disse sem respirar entre uma palavra e outra, deu um suspiro silencioso e concluiu - Você pode me chamar de Sonia.
"Que grosseria!", Gina sorriu levemente. Aquilo sim era uma sonserina, de peito estufado, sorriso de superioridade e com um prazer sobrenatural em recitar sua arvore genealógica.
- Lindo nome, Soniêtchka! – o nome foi dito na pronúncia perfeita, fazendo a sonserina corar levemente e comprimir um pouco a boca. – Você esta em que ano?
- Primeiro...
Gina pensava que aquele olhar superior ficava muito estranho em uma menina tão novinha, quando teve uma idéia.
- E você conhece Draco Malfoy? – perguntou, falando bem devagar, tentando mostrar desinteresse.
O rosto da menina se iluminou novamente, e ela voltou a ficar bonita, sorrindo e piscando os olhos rapidamente.
- Conheço, é claro! – de repente, ela corou e diminuiu o tom de voz. – Er...Todo mundo na Sonserina conhece o Malfoy.
- Ótimo! – Gina quase gritou. Tinha tido uma idéia boa mesmo! Aquele encontrão tinha vindo bem a calhar! – E você me faria um favor?
A menina de nome e rosto estranho, mediu com o olhar e disse desconfiada:
- Que favor?
- Entregar um bilhete para o Malfoy... – quando Gina terminou de falar as bochechas da menina estavam tão vermelhas quando os cabelos dos Weasley.
"Ora, ora!", pensou divertida, "então o Draco tem uma admiradora!". Gina achava isso uma maravilha... Pelo menos tinha certeza que a menina não se negaria a ajudar.
- E o que eu ganho com isso? – perguntou a sonserina, arrancando Gina dos seus pensamentos otimistas.
Aí estava uma boa pergunta. Ela se lembrou a tempo que tinha um saquinho de "Caramelos incha língua – Safra especial ultra forte" , que seus irmãos haviam mandado para que ela testasse (claro que ela não havia testado). Ela o ofereceu em troca do "favor", mas sem esperança de que a menina aceitasse.
- Por mim tudo bem! – a menina surpreendeu Gina, estendendo a mão imediatamente para firma o acordo.
"Opa! Não tão depressa mocinha...". Gina achava que não era bom confiar em sonserinos, portanto o trato foi feito da seguinte maneira: Sonia levava o bilhete (que Gina escreveu as pressas, com o pergaminho "doado" por um lufa-lufa) e só depois recebia os caramelos. "Assim é mais seguro...", Gina pensou previdente.
Mas não houve nenhuma trapaça. Faltando dez minutos para o meio-dia, o bilhete foi entregue. Dez minutos mais tarde, a menina da sonserina recebeu seu pagamento em Caramelos Incha-Lingua e saiu animada pensando em quem ela iria testá-los.
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