A melhor noite de sua vida



No sábado à tarde uma coruja de penas castanhas entrou em seu escritório trazendo a resposta de Minerva McGonagall sobre a visita em Hogwarts. A resposta foi, claro, positiva. Hermione enviou uma coruja para Harry e ficou combinado que eles iriam para o colégio na manhã do dia seguinte, através da rede de flú.
Sentada em seu escritório, Hermione ficou boa parte do resto de seu sábado relembrando como foram todos aqueles anos em que estudaram em Hogwarts. Todas as confusões que acabavam se metendo todos os anos, “Na verdade, que Harry e Rony me metiam” pensava ela sorridente. Conhecer aquela dupla de amigos foi a melhor coisa que havia acontecido naquela escola e ela sentia falta de estar com os dois novamente.
A sua amizade com Rony sempre foi mais atribulada do que a com Harry. Ela nunca entendia por que aquele legume sem sentimentos conseguia a atingir tanto quando falava uma de suas besteiras. Ela só percebeu o quanto estava interessada nele no quarto ano, quando houve o Baile de Inverno e ela acabou beijando Victor Krum.
Não que Victor tenha sido uma experiência ruim, muito pelo contrário, ele tinha mostrado a Mione que ela era de fato uma garota e que também era interessante, aos olhos dos homens. O Baile foi uma das melhores noites que ela teve em sua vida, e seu primeiro beijo foi totalmente inesquecível. Mas ela sabia, desde o início que não era Victor a pessoa que ela gostaria de ir a bailes e, apesar de tudo, ela tinha que admitir que ela gostava realmente do legume insensível que sempre a chamava de sabe-tudo, mas que sempre estava ao seu lado quando precisava.
Eles passaram anos e anos brigando sem conseguir se entender. O sexto ano fora o mais doloroso para ela, quando Ron começou a namorar Lavander e não fazia questão nenhuma de esconder todos aqueles beijos. Ela nunca entendeu porque ele estava com ela, mesmo dizendo como queria terminar.
Durante a guerra os três amigos ficavam a cada dia mais próximos, e Rony e Mione indubitavelmente também. Quando Gina se juntou ao trio, e ela e Harry finamente decidiram voltar a namorar, os dois acabaram passando muito tempo a sós, e naqueles tempos de guerra e medo não havia espaço para briga. Eles acabaram ficando muito próximos e, apesar de ambos os lados parecerem tentados a dar um passo em frente, em tempos de guerra não havia muito tempo para romance também.
Após a derrota de Voldemort, eles voltaram para cursar seu último ano em Hogwarts, e o clima entre os dois amigos ainda era um mar de rosas. Para a infelicidade de Mione, foi necessário eles apenas pisarem de volta na escola para as antigas brigas retornarem. Rony, assim como Mione e Gina, havia se tornado muito famoso no mundo bruxo e, com isso, chamar muito a atenção das garotas. “E o legume insensível, claro, tinha que beijar todas elas”.



***
- Mi, eu não sei como você consegue ainda conversar com o idiota do meu irmão enquanto ele roda todas as meninas da escola. Aquele hipócrita! – as duas amigas estavam conversando no salão comunal bem tarde da noite. Eram as únicas alunas acordadas há essa hora.
- Eu e Rony somos amigos, e só amigos, você sabe muito bem disso. Ele pode ficar com quem ele quiser e, se eu for fazer escândalo pra cada garota que ele beija eu não faria outra coisa esse ano... – Mione parecia abatida.
- Bom, isso é verdade. Porque você simplesmente não diz a ele?
- Tem certas coisas que não precisam ser ditas Gi. Veja bem você e o Harry. Vocês nunca precisaram dizer nada para saber que um estava na do outro. Eu não tenho esperanças de algum dia me entender com seu irmão.

Assim que Mione terminou a frase, pode-se ouvir o quadro da Mulher Gorda se abrindo. Gina, que estava de frente para a entrada, apenas sorriu e saiu andando para o dormitório feminino. Pronta para dar uma detenção para o aluno que ainda perambulava pelo castelo a essa hora da noite, ela se virou e deu de cara com ninguém menos que Rony.

- Er... Oi. – Ele parecia sem graça de ter sido pego voltando para o salão comunal.
- Ron, você sabe que não deveria estar pelos corredores do castelo à uma hora dessas. – ela queria tanto perguntar o que ele estava fazendo, mas com medo da resposta simplesmente se limitou a olhar para o amigo.
- Eu estava só... eu só queria ficar sozinho um pouco. – ele parecia realmente pensativo e se sentou ao lado da amiga no sofá em frente à lareira.
- Algum problema Ron? – agora ela parecia realmente preocupada. Rony estava ligeiramente pálido e com cara de estar prestes a vomitar.
- Não é nada Mi. – quando ele a chamava assim ela ficava totalmente arrepiada. Como ele era capaz de ser tão doce e tão insensível ao mesmo tempo?!

Mione não estava convencida de que o amigo não tinha nenhum problema. Mas ainda tinha medo de descobrir o que “ou quem” estava o deixando tão confuso. Ele estava olhando para o tapete, apertando suas mãos como uma tentativa de conseguir alguma força.

- Ron? – Mione posou sua mão no ombro do amigo, acariciando-o para que ele se sentisse à vontade para conversar com ela. Ele finalmente olhou para ela. Aqueles olhos azuis a olhavam com tanta intensidade que seu coração disparou. Ela já sabia o que viria a seguir.

Seus lábios se aproximaram lentamente, e quando Mione já podia sentir a respiração forte de Ron, fechou os olhos. Quando as suas peles se tocaram, um arrepio percorreu todo o corpo da menina e ela imediatamente se entregou ao beijo. Os lábios mornos do garoto que ela sempre sonhou a tocavam com tanto carinho, com tanta delicadeza que ela se sentia nas nuvens. O beijo dele era muito melhor do que ela havia esperado.
Ela não saberia dizer durante quanto tempo eles ficaram lá, se beijando. Quando os dois já estavam meio sem fôlego, Rony afastou sua boca da dela e continuou a olhando com aquele olhar tão intenso. Não precisava ser dito nada. Ela não queria ouvir nada. Queria apenas deitar em sua cama e repetir infinitas vezes essa cena em seu pensamento.

- Boa noite Ron. – ele sorriu.
- Boa noite Mi.
***
Aquela sim tinha sido a melhor noite de sua vida. Hermione nunca conseguiu entender o que se passara na cabeça do amigo naquele dia, mas isso não era importante para ela. Sempre que pensava nele, ela gostava de lembrar do beijo, o melhor e mais apaixonante beijo que ela já havia recebido.
Pensando agora como tudo aconteceu, a bruxa mais inteligente do mundo não sabia explicar nem para si mesma como que, depois daquela noite, eles ainda acabaram separados. Aliás, nunca ouve outro beijo entre os dois. Como seria possível?
Na manhã seguinte ela acordou nas nuvens, como tinha ido se deitar. Desceu alegre para o salão comunal e deu de cara com o culpado de sua alegria, junto com Harry e Gina e foram os quatro tomar café juntos. Rony também parecia muito bem humorado naquele dia, mas eles estavam tão próximos dos exames finais e dos testes de N.I.E.M.s que a rotina de estudos e de pressão por parte do professores não os deixaram ter uma oportunidade de retomar a conversa que deveriam ter tido.
Eles mantiveram uma relação de amizade com muita gentileza de ambas as partes durante alguns dias. Mas o stress dos exames e a falta de oportunidade de poderem relaxar deixaram Rony e Mione bem menos dispostos um com o outro. Quando tudo acabou, todos os quatro foram passar as férias n’A Toca. Quando Mione achou que finalmente poderiam se acertar, foi que Rony mais se afastou. Aparentemente, beijar ou flertar uma garota na sua própria casa parecia assustador demais para ele.

“- Eu...Sinto muito.”

A voz de Rony apareceu de repente em seus pensamentos. Depois de tantos anos de amizade, de brigas, de ciúme, de dedicação, de lutas, ele simplesmente não quis assumir um relacionamento com ela. “Então porque ele me beijou?” Essa pergunta não saia da cabeça de Hermione desde que eles se separaram.
Olhando pela janela, Mione viu que já anoitecia. Ficou tão perdida em pensamentos que não viu o dia se passar. Resolveu que deveria inventar alguma coisa para comer e ir dormir cedo, afinal amanhã seria um longo dia de recordações. E um dia para tomar uma decisão importante. E ela tinha realmente que parar de pensar em Ronald Weasley.

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