Um novo olhar. Uma nova vida.



Hogwarts, 1º de setembro de 1991.


Queridos papai e mamãe,

Como vocês estão? Espero que estejam bem. Aliás, eu tenho certeza que vocês estão bem, afinal cinco filhos a menos para deixar vocês loucos faz uma bela diferença, não é? E a Ginny, como está? Ainda com aquela idéia de vir às escondidas para Hogwarts porque ela não quer ficar sozinha aí? Espero que não!

Bom, o meu primeiro dia em Hogwarts foi, digamos, bem agitado. Não se preocupem se por acaso receberem uma carta da escola informando que eu matei o Fred. Como é que ele me diz que nós tínhamos que lutar com um trasgo para sermos selecionados?? Eu ainda vou parar em Azkaban por causa deles. Ah mãe, desamarra essa cara! É verdade, parece que Fred e George nasceram pra me atazanar e pra serem os bagunceiros da escola. Só a senhora sabe quantas cartas já recebeu informando alguma travessura deles.

O Percy parece um idiota polindo aquele distintivo o tempo todo. Eu não gosto dessa mania dele de se achar superior porque é monitor da escola, e vou evitar ficar perto dele. Não sei, eu nunca me dei bem com ele e acho que a tendência é piorar. Pai desfaz essa cara! O senhor sabe que eu não suporto essa mania do Percy. Às vezes, eu acho que ele tem vergonha de nós e se isso for verdade, eu não espero grandes coisas dele não. Bem, só espero que ele não invente de pegar no meu pé.

Ah, antes que eu me esqueça: GRYFFINDOR!

Sim, estou em Gryffindor e me sinto tão aliviado, por um momento eu pensei que poderia ir para outra casa, mas ainda bem que o Chapéu Seletor já sabe quem somos. Isso é hilário: “Oh, mais um Weasley, já sei onde te colocar: GRYFFINDOR!”. Estou feliz, pai, e realmente me sinto em casa aqui em Hogwarts. A escola parece ser muito legal, tantas coisas pra descobrir que eu estou cada vez mais animado para as aulas começarem logo. Amanhã teremos nossa primeira aula de Transfiguração e estou ansioso pra esse primeiro dia de verdade.

Ah sim! Mãe, a senhora lembra do Harry, né? Harry Potter? Então, ficamos na mesma casa. Demorou pra ele ser selecionado, mas está em Gryffindor também. Sabe, apesar de ser muito famoso, ele é super humilde e muito amigo. Acho que encontrei um grande amigo e isso é legal! Aliás, o filho do Malfoy, o Draco, quis que o Harry fosse amigo dele. Veio com uma história de que algumas famílias bruxas são melhores que outras, mas o Harry nem deu bola para o que ele disse. Metido aquele idiota! Eu não sei, mas acho que terei alguns probleminhas com ele. Sim mãe, eu terei, mas não se preocupe porque eu não deixarei que ele me prejudique. Eu pareço, mas não sou tão idiota. Pode confiar e não faça essa cara de escandalizada. A senhora sabe como é difícil aturar aquele almofadinha. Olha o estado do papai quando o pai dele fica falando bobagens. Humpf!

Bom, aqui no dormitório somos cinco: além de mim e do Harry, ainda tem o Neville Longbottom, o Seamus Finnigan e o Dean Thomas, que gosta de futebol trouxa e tem um pôster que não se mexe. Achei super estranho, papai. Lembrei do senhor na hora que vi aquilo, tenho certeza que o senhor iria adorar aquele negócio. Acho que vou pedir um para o Dean, quem sabe ele consegue né?

Aqui na Torre é tudo muito legal. O salão comunal é enorme, gostei bastante. Tem espaço pra estudar e até pra relaxar, jogar xadrez. Acho que vou gostar mais do que eu imaginava, mãe. Claro que estamos bem nervosos, mas é questão de tempo até a gente conseguir superar esse medo todo. Enfim, estamos apenas vivendo nossa primeira noite em Hogwarts.

Eu queria escrever mais, mas está super tarde e eu estou com bastante sono. O banquete foi muito bom. E por que você não me falou desse banquete, mãe? Caramba, se eu soubesse não teria comido todas aquelas tortinhas de abóbora que o Harry comprou. Mas enfim, eu vou dormir agora. Ah sim, mãe será possível a gente conhecer alguém e não gostar de primeira?

Bom, é que no trem, antes de chegarmos em Hogwarts, apareceu uma menina metida a sabe-tudo que fala pelos cotovelos. Veio perguntando por um sapo e falando, falando e falando. Nunca vi uma pessoa falar tanto em tão pouco tempo. Sem contar o fato de que ficou impressionada com o Harry. Coitado, ele fica tão sem graça quando alguém aponta para a cicatriz dele. E essa garota, hum... Qual o nome... Ah, Hermione alguma-coisa, me deixou irritado com tanto falatório. Pai, isso é normal? É normal a gente desgostar de alguém sem nem mesmo conhecer a pessoa direito?? Estou intrigado e um pouco envergonhado de pensar assim, mas eu espero que não sejamos amigos. Eu não sei o que faria se tivesse uma amiga que falasse tanto quanto ela. Aliás, eu quase esqueci de dizer que ela está em Gryffindor também. Vai ser horrível, eu sei!

Já está muito tarde e eu tenho mesmo que ir dormir, senão amanhã eu não consigo acordar na hora certa. Mãe, não se preocupe comigo porque o Percy está aqui e eu sei que a senhora recomendou que ele ficasse atento a tudo que eu fizer. Eu sei que a senhora fez isso! Pai, obrigado por tudo. Acho que viverei os melhores anos da minha vida aqui (desde que essa garota não me dirija a palavra, eu acho que serei bem feliz por aqui). Um beijo para os dois e até a próxima.

PS.: Acho que vocês receberão cartas como essa sempre. Já estou com saudades.

Ron

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- Molly, eu não sei o que dizer.
- Estamos na mesma condição, Arthur.

Molly e Arthur Weasley ficaram felizes e impressionados com a carta de seu filho mais novo. Felizes porque ele estava feliz. Impressionados com a maneira com a qual ele falou da garota, Hermione. Molly, lembrando de sua própria história em Hogwarts, pensou, ‘Será que... não, ele é muito jovem, não sabe o que está dizendo.' Ela empurrou esse pensamento para um canto de sua mente e tornou a falar com seu marido:

- Bom, eu acho que ele já tem pelo menos um amigo e terá outros também. Estou feliz pelo nosso Ronnie, Arthur. Tomara que ele consiga se sair bem na escola. Quero tanto que os nossos filhos sejam felizes.
- Eu também quero, Molly. Só espero que ele aproveite esses sete anos e se transforme em um grande bruxo.
- É, eu também espero.

Pouco tempo depois, Arthur foi para o Ministério, e Molly juntou-se a Ginny nos afazeres domésticos. Não conseguia tirar da cabeça as últimas palavras da carta de Ron “Acho que viverei os melhores anos da minha vida aqui (desde que essa garota não me dirija a palavra, eu acho que serei bem feliz por aqui).” Isso porque pensara exatamente a mesma coisa sobre Arthur quando o vira pela primeira vez. E alguns anos depois, eles estavam casados. Ela sacudiu a cabeça para clarear os pensamentos e desejou, mais uma vez, que tudo desse certo em Hogwarts. Não era fácil ver seus filhos indo para a escola, mas se um futuro melhor os espera, que assim seja.

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