... O afastamento
Lembrou-se do amigo. Havia mudado muito quando o vira pela última vez. Crescera. Era um homem de agora. Foi o único que ficou ao seu lado realmente. Não o tinha deixado afugentá-lo como havia feito com todos os outros, pois sabia que um dia ele tentaria. Novas lágrimas ao lembrar do amigo que havia morrido em seus braços após a ultima batalha. Esse era o destino de quem o acompanhava afinal. E seu destino era ver as pessoas que o amavam morrer.
Segurou-se na maçaneta. Uma dor de cabeça começando a incomodar. Aquelas lembranças machucavam muito.
Saiu do quarto e repousou a mão na maçaneta do quarto das garotas que ficava quase em frente ao quarto das garotos. Abriu-o e viu que diferente do outro quarto, aquele ainda estava em bom estado e com as camas devidamente forradas. Ainda haviam alguns pertences de Hermione e Gina e pelo visto, alguém tinha passado ali há pouco tempo, pois ao contrário da outra cama, o lençol de uma delas estava embolado na ponta da cama como se alguém com insônia tivesse desistido de dormir.
Decidiu verificar o quarto em outra hora e foi ver se encontrava alguém esperançoso que esse alguém fosse a mulher que não saía de sua mente. Andava devagar. Quem quer que fosse não esperava sua presença na casa, afinal, cinco anos haviam se passado desde que se tornara um homem sozinho e sem amigos.
Abriu a porta de seu quarto e se deparou com um cômodo em perfeito estado. Nem precisou acender a luz para perceber que havia alguém ali. Olhando melhor, com a vista ainda se acostumando com a pouca luz existente, notou que sobre a cama havia algo. Ou melhor, alguém. Era ela. Estava dormindo. Linda. Mas seu sonho não parecia estar sendo dos mais tranqüilos. Ela estava sofrendo. E ele não suportava vê-la sofrer. Queria acordá-la, mas teve medo de sua reação ao vê-lo ali. Então simplesmente passou a acariciar sua cabeça, seu rosto, sua boca... que saudades tinha daqueles lábios. Mais uma vez a tristeza se abateu sobre ele e sentiu seu rosto queimar sob as lágrimas.
Nesse momento ouviu a porta bater e alguém gritar lá de baixo.
- Hermione? Você está aí?
Ela abriu os olhos e sem expressar tristeza, revolta ou espanto, apenas se sentou na cama enquanto ele enxugava as lágrimas. Encararam-se mesmo que soubessem o que isso significava. Um estava lendo a alma do outro.
- Desculpe. – disseram os dois ao mesmo tempo. Tinha certeza que em outra época ririam daquilo, mas não agora. Agora a dor de cabeça parecia estar se espalhando pelo corpo inteiro. E aquela tensão sobre os ombros não facilitaria aquela conversa, mesmo que ele soubesse que seria assim.
- Eu não sabia que estaria de volta por esses tempos... não sabia nem mesmo que um dia voltaria. – Ela continuou com mágoa estampada em seus olhos enquanto se levantava e arrumava a cama desarrumada pelo peso de seu corpo. – Desculpe. Eu não devia estar aqui. Esta casa é sua e eu...
- Ela é sua também. Ela é da Ordem, não é mesmo? – Disse tentando um sorriso.
- É... – ela se limitou a dizer enquanto saia do aposento.
- E você pode voltar quando... – Tentou continuar um diálogo.
- ... quiser? Não. Eu não quero mais voltar aqui. Obrigada. – Ela disse oferecendo um sorriso irônico para convencê-lo a parar por ali. Mas ele não desistiria tão fácil. Havia vindo à Londres para conversar com ela. Tentar se explicar e quem sabe... se fazer entender. Respirou fundo. Sabia que não seria fácil. Mas ele havia vencido uma guerra. Não perderia ESSA guerra.
- Por que? – Sabia que isso a chatearia, mas ao menos ela brigaria com ele. Lhe dirigiria a palavra e eles acabariam conversando. E foi o que aconteceu. Ele sorriu ao ver que ela parou de chofre a essa pequena pergunta.
- Porque? Você só pode estar brincando comigo. – disse ainda de costas, virando-se lentamente para o que parecia ser uma conversa difícil. – Você realmente não merece a minha dor. – disse após um longo suspiro que mais parecia um soluço. Uma lágrima escorregou sobre sua face já vermelha. – Depois de tudo o que aconteceu... – limpou a lágrima que já se aproximava de sua boca. – Como você consegue sorrir? Como você pode me perguntar ISSO?
Ele sentiu seu peito afundar enquanto ela já desistindo de controlar o choro, avançava alguns passos em sua direção.
- Não sei e nem imagino o que você esteja fazendo aqui, mas... droga – se exasperou ao enxugar mais uma vez o rosto já banhado pelas lágrimas. – espero do fundo do meu coração que não esteja tentando uma reaproximação, pois lhe informo como boa amiga que sou – disse com toda ironia que pode – que seu esforço será inútil.
Não conseguiu conter as lágrimas e num impulso, a segurou pelo braço enquanto ela se preparava para lhe dar as costas.
- Eu não sei se errei Hermione, afinal você está viva. Não sei se hoje você estaria aqui se não tivesse feito o que eu fiz, mas se é isso o que você me diz... – as lágrimas já o impediam de pronunciar as palavras corretamente. Suspirou tentando se recuperar, sem soltar seu braço e sem perder o contato visual que mantinham. – Se uma reaproximação é impossível, eu prefiro que seja assim do que se um dia eu tivesse que viver... que viver sem você nesse mundo. – Perdeu as forças e soltou o braço dela, tentando controlar as lágrimas que embaçavam seus olhos e o impediam de ver a reação dela. Mas como ela simplesmente se calou, ele continuou – Eu prefiro ser infeliz sabendo que você está viva, do que andar morto por aí por que você está morta... e por minha culpa Hermione... minha culpa.
- Pois lamento lhe informar Harry, mas eu morri. Estou morta para você. E se você quer saber quem me matou, eu digo. Foi você mesmo. – dizendo isso, ela deu as costas e entrou no quarto das garotas, provavelmente para pegar suas coisas e sair dali o mais rápido possível.
Aquelas palavras o machucaram muito. Ele sabia que tinha sido duro. Que ela estaria magoada, mas ele a amava tanto... e só queria que ela entendesse que tinha feito tudo o que fez pela segurança dela. Se ele morresse e ela estivesse a salvo, ele estaria bem, morreria em paz. Mas se ela morresse, ele não superaria...
(Flash Back)
Nos dias que se passaram ele não conseguia esquecer as palavras de Rony. E desejava com todas as forças estar ao lado dela quando acordasse para dizer que a amava. Para dizer que ficasse em segurança enquanto ele ia tentar construir um futuro para os dois. Sem medo, sem dor. Mas sabia que ela nunca o deixaria ir sozinho se soubesse o quanto precisava dela. E pensando assim, tomou aquela decisão...
Os dias seguintes a essa conclusão tentaram confundi-lo. O hospital foi atacado por dementadores e comensais e alguns pacientes em estado menos grave, foram encaminhados para suas casas. Assim vieram Sr Weasley, Moody, Tonks, Lupin e Hermione.
Lupin mancava de um lado para o outro, pois havia recebido um corte na perna e mesmo com todo o esforço que faziam para cicatrizar o ferimento, ele se recusava a fazer o repouso necessário por achar mais interessante acompanhar Tonks aonde quer que ela fosse, resmungando dos movimentos da mulher e dizendo que não seria um bom pai sem poder correr e brincar com o filho (arrancando muitas risadas dos gêmeos e Gina que viviam observando o ex-professor). Haviam descoberto no hospital que ela estava grávida, e felizmente o feitiço que havia recebido na batalha não havia prejudicado o bebê. Ela só tinha permanecido no hospital para acalmar Lupin. Era a que estava em melhor estado dentre todos.
O Sr Weasley tinha algumas escoriações pelo rosto e um corte que vez ou outra abria em seu pulso. Mas fazia o repouso necessário e por isso, estava quase cicatrizando.
Moody havia perdido o olho e ganho um braço novo. Dizia que estava sendo reconstruído: olho, mão e pé, tudo falso. Vivia perguntando o que mais faltava perder e depois ria arrancando risadas de quem estivesse próximo.
Mas Hermione permanecia em coma. Dormindo profundamente enquanto Harry não conseguia tirar os olhos da garota um segundo.
Algumas vezes saia do quarto após muita insistência da Sra Weasley e só se sentia bem quando Rony ficava em seu lugar após muitas recomendações.
Todos os dias Madame Pomfrey ia ver como andava a recuperação da garota, mas seus diagnósticos nunca eram muito reconfortantes... na verdade, algumas pessoas começavam a se preocupar com Harry, pois se ela não acordasse...
Todos sabiam do amor dos dois e somente eles pareciam não enxergar reciprocidade em seus sentimentos. Era triste, mas ninguém poderia ajudá-los. Eles mereciam descobrir isso juntos.
Um dia após mais um diagnóstico desanimador de Madame Pomfrey, Harry não agüentou e na sala de jantar, naquele silêncio que se instalava aonde quer que ele fosse, sob todos os olhares de pena possíveis, se descontrolou.
- Vocês também acham que ela é um caso perdido, não é?
(silencio)
- Acham que ela não vai acordar, não é? – lágrimas rolando por sua face rubra de raiva.
- Filho, nós acreditamos que ela vá acordar, é só que você... – Sra Weasley tentou acalmá-lo. Mas ele a ignorou e com os punhos cerrados sobre a mesa finalizou.
- Mas ela vai acordar sim. E nunca mais... Nunca mais vai precisar passar por isso na vida dela. Eu prometo para vocês.
Nos dias seguintes ele ficou no seu quarto. Não falava com ninguém exceto Rony, que lhe contou que no mesmo dia em que explodiu no jantar, Hermione havia acordado e perguntado por ele. Foi inevitável o choro que se seguiu a essa revelação, mas ele havia tomado uma decisão e cumpriria sua promessa.
(Fim Flash Back)
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