A despedida
Hermione, como durante quase toda a sua vida, tinha razão: quando ela e Rony foram atender à porta, eram mesmo Harry e Gina dessa vez. Eles entraram apressados, parecendo sem fôlego e ansiosos. Harry pegou o copo de Firewhisky de Rony e virou em uma golada só, enquanto Gina ria sem parar. Quando os dois se acalmaram, os quatro amigos foram para a cozinha e Gina pode finalmente explicar o que tinha acontecido.
- Nós fomos lá em casa contar sobre o resultado do julgamento. – começou Gina. – E quando chegamos lá, estavam todos por lá.
- Todo mundo? – perguntou Rony, curioso.
- Sim. Carlinhos e Fleur, Gui, Fred, Jorge e o Sr. e a Sra. Weasley. – respondeu Harry que já bebia o segundo copo de Firewhisky.
- Então? – Hermione encorajou a contarem o resto da história.
- Bom, quando Harry contou que estávamos livres como dois hipogrifos... – Gina resolveu fazer um suspense. Rony suspirou impaciente, então a ruiva mais nova continuou, não sem antes olhar feio para o irmão. – Fred e Jorge perguntaram a Harry quando era que ele ia me pedir em casamento então.
- Eles já sabiam então? – Hermione perguntou divertida, imaginando a cara de desespero de Harry.
- Acho que até meus pais sabiam. – Gina deu de ombros.
- Não existem segredos n'A Toca. – Rony confirmou, com cara de sábio.
- Não mesmo. – confirmou Harry amargurado.
- Vocês deviam ter visto a cara de Harry na hora. – Gina ria tanto que Hermione e Rony tiveram que esperar alguns segundos antes de ouvir o resto da história. – Ele parecia que ia desmaiar e gaguejou tanto que mal conseguiu falar.
- Eu não acredito que perdi isso! – Hermione imaginava a cena.
- Nem eu. – Rony olhou para Harry, segurando o riso.
- Não teve graça nenhuma! – Harry olhou furioso para os três, mas segurando o riso em sua boca. Depois de uns segundos, voltou a sorrir. – Certo, foi mesmo engraçado.
- Já marcaram a data? – Hermione perguntou curiosa. – Afinal, Gina vai passar o ano letivo todo em Hogwarts.
- Nas próximas férias de verão, daqui a um ano. – respondeu Gina. – Nós duas já estaremos de férias e eu terei um mês inteiro para planejar a festa.
O resto da noite passou como se nenhum julgamento tivesse acontecido, nenhum mistério tivesse sido resolvido pelo quarteto e muito menos como se fosse o último dia de férias para as novas professoras de Hogwarts. Os quatro amigos comeram, beberam e se divertiram como se fosse quatro adolescentes. E quando se deram conta, já se passava da meia noite. Já era dia primeiro de setembro. O dia que o Expresso de Hogwarts partiria da plataforma 9 e ¾ rumo ao norte do país, levando Mione e Gina para a escola de magia.
- Meu deus! Olha à hora Harry. – Gina surpreendeu-se quando olhou para o relógio. – Temos que ir. Ainda não arrumei o meu malão.
- Eu não acredito que vocês duas vão ficar um ano inteiro em Hogwarts enquanto eu e Rony ficamos aqui em Londres. – Harry parecia entristecido. Quando ouviu o que Harry havia dito, o coração de Hermione deu um pulo de alegria, mas ela tinha que ter certeza que ouvira muito bem.
- Ron, você vai mesmo ficar aqui em Londres? – ela disse olhando para o ruivo, que sorriu de volta.
- Você saiu correndo do julgamento e perdeu a melhor parte. – Rony comentava displicentemente.
- O que aconteceu? – Hermione perguntou.
- Harry foi promovido para Chefe da Seção dos Aurores. – Gina respondeu por Rony, parecendo muito orgulhosa.
- Harry, isso é perfeito! – Hermione parabenizou o amigo, que apenas acenou feliz em resposta.
- Eu não poderia recusar a oferta que ele me fez para ficar aqui em Londres. – Rony continuou, empolgado. – Já sou um auror do Ministério!
- Rony, isso é ótimo! – o coração de Hermione batia alegre agora. Rony pelo menos estaria ali por perto.
- É... – confirmou Rony, talvez mais orgulhoso que Harry com a notícia.
- Acho melhor nós irmos, Gina. – Harry e Gina levantaram-se e foram até a lareira da sala, seguidos por Mione e Rony.
- Você vai para a casa de Harry, Gina? – perguntou Rony meio desconfiado.
- Ronald... – Gina cruzou os braços, em uma cena digna da Sra. Weasley.
- Tudo bem, só queria saber. – Rony soltou em sua defesa.
- Nos vemos amanhã na plataforma 9 e ¾? – perguntou Hermione para Harry, tentando mudar os rumos do assunto.
- Claro Mione. – Harry abraçou a amiga. – Até amanhã.
- Até amanhã. – Mione e Rony falaram quase em conjunto.
Um após o outro, Harry e Gina desapareceram girando da lareira da sala de Hermione, deixando ela e Rony sozinhos mais uma vez. Toda a história do julgamento a tinha deixado tão distraída que ela ainda não tinha se dado conta que daqui a poucas horas ela estaria embarcando no Expresso de Hogwarts e ficaria longe de casa durante todo um ano. Seu malão já estava pronto, afinal nós estamos falando de Hermione Granger. Mas, mesmo assim, ela não estava preparada para se despedir de sua casa, de sua vida ali e, principalmente, não estava preparada para se despedir de Rony.
Pelo silêncio que se instalou na casa, Hermione percebeu que Rony estava provavelmente pensando nas mesmas coisas que ela. Os dois ficaram encarando seus próprios pés durante um tempo que pareceu uma eternidade para ela. Talvez, se não falassem nem se movessem, não precisariam se despedir. Talvez, o tempo parasse e ela não precisava ouvir mais uma vez Rony lhe dizer "adeus".
Um filme passou pela mente de Hermione, desde o dia em que ela conheceu Rony, dentro do vagão do Expresso Hogwarts em seu primeiro ano, até o último abraço apertado entre eles, algumas horas mais cedo. A noite do seu primeiro beijo no salão Comunal da Grifinória, o seu segundo beijo muitos dias atrás, todos os momentos que passaram juntos, todos os momentos que deveriam ter passado juntos fazia a cabeça de Hermione girar ligeiramente. Ela começava a ficar nervosa demais e decidiu acabar com aquilo tudo.
- Então... – começou Hermione, sem saber bem o que dizer.
- Então... – repetiu Rony, olhando para ela pela primeira vez depois da despedida de Harry e Gina. Ela olhou dentro dos olhos azuis de Rony e não conseguiu decifrar o que eles estavam tentando lhe dizer. Ela odiava não saber.
- Amanhã bem cedo tenho que ir para a plataforma... – continuou Mione, tentando manter uma conversa normal.
- Já arrumou seu malão? – perguntou Rony de súbito, provavelmente se lembrando do que Gina havia dito sobre suas próprias coisas.
- Ele já está arrumado há alguns dias. – Hermione respondeu automaticamente. Rony sorriu ao ouvir a resposta, como se já soubesse o que ela responderia.
- Você volta só para o casamento? – perguntou Rony com a voz ligeiramente alterada.
- Bom, acho que não. – respondeu Mione, pensativa. – Devo aparecer para ver meu apartamento e nos feriados de fim de ano.
- Certo... – Rony olhou novamente para seus pés.
- Então... – Hermione tentou manter a conversa, mas não sabia onde era seguro andar. Rony parecia estar cansado e ela começou a sentir sono. Não conseguiu segurar um bocejo, que chamou novamente a atenção de Rony.
- Está tarde. – Rony falou mais para si mesmo do que para Hermione. Olhou parecendo ainda mais desanimado para ela e suspirou. – Acho que é melhor eu ir embora.
- Rony... – Hermione queria dizer que ela não queria que ele fosse embora, mas faltava coragem. Onde estava seu espírito da Grifinória?
Eles se olharam nos olhos novamente e um arrepio percorreu todo o corpo de Hermione. Qualquer pessoa que entrasse agora na sala do apartamento de Hermione sentiria como o ar ficou pesado e como os olhares de Rony e Hermione estavam fixos um no outro. Mesmo que Fred e Jorge explodissem uma caixa de bombas de bosta pela sala, os dois provavelmente não desviariam seu olhar.
O coração de Hermione disparou quando Rony deu um passo em sua direção. Ele parecia ter crescido mais uns trinta centímetros, no mínimo, de um jeito que só ele conseguia parecer quando demonstrava sua coragem. Ele abriu um grande sorriso e deu um passo a mais em sua direção. Eles estavam muito próximos agora.
- Sim, Mi? – Rony falou com uma voz baixa, encorajando-a a terminar a frase que havia começado há alguns instantes atrás. O coração de Hermione pareceu prestes a explodir e ela falou alto o que estava pensando.
- Eu sou um Grifinória!
Antes mesmo que Hermione se desse conta do que estava acontecendo, antes mesmo dela ver a expressão de surpresa que se formou no rosto de Rony, o que Hermione mais esperava a muitos anos aconteceu. Ela não saberia dizer quem foi o primeiro a dar mais um passo a frente, se foi ela ou Rony quem se aproximou primeiro. Hermione só sabia dizer que, quando sentiu o toque dos lábios de Rony pela terceira vez em toda a sua vida, o calor que sentiu em seu corpo, o seu coração batendo acelerado indicavam que ele era realmente o amor pelo qual ela esperou toda a sua vida.
Rony e Hermione ficaram durante muito tempo perdidos em seu próprio beijo. Os braços de Rony a seguravam com tanta força e com tanta vontade que Hermione não sabia que estava sem fôlego pelo beijo ou pelo abraço. O seu coração já batia tão descompassado que ela se sentia fora de órbita. Hermione podia sentir o coração de Rony batendo tão louco quanto o seu, quando sua mão tocava o peito dele.
Depois de muito tempo eles afastaram suas bocas, mas Rony continuou com os braços em volta da cintura de Hermione. Os dois sorriam como duas crianças pequenas que acabaram de ganhar seus presentes de Natal. Hermione nunca imaginou que se sentiria tão nas nuvens assim, alguma vez, mas esse era o efeito que Rony provocava nela. Perto de Rony, ela não era a garota mais inteligente e totalmente apegada a regras e sim, uma garotinha apaixonada e insegura como outra qualquer. E era por isso que Hermione gostava tanto de Rony. Só ele conseguia fazer ela se sentir assim.
- Nós precisamos dizer alguma coisa? – Hermione falou ainda com a voz meio rouca e sem fôlego. Ela olhava no fundo dos olhos azuis de Rony e agora conseguia entender o que se passava pela cabeça dele. Ele queria a mesma coisa que ela queria o tempo todo. Ela já sabia a resposta que ia ouvir, afinal, nada mais precisava ser dito entre eles.
- Não. – Rony sussurrou de volta e voltou a sorrir. Um vento frio entrou pela janela da sala e fez os dois corpos se arrepiarem, como uma lembrança maldosa que já era madrugada. Hermione, mais por instinto do que por ter pensado no assunto, abraçou Rony mais forte. O perfume amadeirado invadiu seu olfato e com um tremor de excitação ela se lembrou do beijo quente que Rony lhe dera, alguns dias atrás. Rony acariciou o seu rosto com as costas de sua mão e, com um sorriso maroto, olhou para a porta que dava para o quarto de Hermione. Ela não pensou em mais nada. Nada precisava ser pensado mesmo. Hermione Granger sorriu e puxou Ronald Weasley pela mão até o seu quarto. Até a sua cama.
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