Memória Fraca
Todos olharam para Dumbledore estupefatos e queriam falar com ele ao mesmo tempo, mas ele dirigiu-se a Hermione em silêncio. Ela chegou a recuar um passo, assustada pela presença dele, mas ele lhe sorriu por cima dos oclinhos meia-lua como costumava fazer antes e, estendendo a mão, pegou a mão em que ela segurava a varinha e, curvando-se, beijou-a.
- Estou mesmo muito orgulhoso que você saiba aprender com seus erros, srta. Granger.
Ela não teve tempo de processar o que ele disse, quando ele se virou para o corpo de Snape e andou até lá. Abaixou-se ao lado dele e verificou a pressão sanguínea.
- Você é muito forte, meu rapaz – murmurou ele, olhando para Snape com um carinho paternal.
Hermione sorriu entre lágrimas, enquanto todos ainda estavam boquiabertos demais para expressar alguma reação.
Na ala hospitalar de Hogwarts – uma semana depois da batalha final – Dumbledore acabara de entrar, e viu Hermione sentada ao lado de Snape, segurando uma das mãos dele entre as suas e acariciando-a.
- Olá, minha jovem – saudou ele jovialmente.
- Olá, professor Dumbledore – murmurou ela. – Sei que não fui jantar hoje, mas estou tão preocupada! Ele ainda não acordou...
- Isso demora mesmo.
- Conseguiu resolver as questões finais com o Ministério?
- Claro – disse ele. – O novo primeiro ministro é muito melhor que aquele que estava quando eu morri.
Ela sorriu.
Ficara esclarecido, no dia da batalha mesmo, pelas explicações de Dumbledore, mediante a divulgação das memórias dele para os membros da Ordem e para os mais altos do Ministério da Magia, que Snape não era traidor coisa nenhuma, mas sim o maior herói da guerra.
A morte de Dumbledore fora uma farsa completa com o objetivo de Snape ter mais importância ainda entre os comensais e saber de todos os planos de Voldemort. Eles haviam acertado cada detalhe por dois anos antes do acontecimento fatídico na Torre de Astronomia. O quadro que aparecera na diretoria fora fruto de um feitiço desenvolvido ao longo desses dois anos por Snape e Dumbledore em conjunto, a fim de dar veracidade à morte do diretor.
Dumbledore, por todo esse tempo comunicando-se com a Ordem pelo quadro, passava aos membros todas as informações que Snape lhe dava como se fossem palpites – sempre certos. Só por isso Voldemort não tomara o poder e morrera naquele dia.
Na batalha, quando Snape pela última vez levantara sua varinha – consertada por Hermione – fizera um feitiço, também desenvolvido por ele em conjunto com o diretor, para mandar a cena geral para Dumbledore. Por isso ele viera. Era dado o momento.
Durante o inquérito todo, quando perguntaram a Dumbledore por que ele não aparecera antes, ele apenas respondera que ainda não era o momento. Agora, ficara acertado o perdão oficial a Snape e a restituição dele ao cargo de professor de Hogwarts. Apenas não sabiam de que matéria. Hermione era professora de DCAT e Slughorn já dissera que ia se aposentar de vez. Hermione dissera que cederia o cargo de DCAT a Snape se ele o quisesse, e ela mesma poderia lecionar Poções. Ou, se Snape quisesse continuar como professor de Poções – o que era quase impossível – ela permaneceria com DCAT.
- Ah... eu só quero que ele acorde bem! – exclamou ela, despertando Dumbledore de seus devaneios.
- Todos nós, querida – murmurou ele. – Mas, segundo creio, você quer mais do que todos.
Hermione virou o rosto para ele e corou.
- Eu aposto que sim... – murmurou ela. – Não sei como consigo amá-lo tanto...
Dumbledore sorriu.
- Sabe, eu tenho que avisar para que você não sofra... Ele vai ficar uns bons meses sem se lembrar dos acontecimentos da batalha final em razão dos feitiços que ele recebeu, especialmente o último. Isso significa que ele não será o mais agradável dos homens para com você; agirá como sempre agiu...
- Eu não me importo em ser reconhecida por ele... Sabe, fui ensinada desde pequena que amor era mão única... você dá sem esperar nada em troca.
- É a mais pura verdade – disse Dumbledore com um sorriso. – Vou deixá-los agora... E você devia comer algo. Amanhã é sábado; você poderá ficar com ele o dia inteiro.
Ela riu e disse que iria logo. Quando Dumbledore saiu, ela apertou a mão de Snape com força e deu um beijo nos lábios dele. Depois, saiu da ala hospitalar.
Na manhã seguinte, Hermione encontrou Harry no corredor e parou para falar com ele.
- Que você faz aqui, meu auror preferido? – perguntou ela, sorrindo.
- Vim cumprimentar o professor Snape e pedir desculpas por julgá-lo tão mal – disse Harry com cara de quem preferia a morte.
- Ele ainda não acordou, que eu saiba – murmurou ela.
- Não, ele acordou sim... Dumbledore me chamou.
Hermione ficou primeiro chocada e depois sentiu raiva. Quem era Harry? Era ela que Dumbledore deveria avisar, não ele.
Os dois foram juntos para ala hospitalar e, ao entrarem, viram Dumbledore, McGonagall, madame Pomfrey e Snape, sentado na cama, recostado a travesseiros.
- Até o Potter veio me ver? – perguntou Snape, letal. – É, parece que fui um verdadeiro herói na batalha final.
Harry ia responder, mas Hermione pressionou o braço dele em aviso.
- Ahn... foi mesmo... Mas ninguém sabia até Dumbledore dizer... – ponderou Harry.
- Tudo bem, Potter, está perdoado – disse Snape, entediado. – Já pode ir. Sua presença ainda não me é agradável.
Harry sentiu as faces queimarem de raiva.
- Severo, você deveria ser mais educado. Foi ele que matou Voldemort.
Snape fez uma careta.
- Você poderia não falar o nome dele? – perguntou Snape, com uma voz pouco acima de um sussurro.
Hermione olhava-o sem conseguir esconder o sorriso calmo e aliviado. Foi quando ela sorria que ele se deu conta da presença dela.
- Sou muito bonito, srta. Granger, por isso está me olhando com essa cara? – perguntou ele, mal humorado.
- Não – respondeu ela suavemente. – Estou mesmo feliz que o senhor tenha acordado.
Ele engasgou, pois esperava que ela lhe respondesse com a mesma raiva que Harry. Dumbledore sorriu ao constatar isso.
- Ahn... esqueça o “senhor”. Já fui informado de que você é minha colega agora – disse Snape a contragosto.
- Eu sou. Aliás, este é um momento apropriado para perguntar se... você vai querer o cargo de professor de Poções mesmo ou vai ficar com DCAT?
Snape arqueou as sobrancelhas e olhou para Dumbledore e depois para ela. Seus ombros murcharam, derrotados, mas ele logo recobrou a compostura e perguntou:
- E eu posso escolher?
- Claro – disse ela. – Eu jamais atropelaria a sua autoridade, professor.
- Você não é mais minha aluna, Granger – disse Snape, sério. – Agora acho bastante... adequado que você respeite minha estadia aqui há mais tempo que a sua.
- Naturalmente – murmurou ela, suavemente. O ano anterior como professora lhe ensinara a paciência, a calma e todas as características diferentes das de antes que ela apresentava agora.
- Eu... – Snape gaguejou. – Eu gostaria da cadeira de...
Ele baixou os olhos de um modo que espantou os presentes, mas não Dumbledore.
- DCAT – disse Hermione com um sorriso leve. – É sua, Snape. Apenas peço que me ensine alguma coisa que eu preciso saber sobre as masmorras e sobre ensinar Poções. Eu tenho qualificação para isso, mas não experiência.
Ele ergueu o olhar para ela, enquanto ela olhava para Dumbledore, que a cumprimentava com um aceno de cabeça pelo tato ao lidar com Snape.
- Não tem problema para mim, Granger – disse ele. Ao vê-la sorrir, ele acrescentou: – Terei que me acostumar a suportar a sua presença, já que somos colegas.
Harry avançou para ele com os punhos cerrados, enquanto algumas lágrimas corriam pelo rosto dela.
- Seu desgraçado, foi ela que salvou você! – gritou ele, sendo segurado por McGonagall e Pomfrey, que faziam uma força sobre humana e, ainda assim, falhavam em detê-lo.
- Pare de ser criança, Harry – disse Hermione, enérgica, como era com seus alunos.
Harry parou e olhou para ela.
- E você ainda defende esse...! – exclamou ele, irritado.
- Claro – disse Hermione, mais calma, já sem sinal de choro. – Ele está debilitado. Você teria problemas se o quebrasse em vários pedacinhos.
Harry sorriu para a amiga. Snape fechou a cara.
- Salvou a minha vida, é, Granger? – perguntou ele, com desdém. – Pretende jogar isso na minha cara toda hora?
- Precisamos combinar sobre o que você vai falar para ele – murmurou ela, forçando um sorriso, mas falhando miseravelmente.
Harry sussurrou no ouvido dela:
- Amar isso aí deve ser difícil.
Ela olhou e fez que não com a cabeça, mas nada disse. Harry despediu-se com um aceno de cabeça e deixou a ala hospitalar. McGonagall correu para falar com ele sobre alguma coisa e Dumbledore, depois de mandar Snape se comportar, saiu de lá também, a fim de ver alguma coisa na diretoria.
Madame Pomfrey pediu ajuda para Hermione para fazer os exames em Snape, e ela prontamente tirou o casaco para vestir o avental.
- Mas em que diabos você quer que ela ajude? – perguntou Snape, instintivamente cruzando os braços na frente do corpo.
- Não seja infantil, Severo; foi ela que cuidou de você durante essa semana toda em que tive que cuidar dos outros membros da Ordem.
Snape olhou para Hermione, que baixou os olhos.
- Não, eu não vou me gabar disso o tempo todo, Snape – murmurou ela. – Madame Pomfrey, a gente precisa mesmo combinar o que vocês podem falar para ele...
- Me desculpe, Hermione – disse a medibruxa, fazendo uma careta.
Hermione assentiu com um sorrisinho amarelo e aproximou-se. Madame Pomfrey começou a abrir os botões de cima da camisa dele, e ele afastou as mãos dela de si.
- Mas o que você está fazendo? – disse ele, alternando o olhar entre ela e Hermione.
Madame Pomfrey riu e olhou para Hermione, como que pedindo autorização a ela para dizer alguma coisa. Hermione assentiu em silêncio, com um sorriso divertido.
- Ela te viu sem as calças algumas vezes durante essa semana – disse a medibruxa, rindo ao ver o olhar dele. Era algo entre furioso e envergonhado. – Tirar a camisa para ela não será um problema.
- Você não tem do que se envergonhar – disse Hermione, calmamente.
- O que, em nome de Merlin, você quis dizer com isso? – perguntou ele, permitindo que madame Pomfrey lhe tirasse a camisa, com relutância.
- Nada demais – respondeu Hermione, aproximando-se da cama e analisando os vidros de poções que estavam ao lado da mesa de cabeceira dele. – Só que você parece envergonhado, e não imagino o porquê disso. Madame Pomfrey, esse aqui é só pra daqui a duas horas... Ou você mudou os horários por ele ter acordado?
- É isso, querida – disse madame Pomfrey, e Snape ficou irritado pela facilidade com que as duas se esqueciam de que estavam falando dele.
- Bom, vamos lá – disse madame Pomfrey, afastando-se para pegar sua varinha. – Com vão as cicatrizações, Hermione?
- De onde? – perguntou ela.
- Dos braços, primeiro.
Madame Pomfrey sentou-se à mesa dela para escrever, para desespero de Snape.
- Por que é que ela não escreve? – perguntou Snape, afastando Hermione de si e indicando-a.
- Oras, porque eu decido o que acontece na minha ala hospitalar – disse madame Pomfrey insolente. – E porque ela tem infinitamente mais paciência que eu para cuidar de você, seu rabugento insuportável.
Hermione sorriu calmamente e sentou-se na beirada da cama. Snape instintivamente afastou-se para o lado oposto. Hermione bufou.
- Se você se mexer, vou fazer você dormir para examinar você – ameaçou ela.
Snape bufou e ficou sério, olhando para o outro lado. Os dedos dela tocaram sua pele do braço direito e começaram o correr por este com suavidade. Snape relaxou, mas continuou olhando para o outro lado.
- Braço esquerdo certo, madame Pomfrey – disse Hermione, passando para o outro lado da cama.
O mesmo toque suave correndo pelo braço direito; Snape teimava em olhar para o lado oposto.
- O braço direito está certo também – anunciou Hermione.
Madame Pomfrey escrevia furiosamente.
- Costas – comandou ela.
Hermione ajudou Snape a sentar-se curvado para frente passou a mão pelas costas dele com suavidade. Parou em um ponto mais perto no ombro direito e apertou com um pouco mais de força. Snape gemeu de dor.
- Uh... parece que temos um ossinho deslocado aqui perto do ombro direito – disse Hermione, calmamente.
- Resolva – disse a medibruxa.
Hermione pegou sua varinha e recitou um feitiço. Depois, massageou o lugar com maestria insuspeita.
- Melhor? – perguntou ela num sussurro.
- Sim – respondeu ele secamente.
- Agora o peito e o abdômen – disse a medibruxa.
Snape novamente recostou-se nos travesseiros. Desta vez, porém, fixou os olhos no olhar atento de Hermione. Um lampejo em sua mente mostrou-lhe aquele olhar firme, mas ele não sabia de onde era, nem de quando. Só sabia que eram os olhos dela.
De cima para baixo, ela correu os dedos finos pelo peito dele, sentindo a pele se contrair ao primeiro toque. Depois, desceu para a parte alta do abdômen. Snape olhou as mãos dela descerem, alarmado. Pararam pouco acima do cós de sua calça, para seu alívio.
Entretanto, ele arregalou os olhos desesperado ao vê-la abrir seu zíper, e segurou as mãos dela.
- Isso já é demais, não acha, mocinha?
- Tenho que verificar até quatro dedos abaixo no umbigo, Snape – explicou ela, com voz calma, quase entediada, mas denotando que entendia perfeitamente o que ele queria dizer.
- Snape, deixe de ser tão rabugento! – exclamou Pomfrey. – Uma menina tão bonita quanto ela certamente não vai perder o tempo dela tocando você, quando tem tantos melhores atrás dela!
Snape olhou para Hermione, que corou.
- Esse comentário não precisava ter sido feito – murmurou ela. – Até onde ele me deixou ir, está tudo bem.
Ela olhou para as mãos dele que a seguravam e algumas lágrimas correram por seu rosto, lembrando-se do quão firme ele havia apertado sua mão na batalha.
Ela levantou-se às pressas e correu para o banheiro da enfermaria – e gritou para madame Pomfrey, em meio ao choro descontrolado:
- Termine, madame Pomfrey.
Snape ficou sem reação, pois nunca havia visto o temperamento de alguém mudar tanto de uma hora para outra.
- Mas o que essa menina tem? – perguntou ele, irritado.
Madame Pomfrey fez que não com a cabeça e terminou o exame, dizendo que logo à noite ele poderia estar presente no salão principal para o jantar.
Na hora do jantar, lá estava Snape com suas velhas vestes, adentrando o salão com postura e altivez dignas de um sonserino. O olhar dele imediatamente correu para a mesa dos professores à procura de Hermione, pois não a vira mais desde aquela saída brusca de manhã.
Ele a viu com os olhos inchados, conversando com Dumbledore, que tinha um ar descontraído, mas preocupado.
Logo se aproximou da mesa e cumprimentou seus colegas secamente. Então, sentou-se em seu lugar: entre o diretor e Hermione. Dumbledore levantou-se e anunciou a mudança de grades. Todos lamentaram a volta de Snape, mas quando o diretor anunciou que Hermione ia permanecer, só que no cargo de Poções, houve urros e assobios, mesmo entre sonserinos.
- Parece que eles gostam de você, Granger – disse Snape, com desdém.
- Não, eu é que gosto deles – disse ela, com um sorriso afetado, sorrindo abertamente para os alunos.
Começaram a comer em silêncio, até que Snape virou-se para Hermione e perguntou:
- Mas que raios deu em você de manhã?
- Nada – respondeu ela secamente.
Snape fez menção de dizer alguma coisa, mas ficou calado. Depois de um silêncio incômodo, em que ela bebeu seu suco, ele perguntou:
- Foi algo do que eu disse?
- Não – disse ela, novamente seca. – Por incrível que pareça, não.
Ela terminou de comer e levantou-se, alegando que estava cansada quando o diretor perguntou por que ela ia tão cedo.
Dumbledore fez que não com cabeça; Snape perguntou:
- Mas o que houve, afinal? Aquele acesso de choro repentino... Nenhum dos amigos dela morreu, os pais dela estão bem... Por que aquilo? Essa perda de memória é um inferno mesmo! É algo que aconteceu na batalha final, não?
- É... ela se lembrou de algo que aconteceu lá hoje de manhã. Por isso o choro.
- E o que foi? – perguntou Snape.
- Pergunte a ela. Mas, como ela não vai dizer, espere sua memória voltar.
- Isso pode levar meses!
- Então sugiro que convença Hermione a dizer – disse Dumbledore sacudindo os ombros.
- Isso vai levar anos – resmungou Snape.
- Não, se você souber o que dizer para ela – murmurou Dumbledore calmamente.
- O que você quer dizer com isso?
- Que Hermione é uma mulher que você precisa saber tratar – disse Dumbledore simplesmente.
Snape bufou.
- Tenho que pegar o que ela deu nessas duas semanas de aula em DCAT. Onde é a sala dela?
- Ela nunca fica na sala além do horário de aulas – disse Dumbledore. – Se quer falar com ela, deve ir aos aposentos particulares dela.
Snape sacudiu os ombros.
- Onde são?
- Nas masmorras – esclareceu Dumbledore. – Ela sabia que você ia querer as aulas de DCAT e por isso já escolheu mudar de quarto desde o começo do ano. É a porta perto a estátua do dragão de três cabeças.
Snape assentiu e levantou-se.
Hermione estava cuidando de fazer aquelas olheiras sumirem quando ouviu baterem à sua porta. Terminou que estava fazendo e foi abri-la, achando que era o diretor ou alguém a mando dele. Deu dois passos para trás ao ver a figura de Snape. Era o tipo que impunha respeito com um simples olhar.
- Ahn... – ela saiu da frente da porta para deixá-lo entrar. – Entre.
Ele agradeceu e entrou. Ela indicou o sofá e esperou-o sentar para sentar-se também, no sofá perpendicular ao dele.
- Então? – perguntou ela.
- Eu gostaria das suas anotações de aula, para saber o que os alunos estão vendo nessas duas semanas. Se você puder, também gostaria de ver os trabalhos que você pediu e aqueles que você já corrigiu.
Ela assentiu e levantou-se para ir até uma prateleira. Foi quando Snape notou que ela estava com um short muito curto. A camiseta era larga de branca, meio transparente, e o sutiã que ela usava por baixo era preto.
- É assim que você dorme? – perguntou ele, com a voz mais sóbria que conseguiu.
Ela olhou para ele e depois para si mesma e corou.
- Ahn... eu vou me trocar – disse ela, encaminhando-se para uma porta fechada que Snape notara apenas de passagem.
- Ah, não – disse ele, impaciente. – Só fiz uma observação. Primeiro, você vai demorar, porque as mulheres demoram para se arrumar. Segundo, não tenho a intenção se incomodar você no seu aposento mais do que já estou incomodando. Terceiro, penso que temos direitos iguais.
Ela sorriu encabulada e assentiu.
- Boa argumentação, Snape. E você não está incomodando.
Ela voltou a atenção para a prateleira, pegando sete pastas diferentes e colocando-as embaixo do braço, depois pegando uma folha de anotações. Ela não percebeu o olhar atento de Snape em cada detalhe de suas pernas e de sua bunda, marcada pelo short. Ele condenou-se em dois momentos diferentes: no primeiro, por estar olhando para sua ex-aluna e atual colega desse modo. No segundo, por não ter reparado antes no quanto ela era gostosa – e foi exatamente esse termo que sua mente usou.
Mas ele logo caiu em si e afastou esses pensamentos, bem a tempo de ir ajudá-la com o monte de coisas que ela trazia para a mesa de centro.
- Obrigada – disse ela. E sentou-se no sofá.
- Olhe, cada pasta tem as coisas de um ano – disse ela. – Uma pasta para o primeiro, uma para o segundo, e assim por diante. Dentro de cada pasta tem um envelope para cada casa.
- Ah... – disse Snape. – Você dá matérias diferentes para cada casa?
- Não. Apenas separo para corrigir. Os estudantes de cada casa têm mentalidades diferentes e é assim que eu trabalho – disse ela muito segura de si. Ela pegou mais sete pergaminhos, todos cortados em tamanhos iguais, e entregou a ele. – Minhas anotações de aula de cada ano. Não peguei o planejamento que eu tinha feito para o resto do semestre porque achei que seria muita pretensão a minha sugerir o que você vai ensinar.
- Achou certo, meus parabéns – disse ele, olhando as anotações de aula dela. – Mas eu gostaria se ver o que você planejou, não como sugestão, mas para saber a linha que você estava traçando quando ensinou cada coisa. Não é muito fácil desviar a linha de uma professora como você para a de um professor como eu.
- O que você quer dizer com isso?
- Uma professora amada e um professor odiado.
- Tirei meu jeito de lecionar do modo que você lecionava, Snape – disse ela com voz sóbria, fazendo-o olhá-la incrédulo. Ela levantou-se e foi pegar seu planejamento. – A diferença entre ser amada e ser odiada está só em não ser injusta com ninguém e não humilhar um aluno porque ele é desta ou daquela casa. Só que eu sou a sua única aluna que conseguiu ver a sua aula, e não apenas as suas injustiças.
Ela suspirou e sentou-se outra vez no sofá. Entregou a ele o planejamento. Ele tirou-o das mãos dela um pouco grosseiramente e leu-o com uma ruga no meio da testa.
- De fato...
- O que? – perguntou ela.
- Essa linha é de minha autoria – disse ele. – Ou você previu os meus pensamentos ou você...
- Peguei nos arquivos do professor Dumbledore os seus planejamentos de aula do ano retrasado e fiz uma ou duas alterações – esclareceu ela.
Ele levantou um sorrisinho no canto dos lábios.
- Você me pegou, Granger. Não sei como responder a isso, nem bem nem mal – disse ele, lançando outro olhar ao pergaminho.
- Não responda, então – disse ela calmamente. – Pode levar essas coisas... Só vou ser interesseira e pedir uma coisinha em troca.
- O que? – perguntou ele, erguendo o olhar para ela.
- Aquilo que eu te pedi hoje de manhã... sobre lecionar Poções.
- Ah, claro – disse Snape. – Não será um problema, afinal. A sua sala de aula será a mesma que eu usava?
Ela assentiu.
- Amanhã é sábado. Tenho que pôr minhas coisas em ordem, mas isso tudo aqui já me adianta bastante. Talvez possamos conversar na sua sala de aula amanhã à tarde.
- Perfeito – disse ela com um sorriso, mas, ao lembrar-se de que as grosserias dele só vinham depois de um sorriso dela, ficou séria logo.
E ele percebeu isso perfeitamente, mas apenas guardou a observação em sua mente, para pensar melhor depois.
- Antes de eu ir embora, tem mais uma coisa, Granger – disse ele, decidido.
- O que é? – perguntou ela.
- Do que foi que você se lembrou hoje de manhã que saiu correndo chorando daquele jeito?
Ela ficou pálida de repente e algumas lágrimas lhe vieram aos olhos. Ela fechou-os por um momento e quase sentiu Snape apertando sua mão com firmeza. Viu à sua frente o olhar dele antes de ela correr para ajudar Harry. Ela abriu os olhos e algumas lágrimas lhe escorreram pela face.
- A sua memória vai voltar e você vai saber – disse ela. – Até lá, você vai esperar.
Snape fitou-a sério. Não fazia a menor idéia do que poderia provocar aquela reação em alguém como Hermione Granger e sua curiosidade o incitava a insistir mais um pouco.
- Se nenhum dos nossos morreu... Tem algo a ver com aquilo que o Potter falou sobre você ter me salvado? Você está magoada porque não me lembro e não ofereço nenhuma gratidão a você?
- Eu dificilmente esperaria gratidão de alguém como você, Snape – disse ela, mas em tom educado, já controlando as lágrimas. – E eu não salvei você... Não foi bem isso que aconteceu.
- Não foi bem isso? – ele repetiu, arqueando as sobrancelhas.
- Não, não. Eu... de certa forma... é que... Olha, eu não vou falar. Não estou à vontade com esse assunto, estou cansada e já chorei tempo demais hoje – ela disse. – Você vai se lembrar, então só tenha paciência...
Ela murchou os ombros e acrescentou:
- Eu ainda tenho que decidir se isso é bom ou ruim para mim... – ela levantou-se e acompanhou Snape até a porta. Deram-se boa noite e ele desapareceu no corredor.
MINHAS LINDAS!!!
ATUALIZEI LOGO, VIRAM SÓ???
TANTOS COMENTS LOGO NO PRIMEIRO CAP ME FIZERAM SOLTAR O SEGUNDO ANTES DO QUE DEVIA... MALVADAS!
BOM, ESPERO QUE TENHAM GOSTADO... ESSA FIC TÁ MESMO ME DEIXANDO ALEGRE EM ESCREVER...
AGRADEÇO A TODOS OS COMENTS E, NOVAMENTE, ME PERDOEM POR NÃO RESPONDÊ-LOS... A FALTA DE TEMPO TÁME MATANDO!
BJOSSS
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