Prólogo



Primitivo


Sinopse: Ela sabia que era errado. Sabia, e a cada batida do seu coração, sentia que todos os seus instintos lhe gritavam “Não faça isso! Saia daí imediatamente! Coisas horríveis acontecerão!”. Lily sabia, mas não ligava. A recompensa parecia ser tão maior do que os sacrifícios, e era a isso que ela se apegava. Afinal, o instinto mais primitivo do homem é o amor.

Disclaimer: Nada é meu, é tudo da J.K. Rowling, Rocco, Warner, e etc.


Prólogo

Hogwarts.
Lily mal podia acreditar que estava fazendo aquilo. Quer dizer, a quem ela estava tentando enganar? Estava parada em frente às plataformas 9 e 10, procurando a plataforma 9 ½, carregando um malão e uma coruja. Tinha a estranha sensação de que tudo daria errado, de que aquilo havia sido uma bem elaborada brincadeira – afinal, não podia ser verdade, não quando se tratava de Lily Evans.
Lily nunca fora boa em nada. Ela tentara, mas não conseguira. Quando tinha três anos, seus pais lhe matricularam em aulas de balé, que Lily freqüentou regularmente por seis anos, até perceber que não era muito boa bailarina e desistir das aulas. Então, decidiu fazer algum esporte. Vôlei, pois não havia muito contato com outros jogadores e Lily preferia assim. Mas, depois de seis meses, ao se comparar com as outras garotas do time, desistiu, porque também não era muito boa jogadora. Sem saber o que fazer, seu pai lhe sugeriu natação. Lily achou uma boa idéia. Sempre gostou de água e pensou que talvez se desse bem nisso. Estava errada. Participava de competições e nunca ganhava medalha de ouro, raramente de prata, e, uma vez ou outra, de bronze. Deu-se conta de que realmente não era muito boa quando se viu sendo passada para trás pelos colegas de aula, que avançavam cada vez mais para o lado mais fundo da piscina, enquanto ela ainda continuava no raso.
Desistiu da natação depois de oito meses. Seus pais insistiram para que ela continuasse, diziam que começar as coisas e desistir só porque não estavam indo do jeito que imaginávamos era errado. Mas Lily não os ouvia. Não via motivo em continuar algo que sabia que não era boa, só porque não era certo desistir. Achava que o certo era saber suas fraquezas e seus pontos fortes, dedicando-se a eles e ignorando o resto. Pra que continuar em algo que não daria em nada?
Na escola, também não era uma boa aluna. Não era ruim, é claro, mas estava longe de ser a primeira da classe. Raramente suas notas eram maiores do que a média. Não era a mais inteligente da sala, nem a mais engraçada. Também não era particularmente uma pessoa simpática, ou com uma personalidade cativante, pela qual você se apaixona instantaneamente. Passava praticamente invisível pelos corredores do colégio, sentava-se numa carteira que não lhe dava muito destaque, não levantava a mão para tirar dúvidas, nem para responder o que os professores perguntavam, mesmo quando sabia a resposta. Não queria chamar atenção para si, porque sabia – sempre soube – que não era boa o suficiente.
Sua personalidade também não era das melhores. Era extremamente responsável – ao ponto de se tornar irritante –, e odiava ter que depender dos outros. Odiava mais ainda provocar qualquer tipo de incômodo, seja pedindo ajuda ou colocando alguém em alguma situação delicada. Era muito tímida, e muito impulsiva. Quando em situações de pressão, tinha o que chamava de “vômito de palavras”. Falava muito, e falava rápido, o timbre da voz mais alto que o normal. Orgulhosa, ficava nervosa por qualquer coisa em casa, e aí gritava, xingava, esperneava, batia o pé, fazia birra. Quando estava em público, porém, mal tinha coragem de levantar a cabeça e encarar as pessoas nos olhos, tamanha a sua timidez. Ficava quieta no seu canto, escutando com atenção, respondendo se necessário, mas nada mais.
Só havia uma coisa em que Lily era excelente, e isso ninguém podia negar: ela era linda.
Não era simplesmente bonita, ou atraente, ou engraçadinha. Era linda. Tinha aquele tipo de beleza que tira o seu fôlego, que lhe faz perguntar se Deus gosta mais daquela pessoa do que de você. Com os cabelos compridos e lisos, de um vermelho que não se consegue com tinta, os olhos verdes-vivo, grandes e expressivos, a boca fortemente delineada em forma de coração, Lily hipnotizava as pessoas. Era alta e esguia, possuía uma ótima postura e andava com graça, mal parecia que seus pés tocavam o chão, devido ao balé.
Lily, porém, não achava que sua beleza lhe ajudava em nada. Era como se fosse uma linda capa de um livro que não possuía nada dentro. Linhas em branco, ou completamente desconexas. À primeira vista, as pessoas lhe olhavam fascinadas com sua beleza, mas Lily não se aproximava com medo de decepcioná-las, ao verem que era apenas isso. Linda e nada mais.
Achava que aquele papo de que todos têm algo em que são realmente bons, a sua vocação, era tudo baboseira. Talvez algumas pessoas não tivessem vocação. Talvez algumas pessoas simplesmente passassem pela vida sem nunca serem boas em nada, sem nunca chamarem atenção.
E então, na metade do mês de julho, em meados dos anos sessenta, no ano em que completara 11 anos, tudo mudou.
Estava em seu quarto, emburrada, lendo um livro, embora não prestasse muita atenção. Havia acabado de brigar com Petúnia, sua irmã mais velha, novamente. Ainda podia ouvir os gritos da irmã, tão birrenta e explosiva – exatamente como ela – no andar de baixo. Reclamava para sua mãe que isso estava errado, que Lily não podia continuar agindo da maneira que quisesse sem nenhuma conseqüência. Sua mãe respondeu algo que ela não pôde ouvir, e então ouviu os passos pesados de Petúnia subindo as escadas, entrando em seu quarto, e batendo a porta.
Esperou algum tempo, para se certificar de que sua irmã não sairia do quarto, e levantou-se, indo para a cozinha, no andar de baixo, onde sua mãe começava a preparar o almoço.
“Fracamente, Lily, não são nem onze horas da manhã e você e sua irmã já desse jeito.” Lily sentou-se numa cadeira, pegou uma maçã e começou a comê-la, ouvindo sua mãe falar. “Vocês têm que perceber que são irmãs, e serão irmãs para sempre, não importa o que aconteça. A qualquer momento, seu pai e eu podemos não mais estar aqui, e então será só vocês duas, uma dependendo da outra. Porque você sabe que seu pai e eu não somos pra sempre, mas você e sua irmã, sim. Então, por favor, eu estou lhe pedindo com todo amor e carinho, parem de brigar se não quiserem me deixar maluca!
Lily riu do jeito da mãe, sem ela perceber, e continuou a comer sua maçã.
“Não é culpa minha. Ela me provoca, mãe.”
“Não quero saber quem provoca quem, Lily. Vocês têm que parar com isso já.”
“Se ela parar, eu paro.” Mordeu mais um pedaço de sua maçã. Sua mãe bufou.
“Vá buscar a correspondência. E pare de comer, senão vai estragar seu apetite.”
Lily foi, largando a maçã comida apenas pela metade em cima da pia. Caminhou lentamente, arrastando os pés pela casa; abriu a porta da frente, atravessou o gramado bem aparado, e chegou à caixinha do correio, abrindo a portinhola e retirando todas as cartas que estavam ali.
A primeira não era bem uma carta, mas sim o jornal diário de seu pai; a segunda era aquela revista boboca e sem conteúdo de adolescentes de sua irmã; a terceira era uma cobrança; a quarta estava endereçada a seu pai, e no remetente, ela leu o nome da companhia em que ele trabalhava; a quinta era algo para sua mãe; e a sexta...
Lily parou na metade do jardim, franzindo as sobrancelhas e pegando uma carta grossa, escrita num pergaminho amarelado e endereçada com tinta verde-esmeralda. A menina estranhou, nunca havia recebido uma correspondência desse tipo antes. Pensou se haviam se enganado, mas o endereço estava claro demais para ser de outra pessoa.

Srta. L. Evans
Segundo quarto à direita
Kennington Lane, 47
Dartford
Kent


Virou o pergaminho para ver o remetente, mas tudo que encontrou foi um lacre de cera com um brasão. Um leão, uma cobra, uma águia e um texugo circulando uma grande letra “H”.
Abriu a porta de casa, voltando à cozinha, onde sua mãe ainda estava, e sentou-se á mesa.
“Alguma coisa importante?”, sua mãe lhe perguntou, mas Lily não prestou atenção. Com as mãos tremendo de curiosidade, rasgou o envelope, tirando de dentro dele outros pedaços de pergaminho amarelado. Sua mãe, estranhando o repentino silêncio da filha, chegou ao seu lado e soltou um grito abafado de surpresa. A própria Lily não acreditava no que estava diante de seus olhos. Sua mãe gritou por seu pai, que desceu as escadas correndo, achando que algo havia acontecido, e ela apenas apontou para a carta, que ainda estava nas mãos de Lily. Ele a leu em silêncio, e sua reação foi um pouco diferente da de sua mãe.
“Isso é ótimo!”, ele abraçou a esposa, gargalhando, chamando Petúnia para lhe contar a novidade. Então, chegou mais perto da filha, lhe abraçando pelos ombros, e sussurrou em seu ouvido: “Sempre soube que era especial, filha.”
Deu-lhe um beijo na bochecha, e contou a novidade a sua irmã, que havia acabado de chegar na cozinha, ainda de cara emburrada. Ela não pareceu muito feliz ao saber da novidade. Seu pai começou a falar coisas que Lily não entendia, pois não estava prestando atenção. Seu coração parecia ter parado em seu peito. Sentiu a mão quente e suave de sua mãe lhe acariciando o ombro.
Era isso, ela sabia. Durante toda sua curta vida, Lily sempre achara que não era boa nada, mas estava errada. Falhara em tudo que tentara fazer porque a única coisa que realmente sabia fazer, a única coisa que havia nascido para fazer, era isso. Sorriu, sentindo que algo a esperava a partir de agora. Algo maior do que ela jamais havia imaginado. Algo que mudaria sua vida e que a faria achar a si mesma. Que a transformaria na pessoa a qual ela deveria ser.
Sorriu; um sorriso que vinha lá de dentro, um sorriso tranqüilo, pois Lily sabia – depois de ter recebido aquela carta – que as coisas estavam no caminho certo. Era isso que deveria acontecer e havia acontecido. Levantou-se da mesa, indo comemorar com seus pais e sua irmã (que não parecia nada feliz) o caminho que havia acabado de se abrir a sua frente.
Na mesa, jazia a carta:

ESCOLA DE MAGIA E BRUXARIA DE HOGWARTS

Diretor: Alvo Dumbledore
(Ordem de Merlin, Primeira Classe, Grande Feiticeiro, Bruxo Chefe, Cacique Supremo, Confederação Internacional de Bruxos)

Prezada Srta. Evans,
Temos o prazer de informar que V.Sa. tem uma vaga na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Estamos anexando uma lista dos livros e equipamentos necessários.
O ano letivo começa em 1° de setembro. Aguardamos sua coruja até 31 de julho, no mais tardar.

Atenciosamente,

Minerva McGonagall
Vice-diretora



- Desculpe.
Uma voz a acordou de seus devaneios. Continuava parada em frente às plataformas 9 e 10, sem saber direito o que fazer. Lily virou-se, encarando um par de olhos castanhos, cobertos por um óculos redondo; o menino dono deles havia esbarrado nela.
- Sem problema – ela sorriu, ainda olhando para o garoto e sentindo uma estranha sensação na boca do estômago.
- Hogwarts?
- Sim – Lily respondeu, apreensiva.
- Em qual casa você acha que vai ficar? – o menino lhe perguntou e Lily não entendeu.
- Casa? O que você quer dizer?
- Você é trouxa, não? – ele perguntou, levantando as sobrancelhas.
- Trouxa?
Lily estava se sentindo bem idiota com aquele garoto lhe fazendo perguntas que ela não fazia nem idéia do que significavam. Ele riu.
- Seus pais não são bruxos, não é?
- Não.
- Bom, bem-vinda à Hogwarts, então – ele lhe sorriu mais ainda, abrindo os braços – James Potter.
Ele estendeu sua mão e Lily a apertou.
- Lily Evans. Muito prazer.
Os dois sorriram, Lily ainda com aquela estranha sensação no estômago. Olhou do garoto para o casal que o acompanhava – provavelmente seus pais – e então para os seus próprios pais. Os quatro estavam numa conversa um tanto animada, apesar de seus pais parecerem apreensivos, enquanto James e ela somente olhavam.
Olhando para ela, James a puxou pelo braço e os dois foram – discretamente, para nenhum trouxa perceber – em direção à Plataforma 9 e ½ e a atravessaram.
Lily sorriu empolgada, seus olhos brilhando ao encarar o trem em que se lia “Expresso de Hogwarts”. Ia agradecer James, mas ele já havia sumido. Não importa, Lily pensou, puxando seu pesado malão do caminho e esperando seus pais aparecerem para lhe dar tchau.
A sua vida começava agora.

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